*Clarisse

–Um minutinho, querida. –falou a secretária.

A moça de trás do balcão era ruiva, cabelo preso em um coque e sorridente. Eu já estava há dez minutos naquela fila para finalmente conhecer a minha parceira de quarto, e deixar aquelas malas em um lugar seguro. Bufei de leve e peguei meu celular.

“Nenhuma mensagem.” “Nenhuma ligação perdida.”

Comecei a ficar preocupada. Ok, não esperava nenhuma ligação do meu pai, já que aquele viciado no trabalho estava num voo de sete horas para algum lugar do mundo, onde um possível homem rico estaria precisando de seu advogado. Mas não era com isso que me preocupava e sim com Tobias, meu irmão mais novo de apenas seis anos, que agora estava em um internato infantil, não muito longe. Assim que ia desligar o celular, o senti vibrando e logo atendi.

–Alô? Tobias?

–Clarisse! –ele falou do outro lado. –To morrendo de saudades. Aqui é muito legal eu conheci um monte de gente, e agora a gente vai jogar bola!

–A é? Eu também to morrendo de saudades. Ta tudo bem então, né?

–Sim! –ele gritou.

–Aqui também é muito legal. Tem piscina, um jardim incrível e eu to indo conhecer o meu quarto. Um beijo! Vai jogar bola que amanha a gente se fala.

–Ta bom, te amo.

–Eu também. –falei desligando o celular.

Tobias não tinha telefone, mas com uma ajudinha do meu pai, ele podia me ligar todo dia através do telefone do internato infantil onde ele estava.

–Clarisse Dall’Aglio? –perguntou a secretária olhando pra tela do computador, e logo depois nos meus olhos.

–Sim. –respondi sorridente.

–Aqui. –ela falou entregando uma chave. –Segundo andar, quarto 204.

–Obrigada. –falei segurando a chave e puxando a mala.

Saí puxando aquela mala azul pelo corredor, até chegar no elevador. A porta estava quase fechando quando eu ouvi a voz de um menino.

–Segura a porta, por favor! –ele gritou.

Apertei rapidamente o botão e ele entrou. Ele tinha cabelo castanho liso, com uma franjinha para o lado. Seus olhos eram castanhos esverdeados e seu sorriso era branquinho.

–Obrigado. –ele disse, me encarando sorridente. –É nova aqui?

–Sou, eu to no primeiro ano do ensino médio.

–Eu também. –ele falou concordando com a cabeça.

–Então você também, não é? Que eu saiba esse internato é só do ensino médio.

–É meu primeiro ano estudando na IGF, mas eu vinha aqui desde pequeno, já que a minha mãe é a diretora.

–Que bacana. Nunca conheci um filho de diretora.

–Então prazer, eu sou o Leo. –ele falou estendendo a mão.

–Eu sou a Clarisse. –eu disse apertando a mesma.

A porta do elevador abriu, e nós dois saímos e ficamos conversando no corredor mesmo.

–Qual é o seu quarto? –ele perguntou.

–204.

–Ih... O seu é lá do outro lado, e fica no final do corredor.

–Isso é bom?

–Mais ou menos. É um dos maiores quartos, mas você vai ter que dividi-lo com outras cinco garotas.

–Nossa, cinco é muita coisa... –eu disse respirando fundo.

–Vem, eu te levo até lá. –ele falou pegando a mala.

–Não precisa, deixa que eu levo.

–Faço questão.

As rodinhas foram sendo arrastadas pelo carpete até uma porta branca com o número da minha chave.

–Bem, foi um prazer te conhecer. Eu estou no quarto 207, com mais dois garotos. Qualquer coisa é só bater lá.

–Obrigada, até mais. –eu falei, o encarando até ele entrar dentro de seu quarto.

Tomei coragem, e botei calmamente a chave na maçaneta, e girei. Assim que entrei no quarto, três meninas me encararam, enquanto uma, no canto, nem tirou os olhos do IPod.

–Oi. –falei sem graça.

Na cama do canto esquerdo, estava uma menina de cabelos ruivos cacheados, olhos verdes e sardas compenetrada no rock de seus fones de ouvido. No canto direito, uma menina loira de cabelo cacheado e olhos azuis, que folheava uma revista de fofoca. Na cama ao lado, uma menina de cabelo castanho e mechas loiras e olhos azuis, que mexia no celular, e também me encarava. E pra completar, uma menina de cabelos negros longos e olhos azuis como eu, que sorria de uma maneira mais simpática para mim. Fui calmamente para a cama ao lado, e desfiz minha mala, ocupando a escrivaninha na frente, uma parte do closet, e as gavetas da mesinha ao lado da cama.

–Eu sou a Clarisse. –falei quando finalmente me instalei.

–Falou alguma coisa? –perguntou a ruiva tirando um dos fones do ouvido.

–Me chamo Clarisse.

–Legal, eu sou a Annie.

–Eu sou a Serena. –disse a menina ao meu lado.

–Eu sou a Mari. –respondeu a loira do mundo cor de rosa, do canto direito.

–Cat. –respondeu a garota do IPhone.

–Olá, pessoas! –disse uma menina entrando no quarto. –É aqui que eu vou ficar? –ela perguntou pulando na cama do meu lado.

–Acho que sim. –falei meio assustada. –Eu sou a Clarisse. Aquela é a Mari, Cat, Serena e Annie.

–Perguntei? –ela falou sorrindo sarcasticamente. –Eu sou a Jennifer.

Ela tinha cabelo loiro levemente ondulado e olhos verdes.

–Meninas!- disse uma mulher alta de cabelo castanho claro, alta de olhos verdes. –Vejo que todas chegaram. Bem, hoje é uma segunda-feira, o que significa: aula. Eu sou a Rebecca, monitora do andar, mas podem me chamar de Becca. Peguem a mochila, ou bolsa, já que é o primeiro dia, é só um período de adaptação. Nada de mais. Vamos logo, viu?

Alguns minutos depois, já estava no elevador, descendo para o jardim, a caminho do outro prédio com as salas de aula. Foi quando esbarrei com um garoto, que me fez derrubar a mochila.

–Desculpa, mesmo, viu?- ele disse pegando a mochila e tudo que tava dentro.

–Sem problemas. –respondi.

Ele era muito bonito. Tinha cabelo loiro, olhos azuis e sorriso branquinho.

–Bom, qualquer coisa eu sou Fred. –ele disse me entregando a mochila.

–Clarisse. –respondi.

–Até mais! –ele falou saindo de perto.

–Clarisse! –alguém gritou de longe.

Quando olhei pra trás, vi Serena correndo para perto de mim.

–Se importa de eu for com você pra aula?

–Não. –respondi sorridente.

–E então? Conheceu o Frederico, não foi?

–Você o conhece?

–Eu encontrei com ele na recepção hoje cedo. Ele é um doce. Morava com os pais, mas eles se separaram e decidiram botá-lo na IGF enquanto decidem quem vai ficar com a guarda dele. Ele é bem disputado entre os dois.

–Situação complicada.

–Pois é. A minha mãe briga de vez em quando com o meu pai, mas nada muito sério, eles nunca tentaram me disputar.

–Qual a profissão dos seus pais?

–Advogado e arquiteta, e os seus?

–Pintora e Advogado.

–E eles brigam muito?

–Minha mãe faleceu a um tempo.

–Meus pêsames, desculpa, eu não sabia. –ela falou se sentindo culpada.

–Sem problema. Agora vamos que eu quero um lugar bom na sala de aula.