Um novo olhar sobre uma nova Seleção escrita por Gato de Cheshire


Capítulo 3
A vida antes do palácio




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P.O.V Samantha

–--Estou tão feliz que tenha se inscrito na Seleção! – exclamou minha mãe pela milésima vez, com um enorme sorriso estampado no rosto. – E tão ansiosa para o anuncio das selecionadas hoje a noite, tenho certeza que você será escolhida.

O lado bom da coisa é que além de conseguir dinheiro para sair de perto da minha mãe que não larga do meu pé e do meu padrasto que não me suporta, mas que finge tentar se aproximar de mim quando mamãe está por perto, eu também vou conseguir uma vez na vida satisfazer essa mulher que me deu a luz e põe defeito em tudo que faço.

O lado ruim é que vou ficar longe do meu irmãozinho. Ele tem treze anos e é uma peste, mas mesmo que nós briguemos bastante, eu o adoro e ele é a única coisa que me impediu de fugir de casa até hoje. Pior ainda é que vou ver meu pai ainda menos do que já o vejo, considerando que ele mora em outra cidade.

–--Também estou feliz que tenha se inscrito. – comentou Richard assim que sua esposa, também conhecida como minha mãe, deixou a sala – Assim você vai encher o saco do príncipe e nos deixa em paz. O triste é que sei que logo você voltará, já que eu duvido muito que ele te suporte por mais de uma semana.

Nem me dei ao trabalho de responder. Apenas revirei os olhos e subi para o meu quarto. Coloquei minhas luvas e fui direto para o meu saco de pancadas, eu tinha colado uma foto de Richard lá, o que sempre me deixava mais disposta a socar cada vez mais forte. Um soco de esquerda, um de direita. Um soco lateral de esquerda, um de direita. Um chute lateral de direita, um de esquerda. Um chute de esquerda, um de direita...

Fiquei tão concentrada em acabar com meu padrasto que nem percebi a hora passar e quando olhei no relógio já se passavam das sete da noite. O anuncio das selecionadas seria através do jornal que começaria as nove. Resolvi tomar um banho, pois estava completamente suada, desde os fios de cabelo até os dedos dos pés.

Entrei no banheiro de meu quarto e liguei o chuveiro, enquanto esperava a água esfriar tirei meus shorts e meu top e entrei em baixo d’água. Estava fria, muito fria. Quando me senti limpa liguei a água quente e deixei que meus músculos relaxassem. Um dos melhores momentos do dia para mim, era quando tomava banho, era meu momento de paz... Apenas eu, meus pensamentos, a água e o silêncio. Perfeito.

Desliguei o chuveiro, enrolei-me na toalha e sai para o quarto, coloquei um short preto e um moletom cinza largo e grande. Vi que ainda faltava mais de meia hora para as nove, então decidi tocar um pouco de bateria.

–--Samantha! – berrou minha mãe – Pare com essa barulheira e vem assistir ao Jornal.

Respirei fundo e me juntei a ela, Richard e meu irmão, Phillip, na sala de televisão. O anúncio das selecionadas começou e eu não sabia se queria ou não que meu nome fosse dito.

Belle Collins, Rachel Wilks, Alice Bynes, Diana Fillmore, Julie Shay, Katrina Stuart, Stacy Tucker, Amanda Redgrave, Melissa Sommers, Samantha Ryan… Espera! Acaram de dizer meu nome. Não posso acreditar que tenham mostrado minha foto mesmo eu estando com cara de quem comeu e não gostou.

Minha mãe está saltitando pela sala, Richard está tentando conter sua felicidade em me ter longe e Phillip está decidindo se gosta ou não disso. Olho para meu irmãozinho e sinalizo com a cabeça para que ele me siga e ele o faz sem questionar. Vamos para parte de trás da casa, onde há uma casa da árvore, um balanço e uma quadra de basquete.

Sento-me no balanço e ele me acompanha.

–--Você vai embora. – ele fala primeiro.

–--Vou. Mas você sabe minhas razões. E eu vou voltar, prometo. Jamais abandonaria você e sabe disso. Você é meu pirralho, meu irmão caçula, meu pestinha, não poderia viver sem você. Prometo escrever sempre e ligar quando puder. Aliás, acho que não vou ficar por muito tempo mesmo.

–--Eu tenho a sensação de que não vai ser assim, mas tudo bem. Quero que você seja feliz e para isso você precisa do dinheiro.

–--Olha, amanhã nós podemos passar a manhã inteira jogando basquete, o que acha?

Ele abriu um enorme sorriso e concordou com a cabeça, correndo de volta para casa logo em seguida. Fui logo depois, mas em passos lentos.

Deitei-me em minha cama programando o dia de amanhã: chegaria uma carta com todos os termos e indicando o que eu teria que levar, eu teria que fazer a mala, jogaria basquete com Phil e daria um jeito de me despedir de papai.

Acordei com a luz do dia na minha cara, mas jurava ter fechado as cortinas, assim que abro os olhos descubro que minha mãe abriu-as. Ela estava sorridente e animada demais para o meu gosto, isso não era um bom sinal. Um bocejo denunciou que eu já estava acordada.

–--Que bom que está acordada, querida! Isso aqui chegou para você. – disse ela me entregando três envelopes.

Assim que ela saiu, analisei os papéis. O primeiro era da universidade onde cursava direito, o segundo do palácio (que eu já esperava) e o terceiro era de meu pai.

Comecei pelo da universidade, dizia que enquanto eu estivesse participando da Seleção minha matrícula seria trancada e que eles torciam por mim.

Bom saber que alguém além da minha mãe torce, porque nem eu mesmo o faço.

O do palácio continha todos os termos que eu já tinha decorado quando foram ditos no jornal pela primeira vez e dizia também que seriam fornecidos acessórios e roupas necessárias para eventos formais e o que mais eu precisasse, mas que se eu quisesse poderia levar itens pessoais e em seguida havia uma lista de exemplos:

–Roupas usadas em seu dia a dia

–Acessórios aos quais vocês estão acostumadas

–Livros

–Cadernos

–E quaisquer coisas que julgarem indispensáveis.

Eu tinha certeza que a ideia de podermos usar nossas próprias roupas havia partido da rainha, considerando que ela mesma contou como havia sentido falta das calças. Eu gostava da rainha America, mesmo que ela aparecesse pouco e falasse menos ainda, eu ia com a cara dela. Não posso dizer o mesmo sobre seu filho.

Por último li a carta de meu pai:

Querida Sam,

Da última vez que nos falamos você me contou sobre seu plano de entrar na Seleção. Eu não vou opinar, só vou dizer que te apoiarei em qualquer decisão que você tomar.

Escrevi essa carta antes de serem anunciadas as selecionadas, mas você receberá depois e eu tenho certeza que você será escolhida, afinal, quem não escolheria você? O que eu quero deixar claro é que sentirei muito a sua falta, mas sei que você está lutando por algo que quer e não posso estar mais orgulhoso.

Não se preocupe com seu irmão, ficarei de olho nele.

Por último quero dar um conselho: nunca desista daquilo que quer, daquilo com o que você se importa.

Com Amor,

Seu pai.

Levantei-me. Separei uma roupa: short jeans escuro, regata verde água, camisa xadrez vermelha e tênis baixo preto. Escovei os dentes, prendi o cabelo em um coque malfeito e tomei um banho rápido e gelado. Depois de estar devidamente seca e vestida desci para tomar café.

Minha mãe já havia saído para trabalhar e meu padrasto já havia ido para sua loja de automóveis. Phil ainda estava sentado à mesa, juntei-me a ele.

–--Bom dia. – desejei.

–--Bom dia. – ele respondeu desanimado – Ainda vamos jogar hoje?

–--Claro que vamos! Por que achou que algo tinha mudado?

–--Mamãe disse que você vai embora amanhã e que tinha muito que arrumar.

–--Ela não sabe de nada. Vamos terminar de comer e gastar toda essa energia.

Comemos em silêncio e, enquanto eu terminava de lavar a louça, ele foi pegar a bola. Assim que terminei e ele voltou, fomos para o fundo da casa, direto para quadra. Jogamos a manhã inteira e eu iria realmente sentir falta disso.

Depois de almoçar e levar uma bronca de minha mãe por ter perdido tempo jogando basquete e ainda não ter arrumado nada, fui pro meu quarto tomar banho.

Assim que sai do banheiro, de cabelo molhado e vestindo apenas uma toalha, descobri minha mãe aguardando por mim em meu quarto, ela não estava com uma cara muito boa.

–--O que foi agora? – disparei cruzando os braços.

–--Como se não bastasse perder a manhã toda suando com seu irmão, ainda demora quase duas horas no banho! Sinceramente Samantha... Parece até que você não quer participar da Seleção!

–--E não quero mesmo! Estou fazendo isso por duas razões: a grana e agradar você. Não quero nem conhecer o príncipe, muito menos ganhar essa joça. Shane é só um garotinho mimado, metido a besta, com cara de conquistador.

–--Você nem o conhece! – esbravejou – Ele pode te surpreender. E você nem precisa gostar dele, se eu tivesse feito o que meus pais disseram e tivesse tido um casamento arranjado, eu e seu pai jamais teríamos passado por tudo aquilo e...

–--E eu não estaria aqui! – gritei - Um peso a menos para você, uma filha imperfeita a menos para você tentar consertar. Pois bem, eu vou participar da Seleção, duvido muito que ganhe, porque eu não vou nem tentar, mas vou ficar tempo suficiente para conseguir dinheiro para sumir da sua vida! Agora que esclarecemos tudo, eu preciso arrumar minhas coisas, por favor, saia.

Ela veio em minha direção, assustada e magoada, tentou tocar meu rosto, mas afastei-a.

–--Eu estou pedindo com educação, mas vou perder a paciência.

–--Sam... – tentou tocar-me de novo.

–--Só meu pai me chama assim! – comecei a berrar – Fora do meu quarto!

Ela se afastou assustada, com lágrimas nos olhos.

–--Agora! – enfatizei.

Ela saiu de cabeça baixa. Comecei a me sentir mal, ela nunca abaixava a cabeça, nunca perdia a pose. Mas eu só falei a verdade. Coloquei minha roupa de dormir.

Peguei uma mochila com estampa camuflada, resolvi que levaria apenas o necessário. A primeira coisa que coloquei foi a carta de papai. Minha calça jeans favorita; meu tênis baixo preto; minha bota preta de cano baixo, tachas e salto baixo; três camisas; duas regatas; uma camisa.

Em uma bolsa grande coloquei alguns dos meus livros favoritos, minhas luvas de boxe, uma agenda e fotos minhas, do meu pai e do meu irmão.

Eu teria que estar no aeroporto da minha cidade amanhã as sete da manhã e decidi sair sem avisar a ninguém, então decidi que acordaria mais ou menos as três da madrugada. Como não me despediria de ninguém, teria que deixar uma carta para Phil.

Phil, meu irmão querido,

Desculpe ir assim, mas tive uma briga feia com a mamãe e não queria ter que conversar com ela antes de ir. Pegarei um taxi até o aeroporto e de lá um avião para o palácio.

Vou sentir sua falta, por favor, me perdoe por não me despedir. Mas que se o fizesse não conseguiria partir e eu preciso você sabe. Volto o mais rápido que puder. Te amo.

Com carinho,

Decidi dormir, teria que acordar cedo. Colocaria a carta por baixo da porta de meu irmão quando estivesse saindo.


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