P.O.V Shane

Ontem os anúncios sobre a Seleção já haviam sido feitos, mas mesmo assim meus pais continuavam me rondando, querendo saber como estou em relação a tudo. Chegaram até mesmo ao ponto de mandar minhas irmãs mais novas conversarem comigo, e é exatamente o que elas estão fazendo neste exato segundo.

–--Você não acha que será empolgante? – pergunta Anne, pulando em minha cama.

–--Você acha? – devolvi sua pergunta com outra.

–--Claro! Este palácio é muito chato, acho que com quinze garotas aqui dentro será bem mais divertido.

–--Eu acho que depende das garotas. – responde Celeste, dando de ombros.

Eu e Celeste éramos muito parecidos, principalmente no fato de tentarmos sermos indiferentes a tudo, nós dois sabemos que nada disso era verdade, mas os outros não. Também tínhamos nossos cabelos negros em comum, mas ela tinha os olhos chocolates de meu pai e eu os olhos azuis de minha mãe.

Anne era a mais nova e lembrava um pouco minha tia May e Marlee em sua personalidade espevitada. Ela tinha os olhos de nosso pai assim como Celeste e o cabelo ruivo de nossa mãe.

–--E eu acho que vocês invadiram meu quarto e que mereço privacidade.

Celeste mostrou a língua para mim e saiu sem dizer mais nada. Anne deixou seu sorriso morrer e pouco antes de fechar a porta disse:

–--A quem vocês dois pensam que enganam?

Ela me deixou de boca aberta, afinal, era incomum que ficasse séria como estava no momento em que disse aquelas palavras. E o mais surpreendente era que eu sabia ao que ela estava se referindo, se referia à indiferença fingida que eu e nossa irmã usávamos praticamente desde que nascemos.

Nós não sabíamos por que éramos assim, apenas éramos. Lembro-me que certa vez até chegamos a conversar sobre isso, ma não chegamos a nenhuma conclusão. Eu e Celeste éramos próximos, ela sabia que conseguiria me convencer a falar tudo o que penso sobre a Seleção, mas me deu privacidade, porque sabe que se a situação fosse oposta eu também a entenderia.

E o que eu penso da Seleção? Penso que pode ser interessante, uma experiência válida, mas se mus pais esperam que eu encontre o amor da minha vida, é bom irem desistindo dessa ideia. Eu não sou um cara sentimental, muito menos romântico, ajo de acordo com a razão, não com a emoção. A razão me diz que a Seleção é uma boa ideia, então que assim seja.

Vi as horas e decidi que era hora de descer para o jantar. Fiquei surpreso ao encontrar na mesa Aspen e Lucy, eles raramente vinham aqui, na maioria das vezes, meus pais iam até eles. Assim que perceberam minha chegada vieram rapidamente me cumprimentar, depois disso nos sentamos.

Eu me dava bem com Aspen e as meninas adoravam Lucy, assim o jantar foi bem animado. Meus pais foram os primeiros a se retirar, eles andavam muito ocupados com todo esse negócio da Seleção. Logo depois Anne e Celeste arrastaram Lucy para que ela visse os vestidos que Celeste desenhara e costurara e a coleção de livros de Anne. Desse modo fiquei sozinho com Aspen.

–--E então, como está tudo? – perguntou sério e preocupado.

Foi a gota d’água, irritei-me.

–--Sério isso? Até você? Foram os meus pais que pediram, não foram?

Ele apenas riu da minha irritação.

–--Sim, seus pais me pediram para que te sondasse, mas confesso que aceitei porque eu mesmo estou curioso. – respondeu parecendo me analisar.

–--Essa é uma ideia que pode dar certo ou ser um completo desastre. É isso. – disse sem um traço de emoção na voz.

–--E os preparativos?

Estranhei o fato de ele não tentar perguntar sobre meus sentimentos em relação à situação, mas fiquei internamente agradecido, não que tenha demonstrado.

–--Em uma semana chegam os formulários, meus pais, Marlee, Carter e eu, vamos selecionar quinze. E só.

–--Parece simples.

–--É porque é. – garanti.

+ + +

Fazia uma semana que havia tido aquela conversa com Aspen. Agora me encontrava no escritório de meu pai, com ele, minha mãe, Marlee e Carter enquanto eles me passavam as fichas das garotas que haviam escolhido, para ver se eu estava de acordo.

–--Belle Collins. – Marlee foi a primeira a dizer uma de suas escolhidas – é filha única e durante toda vida estudou em casa, tem dezessete anos atualmente, o pai dá aulas de filosofia em uma universidade e a mãe é formada em literatura, mas nunca lecionou, publicou alguns livros. Ela toca flauta e dança balé, gosta de ler, jogar xadrez e jardinagem. – ela terminou mostrando-me a foto da garota.

Era bonita, pele bem clara, loira e olhos verdes. Eu sentia que ficaria entediado perto dela, mas queria acabar logo com aquilo.

–--Tudo bem.

–--Fico impressionado com seu entusiasmo, filho. – sacaneou meu pai, mas ele parecia mais achar graça do que me repreender – Rachel Wilks. Está com dezoito anos e cursa medicina, a mãe é decoradora e o pai médico, tem uma irmã mais velha. Fala fluentemente francês e italiano. Gosta de correr e pular corda.

Ela também era bonita, cabelos castanhos lisos na altura dos ombros e olhos verdes. Parecia ser muito organizada e centrada, coisa que eu realmente não sou, mas concordei com a cabeça para acabar logo com a tortura.

–--Stacy Tucker. – anunciou Carter – Completa dezessete anos daqui a menos de dois meses, está indo para o último ano do colégio. Seu pai é empresário e sua mãe estilista. Pratica ginástica olímpica. Gosta de ouvir música pop e dançar.

Ela tinha cabelos castanhos claros com leves ondas e olhos azuis. Tinha que admitir que era muito bonita. O que ouvi sobre ela, não dizia muito sobre sua personalidade, de qualquer forma, valia à pena tentar. Fiz sinal de positivo com o polegar.

–--Minha vez! – exclamou mamãe, parecia feliz consigo e mesma e isso me deixou curioso em relação a quem ela escolhera – Samantha Ryan. Tem dezessete anos, o pai trabalha com cerâmica e a mãe é advogada e tem um irmão mais novo, os pais se divorciaram quando ela estava com onze anos e ela foi estudar em regime de internato por quatro anos, nos últimos dois anos vem morando com a mãe, o padrasto e o irmão. Adiantou um ano na escola e já cursa o primeiro ano de Direito. Fala latim, francês e mandarim. Toca piano e bateria, pratica muay thai, jui jitsu e basquete. Gosta de escrever, ler, escutar música, andar de moto e comer doce.

Entendi o porquê do orgulho de si mesma, ela tinha conseguido todos os dados da vida da garota. Como? Eu não fazia ideia. Por quê? Era um mistério. Samantha era linda, cabelo castanho escuro ondulado com uma fina mexa roxa e surpreendentes olhos violetas, mas o que me chamou atenção foi sua cara insatisfeita e zangada. Franzi a testa. Podia sentir todos me observarem.

–--Gostei da anomalia genética. Mas porque ela está tão emburrada?

–--Anomalia genética? – todos perguntaram em uníssono, com exceção de minha mãe.

–--Ela tem olhos violetas. – respondeu por mim – E o motivo do mal-humor é que ela se inscreveu porque não se da bem com a mãe e precisa de dinheiro para sair de casa.

–--Então a sua escolha foi alguém que não quer estar aqui? – ela apenas afirmou com a cabeça e sorriu, correspondi com um sorriso malicioso – Curti, mamãe. Vai ser divertido.

–--Sério que vocês vão fazer isso? – perguntou Marlee indignada.

Eu e minha mãe nos encaramos por um segundo antes de respondermos juntos:

–--Sim.

–--Eu não tenho nada contra. – apoiou papai. – America, quais foram as escolhidas por Anne e Celeste?

–--Anne escolheu Melissa Sommers, dezesseis anos, os pais tem uma padaria, tem dois irmãos mais velhos, joga tênis e gosta de desenhar. Celeste optou por Julie Shay, dezoito anos, cursa jornalismo, filha única, pai viúvo que é dono de uma livraria, pratica natação, gosta de ler, escrever e assistir filmes.

–--Coloque as duas também. – disse sem sequer ver as fotos – O restante, vocês decidam sem mim.

Sorri para eles, levantei-me e me retirei.

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P.O.V America

–--Você ficou louca? – perguntou-me Marlee – Melhor do que ninguém você sabe o que é vir para Seleção por falta de opção. Vai mesmo fazer isso com a pobre menina? E você, Maxon, sempre tão compreensivo e bom, como pode concordar com essa loucura? Sabe muito bem como sua esposa se sentiu nessa situação.

Maxon abriu a boca para se defender, mas eu o interrompi:

–--Exatamente, sei como é vir para Seleção por falta de opção, e olha onde estou agora! E todos vocês tem que admitir que Samantha foi a única garota apresentada que conseguiu mais do que uma concordância por parte de Shane.

Eles se calaram, pude ver nos rostos de todos que eles estavam repassando a cena em suas cabeças e por suas expressões soube que eles não conseguiam discordar.

–--Mas eu tenho que adverti-la, America, - começou Carter – que ele disse que seria divertido. Pelo que conheço de seu filho, ele vai aprontar todas com essa garota, apenas para irritá-la.

Antes que Maxon começasse a repensar sua decisão de me apoiar, defendi minha ideia:

–--Mas eu posso apostar tudo o que tenho que Samantha irá revidar e não serão só os dois a se divertirem com isso. Eu, pelo menos, vou me divertir muito com esse dois agindo como cão e gato.

–--Se é isso que você e Shane querem... Eu não vou me opor. – meu marido me apoiou.

Marlee e Carter não discutiram mais.