- Eu acho que não entendi bem...

- Hinari, onde fica a cozinha?

Peguei as minhas roupas e as coloquei no guarda-roupa. Por cima delas guardei as de Hinari. Eu havia jogado quase todas as peças no chão. Não eram muitas. Encontrei o relógio que eu havia roubado, eu o havia deixado ali com minhas coisas. Aquilo me fazia pensar naquele acontecimento, eu tentava fugir das dúvidas, mas era impossível. De todas as coisas sem sentido aquele ônibus ficava em primeiro lugar. Balancei a cabeça, tentando afastar os pensamentos. O QUE É TOTALMENTE INÚTIL. Como se pode afugentar pensamentos balançando a cabeça? É idiotice.

Depois de arrumar tudo eu me sentei na cama. Eu estava preocupada. A cozinha ficava no subsolo. Ninguém podia ir lá. Bem... Mas eu não podia ficar sentada esperando alguma coisa acontecer.

Hinari já havia me alertado das conseqüências da quebra de uma regra. A prisão. Se no mundo normal, ela é o pior local em que se pode estar, não queria nem imaginar como ela seria no pior lugar do mundo.

Não havia ninguém no corredor, o subsolo estava vazio. Havia três portas, tentei abri-las, mas estavam todas trancadas.

Hinari ficou lá em cima, no quarto. Ela não iria se arriscar tanto, embora tenha dito que estava do meu lado.

Mas foi inútil, estava tudo trancado.

- O que você está fazendo aqui? – Eu gelei. A voz atrás de mim vinha de uma mulher. Disso eu tinha certeza.

Outra certeza: Eu estava fudida

Virei e me deparei com uma mulher vestida de preto. Não, não era a morte. Mas bem que podia ser, tinha uma cara assustadora. Ela era jovem, parcialmente bonita, mas me olhava como se estivesse prestes a tirar uma foiça da bolsa. Mas é lógico que isso era impossível. Ela não tinha bolsa.

Seu cabelo preto estava preso num coque e ela era muito pálida.

- O que você esta fazendo aqui? – Ela repetiu a pergunta, irritada e impaciente.

Mas que idiota que eu sou. Eu devia ter pensado no que dizer se isso acontecesse.

- Eu… eu vim… nada, eu só estava procurando o banheiro. – Essa é sem dúvida a desculpa mais patética. Mas podia funcionar.

- Banheiro? – Ela ergueu as sobrancelhas.

Não, não podia funcionar. Mas que desculpa mais patética!

- Você estava procurando um banheiro no subsolo? É proibida a entrada de vocês aqui.

- É? Então… Eu acho melhor eu ir embora.

- Pelo contrário, acho melhor você ficar mais um pouco. Que tal me dizer o que realmente está fazendo aqui?

- Eu não achei que teria problema. Eu só queria ver se... Estava distraída e errei o caminho.

- É melhor abrir o jogo se não quiser que eu chame os guardas.

- Guardas? Mas pra que? A gente pode resolver isso entre nós duas, não acha? Aliás, o que você está fazendo aqui?

- Era só o que me faltava. Eu sou a cozinheira garota.

Então ela era a cozinheira?Ahhh Conheci a desgraçada! Não deve ser difícil imaginar o que eu queria fazer com aquela mulher.

- Certo. Você quer saber o que eu vim fazer aqui. Eu vim falar com você.

- O que você tem para falar comigo? Você... – Seu semblante mudou. E num sussurro ela repetiu. - Você!

- Eu sei que tem alguma coisa muito podre acontecendo aqui. Eu sei que é você. E eu quero que você me diga o que é.

- Você sabe! – Ela parecia confusa. – O que eu fiz de errado?

- É você, não é?

- Eu o que? Você não devia estar aqui. No que você estava pensando Yumi?

- Como você sabe meu nome?

- Eu sei o de todos. Você tem um cadastro aqui.

- Não, eu não tenho. Não tenho cadastro nenhum. Como você sabe meu nome?

- Eu já disse, conheço todos.

- Eu te conheço.

Uma lágrima escorreu pelo lado do seu rosto. Nada mais. A sua expressão continuava a mesma. Séria, ela estava no meio da escada. Mas eu pude ver com todos os detalhes aquela lágrima caindo. Quem era aquela mulher?

Ela desceu devagar. O som que seus passos faziam se misturavam com os do meu coração. Ela passou por mim e foi em direção a uma das portas, com uma chave que estava no seu bolso, sem dizer uma palavra sequer, abriu a porta e entrou.

A porta permaneceu aberta.

O que isso significava? Uma chance para eu ir embora ou um convite para eu entrar? Uma oportunidade. O que eu faria? Entre.

Eu obedeci à primeira palavra que veio em minha mente, e isso não é uma atitude sensata. Eu tinha consciência disso, só pra constar.

Eu entrei e fechei a porta. Num canto havia uma mesa pequena e duas cadeiras, a mulher estava sentada em uma delas. Eu fui em sua direção e me sentei. Em cima da mesa havia um prato de comida. Ela aproximou o prato de mim e se levantou. Não pude ver para onde ela foi. Eu estava morrendo de fome, comi aquilo mesmo sabendo que era mais uma atitude insana.

Tinha um gosto bom. Pelo menos foi o que eu achei, talvez essa impressão tenha sido causada pela fome. Quando fui embora ela estava do outro lado da cozinha, de costas, atrás de um balcão.

Voltei para o quarto de Hinari, tendo uma sensação muito estranha durante todo o caminho. A sensação de estar sendo observada. Mil perguntas lutavam por atenção em minha mente.

Quem era aquela mulher?