P.O.V Samantha

Eu queria me matar. Não podia acreditar que estava me perdendo nos olhos daquele idiota, de novo. Sério, qual o meu problema? Por que eu gosto tanto de admirar aquela imensidão azul? Tentei desviar o olhar, mas eu simplesmente não conseguia, era como se algo me prendesse, me atraísse a aquele olhar.

–--Seus olhos parecem água-marinha [1]. – falei de repente sem conseguir me conter.

Ele riu, uma risada gostosa de ouvir, verdadeira, sem sarcasmo.

–--E os seus parecem ametista [2].

Sorri involuntariamente com o comentário.

–--Gostei da combinação do cheiro da chuva com o da grama molhada. – sussurrou.

–--Eu também. – respondi também sussurrando.

Não fazia ideia do porque estávamos sussurrando, mas parecia que se falássemos mais alto o momento se quebraria. E eu jamais admitiria, mas estava gostando desse momento de paz ao lado de Shane.

Enquanto ficávamos nos encarando, aos poucos a chuva foi parando. Quando não pude mais sentir os pingos caindo em meu rosto, finalmente pude desviar o olhar. As nuvens no céu estavam começando a se dispersar e as estrelas a aparecer. A lua estava muito brilhante essa noite. Notei que o príncipe também havia desviada sua atenção para o céu.

–--Anne gosta de astrologia. – ele comentou – Ela até tentou me ensinar alguma coisa, mas não surtiu muito efeito.

Eu ri.

–--Meu irmão também gosta. Eu gosto de olhar, é lindo, mas não sei nada.

–--Você tem irmão?

–--Sim, ele tem treze anos.

–--Sente falta dele?

Percebi que seu olhar estava de novo sobre mim, mas não virei para olhá-lo de volta, sabia que se o fizesse não conseguiria parar.

–--Muita. Nós costumávamos jogar basquete juntos, ou nadar. Ele além de tentar me ensinar astrologia, tentou me ensinar a cozinhar... Foi um plano falho. – eu ri e ele me acompanhou – Tentei ensiná-lo a tocar bateria e violão, também não deu muito certo.

–--Você toca violão?

–--Bateria, violão e piano. Violão é o que eu menos sei e bateria é com certeza minha especialidade. Além de guitarra, você toca mais alguma coisa?

–--Sim. Violão e piano.

Eu ainda não tinha olhado para ele, mesmo assim pude perceber que ele voltou sua atenção para o céu novamente. Ficamos em silêncio por um longo tempo, pude ver o sol começar a aparecer.

–--Está amanhecendo, é melhor irmos, daqui a pouco minhas criadas estão indo me acordar. – falei me sentando e ele fez o mesmo.

–--Tem razão. – ele parecia decepcionado.

Eu também estava. Não queria que aquele momento terminasse. Ele se levantou e estendeu a mão para me ajudar, aceitei e ele me puxou. Estávamos muito próximos e ele ainda segurava em minha mão e novamente me perdi em seus olhos, eu não conseguia e não queria desviar o olhar.

A camisa branca molhada deixava seu peitoral visível, a calça de moletom colava-se em suas pernas, ele estava descalço, assim como eu. Seu cabelo negro e macio caia em sua testa, senti um impulso de afastá-los e o fiz. Notei quando seu olhar desviou-se para minha boca e não consegui evitar que meus olhos fizessem o mesmo caminho. Sem perceber o que fazia fui me aproximando, assim como ele...

–--Sam? Shane? – alguém nos chamou.

Rapidamente afastei-me do príncipe, na verdade, o empurrei. Ele caiu na grama, estava desconcertado e não pude evitar uma risada, recebendo um olhar irritado em resposta. Voltei-me para quem nos chamava, ignorando-o.

–--O que estão fazendo acordados tão cedo? – perguntou Justin.

–--Que horas são? – perguntou Shane, levantando-se.

–--Seis da manhã. Por que estão molhados? E de pijamas.

–--Longa história. – respondeu o príncipe, ele estava claramente irritado – Pode ir fazer sei lá o que você faz a essa hora do dia.

O loiro se assustou com o fora, eu queria matar Shane. Como ele podia ser tão rude com alguém tão legal como Justin? Esse, por sua vez, já estava se afastando.

–--Espere, Justin! – chamei, olhando de forma raivosa para o moreno idiota.

Ele voltou-se para mim.

–--Você poderia me levar ao meu quarto, por favor?

Ele apenas assentiu e eu me juntei a ele. Começamos a caminhar juntos pelos corredores, deixando um Shane molhado, indignado e irritado para trás.

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P.O.V Shane

Queria matar Justin. Não sabia o porquê, mas estava muito irritado com ele. Ia em direção ao meu quarto a passos pesados e bufando, sim, eu estava muito alterado. Entrei em meu quarto batendo a porta com força e fui em direção ao banheiro, deixando minhas roupas molhadas pelo chão do quarto no caminho.

Enquanto estava na banheira consegui me acalmar um pouco, mas eu sabia que se visse o Sabichão na minha frente a vontade de atacá-lo voltaria com toda a força.

Não pude deixar de pensar no porquê de estar agindo assim, geralmente eu era muito controlado, principalmente quando se tratava da raiva, ou qualquer outro sentimento. Certamente tinha algo haver com Samantha, sempre que ela estava por perto eu perdia o controle e isso me irritava.

Ela me deixava louco... No pior sentido da palavra.

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P.O.V Samantha

Quando cheguei ao meu quarto dei o azar de encontrar minhas criadas já ali, elas pareciam preocupada se andavam em círculos, assim que seus olhos pousaram em mim, pude ver que estava encrencada.

–--Onde você estava? – perguntou Tatia, repreensiva.

–--No jardim. – eu não daria mais detalhes que o necessário.

–--Por que está toda molhada? – indagou Rose, preocupada.

–--Estive na chuva.

Elas me encaravam como se eu fosse louca, mas rapidamente aquele olhar desapareceu, já que elas já sabiam que definitivamente era louca.

–--Venha tomar banho e tire essa roupa molhada. – falou a loira já indo em direção ao banheiro.

Espirrei. A morena rapidamente voltou-se para mim, preocupada. Ela veio em minha direção e colocou sua mão em minha testa.

–--Você está ardendo em febre, Sam! – exclamou.

Tatia imediatamente voltou ao quarto ao ouvir aquilo.

–--Você merece uma bronca daquelas, mocinha. – disse brava, mas me recusei a baixar a cabeça – Porém, agora não importa. Tome banho e se livre dessas roupas enquanto vou chamar um médico.

Obedeci. Quando sai do banho vesti uma camisola preta que minhas criadas haviam feito e eu nunca tinha usado. O médico já me esperava, depois de um breve exame, ele concluiu que era apenas um resfriado e prescreveu alguns remédios.

Assim que o doutor saiu, Shane entrou.