* Clarice

Já era segunda-feira, e o tempo tinha literalmente voado. Eu tinha acabado de voltar com as meninas de um dia de compras em uma loja de vestidos de gala na cidade. Pois é, a IGF não tem loja de vestidos de gala, e resolveu alugar um ônibus para todo mundo. E todas fomos de busão, e os meninos também, com exceção do Léo, que foi obrigado pela mãe, nossa querida diretora, a ir em seu carro prata de luxo no banco de trás.

As meninas subiram, e eu aproveitei para ir até a lojinha onde a Annie trabalhava entregar o vestido escolhido pessoalmente por nossa rainha da moda: Catarina.

No caminho de volta, aproveitei aquele comecinho de noite para respirar um ar puro. O bom da IGF é que seus jardins são encantadores, com tipos maravilhosos de plantas. Sentei num banquinho, em frente ao chafariz, e admirei a natureza. Estava tudo vazio. Todas as meninas aproveitando seus vestidos novos, e os meninos, sendo levados a força por elas para frente de um espelho para se certificarem que as roupas combinavam.

Ajeitei meu rabo de cavalo, e fiquei olhando para a paisagem até ouvir um chiado. De inicio, um riso. Depois um barulho estranho. Fui até a moita, de onde vinha o som. Quando abri, percebi que tinha um casal se beijando. Eles não perceberam que tinha alguém desfrutando daquela cena maravilhosa. O menino se escondia atras daquele lindo cabelo ruivo da menina. E só tinham duas meninas com aquele cabelo. E uma estava trabalhando.

–Laura?!

Ela se virou, largando o menino. Ela saiu da moita envergonhada.

–Oi Cla... É... Bem... Esse é o meu namorado.

O menino tentou se esconder mais um pouco na moita, mas Laura, delicadíssima, o puxou pelo cabelo.

–Oi... -ele falou sem graça.

Ele não me olhou nos olhos, apenas coçou o cabelo.

–Harry? -perguntei.

–Como vai?- ele respondeu.

–Bem, eu acho... Me sentindo traída.

–Como assim? -perguntou Laura.

–Ele disse que iria ao baile comigo.

–O QUE?! Você disse que ia estudar amanha!

–Calma Laura. -ele falou tentando beijá-la.

–Cala a sua boca! -ela disse lhe dando um tapa.

Ela continuou lhe socando por um tempo, e eu simplesmente dei as costas e fui para o quarto.

–Que saco!- resmunguei no elevador.

Pouco tempo depois Lucas entrou nele.

–Clarice? Tudo bem?

–Não. -falei desabando no choro. -Comprei um vestido lindo, e passei horas com as meninas conversando sobre o garoto perfeito que tinha me chamado para sair, e agora eu o peguei na moita com outra!!!

–Vem comigo, o meu quarto ta vazio. Pode desabafar.

–Tem certeza?

–Tenho ouvidos para isso, certo?

Dei um leve sorriso e fui atras dele quando a porta se abriu.

Fomos até a sua porta. Ele abriu com cuidado, e me deixou entrar. Tinham duas camas, mas uma era beliche. A decoração era bem maneira, realmente criativa. Cartazes de bandas famosas, lembretes escolares, uma escrivaninha com cadernos lisos, e as camas arrumadas, com exceção da que não era beliche.

–Essa é a do Rafael. - ele falou apontando para a cama zoneada. -Ignore a bola de futebol em cima dela. -ele comentou, me fazendo rir. - Aquela ali em cima é a do nosso astro Antônio, ignore o espelho, ele se ama. Mas o Rafael acha a idéia do espelho boa, até porque ele tem o dele.

Ri de novo.

–Mas... O que íamos falar mesmo? A é! Seu par traíra.

–Não fala assim... -resmunguei.

–Como não? Você chorou por conta do babaca!

–Verdade.

–Quer saber? Vocês meninas são todas iguais. Gostam de um cara, e cinco minutos depois gostam de outro.

–Nós meninas?! Vocês que ficam com uma garota por uma noite e depois esquecem dela!

–Nem todos.

–E nem todas se apaixonam rápido. Eu por exemplo.

–Você?! -ele perguntou rindo.

–O que foi?

–Um dia é o Léo, outro é o Garry...

–Harry! E que papo é esse de Léo? Gostei dele só na primeira semana de aula.

–Mesmo assim! Nem se passou uma semana e já pulou nele?

–Pulei nele?

–De qualquer forma, você tem que conhecer bem a menina pra dizer que ta afim dela. No seu caso, menino. Aí, só depois namorar. Como o meu caso. Sou perdidamente apaixonada por uma.

–Serena, ok. Podemos mudar de assunto.

–Por que? Meu namoro com ela te incomoda?

–Não. Só to cansada de falar sempre sobre ele. É tudo Serena, Serena, Serena... Nem parece que eu estou aqui!

–Você está com ciúmes. -ele disse risonho.

–Eu o que?!

–Você gosta de mim, é isso.

–Você é mais convencido do que eu imaginei.

–Por favor, admita! Esperei muito para ouvir isso de você!

–Como assim? E a Serena?

–Eu nunca gostei dela! Saí com ela para te fazer ciúmes e consegui! Podemos ficar juntos agora!

–VOCÊ O QUE?! Eu não quero falar com você! Você conseguiu acabar com o que eu senti por você. Com o que eu pensei ter sentido por você!

Voltei a chorar e sai do quarto dele. Fui enganada pelos meus melhores amigos esse tempo todo! Abri a porta do meu quarto, e Serena veio logo para perto de mim.

–Tudo bem Cla?

–Tuuudo! A não ser o fato de ter sido traída e enganada pelas 3 pessoas que mais me fizeram felizes esse tempo todo!

–Qual é, Clarice?! Vai ficar chateada comigo porque eu queria um namorado bacana pra você?!

–Acho que pra você, né? Afinal, quem namorou ele esse tempo todo foi você.

–Chama isso de namoro? Que me dera namorar um menino desses! Você foi idiota em deixá-lo escapar!

–Você me chamou de que?!

–Idiota!

–Sua piranha!- gritei pulando em cima dela.

Catarina me pegou pelo braço, e Annie puxou Serena.

QUE RAIVA! ODEIO SER ENGANADA!

...

*Catarina

Que barraco em? Serena e Clarice mal se falaram depois da briga e já era Terça-feira! Dia do baile! Yupi! Quer dizer, yupi mais ou menos, já que sou meio que obrigada a aturar o Rafael. E outro motivo do yupi ser mais ou menos: mesmo com baile tinha aula! A-U-L-A! E de geografia!!! A pior matéria de todos os tempos...

De qualquer forma, estava em pé, perto dos armários com a Annie, depois de um discurso da nossa querida professora de geografia sobre a resposta totalmente inteligente do nosso amigo Fernando de que a Flórida fica na África. Pois é...

–Almoço? -perguntou Annie.

–Almoço. -respondi.

–Ai Cat... To doida pra saber quem mandou o bilhete. -ela disse caminhando comigo.

–Deve ter sido um gato, com certeza.

–Você soube de alguma novidade?

–Que tipo de novidade?

–Ah, você sabe! A Luize... Terminou com o Bê?

–Não.

–Mas você acha que pode ter sido ele?

–Difícil... Mas tudo é possível.

Foi falar isso que entramos no refeitório. Aquele cenário cheio de adolescentes lutando por uma cadeira em uma mesa que se encaixasse, com seus amigos, ou então pessoas que te tornavam especial só por te cumprimentar, ou mesmo saber seu nome.

Na IGF, podemos encontrar aquilo que lemos nos livros de adolescentes ou vimos nos filmes da menina que se torna popular: A mesa. A mesa é aquela mesa onde só os mais famosos, ricos e populares sentam.

Sentei ao lado da Clarice, que ao contrario do normal. Sentou no outro canto da mesa, distante da Serena.

–O que é aquilo? Eu não acredito. -falou Jennifer. -ele foi levado para o lado mal da força.

Olhei para A mesa. Natália, Antônio, Juliana, Cristina, Henrique, Rafael e Megan. Espera, tem mais um.

AH MEU DEUS! Lá estava ele. Sentado, mexendo nos cachos castanhos. Leonardo.

–O que ele ta fazendo?-perguntei chocado.

–Eu fiz umas pesquisas... -falou Luize se sentando ao lado de Bernardo, que deu um leve sorriso para Annie. -E o Léo virou o segundo menino mais popular da escola, perdendo apenas para o Antônio. Todas as meninas entrevistadas por mim disseram que ele é um gato, e falaram também que dariam tudo por um beijo dele.

Como assim um beijo dele?! Que safadas...

–Nós precisamos falar com ele. -disse Annie.

–Mas eu não sou mais tão amiga dele. -disse Clarice.

–E eu então... -falei.

Digamos que eu e o Léo não tivemos uma conversa muito amigável ontem. Eu falei que a Megan era uma piriguete e ele disse que ela não era, e falou que já que ele não ficou chateado por eu namorar o Frederico (mesmo que por menos de uma semana) eu deveria aceitar o namoro dele. E ele ainda disse que ele foi largado por mim e nem teve chance de ficar com a Luize, e a Megan o ama de verdade.

–Mas você consegue sentar na mesa. -disse Rick. -Ta namorando o Rafael.

–EU NÃO NAMORO O RAFAEL!!!

–E você? Namora a Natália. -falou Jennifer.

–Namorava. -ele corrigiu.

Não sei porque, mas senti uma troca de olhares entre os dois.

–Cat, se alguém aqui fosse popular seria com certeza você. -disse Clarice.

Nesses momentos eu sinto falta da Barbie.

–O que vocês querem dizer com isso? -perguntei assustada.

–Queremos dizer, que você vai namorar o Rafael e trazer o velho Léo devolta. -disse Jennifer.

–Ele não vai me ouvir.

–Mas se for tão insuportável quanto a Megan, ele vai fazer tudo pra calar a sua boca. -disse Lucas.

–Ta, mas eu não preciso ir agora, preciso?

–Acho que não vai ser tão ruim assim. -disse Jennifer me empurrando.

Levantei naquele salto e olhei em volta. Foi como se todos tivessem calado a boca no refeitório para me ver sentar naquela mesa. Quando me aproximei, Cristina e Juliana, as seguidoras da Natália, me encararam feio. Natália continuou conversando com Megan, que abraçava Léo. Ele olhou pra mim como se algo estivesse errado.

–O que faz aqui?- perguntou Megan quando me viu em pé.

–Quem é ela?- perguntou Henrique.

–É a gata de quem eu falei. -riu Rafael.

–Aqui não é o seu lugar. -falou Natália.

–Cala a boca, Natália. -disse Megan. -O que você quer?

–Eu... Eu vim falar com o... -Léo me encarou como se esperasse que eu falasse seu nome. -Rafael.

–Comigo?

–É. Queria saber que horas que você vai me buscar para irmos para o baile.

–Você vai levar isso para o baile?- riu Natália.

–Isso tem nome. -eu falei.

–E ela é bem mais bonita que você, e tem par. -disse Rafael. -Porque não senta com a gente?

–Eu estou com as minhas amigas, mas amanha quem sabe?

–Traz a sua amiga. -disse Antônio.

–Que amiga?-perguntei.

–A ruiva.

–Annie?

–Isso.

–Ok. - falei saindo.

Assim que saí da mesa as meninas sorriram.

–Amanha eu tenho um lugar reservado com os populares. -falei sentando.

–Eu sabia que a patricinha ia conseguir. -disse Annie.

–A rebelde também, o Antônio te chamou pra sentar lá,

–Mas a missão é contigo. -ela falou.

–Vai dizer não ao menino mais popular da escola?

–Na verdade, sim, eu vou.

–Ta. Não to nem aí pra ruiva. Porque não sentou com eles logo?! -perguntou Jennifer.

– Não... Achei melhor esperar.

–O que está havendo? -perguntou Laura. -Eu passei pela mesa, sabe? A mesa. E a Natália taça brigando com o Rafael de ele ter te chamado para sentar lá. Ela ta roxa de ciúmes. E a Megan ta te encarando faz tempo. E por sinal, o que o Léo ta fazendo lá?

–Longa história. -cortou Cárter.

–Eu conto. Senta aí. -disse Bella.

–Eu já volto. -falei me levantando.

Dei meia volta e fui até a mesa dos populares.

–O que foi agora, garota?!-perguntou Natália.

–Você não me disse a hora.

–Ah, pode ser uma meia hora depois de começar. Não curto chegar cedo.

–Eu também não. Temos muito em comum.

Dei um sorriso e me virei. Ouvi a Natália falar:

–Você concorda com esse namoro, Megan?

–Se ela não vier atrás do meu Léo, sou totalmente a favor.

Dei um sorrisinho e saí. Eu conheço tudo da Megan, sempre fui sua fã. Mas acho que ela não faz mesmo a mínima idéia de quem sou eu.

...

*Serena

Era a minha chance. A minha chance de realizar o meu sonho, de ser a rainha do baile. Okay, deve estar achando isso estranho e diferente, mas a verdade verdadeira de verdade é que desde pequena eu sonhava em usar aqueles vestidos compridos e bonitos, e ser acompanhada por um garoto maravilhoso. E eu podia, finalmente fazer o que sempre sonhei. Mas nunca consegui, já que desde pequena me chamavam de Sereno, porque meu corte de cabelo era curto e eu brincava de coisas que só os meninos brincavam.

Estava sentada em frente ao espelho, arrumando meu cabelo, e meu vestido rosa claro. A campainha tocou.

–O que você está fazendo aqui?- perguntei olhando para Laura, na minha frente.

–Vim pegar meu par traído. Pelo menos ela tem alguém para contar nos momentos difíceis. Que lhe ajudam, e não ficam se pegando falsamente com o melhor amigo dela para lhe fazer sofrer por ciúmes.

Continuei encarando a ruiva. Que abusada!

–Vamos. -falou Clarice passando sem me olhar nos olhos para perto de Laura.

–Nada melhor que duas amigas indo ao baile juntas, não acha, Cla?

–Concordo plenamente.

–Que pena que você não pode vir com a gente. –disse Laura.

–Como se eu quisesse... Ao contrário das duas eu tenho um par, que me ama, e é meu namorado.

–Fala sério, Serena! Todo mundo já sabe que isso é uma farsa. –falou Laura.

–Mesmo assim eu não fui traída.

–Mas ele nunca nem namorou com você de verdade! Se toca! –disse Laura.

Lucas apareceu no corredor.

–Oi meninas. Vocês está muito bonita, Clarice. –ele falou, olhando para ela, que revirou os olhos.

–Vamos Laura. –ela disse puxando a ruiva.

Lucas estava com o cabelo penteado, e de calça e camisa social.

–Vamos? –ele falou meio sem saco.

–Sim. –respondi segurando no seu braço.