10

Quando uma carta de 13 anos atrás chegou ao reino de Costa Étoile, com a assinatura da Rainha, todos ficaram eufóricos. A carta foi recebida por um soldado, que passou ao meu pai o trecho.

Meu querido povo, estou a beira de um mar que eu não sei onde fica, posso ver a luz se aproximando. É o fim deste sangue azul que corre em minhas veias, sou a última sobrevivente de nossa família e estou lhes dizendo que acabou. Não sei se essa carta um dia chegará a vocês, mas espero que sim.

Por mais que não tenha quem assumir este castelo quando esta guerra acabar, vençam ela. Tragam a vitória em honra de seus senhores, honrem nossas mortes, mostrem a eles que vocês são capazes de tudo.

Eu aqui deixo minhas despedidas, e deixo meu reino para o Rei Burt Hummel e sua família, caso eles tenham sobrevivido. Caso contrário, autorizo a venda de todas as coisas em meu castelo, de todas as minhas joias, e que o dinheiro seja dividido entre as famílias de meu reino.

Lhe peço só mais uma coisa, nunca se esqueçam da Rainha que lutou por vocês até o fim.

Com amor, Rainha Amélia.

Após está carta, os soldados tiveram um surto e lutaram com ainda mais garra. Acabaram com o exército inimigo e retomaram a posse do castelo. Meu pai foi comunicado imediatamente, e assim que ele voltou de sua conferência, deu a notícia a minha mãe de que estávamos voltando para casa.

Ela só foi me dar a notícia horas depois, logo que Rachel deixou a nossa casa. Ela me explicou toda situação, que finalmente tínhamos paz.

– Eu não posso ir agora, mãe. Ficamos pouco mais que um mês aqui e eu nunca me apeguei tanto a um lugar. – Sentei no sofá com as mãos nos cabelos.

– Petit Prince, não quebre meu coração, nós temos que voltar. – Elizabeth sentou ao meu lado e me abraçou.

– Foi confirmado que essa princesa está morta, não é? Eu posso ficar aqui. – Ela segurou meu rosto e me olhou nos olhos.

– Meu filho, jamais lhe deixaria para trás. O máximo que posso fazer é adiar a nossa volta. Vamos embora após esse baile. – Ela suspira. – Eu sinto muito, meu amor, mas mesmo com a Princesa morta, você é quem vai assumir o reino.

– Deixe-me adivinhar, acharão outra Princesa para eu me casar. – Levantei irritado. – Eu não quero nenhuma princesa, eu nunca quis.

– Kurt Hummel, muito cuidado com seu tom de voz, acha que porque teve uma paixonite na adolescência pode jogar todo o seu futuro pro alto? – Paro assustado.

– Quem disse que tenho uma paixonite? – Minha respiração acelerou.

– Você é meu filho, eu lhe conheço muito bem, notei quando começou a ficar estranho. Me perguntava com mais frequência se a Princesa estava morta. – Ela suspirou. – Ela estar viva ou morta, não muda muita coisa. Você precisa voltar, mostrar seus sentimentos pelo povo dela, dizer que também sente a morte dela. Você está ligado pro resto da sua vida a essa garota.

– Acho que devo te agradecer por isso. – Subi as escadas correndo e fui até meu quarto.

Eu jamais tinha discutido com minha mãe, ou discordado dos planos que ela fez para a nossa família. Todos sabem que as Rainhas pensavam em salvar todos quando prometeram seus filhos, mas elas não pensaram que seus filhos podiam querer outra coisa a isso.

Não quero deixar Ohio, não quero deixar Rachel, muito menos Blaine.

Eu não dormi naquela noite, tive de fazer minhas malas para que tivesse mais tempo para me despedir no dia seguinte. Eu sentia um peso no estômago e uma sensação estranha. Passei todos esses anos sentindo saudades de casa, e agora eu não quero voltar. Tudo porque me apaixonei pela pessoa errada.

| R |

Já era sábado a tarde, eu tinha que buscar Rachel às 20hrs. Eu estava com um estúpido frio na barriga. Devia ser porque estava prestes a voltar ao reino onde nasci, estava prestes a herdar dois reinos e ter de tomar conta deles. Era responsabilidade demais para um adolescente de dezoito anos.

– Petit Prince. – Olhei para o lado e vi Elizabeth parada ao lado de minha porta. – As suas malas estão prontas?

– Sim, estão ali. – Apontei para um canto e continuei deitado em minha cama.

– Está tudo bem? – Ela sentou aos meus pés.

– Eu não sei. – Suspirei.

– Querido, tudo vai se ajeitar quando chegarmos lá, você vai esquecer essas pessoas logo. – Ela levantou e pegou o terno que estava sobre a cadeira.

– Eu não quero esquecer, mãe. – Sentei-me. – Eu realmente gosto deles, eu me sinto bem com eles de um jeito que eu nunca me senti.

– Não vou discutir com você. – Ela me encarou séria. – Eu sei o quanto você gosta deles, e o quanto ama essa garota, mas nós temos um compromisso.

Eu senti uma vontade enorme de dizer que não era Rachel quem eu amava, queria ver o rosto da Dona Elizabeth ficar perplexo. Mas eu jamais teria coragem. Talvez ela esteja certa, eu vou esquecer e tudo vai ficar bem.

– Não está na hora de buscar Rachel? – Ela olhou em seu relógio.

– São 17:45. – Olhei meu relógio e ela negou com a cabeça.

– São 19:45, na verdade. – Ela saiu do quarto no mesmo momento que eu dei um pulo da cama.

Me arrumei o mais rápido possível, e exatamente às 20hrs eu estava na frente da casa de Rachel. Ela estava com o vestido que havia ganhado de Elizabeth, e ela estava maravilhosa. Tinha um sorriso de orelha a orelha. Lhe dei o bracelete tradicional dos bailes, havia feito uma pequena pesquisa sobre para não pagar nenhum mico.

Você deve achar estranho eu nunca ter ido a um baile, sendo que moro aqui faz tanto tempo. Bem, eu nunca me misturava na escola, nunca li nenhum panfleto e também nunca fiquei em uma escola por mais de cinco meses.

– Você está linda, Rachel. – Ela corou e sorriu.

– Obrigada, digo o mesmo de você. – Ela olhou meu simples terno preto.

– Ah, Blaine pode ir conosco? – Ela curvou os ombros.

– Claro, por que não poderia? – Franzi o cenho.

– Não sei, bom, vou chama-lo. – Ela foi até a porta da casa e voltou acompanhada de Blaine, que vinha acompanhado de mais alguém.

Era Hazel, a garota ruiva que é apaixonada por Blaine desde o ano passado. Eu senti algo como se meu estômago pegasse fogo e fechei o punho. Ele passou por mim e deu um pequeno sorriso.

– Oi, Blaine. – Ele parou ao meu lado e me encarou.

– Oi, Kurt. – Ele pareceu surpreso.

Virei-me para o carro e saí caminhando depressa. Esse baile seria maravilhoso.

O que ninguém esperava, era uma Rachel magnífica. E eu não esperava o choque de tantas pessoas. Quando lhe perguntei o porque disso, ela corou. As pessoas olhavam para ela.cochichavam, olhavam mais uma vez e ficavam perplexas.

– Acontece, Kurt, que eu sou a garota mais pobre desta escola, e estou com o melhor vestido. – Ela curvou os ombros.

– Não curve os ombros, você está... – Fui interrompido.

– Linda. – Virei-me e vi um Finn ainda mais perplexo que os outros.

Quinn estava ao seu lado, e ela lhe deu uma encarada pelo que ele disse. Rachel estava muito corada. É tão óbvio, todo esse ódio por Quinn se aproximar de Finn, o motivo não era a rixa com a loira.

– Olha, eu não sabia que brechós tinham roupas boas. – Quinn disse debochada.

– O que é um brechó? – Perguntei confuso.

– Uma loja que vende roupas usadas, Kurt. – Rachel me respondeu. – E Quinn, infelizmente eles ainda não vendem, se não seu vestido seria melhor.

Tanto Finn, quanto eu, não conseguimos segurar o riso. Quinn ainda olhava brava para Finn, e ele simplesmente não ligava. Rachel passou entre os dois, deixando uma Quinn brava e um Finn ainda perplexo.

Quando todos estavam dançando, inclusive Rachel e eu, notei que Blaine estava sumido. Hazel estava sentada sozinha em um canto, com o olhar baixo. Disse para Rachel que estava indo ao banheiro, e fui atrás de Blaine.

Eu sabia onde ele estava, era um tanto óbvio.

Assim que entrei nos corredores, ouvi os acordes ecoando. Eu não consegui reconhecer a música, talvez fossem apenas notas aleatórias, mas a sinfonia era maravilhosa. Entrei no auditório e ele estava no palco, centrado em seu piano.

Fui até o palco, sem fazer nenhum barulho. Não me aproximei muito, para que ele não notasse. Quando a música acabou, ele permaneceu do mesmo jeito, com as mãos sobre as teclas.

– Eu não conheço essa música. – Disse e ele virou depressa.

– O que faz aqui? – Ele arregalou os olhos.

– Eu ia fazer a mesma pergunta, Hazel está sozinha lá. – Apontei em direção ao ginásio, onde estava acontecendo o Baile.

– Foi um erro ter a convidado. – Ele fitou o chão.

– O que há com você? – Eu estava ficando preocupado.

– Não há nada. – Ele me olhou, e seus olhos estavam ainda mais dourados, lindos, porém tristes.

– Não comece a mentir, é muito feio e você não sabe. – Ele suspirou.

– Não é nada, sério. – Ele me encarou e suspirou mais uma vez.

– Blaine, para com isso vo... – Ele levantou depressa.

– Para você, Kurt, que coisa, me deixe em paz. – Sua voz estava mais alta.

– Não, eu não vou deixar você desse jeito. – Levantei a voz, usando o mesmo tom de Blaine.

– Na verdade você já deixou. – Ele gritou.

Como eu deveria interpretar isso? Vários pensamentos invadiram a minha mente. Eu encarei Blaine, que tinha o olhar triste e a respiração alterada. Eu reconheço esse estado de alguns filmes. Eu estava perplexo demais.

– Blaine, você quer dizer que... – Ele me encarou, e enquanto eu avançava em sua direção, ele recuava.

– Eu não consigo entender. – Ele passou a mão pelos cachos.

– O que você não entende? – Caminhei mais depressa e segurei seu braço para que não fugisse.

– Eu não consigo entender o amor. Não consigo entender a ligação que alguém pode ter por um completo estranho. Não consigo entender as loucuras que alguém pode fazer por outro. Sempre pensei que era impossível eu me sentir desse jeito por alguém, mas é como dizem, todo mundo tem um desastre na vida e me apaixonar por você é o meu desastre, Kurt. – Um frio percorreu minha espinha.

– E-Eu... eu não sei o que dizer. – Blaine riu debochado.

– É claro que não sabe, mas tudo bem, isso não importa. – Ele puxou o braço.

– Na verdade importa. – Olhei em seus olhos. – Eu sou a primeira pessoa pela qual você se apaixona.

– Óti.. – Eu lhe interrompo.

– E é confuso pra mim, porque eu sinto o mesmo por você. – Senti minhas bochechas queimarem, assim como meu estômago e vi um brilho surgir nos olhos de Blaine.

Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, eu já sentia seus lábios nos meus. Era estranho, eu jamais tinha beijado alguém, e acredito que Blaine também não. Eu não sabia o que fazer, mas adorei a sensação de ter seus braços na minha cintura e o gosto de seus lábios. Comecei a sentir um calor repentino, e uma vontade ainda maior de ficar em seus braços para o resto da minha vida.

Mas eu tinha que parar, eu não podia ficar aqui para sempre, eu tinha que volta para Costa Lune.

– B-Blaine... – Me afastei, porém ele não soltou minha cintura.

– Kurt, você não sabe o quão feliz eu estou. – Ele abriu um sorriso.

– E-Eu... nós não podemos. – E do mesmo jeito que o sorriso surgiu, ele se foi.

– Como assim? – Ele largou minha cintura e tive a sensação de que estava perdendo tudo, que estava desprotegido, que tinha sido largado no espaço.

– Eu não sou quem vocês pensam, eu não sou o filho da emprega, eu sou o filho da madame. – Um nó surgiu na minha garganta. – Eu vou embora hoje a noite, para o outro lado do mundo. – As lágrimas saíram involuntariamente.

– Por quê? Kurt, você não pode. – Seus olhos se enxeram de lágrimas, e eles ficaram verdes. Então verde é a cor que seus olhos assumem quando ele está magoado? Seus olhos passaram a semana toda em um tom de verde oliva.

– Eu não quero ir, mas eu tenho. – Peguei em sua mão. – Me desculpe.

– Por que tem que ir? – Ele praticamente sussurrava.

– Eu não pertenço ao seu mundo, Blaine.

Então eu corri, com o coração pesado e um nó terrível na garganta. Agora eu sei como é ter o coração partido, e eu sabia que jamais iria esquecer esse sentimento, e que jamais esqueceria Blaine, afinal, nós nunca esquecemos nosso primeiro amor.