Um novo olhar sobre uma nova Seleção escrita por Gato de Cheshire


Capítulo 41
Rebeldia - parte I


Notas iniciais do capítulo

Demorei menos dessa vez, né? De qualquer foma estou de volta. Teria até postado antes, mas esse capítulo ficou grandinho e era para ter ficado até maior, para não deixar vocês sem capítulos, dividi-o em duas partes. Espero que gostem.



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P.O.V Samantha.

Eu fiquei de vela. E como Samantha Ryan não nasceu para isso, deixei os pombinhos no jardim e sai em busca de algo para fazer, ou alguém para infernizar... Será que Rachel ainda estava na enfermaria? Provavelmente não, os ferimentos não foram nem de longe tão graves... Onde estaria Shane? Talvez fosse melhor eu procurar por Julie ou Belle, não estava com humor para causar discórdia hoje.

Pensando em Julie, eu ainda não havia a visto hoje e comecei a me preocupar. Essa era uma das desvantagens das amizades que fiz aqui. Antes, eu estava acostumada a me importar apenas com meu irmão e meu pai, agora, eu tinha uma lista de pessoas: Phil, papai, Julie, Taylor, Belle, Alice, Justin, Celeste... E até mesmo Shane, eu acho.

Acabei por entrar no Salão das Mulheres. Mas nenhuma de minhas amigas estava ali. Estavam presentes a rainha e as princesas, Rachel, de quem tive que rir ao ver o curativo em seu nariz e os arranhões em seu rosto, e Stacy. Perguntei-me onde estariam todas as outras selecionadas. Como não havia ninguém com quem conversar ali, decidi ir para meu quarto, mas antes que tivesse a chance de sequer virar-me para porta fui impedida por Celeste chamando-me.

–--Sam! – ela chamou minha atenção enquanto vinha em minha direção.

–--Oi, Celeste. – cumprimentei-a e sorri.

–--Está ocupada?

Estranhei a pergunta, mas não demonstrei.

–--Não... Por que pergunta?

–--Queria conversar com você. – respondeu e levantei uma sobrancelha esperando que dissesse sobre o que se tratava – Em particular. – ela explicou. – Poderíamos ir para meu quarto, o que acha?

Apenas concordei com um movimento de cabeça e logo estávamos saindo do grande salão e caminhando pelos corredores rumo ao terceiro andar.

–--Onde estão todas as outras garotas? – perguntei para quebrar o silêncio.

–--Stacy e Rachel estão lá, como você pode ver. Alice deve estar com Taylor. – deu um risinho malicioso e eu acompanhei – Belle deve estar nos jardins ou na sala de música. Julie eu não vi hoje e você está comigo. As outras foram todas dispensadas hoje após o café da manhã.

Minha mandíbula deve ter alcançado o chão. Eu não sabia o que dizer, nem como reagir à notícia.

–--Nossa. – sussurrei.

–--Shane não gosta de perder tempo. – a princesa riu – Mas não é como se você precisasse se preocupar com isso. – acrescentou olhando-me pelo conto dos olhos.

Não entendi seu ultimo comentário. Afinal, o príncipe me mantinha aqui simplesmente porque gostava de me importunar, em minha opinião, não havia maior perda de tempo do que essa. Ele estava procurado uma esposa, não um brinquedinho que o divertisse. Apesar disso, permaneci calada.

Ao finalmente chegarmos ao terceiro andar, segui-a pelos corredores pouco familiares para mim. Celeste por fim parou em frente a uma das portas perto do quarto de Shane e abriu-a, revelando seu próprio quarto.

Era muito semelhante ao de seu irmão, mas ao mesmo tempo muito diferente. As únicas coisas pessoais que o príncipe mantinha em seu quarto eram o caderno de música, a guitarra e o mural de fotos, que ficava escondido. A princesa, entretanto, havia feito som seu quarto refletisse sua personalidade.

Assim como o de Shane, havia uma enorme varanda, uma enorme cama de casal, uma lareira (que eu ainda não compreendia a utilidade) e um enorme armário. No entanto, ela havia decorado de acordo com seu gosto, não era algo frio e impessoal, tinham muitos desenhos espelhados pela mesa e paredes, o quarto todo era decorado em cores escuras, principalmente verde escuro, quase preto, e cinza.

Celeste sentou-se em sua cama e fez sinal para que eu a acompanhasse.

–--O que queria falar comigo? – perguntei assim que me sentei ao seu lado.

–--Por que dormiu no quarto de Shane?

Eu já deveria ter imaginado que ela faria mais perguntas, das quais eu não tinha respostas.

–--Depois de levarmos uma bronca de seus pais por nosso mal comportamento, - revirei os olhos nessa parte – fomos para o quarto dele para esclarecermos o que havia acontecido na biblioteca, ideia de sua mãe, então ficou tarde e eu acabei dormindo lá.

Essa era uma explicação bem plausível, embora não muito verdadeira, por que eu não havia pensado nela antes? Teria conseguido evitar toda aquela conversa com Taylor.

–--Ok. – Celeste se deu por vencida depois de algum tempo em silêncio – De qualquer forma não era apenas isso que eu queria falar com você.

–--E de que outra forma posso lhe ser útil, Alteza? – perguntei com deboche.

–--Bem, meu aniversário de dezesseis anos está chegando e haverá uma festa, minha mãe quer que eu escolha um tema, mas estou sem ideias.

–--Festa a fantasia? – sugeri.

–--Não, a data é muito perto do Halloween e é tradição dos meus pais fazer uma festa a fantasia para comemorar esse feriado.

–--Baile de máscaras?

–--Clichê.

–--Santos e pecadores?

–--Já fiz no ano passado.

Estava ficando realmente complicado, quaisquer outras ideias que se passavam pela minha cabeça não combinavam com a personalidade da princesa.

–--Fogo e gelo. – eu disse de repente, não havia sido uma pergunta e sim uma afirmação.

Pela expressão no rosto de Celeste vi que ela concordava comigo, aquele era o tema perfeito. Ela sorria de orelha a orelha e me abraçou, foi um gesto inesperado, mas deixei a surpresa de lado e abracei-a de volta.

–--Muito obrigada, Sam. – murmurou afastando-se de mim.

–--Não por isso. – respondi sorrindo – Mais alguma coisa, madame?

Ela riu.

–--Na verdade, tem sim. Você sabe o que rola entre o Taylor e a Alice?

–--Até hoje, nada, além da paixão óbvia que sentem um pelo outro. Mas antes de ir para o Salão das Mulheres eu assumi minha versão cupido e fiz com que se declarassem. Agora eles estão juntos e vomitando arco-íris de felicidade por onde passam.

–--Que ótimo! – exclamou rindo – Eles formam um casal lindo e já passava da hora de Taylor encontrar alguém. Agora, me conta que história é essa de cupido?

–--Ah, eu já tinha planos de juntar esses dois, porque eram evidentes os sentimentos deles e Ali já tinha até me confessado estar apaixonada pelo Tay. Então eu apenas tive que fazê-lo admitir o que sentia para mim e convencê-lo a se declarar. – dei de ombros como se aquilo fizesse parte da minha rotina e fosse a coisa mais simples do mundo.

Não era. Juntar as pessoas era mais difícil do que parecia, porque, na maior parte das vezes, elas mesmas punham obstáculos inexistentes que as impediam de ficarem de juntas, foi o caso de Taylor e Alice.

–--E o que mais você pretende fazer nessa sua nova vocação?

–--Estou apenas esperando que Justin supere essa paixonite por mim para que eu possa iniciar meu plano de juntá-lo com a Julie.

–--Eles formam um casal fofo... Porém eu nunca tinha cogitado essa ideia antes. E outra, é tudo muito lindo e tals, mas ainda falta encontrar alguém para o meu irmão, que é quem procura uma esposa.

–--Depois que eu resolver o problema de Julie e Justin, vou enfiar na cabeça do seu irmão idiota que ele já fez sua escolha.

Ela olhou-me com expectativa, parecia radiante com meu discurso.

–--Belle. Não sei como ele ainda não percebeu que ela é a única que consegue fazê-lo ser menos indiferente. – revirei os olhos.

Foi como se eu tivesse jogado um balde de água fria em Celeste. Imediatamente sua expressão passou de felicidade e expectativa para decepção e frustração.

–--E você?

–--O que tem eu? – perguntei confusa, franzindo o cenho.

–--Você arrumou alguém para todas as suas amigas. Mas como fica sua vida amorosa? Nunca pensou nisso?

Não, nunca pensei. Sempre foquei muito na minha vida profissional e em sair de casa, nunca passou pela minha cabeça ter um relacionamento, muito menos um relacionamento sério. Contudo, não foi isso que respondi.

–--Claro que pensei. Vou me formar em direito, me tornar uma delegada e casar com meu revólver.

Depois de dessa, Celeste deixou a postura séria de lado e caiu na gargalhada. Acabei rindo junto. Até eu concordava que aquele não era o modelo ideal de vida, mas era o que eu queria e eu não via outro caminho para mim. Estávamos vermelhas e ofegantes, recuperando-nos de nosso ataque de risos, quando a porta do quarto dela foi aberta.

Olhamos juntas para a direção do barulho e encontramos Shane encarando-nos de forma divertida e intrigada com aqueles intensos olhos azuis.

–--Quem te deu permissão para entrar no meu quarto? – Celeste perguntou fingindo indignação.

–--Ninguém, mas de qualquer forma não estou aqui por você.

–--Ai, essa doeu, maninho. Se não está aqui atrás de mim, o que procura?

–--Ela. – respondeu apontando para mim com o dedo indicador. – Mamãe disse que vocês duas tinham saído juntas e os guardas me forneceram a localização. – explicou.

–--O que quer comigo? – perguntei sem entender.

–--Quero te mostrar uma coisa. – disse fazendo sinal para que eu me levantasse e o seguisse.

Eu queria contestar e brigar e com ele. Mas a curiosidade não permitiu.

+ + +

Shane me levou a uma parte do palácio onde eu nunca havia estado antes. A garagem. Lembro-me vagamente de ele ter mencionado algo sobre levar Alice ali para um encontro, o que fazia total sentido, já que ela cursava engenharia mecânica. Porém, eu não fazia ideia do que ele poderia querer me mostrar ali.

Antes que eu tivesse a chance de contestá-lo, ele continuou andando até a parte mais distante do grande espaço. Segui-o em silêncio, só se ouvia o som de nossos passos pelo chão de concreto. Shane parou em frente a algo que era coberto por um tecido branco e descobriu o objeto de forma brusca e repentina.

Era uma moto. Uma moto preta com detalhes em prata. Era linda e moderna. Eu estava louca para saber a potência dela.

–--Gostou? – perguntou com um sorrisinho de quem já sabia a resposta.

–--Eu adorei.

–--Soube que gosta de andar de moto. – ele comentou.

–--Eu gosto. Quando tinha quinze anos fiz meu pai passar meses consertando uma moto que eu havia encontrado no lixão. Pouco depois fiz dezesseis e tirei minha carteira de motorista.

–--Também ganhei essa quando completei dezesseis anos. Foi um presente de Taylor, fiquei sabendo que ele tinha passado meses trabalhando em uma oficina para conseguir comprá-la. Foi ai que eu tive certeza de que ele era o melhor amigo que eu poderia desejar ter.

–--Ele é mesmo incrível. – concordei – Merece ser muito feliz.

Eu esperava que esse papo meloso pudesse chegar ao ponto em que eu revelaria o relacionamento de Ali e Tay e acabaria logo com isso para que eles pudessem definitivamente viver em paz.

–--Sim... Eu só não sei exatamente qual é a ideia de felicidade que ele tem.

–--Provavelmente a mesma que a maioria das pessoas tem: encontrar sua vocação, realizar seus sonhos profissionais, se apaixonar, casar, ter filhos e construir uma família.

–--Essa é sua ideia de felicidade? – perguntou.

–--Não. Eu não me imagino me apaixonando, casando e tendo filhos.

–--Nem eu. Você tem sorte em ter uma escolha.

Senti pena por ele. Mas também senti muita raiva. Ele tinha todo um futuro garantido e planejado, nunca teve que passar pela conhecida crise adolescente sobre o que iria fazer da vida. Ele podia até não gostar da ideia do que lhe fora planejado, porém, pelo menos ele nunca teve que passar por aquela fase de dúvida e incerteza, em que você não sabe o quer e quando finalmente decide que rumo seguir, sabe que pode dar tudo errado.

–--Não, Shane, é você que tem sorte. – disse com a voz ficando mais fria – Você pode até não gostar da ideia de reinar e formar uma família, mas você já sabe o seu futuro. Você nunca teve que passar pela dúvida sobre o que iria fazer da vida e depois que se decidisse passar pela incerteza de que poderia não ser aquilo que queria. Você tem que parar de reclamar e agradecer pelo que tem! – ao terminar meu discurso eu já estava gritando.

–--Preferia passar pela dúvida e incerteza a ser obrigado a deixar que os outros decidissem por mim! – ele gritava também. – Eu nunca soube o que é ter uma escolha. Nunca poderei descobrir o que é fazer uma escolha errada, porque eu simplesmente não tenho chances de errar. Se eu errar uma vez sequer, não terei uma segunda chance, não terei como reparar meu erro!

Ele estava se referindo a Seleção, isso era óbvio.

–--Todos têm uma segunda chance!

–--Não quando se é o próximo rei!

Nós já estávamos extremamente próximos, ofegantes por causa dos gritos e nos encarando de forma mortal. Seus olhos azuis estavam escurecidos pela raiva. Os meus não deviam estar diferentes. Não me aguentando mais, desferi um tapa contra seu rosto.

Por vários segundos tudo o que pude ouvir foi o barulho estalado da minha mão contra sua face e o som de nossas respirações pesadas. Quando ele voltou a olhar-me, havia não apenas raiva, mas também indignação e ressentimento passando por sues olhos azuis.

Segurei seu rosto com ambas às mãos e obriguei-o a olhar fundo nos meus olhos.

–--Você tem que parar de se ver apenas como um membro da realeza, e se ver como uma pessoa, um ser humano. Com os mesmos sentimentos, direitos e deveres de todos. – falei agora com a voz menos elevada.

–--E você deveria deixar de se achar diferente dos outros. Todos nós temos nossas diferenças, isso não quer dizer que tenhamos que nos isolar do resto do mundo.

Ali, olhando nos seus olhos e ele olhando-me de volta, senti que Shane podia ver através de mim. Felizmente, naquele pequeno espaço de tempo, eu também pude ver através dele. Foi durante nosso momento de raiva repentina que pudemos expor nossos pensamentos mais profundos e nos entendemos.

Em um ímpeto, puxei seu rosto em direção ao meu e selei nossos lábios. Pela segunda vez, eu beijei Shane Schreave. E ele correspondeu, colocando suas mãos em volta de minha cintura e puxando-me mais contra si. Percebi que aquela era a segunda discussão em que nós terminávamos nos beijando e entendi porque nossos beijos nunca eram calmos e lentos. Nós nunca havíamos nos beijado por afeição e carinho, nós nos beijávamos descontando nossa raiva e frustração nesse ato, ou nosso desespero.

Eu não sei o que deu em mim, mas eu queria mais. Agarrei seus cabelos negros com ainda mais força e determinação, colando ainda mais nossos corpos. Ele também puxou-me me sua direção, com uma mão em minha nuca e a outra em minha cintura. Acho que era impossível ficarmos ainda mais próximos, mas se fosse, eu queria.

Fomos interrompidos por um alarme. O som era alto e estridente. Eu não fazia ideia do que era, mas vi o olhar assustado e desesperado de Shane.

–--Droga. – ele resmungou – Não há esconderijos aqui, precisamos de um plano para escapar...

Ele estava preocupado, extremamente preocupado e murmurava coisas incompreensíveis para si mesmo enquanto andava de um lado para o outro, bagunçando seus cabelos, mais do que eu já havia bagunçado.

–--Escapar de que? – indaguei.

–--Dos rebeldes. Eles voltaram. – respondeu.


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