Prova de Fogo escrita por cessiuh


Capítulo 9
O toque


Notas iniciais do capítulo

Desculpem o atraso fiéis leitoras.
^^



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/50727/chapter/9

"Sem mais pesadelos, mas não sem tormentos. Tive a impressão que meus pensamentos, não me deixaram nem por um momento sequer. Os mesmos tristes pensamentos."

Acordei com um insuportável ruído, que poderia ser uma tentativa de música. Ou um pedido de socorro.

“Eu sei que eu não posso gritar

Gritos sufocados vão me matar...”

Mas o que era isso agora? Será que era mais um pesadelo?

“Eu sei que eu não posso correr

Correntes invisíveis vão me prender”

Hinari cantava com fúria, com... Não sei explicar. Parecia realmente um pedido de socorro, sem gozação. A cama também fazia um ruído, ela estava se movendo e a madeira velha da cama fazia um barulho irritante e insuportável.

“Alguém tenta sair dessa luta injusta

Eu vou cair

Se ninguém me ajuda”

Não bastava a noite horrível, eu era obrigada a ouvir uma desafinada tentar cantar?

“Quando será o fim...

Desse pesadelo?”

- Eu é que pergunto. Dá pra calar a boca? – Houve silêncio. Então me passou pela cabeça a idéia de outra pessoa estar no quarto. E se não era Hinari que estava falando/cantando/atrapalhando meu sono? Esperei algum tempo, para ter certeza que estávamos sozinhas e saí de debaixo da cama aliviada. Sozinha. Quase. Havia Hinari deitada na cama, de olhos fechados. Ela fingia bem, parecia mesmo que estava dormindo.

- Hinari? – Ela não respondeu. – Vai me ignorar agora?

Fiquei surpresa ao descobri que ela realmente dormia. Hinari falava dormindo? Ou melhor, cantava dormindo? Que tipo de louca ela era?

Sentei ao seu lado e tentei decifrar aquela expressão do seu rosto. Alguma coisa estava diferente nela, e eu não sabia o que era. E pior, eu sentia a estranha sensação de que devia saber, mas estava me esquecendo de algo. Eu sabia de alguma coisa importante, mas era incapaz de perceber.

Ali sentada, observando aquele rosto... Me deixei levar pelo impulso de tocar seu rosto. Tirei a mão num susto, ao perceber a face úmida. Ela havia chorado?

Tentei lembrar quais foram exatamente as palavras de Hinari. Não consegui.

Alguma coisa sobre morte, prisão, luta e pesadelo. Achei que seria um favor acordá-la imediatamente. Peguei os cabelos dela e dei um leve puxão. Ela acordou.

- Ai... o que...Yumi? Você já está acordada?

- Não. Só me levantei para apreciar sua cantarolada. Ainda estou dormindo.

- Hã?

- Esquece. Cadê esse café da manhã que não vem? – Perguntei a sei lá quem, sem esperar resposta, me sentando na cama.

- Daqui a pouco chega. É melhor você voltar para debaixo da cama.

- Por que vocês comem no quarto? Não seria melhor para eles fazerem algum tipo de refeitório?

- Eles evitam que fiquemos juntos.

- Hum... É mesmo. – Fazia sentido. - É um chute ou você tem certeza disso?

- é só o que eu acho. – ela falou colocando uma das mãos na cabeça. Era impressão minha ou ela estava meio desorientada?

Voltei para debaixo da cama e me acomodei no chão duro e sem graça. Era inevitável deixar de pensar em certas coisas que me atormentavam tanto desde a noite anterior.

- Hinari, eu posso te fazer uma pergunta?

- Pode. – Perguntou um pouco desconfiada, mas extremamente curiosa.

- Onde estão seus pais?

- O que?

- Seus pais. Você não tem?

- Não. Acho que não tenho isso.

- Eu também não tenho... Isso. - dei uma risada meio sem graça. - Eu acho. Bem... Se algum dia eu tive, não tenho mais.

- O que é isso?

- Aqui vocês devem chamar de outro jeito. Talvez seja isso que dificulta tanto nossa comunicação inclusive. – Depois de uma pequena pausa, continuei. - Pais são os idiotas que te colocam no mundo. Não querem sofrer sozinhos, sabe? Não querem morrer sozinhos. Então te geram e te criam. Ou te abandonam. Como se não fosse suficiente o egoísmo, há aqueles que abandonam seus próprios filhos... Vão embora como os meus. Desaparecem. Te esquecem, te desprezam... Eu sou uma garota indesejada Hinari, sempre fui.

Eu nunca havia pensado sobre as coisas que agora atormentavam minha mente. Eu nunca fui do tipo de refletir. Muito menos de ficar me abrindo com alguém. Eu me abria de muitas maneiras, com várias pessoas, pode crer, mas não desta forma. Nunca abria meu coração, é o que quero dizer. Mas naquele momento eu sentia confiança em Hinari. Eu queria explicar a ela.

- Talvez por isso eu seja essa garota detestável. Eu não sei em que momento da minha vida eu me tornei assim. Só sei que nada pode me fazer mudar. O que sou hoje é o conjunto de experiências, de dor e de lembranças. Ninguém me ensinou o que era certo. Eu tive que decidir sozinha.

- E você acha que decidiu certo?

Mas que pergunta! É claro que... Eu não sabia.

- Sim. – respondi.

Ela sabia que era mentira.

De repente uma sirene barulhenta começou a tocar.

- Mas que diabos é isso agora? – berrei. Mas ainda assim, desconfio que não fui ouvida.

Saí da cama com as mãos nos ouvidos. Olhei pra Hinari esperando uma explicação.

- É o toque! – Hinari possuía uma expressão indecifrável. Um misto de medo, empolgação e confusão. Estava séria. Aquele barulho possuía um significado. Algo que eu não entendia.

- O que isso significa?

- Que os desafios começam. Hoje.

- Mas... O que é isso? – Ela havia me deixado nervosa. Que história era essa agora? – Você falou desses desafios, mas... Como assim?

- São desafios.

“Eu vou me casar depois dos próximos desafios”

- É. Isso Hinari, eu já entendi. – Falei com toda a calma possível. – Desafios de quê?

- Amanhã é a prova de gelo.

- Gelo? E pra que uma prova de gelo? Por que você está assim? O que é que há de errado?

- Eu não sei. Eu não sei o que há comigo.

- Hinari, você está me preocupando, me explica direito. Isso é um tipo... Uma competição esportiva?

- Eu acho que não. Os desafios são para... testarmos nossa capacidade.

- Ta, e o que é que se ganha com isso?

- Nada.

- Então por que participar?

- Todos têm que participar. Não há escolha. – ela parecia atordoada.

- É obrigatório?

- Eles fiscalizam. O prédio deve ficar vazio. – ela falava com preocupação.

- Ah não... Droga! E agora? – passei a mão pelos cabelos, e peguei e soltei o ar pela boca.

- Não há um controle... De pessoas nos desafios.

- O que você está querendo dizer?

- Que não vão te descobrir se você participar dos desafios. - Era o que eu temia. Mas eu ainda não tinha idéia de que aquela sensação não se tratava de uma simples aversão por esportes. Tinha a ver com Igra. Tinha a ver com desafios. Tinha a ver com intuição.

- Eu vou ter que participar? – Hinari assentiu com a cabeça.

- E o que é que eu tenho que fazer lá?

- Apenas tente sair.

- Tentar sair? – Aquela sensação novamente me tomou. -E se eu não conseguir?

- Você morre.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Duas ótimas notícias para quem gosta de mim e das minhas histórias:
1 - Eu passei de ano o/
2 - Eu terei muito mais tempo para escrever. ^^
E a fic não vai ficar na lerdeza que está atualmente.

E aí, rola um review?



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Prova de Fogo" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.