*Clarice

A decoração estava impecável. O salão meio escuro, com o teto imitando um céu estrelado. Uma mesa com petiscos e bebidas. Tudo muito lindo. Mal tinha começado, quando Laura me puxou para a pista de dança. Foi incrível. As melhores músicas, e eu nem percebi quem estava em volta, era só eu, e eu mesma. Eu nunca tinha me sentido tão bem.

–O que houve?- perguntou Laura quando eu me sentei em uma das mesas.

–Nada, eu cansei. Só isso. –respondi, sorrindo.

–Eu vou ali beber alguma coisa e já volto.

–Claro, falei, olhando em volta.

O baile ainda estava meio vazio, mas logo notei a presença da Serena, usando um vestido cor de rosa claro, e se jogando em cima do Lucas na entrada. Eles se aproximaram.

–Eu vou pegar alguma coisa pra gente beber, já volto. –disse Serena saindo de perto.

Lucas olhou em volta, e ao reparar que o salão tinha lotado, e as mesas estavam ocupadas, olhou pra mim.

–Posso sentar? –ele perguntou.

–Se a Serena deixar... –respondi, revirando os olhos.

Ele sentou, e continuou me olhando.

–Eu não fiz por mal, eu juro. Só queria saber se sentia o mesmo por mim.

–E por que não perguntou?

–Eu tive vergonha. Ou melhor, eu tenho vergonha. Tenho vergonha de falar o que eu sinto para meninas bonitas, como você. Tenho vergonha de dizer que estou apaixonado por você.

–Lucas...

–Eu estou. Eu estou apaixonado por você e não quero negar o simples prazer de compartilhar algo verdadeiro. Eu estou apaixonado por você, e sei que o amor é apenas um grito no vácuo, e que o esquecimento é inevitável, e que estamos todos condenados ao fim, e que haverá um dia em que tudo o que fizemos voltará ao pó, e sei que o sol vai engolir a única Terra que podemos chamar de nossa, e eu estou apaixonado por você.

–Nossa... Isso é lindo... Mas acho que já li isso em algum lugar.

–A Culpa É Das Estrelas. O nosso livro. O livro que leu porque eu indiquei, e o filme que viu ao meu lado. Por favor, eu sei que não sou nenhum Augustus Waters, o que por um lado é bom, já que não estou com câncer, mas eu também quero, e farei de tudo para te dar um pequeno infinito, tão bom, que você jamais esquecerá. E além disso... Eu passei horas decorando esse discurso.

Dei uma leve risada, e o beijei. E depois deixei cair uma lágrima. Ok... Muitos sentimentos...

–Eu não quero o Gus. Eu quero você. Mas me promete que não vai mais fazer uma babaquice daquelas, viu?

Ele fez que sim com a cabeça e sorriu. Logo depois se levantou.

–Me concede uma dança senhorita Clarice Dall’Aglio?

–Claro que sim senhor Lucas. Não sei seu sobrenome.

Ele sorriu e fomos até a pista de dança. Finalmente, tinha achado o meu príncipe.

...

*Serena

–Duas Cocas, por favor. –falei para o adolescente, responsável pelo bar.

–Duas Cocas saindo. –ele disse.

Olhei para o lado, e vi Laura me encarando de cara feia.

–Pra quem é a outra Coca? –ela perguntou.

–Para o Lucas, ora. –respondi.

–Acho que ele já está bem entretido pra parar pra tomar um drinque. –ela falou apontando com a cabeça para a pista de dança. –Divirta-se. –ela disse saindo de perto.

Lá estavam os dois, rindo e se divertindo. E mais uma vez, eu estava sozinha, sem par, nem amiga. Sem ninguém para dar a outra Coca. Sem perceber, deixei uma lágrima cair. E depois, outras, e quando vi, estava chorando.

–Olha, menina, não chora por favor. –disse o garoto do bar.

–Não consigo parar. A minha vida é uma droga. Ninguém me quer nessa escola!

–Não diz isso não, por favor. Não aguento ver meninas chorando. –foi ele falar isso, que chorei ainda mais. –Olha, eu tenho uma coisa, que vai te ajudar.

–O que? –perguntei assustada.

–Promete não dizer que fui eu que te dei?

–Tanto faz.

–Olha, tem gosto ruim, mas você vai se acostumar, e pode ter certeza, que até o final da noite você vai estar muito feliz. –ele disse mostrando um copo transparente, com um liquido dentro.

–Eu não bebo.

–Então, para de chorar, ou sai daqui.

–Quer saber? Me vê um copo. Ou melhor, uma garrafa.

...

*Annie

Sentei no banco do pátio. 21 horas, marcando no celular. Olhei em volta, e não tinha ninguém. Aquela luz bem em cima de mim, tornava impossível alguém não me ver.

21:30. Ninguém.

Peguei o bilhete e verifiquei a hora e o lugar. Estava tudo Ok. Sabe... Era bem comum o Bernardo se atrasar quando éramos pequenos, vai ver ele não perdeu essa mania. Espera! Ouço passos... Vi uma sombra. Que roupa bonita, que cabelo... Ei! Esse não é o cabelo do Bernardo. A luz finalmente iluminou o seu rosto. Me levantei e saí andando, assim que vi seu rosto, mas não fui até ele, fui a direção contrária.

–Ei espera! –ele gritou.

–Olha, desculpa, pensei que fosse outra pessoa. –eu disse, sem olhar pra trás.

Ele correu até mim. Nossa... Ele era rápido! Ele me segurou pelo braço, e me arrancou um beijo.

–Ei! Quem você pensa que é?! –gritei, me soltando.

–Talvez o garoto mais bonito e popular dessa escola.

–Para as outras meninas talvez, mas saiba, Antonio, que pra mim você não passa de um menino procurando algum coração para brincar com ele.

–E da onde você tirou isso? Já conversou comigo pra saber?

–Eu não preciso...

–É claro que não. É só ver um filme na sessão da tarde e me ver que já sabe quem sou eu, no que penso, e o que sinto, certo? Me de uma chance. Eu gosto de você desde o dia que salvei sua vida.

–Salvou minha vida? Como se eu fosse morrer com aquela luminária, né?

–Ah... Você me entendeu...

–Na verdade não. Quem você pensou que fosse vir aqui?

–Não te interessa.

–Quer saber, você é diferente do que eu pensei que fosse. É uma grossa. Por isso esse tal menino não veio. Nem sei porque eu estou aqui. Curta o baile sozinha. –ele disse dando as costas.

Talvez ele estivesse certo... Olhei para a entrada do baile, de longe. E vi o Bernardo entrando com a Luize. Era isso. Ele estava certo.

...

*Catarina

Dei uma última olhada no espelho. Abri a porta, e sai confiante. Eu estava linda, e eu precisava ser perfeita, porque naquela noite, se tudo desse certo, amanha eu amanheceria popular, e conseguiria meu Léo de volta. Deixei minha bolsa cair no caminho, e quando abaixei para pegar, vi os sapatos pretos que eu tanto conhecia. Apesar dele ter usado uma ou duas vezes, eu não os esqueceria tão fácil.

–Oi Léo. –eu disse.

–Oi, Cat. – ele falou sem graça. –Você está linda.

–Obrigada. Você está encantador.

–Valeu. Sobre hoje... Por que você decidiu virar popular?

–Por que você decidiu virar popular?

–Eu perguntei primeiro...

–Se você me conhecesse um pouquinho saberia a resposta.

–Ah... Vamos! Eu te conheço muito bem, e você sabe disso!

–Então, acho que já sabe a resposta da sua pergunta.

Nesse momento, Rafael chegou, vestindo um traje mais bonito que o do Léo, mas mesmo assim, sem nem chegar aos pés da beleza do dono do meu coração.

–Você está perfeita. –ele disse sorridente. –Vamos?

–Claro. –respondi entrando no elevador, ao lado de Rafael, sem tirar os olhos de Léo, que ainda me encarava.