*Luize

Acordei com aquela saudade, sabe? Aquela sensação que faltava alguma coisa? Então... Olhei em volta. Aquele quarto era tão grande. Aquelas meninas tão diferentes das que eu conhecia. Por um lado isso é ótimo! Elas eram divertidas e nunca me excluíam, mas por outro lado, eu senti falta da minha BFF. Alguém que você cola e não desgruda? A Annie tinha Cat, a Serena a Cla, e a Jennifer... Bem... Ela é a Jennifer. Pelo menos, eu tinha um amigo. Um amigo, não. O amigo. O melhor amigo que alguém pode ter. Éramos inseparáveis. Na maioria das vezes ficávamos eu, Catarina, Clarice, ele, o Fred e Lucas, juntinhos. Inseparáveis. É claro que a Annie e a Serena sempre entravam de alguma maneira, e eu até achava bacana. O Léo é aquele tipo de menino que não cansa. Tem sempre uma piada boa, um sorriso fofo, e é bem distraído, o que de certa forma é engraçado, já que ele vive caindo.

As meninas acordaram pouco tempo depois, com um pique danado. Era terça-feira e no dia seguinte teríamos o tão esperado jogo. Treinávamos a dias para conseguir pelo menos um empate, ou uma perda não tão absurda. Quem sabe uma vitória?

Olhei para perto da cama da Annie, para aquele sol lindo de morrer no céu azul, que iluminava o quarto todo. Me levantei, e fui para o banheiro. Jennifer e Serena estavam sentadas na cama escovando o cabelo, enquanto Annie saiu de pijama e tudo pelo corredor para pegar a roupa na lavanderia. Fui para o banheiro, onde Clarice e Catarina escovavam os dentes. Apoiei o meu IPhone na bancada da pia, e um assovio ecoou pelo banheiro.

“Bom dia!”

“O que vai fazer hoje?”

“Topa um filminho?”

O assovio ecoou umas três vezes, e o IPhone ligou, mostrando as mensagens do Whatsapp do Léo na tela bloqueada.

–Quando deram o primeiro beijo? –perguntou Cat sorridente ao fuçar as mensagens.

–O que? –perguntei assustada.

–Vocês não deram? –perguntou Clarice.

–Como assim? –perguntei assustada.

–É, você e o Léo. – disse Cat.

–Somos só amigos. –afirmei.

–Claro... E a lua é feita de queijo. –disse Cat.

–Mas é sério. Somos só bons amigos.

–O que a de errado com o Léo? –começou Catarina. –Ele é muito baixo? Mas você é menor que ele! É por ele ser filho da diretora? Olha pelo lado bom, isso pode trazer benefícios!

–Claro que não Cat! Não é isso. Ele é o meu melhor amigo, e nada mais. Pode perguntar para ele.

–Perguntar o que? Se ele é apaixonado por você?

–Fala sério, Lu! Você já sabe a resposta. –disse Clarice.

–Eu sei, mas parece que a Cat não sabe. É óbvio que a resposta é não.

–Pelo contrário, a resposta é sim. Um belo de um sim. –disse Clarice.

–Não é possível...

–Como não? Vocês se falam todo o dia, trocam mensagens, combinaram até um filminho! –disse Cat.

–Ah! Duvido que você nunca tenha ido ver um filminho com o Léo!

–Sozinha depois que a gente terminou não. E você Clarice?

–Não. Eu já fui com o Lucas...

–Ah! Esse Lucas também se amarra em você! –falou Cat. –Se bem que ele ta com a Serena... Mas ok, é coisa de amigo ver filme sozinho. A não ser que esse amigo seja o Léo. Aí é outra história.

–Se você tem tanta certeza que ele gosta de mim, então prova.

–Ok. Provo de olhos fechados. –disse Cat.

–Ótimo! –falei.

–Ótimo. –ela falou.

Será que é verdade?

...

*Clarice

Estávamos quase todas no campo, já por volta das três horas para treinar para o jogo, naquele sol queimando. Annie e Cat arrasavam com as roupas mais bonitas da aula, enquanto Serena e Laura lideravam o treino.

–Laura, você vai ser a goleira. –falou Annie, nossa outra técnica.

Eu não sou muito boa no futebol, na verdade eu era um desastre. Eu e a Cat tínhamos a maior boa vontade, mas éramos duas pernas de pau. O resto do time era mais ou menos, com exceção da Annie, da Laura e da Serena, que eram craques. Mas nosso time não era nada em comparação ao masculino. O que era bem ruim.

–E aí, Cat? Qual vai ser a desculpa de hoje? –perguntou Laura.

–Do que você está falando?

–Todo dia você tem uma desculpa para a ausência da sua diva, Megan. Quero saber o que houve hoje? Dor de cabeça? Cólica? O passarinho morreu? Seu esmalte favorito tava em falta?

–Não fala assim... –falei, tentando defendê-la.

–A Laura ta certa. –disse Jennifer. –Sua queridinha não veio a um treino se quer.

–Gente... –eu disse.

–Elas tem razão. Eu vou atrás dela, podem continuar a treinar. –ela disse.

–Eu vou com você. Sou horrível, e nem um ano de treino vai mudar isso, quanto mais vinte minutos. –falei seguindo a Cat.

Ela foi andando até uma parte do internato onde ficam cadeiras e mesas ao ar livre. Lá estavam o Gabriel, a Natália, umas outras meninas e meninos que eu não conhecia e a Megan, com sua roupa de última moda.

–E então? Se decidiu? –perguntou Cat.

–Como é? Eu te conheço?

–Esqueceu? Bem... Não vim cobrar da sua maravilhosa memória, e sim da sua escolha: vai fazer parte ou não do time de futebol?

–Não sei. –ela falou, sem olhar nos olhos da Cat.

–Pois é, mas o jogo é amanha.

–Ótimo, então eu tenho 24 horas para pensar.

–Não você não tem. Eu venho te seguindo, mandando mensagens, recados, até cartas e e-mails e você nunca respondeu nenhum. Eu comecei com um fanclube para você, e se quer dar uma de Peter Van Houten o problema é seu. Só que eu te perguntei a uma semana atrás e você disse não sei, e eu menti, admito, mas depois você disse que sim, e eu fiquei tranquila. Mas você faltou cinco treinos, e agora eu venho aqui e você diz que não sabe. Você pode ser famosa, mas nunca mais vai ser a minha Diva, e eu lhe pergunto então, pela última vez, você vai ou não jogar amanha.

Todos ficaram de queixo caído, e Cat continuava olhando para ela.

–Depois de uma grosseria dessas, você ainda espera um sim? É claro que não. Agora sai da minha frente, garota. E vê se enxerga.

Catarina olhou para todos em sua volta, estavam todos de olhos grudados nela, e logo depois eles caíram na risada. Ela saiu correndo. Fui atrás dela.

...

Já tinha se passado uma hora e finalmente fui libertada daquele quarto e daquelas lágrimas da Cat. Fui até o corredor, mas fui parada por uma risadinha. Quando olhei para trás, vi Serena e Lucas abraçados.

–Serena, aonde você estava?

–Ah... Eu tava com o Lucas.

–Ah você tava com o Lucas? Eu passei uma hora te ligando para você ir para o nosso quarto me ajudar com a Cat e você tava com o Lucas?

–Porque não ligou para outra menina?

–Pensei que eu pudesse contar com a minha melhor amiga!

–Não precisa ficar assim, calma nada! –falei.

–Nossa, Clarice, você não é assim. –disse Lucas.

–Ta, agora vamos, Serena, vamos ver aquele filme de ação que a gente tava afim de ver.

–Ah... Eu já vi com o Lucas.

–O que?! –perguntei indignada.

–Desculpa, Cla.

–Quer saber? Tchau! –falei dando as costas.

O que estava havendo comigo? Alguma coisa muita estranha... Eu não era assim... Não agia daquele jeito. Saí correndo pelo corredor. Eu me sentia muito esquisita, não sabia o que estava sentindo. Foi quando, no meio da correria, escorreguei no carpete, e caí no colo de um menino.

–Tudo bem? –ele perguntou, me pondo em pé.

–Tudo. –respondi. –Desculpa.

–Sem problemas, meu nome é Gabriel.

–Me chamo Clarice.

Seus olhos castanhos e seu cabelo castanho eram muito lindos.

–Gabriel, não vai me apresentar sua amiga?- perguntou um menino aparecendo logo atrás dele.

–Harry, essa aqui é a Clarice.

–Muito prazer. –ele disse, beijando minha mão.

Ele tinha olhos azuis brilhantes e cabelo castanho escuro.

–Oi Cla! Pelo visto conheceu meus irmãos. –falou Stephanie chegando perto. –Não da bola para eles não, viu? –ela disse sorrindo. –Vamos embora garotos. –ela disse entrando no elevador.

–Foi um prazer imenso em lhe conhecer, Clarice. –falou Harry, logo depois de Gabriel.

Que escola é aquela que só tem gente bonita? Só assim para esquecer do Lucas e da Serena... Droga! Por que eu tinha que lembrar?!