P.O.V Shane

Depois que a Senhorita Intrometida saiu, Diana aceitou prontamente meu convite. Então eu apenas avisei meus pais que já ia me retirar e sai. Eu não sabia ao certo onde estava indo, mas antes que pudesse achar um destino certo, vi uma garota no jardim, ela estava agachada perto de um canteiro e parecia extremamente entretida com as flores. Reconheci-a em questão de segundos, era Belle, a seguidora loira de Samantha.

Sem saber exatamente o porquê, aproximei-me dela.

–--É um belo jardim, não?

Ela assustou-se e se levantou imediatamente, ajeitando o vestido. Assim que viu quem eu era, corou e abaixou a cabeça, colocando uma mexa de cabelo atrás da orelha. Belle era extremamente tímida e, estranhamente, aquilo me encantou.

–--É sim, Alteza. – respondeu em sua voz doce e baixa.

–--Você é Belle, não é?

Ela apenas confirmou com a cabeça, mas pude perceber que estava feliz por eu saber quem ela era.

–--Ah, só te vejo acompanhada pela Miss Irrita... Quer dizer, - corrigi-me rapidamente, ela poderia não gostar que eu insultasse sua amiga – Samantha.

Ela deixou escapar uma delicada risada.

–--Miss Irritada? – perguntou divertindo, deixando a timidez de lado por um tempo.

–--Na verdade, é Miss Irritadiça. Sinto muito se a ofendi ao insultar sua amiga.

–--Tudo bem. – disse ainda com um sorriso adorável no rosto – Ela realmente se irrita fácil... Para ser sincera, Samantha é louca, é difícil gostar dela. Mas depois que você a conhece de verdade, a Sam que ela guarda por trás de todas essas barreiras, é impossível não gostar.

–--Se você pensa assim... Vou deixá-la voltar ao que fazia, foi muito bom falar com você.

–--Com você também. – respondeu, novamente estava tímida.

Sorri mais uma vez para ela antes de sair. Era difícil dizer o que aquela garota despertara em mim, mas eu senti um instinto não muito comum de protegê-la, talvez a razão disso seja a fragilidade, a timidez e a delicadeza extrema dela.

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P.O.V Samantha

Belle tinha dito que queria ver o jardim, ao que parecia, ela gostava de jardinagem. Julie tinha ido para a biblioteca, contara que queria fazer isso desde que chagáramos ao palácio. Então restou apenas Alice e eu. Nós estávamos andando aleatoriamente pelos corredores enquanto conversávamos.

–--Então você luta? – ela perguntou-me.

–--Sim, muay thai e jui jitsu, meu pai me ensinou esgrima, mas eu nunca cheguei a de fato praticar. E você, o que faz?

–--Eu gosto de jogar cartas, principalmente pôquer. Mas dedico maior parte do meu tempo ao curso de engenharia mecânica, você ainda está no colégio?

–--Era para eu estar, mas adiantei um ano e já curso o primeiro ano de Direito.

–--Porque escolheu este curso? – mas não foi da boca de Alice que essa pergunta saíra.

Levamos um susto, mas ao nos virarmos encontramos Justin e o cara que eu ainda não sabia quem era. Fora o loiro quem fizera a pergunta. Finalmente parei para analisar o outro, ele era mais alto que Justin, mas não tão alto quanto Shane, tinha cabelo preto, um pouco mais claro que o do príncipe e olhos verdes.

–--Oi, Justin. – sorri – Quem é seu amigo?

–--Sou Taylor Leger. – garoto respondeu – Amigo da família, meu pai trabalhou na guarda real. E você é Samantha Ryan, a louca.

–--Em carne e osso. – fiz uma reverencia de brincadeira.

E em segundos estávamos os quatro rindo juntos. Eu gostara de Taylor, mesmo ele me chamando de louca, porque eu sabia que eu era.

–--E então... – continuou Alice depois de pararmos de rir – Por que escolheu o Direito?

–--Bom... Primeiro porque eu quero ser delegada, sempre quis uma profissão em que pudesse carregar uma arma.

Eles se assustaram, mas sorriram depois, como se concordassem que eu era louca. Enquanto isso eu pensava se deveria revelar o segundo motivo ou não.

–--E em segundo? – foi Justin quem perguntou.

Por que ele tinha que ser tão atento a tudo? Por que ele tinha prestar tanta atenção ao que eu fazia ou dizia?

–--É uma longa história, talvez eu conte depois.

–--E você, Alice, porque escolheu engenharia? – Taylor mudou de assunto notando que aquilo me incomodava.

Sorri discretamente para ele, agradecida. Ele fez um aceno com a cabeça, como se disse: “Sempre que precisar”.

E então ela disparou a falar de como sempre gostara das construções e quando pequena analisava todos os edifícios, acrescentou ainda sua facilidade para as matérias de exatas. E passamos o resto da manhã conversando e rindo. Taylor era muito engraçado e eu pude perceber que qualquer primeira impressão que ele tivesse tido de mim, havia sumido.

+ + +

Eu, Julie, Bel e Ali (sim, começamos a usar apelidos), estávamos jogadas em um dos sofás do Salão das Mulheres. A única que não estava ali era Diana, por motivos óbvios. Eu e Alice contávamos sobre nossa manhã com os meninos.

–--Taylor é muito divertido e ele e Sam pareceram criar uma amizade esquisita. Justin é mais fechado, mas muito legal de se conversar. – ela contava enquanto eu concordava – Infelizmente, às vezes ele ficava distraído e se perdia da conversa.

–--Ele ficava distraído? – perguntei surpresa por não notar – Não percebi, ele parece ser sempre tão concentrado.

–--Isso é porque quando ele se distraía era porque estava olhando para você. – ela disse rindo. – Sério, cada movimento seu era como se o hipnotizasse.

Belle e Julie acabaram rindo com ela, mas eu não conseguia acreditar naquilo.

–--Justin é lindo. – comentou Julie – Mas você precisa conter-se, lembre-se de que está aqui pelo príncipe.

Ri sem humor.

–--Eu não quero nada além da amizade dele, ok? E acho que Ali está exagerando.

–--Mas você não disse que quando se conheceram no jardim ele ficou te elogiando? – Belle entrou na conversa.

–--Espera! – Alice quase gritou – Vocês já se conheciam antes de trombarem na porta noite passada?

E então comecei a contar sobre quando conheci o loiro. Julie revirava os olhos a cada vez que eu contava o quão Cortez ele fora, eu achava engraçado e Belle e Alice suspiravam.

–--E como foi a manhã de vocês duas? – perguntei para deixar de ser o centro das atenções.

–--A biblioteca daqui é enorme... Eu nem sabia por onde começar! –os olhos dela brilhavam enquanto ela nos contava – Parecia que eu estava em um sonho...

–--O jardim é incrivelmente lindo, tudo muito bem cuidado... Mas eu quase tive um infarto quando o príncipe apareceu lá.

Alice e Julie imediatamente ficaram mais interessadas e fizeram-na contar tudo sobre o encontro com o príncipe, enquanto eu me revezava entre bufar e revirar os olhos.

–--Se você não gosta do príncipe e, pelo que notamos, o odiava antes de conhecê-lo, porque veio para cá? Porque ainda está aqui?

Quem perguntou foi Julie, mas eu sabia que Ali e Bel queriam saber a mesma coisa. Então comecei a contar de como eu queria agradar minha mãe e o porquê disso, e de como eu precisava do dinheiro recebido.

Começamos a falar sobre nossas vidas antes da Seleção. Eu contei que meu pai morava longe, que brigava muito com minha mãe, falei do meu irmão e do meu padrasto. Belle falou de como seus pais eram felizes juntos, mas que eram super protetores e de como ela é ligada a avó que a ensinou a tocar flauta e gostar de jardinagem. Alice disse que nunca conheceu a mãe e foi criada somente pelo pai, foi ele que a ensinou a jogar cartas e também contou do seu irmão mais velho que brigava muito com o pai deles. Julie nos falou de como trabalhou desde muito nova na livraria do pai e de como isso influenciou sua paixão por livros, que foi algo herdado de sua mãe que morreu quando ela tinha cinco anos.

Era estranho. Eu nunca tive alguém que eu pudesse realmente dizer que era minha amiga e, mesmo aquele sendo o lugar mais improvável para que eu fizesse amizades, eu sentia que eu não poderia ter escolhido amigas melhores. Sentia como se conhecesse aquelas garotas a vida toda.