Um mundo além do mundo escrita por Lobo Alado


Capítulo 22
Há uma luz no céu


Notas iniciais do capítulo

Olá quem quer que esteja lendo!
Estou me sentindo um pouco culpado por deixar Eragon tão de lado, mas me parece que sua hora finalmente chegou, os capítulos foram saindo de minha cabeça, e saindo, e saindo... até que chegou um momento muito especial da fic para mim.
Emfim... aí está.



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Eragon abriu os olhos e sorriu ao ver as verdes montanhas do vale sem sol banhadas pelo sol dourado do dia. Uma extensão de branco reluzente cintilante como diamante cobria todo o chão ao seu redor, as folhas das arvores da floresta branca, quando banhavam-se de sol, eram deslumbrantes. E mais distante ainda, cintilavam também as águas do vasto oceano que os cercava. Do topo do rochedo cinzento ele recheava a vista com a vastidão da ilha de Kormodra.

Quinze anos antes, quando investigava com os elfos e Blödhgarm – Que tornara-se cavaleiro durante a viajem, ainda no navio. – o lugar que havia encontrado, Eragon encantou-se por aquela montanha, e também pela floresta branca, estava decidido que iria construir um lar ali. A ilha parecia ter sido um presente entregue à ele, um recanto perfeito para a reconstrução da Ordem dos Cavaleiros de Dragão.

Então, com o auxílio dos velhos Eldunarí e dos elfos que o acompanhavam, Eragon iniciou a construção da cidade dos Cavaleiros de Dragão. A primeira construção foi o salão dos ovos, que era de maior urgência. Depois da construção se desencadear, Eragon deixou os elfos trabalhando, e focou-se na construção de seu lar. Com a ajuda dos Eldunarí e de Blodhgarm, Eragon abriu uma caverna grande o suficiente para abrigar Saphira e todo o tamanho que ela viria a adquirir nos anos que seguiriam, no centro do rochedo cinzento e construiu sua casa.

O topo do rochedo era cem metros de altura mais alto do que o ponto onde ficava sua caverna, e, no todo, a montanha tinha novecentos metros de altura. Era o local que ele mais gostava de toda a ilha. Ali ele sentia-se sozinho, mas, ao mesmo tempo, em tudo. Expandir sua mente e tocar a vastidão do céu era uma experiência delirante.

E esse era o motivo de seu sorriso, havia acabado de compreender uma das lembranças que o velho dragão Valdr havia lhe mostrado enquanto voava de Vorengard para Urû’baen, para enfrentar o Rei Tirano.

A lembrança ainda era nítida em sua mente: Uma vastidão azul infinita, com lampejos rosas e verdes, nuvens ondulantes em toda a extensão, e fios esbranquiçados como raízes ligava o centro ao exterior inalcançável.

Agora, ali no topo do Rochedo, expandindo sua mente, ele entendia o significado da visão. Entendia, pois ela acabara de concretizar-se em sua mente ao expandi-la. Representava a ligação do céu e da terra. E a superfície do mundo, que nada mais era do que a materialização de energia, e o ar era uma materialização parcial, que interligava o mundo e a grande imensidão de energia que representava tudo o que existia, além do mundo em que vivia.

Eragon levitou por magia até sua casa, onde Ariän esperava à grande mesa redonda, tamborilando-a.

– Grande e sábio mestre meditador. – Ele sorriu mostrando as presas afiadas. – Não pense que não percebi quando saiu antes do amanhecer... Como estava a ilha ao brilho do sol?

– Bem, você sabe que eu estava no topo do rochedo? – Sentou-se junto dele. – Devo começar a me preocupar?

Ariän alargou o sorriso.

– Se tivesse de preocupar-se com algo, já o teria feito. – Disse. – Não demoro a causar preocupações.

Eragon ergueu as sobrancelhas.

– Nesse caso... esqueçamos o assunto. – Sorriu levemente. – Hoje precisarei de você. Iremos fazer um treinamento aprofundado com os novos cavaleiros. Depois disso, eles estarão protos para serem enviados para as cidades onde serão treinados.

– Sim? Hum... e como precisará de mim? – O rosto dele cobriu-se de indiferença.

Eragon avaliou o rosto de Ariän antes de responder.

– Se você concordar, preciso que me ajude a treiná-los fisicamente. – Eragon suspirou. – A verdade é que não temos tempo para gastarmos, e não temos pessoas suficientemente adequadas para treinamento que não sejam os mestres, Blödhgarm e Oriúmos, e eu. Precisamos adaptar os novos cavaleiros, para que possam ser enviados para as respectivas cidades onde serão treinados.

– Eles não podem simplesmente adaptar-se lá? É assim a ordem natural das coisas, não só em treinamentos, mas em qualquer situação.

– Lá eles estarão convivendo com outros cavaleiros, aqui estão mais à vontade, apenas com os seus mestres e os outros novatos. Ariän, eu vi o seu duelo com Blödhgarm... Se aceitar me ajudar, pouparei muito tempo que não pode ser gasto. O processo de adaptação deverá demorar três meses, preciso que os instrua no duelo de espadas... dessa forma poderei receber sem sobrecarga os novos cavaleiros que devem chegar da Alagaësia.

Ariän fitou o nada por um bom tempo apertando o cabo de Slingr – A antiga espada de Vrael.

– Posso lhe ajudar... Enquanto Baöh quiser permanecer na ilha dos cavaleiros, também permanecerei, e não vejo nada que me impeça de aceitar sua proposta, mas... seus alunos irão sentir-se confortáveis comigo? Creio que não.

– Você deverá fazê-los sentir-se confortáveis.

– Não prometerei isto, mas lhe ajudarei... afinal, você me acolheu aqui.

– Ótimo. – Eragon levantou-se. – Devemos ir ao salão dos mestres... Blödhgarm, Awremön, Istalrí e Oriúmos nos esperam.

O som evolante das asas de Saphira pairou no ar. E logo em seguida o estrondo de seu pouso.

Blödhgarmnos nos espera... Awremön me contatou com urgência. Saphira anunciou.

Logo em seguida Baöh surgiu na entrada da caverna. O dragão Branco de Ariän havia crescido absurdamente nos últimos dias. Na verdade ele crescia absurdamente desde o nascimento. Agora já abaixava-se para que Ariän o montasse. E o misterioso homem de cabelos brancos recusava-se a colocar uma cela no dorso do dragão. A mancha no pescoço ainda permanecia, e continuava a inchar e murchar como um pulmão respirando, às vezes parecia aumentar de tamanho e em outras vezes parecia quase sumir.

Como foi a caçada? Perguntou Eragon.

Produtiva... Disse Baöh com a voz grave e envelhecida que tinha.

O jovem dragão é rápido e forte. Saphira confirmou deixando passar uma ponta de divertimento pela sua ligação com Eragon.

– Isto e uma boa notícia, pois acho que precisarei de você também, Baöh, dragão espectro.

Os Cavaleiros montaram e os Dragões seguiram o caminho, enquanto Eragon explicava como Baöh ficaria encarregado de treinar os novos dragões, que eram todos mais velhos que o próprio dragão branco, mas que não tinham nem a metade do inexplicável tamanho dele, e nem sua perícia precoce no voo e na caça.

Venora surgiu, com suas ruas de pedra largas como rios, sua praça central vasta como um pequeno lago e suas construções enormes como pequenas montanhas.

Pousaram no centro da praça gigante e caminharam, cumprimentando os cavaleiros que ali estavam.

Ao entrar no salão dos mestres com Ariän, Eragon fitou Blödhgarm – Que estava com uma expressão de extrema preocupação. – Segurando um pergaminho nas mãos.

Os olhos amarelos fitaram Eragon com uma intensidade ansiosa. Awremön, logo atrás do Cavaleiro Selvagem, soltou um grunhido que perdurou gravemente pelo salão.

– Blödhgarm? Diga-me, rápido, o que está acontecendo? – Eragon sempre espelhou-se em Blödhgarm, e vê-lo preocupado o preocupava duas vezes mais.

– Eragon... Apenas leia. – Blödhgarm entregou com mãos rígidas o pergaminho a ele.

Eragon desenrolou as bordas do pergaminho sobre a mesa, temeroso do que poderia ler ali.

“A todos os mestres” Dizia o papel.

“Ebritilar, não há muito o que possa ser dito por carta. Encotrem-me na costa leste quando puderem, aguardo o tempo que for preciso.

Niarël”

Eragon levantou os olhos do papel e franziu o cenho. Niarël era a Cavaleira de Dragão que havia sido escolhida para ser a embaixadora da ordem na Alagaësia. E a mensagem repentina também incomodava Eragon.

– Entendo que é algo que nos deixe preocupado, Blödhgarm... mas... você está muito nervoso. Peço que mantenha a calma.

– Não... você não entende. – Blödhgarm pegou um espelho e colocou nas mãos de Eragon. – Tente fazer contato com qualquer pessoa da Alagaësia.

Eragon estranhou o pedido do mestre, e a ansiedade o corroía por dentro. A primeira pessoa que tentou contatar foi Arya. Depois de recitar as palavras, esperou impaciente. Nada aconteceu, Eragon não conseguiu ver nada. A princípio, achou que poderia ser por causa das proteções da elfa, mas aquilo era diferente, o espelho não havia ficado escuro como aconteceria se as proteções o impedissem de visualizar qualquer coisa, nada realmente havia acontecido, o espelho era o mesmo.

Intrigado, Eragon tentou outra pessoa. Desta vez escolheu Roran, que era mais provável de não estar sendo protegido por encantamentos. Mais uma vez nada aconteceu. Tentou então Nasuada, depois Orik, Nar Garzhvog, até Orrin, mas nada aconteceu novamente.

Tentou quebrar qualquer encantamento com o nome dos nomes, mas não obteve resultado.

– Não podemos perder mais nenhum segundo aqui... temos de ir até Niarël, esta mensagem muito provavelmente tem algo haver com isso. Vamos! – Eragon montou Saphira com o coração acelerado. – Contate Oriúmos, Blödhgarm. Ele precisa saber o que está havendo.

Ariän montou Baöh, e Blödhgarm já estava no dorso Awremöm.

– Oriúmos e Istalrí já estão com Niarël. ­– Todos atravessaram o portal do salão.

Os três dragões saltaram para o ar com rapidez, chamando atenção dos dragões e cavaleiros nas ruas.

Saphira voava em direção a costa leste com a rapidez de quem tentava alcançar a noite do próximo dia. Venora ficou para trás, e as arvores da floresta branca, agora, apareciam e sumiam como um borrão no tempo feito pela rapidez do dragão azul.

Meia hora depois alcançaram a costa leste, a vastidão de campos verdes, com suas poucas arvores espaçadas umas das outras, que morriam na areia da praia.

Niarël... onde está você?

Ali, Saphira indicou.

Lá estava, acomodado na areia da praia, o grande e incamuflável Istalrí. Ao seu lado, consideravelmente menor, estava Lïnus, o dragão cor de ciano claro de Niarël. Eragon sentiu a felicidade de Saphira ao ver o dragão.

Lïnus, filho de Fírnem e Saphira, era o resultado da primeira cria de Bjartskular. Ela pusera seu ovo ainda no navio, e eclodira depois de Venora já estar construída. Niarël, sua Cavaleira, inevitavelmente sentiu-se orgulhosa.

Saphira pousou sem mensura e demora.

– Niarël! – Eragon saltou da cela. – Qual o motivo disso?

Pequenino... Saphira tocou na testa de Lïnus.

O dragão ciano bufou amenamente e entrelaçou o pescoço no de Saphira.

Niarël falava algo com Istalrí. Seu semblante era de preocupação enquanto corria até Eragon. Usava botas negras e uma túnica azul clara. Os cabelos loiros estavam presos em trança. As finas sobrancelhas estavam franzidas e os olhos cor de mel lutavam contra o sol. Niarël era uma meia-elfa nascida em Ceunon, criada pelo pai humano até seus onze anos, após isso foi embora para Ellesméra, onde vivia a mãe, por causa da guerra que ameaçava destruir o Império, e depois de a guerra acabar, e Eragon matar Galbatórix, ela voluntariou-se para partir da Alagaësia com Eragon e os outros elfos. A sua mãe havia relutado em deixá-la ir, por ser muito jovem, mas a menina implorou e esperneou.

– Ebrithil, é bom revê-lo... Ah! ­– Niarël sobressaltou-se e segurou o cabo de sua espada.

Só então Eragon percebeu Ariän ao seu lado.

– Não precisa ter medo, garota. – Ariän sorriu, mostrando as presas, e estreitou os olhos brancos numa imitação horrenda de um sorriso. – Não sou um espectro.

Eragon suspirou.

– Este é Ariän, o Cavaleiro Branco. Este... – Eragon apontou para Baöh. – É seu Dragão, Baöh o Espectro. É um dos novos cavaleiros.

Nierël olhou de relance para Baöh.

Novo Cavaleiro? Eu soube que a celebração ocorreu a pouco mais de um mês atrás... Este dragão é maior que Lïnus.

Eragon teve de se segurar para não repreendê-la. Apenas lançou-lhe um olhar duro e penetrante.

– Eu li sua carta urgente... Não me faça esperar, Niarël.

A garota meneou.

– Eu tive de voar o mais rápido que pude. – Ela cobriu o rosto com as mãos. – Eu estava desesperada... Não conseguia contatá-lo e nem recebia mensagem alguma daqui... Nem de Venora, Jewän ou Noëma. E alguma coisa invadiu minha mente... Eu... – Ela derramou-se em lágrimas. – Tomou o controle de meu corpo, e também de Lïnus. Nos lançou no ar contra a nossa vontade e nos fez partir da Alagaësia até aqui. Eu... Eu tenho a esperança de que tenham sido vocês.

Eragon franziu o cenho.

– Niarël... Você pode compartilhar as lembranças do ocorrido?

– Sim... – Niarël pousou a mão no ombro de Eragon.

Matador de Rei pode sentir a mente da meia-elfa tocar a sua, mas ao deixar o fluxo de energia entrar não recebeu nada além de escuridão. Eragon estava abismado.

– Não captei nada... nada.

A meia-elfa ficou boquiaberta.

– Eu... eu não entendo.

Vou lhes explicar o que está havendo aqui... A voz de Umaroth cortou o ar como um relâmpago corta a escuridão.

Ebrithil. Eragon sentia uma pontada de determinação na consciência do Eldunarí.

Não há o que temer... Agora foi Glaedr que manifestou-se. Nós a trouxemos até aqui, Niarël- Finiarel. Glaedr soava calmo.

Mas...

Escute! Glaedr a interrompeu com um rugido mental. Nós, os Eldunarí, decidimos que os cavaleiros não irão manifestar-se nos assuntos da Alagaësia, por enquanto. Você era a única que ainda permanecia lá... Tinhamos de trazer você de volta. Entenda, pequenina, nossa Ordem está em construção, não podemos nos arriscar neste momento delicado, de forma alguma. Temos de ser cautelosos desta vez... Não podemos deixar que qualquer ameaça, transparente ou não, ponha tudo a perder.

Ebrithil? Eragon interrompeu. O que está tentando nos explicar? Eragon franziu as sobrancelhas.

O que estou tentando dizer... Eragon, É que os cavaleiros estão isolando-se em Kormodra, e não há nada que você possa fazer. Não adianta tentar, nem o seu conhecimento do Nome dos nomes irá quebrar nosso feitiço.

Eragon estava atordoado. Entendia os motivos dos Eldunarí, mas aquilo poderia ser visto com maus olhos pelos povos da Alagaësia.

Eu... Eu nunca confrontarei qualquer decisão que vocês fizerem. Se não por vocês, eu nunca derrotaria Galbatórix, talvez eu nem fosse um Cavaleiro, se vocês não tivessem desviado o ovo de Saphira para espinha... Se a decisão de vocês, Ebritilar, é que nos mantenhamos afastados... não desrespeitarei isso.

Obrigado, Eragon-finiarel. Quanto à Alagaësia... não se preocupe, nós Eldunarís estaremos sempre vigilantes, e ajudaremos da forma que pudermos.

Peço que o façam... Eragon retirou-se da mente dos Eldunarís, dando-os o descanso que tanto apreciavam.

– Então... Bem-vindos de volta, Niarël e Lïnus. – Eragon sorriu.

– Ebrithil... Nossa volta foi atordoada, mas fico feliz em revê-lo, e feliz em estar de volta.

– Igualmente, Niarël... agora, vamos voltar à cidade, hoje há muito trabalho a ser feito, e gostaria que conhecesse os novos cavaleiros.

– Será um prazer... Diga-me, mestre, o que mudou neste tempo que estive fora?

Eragon sorriu.

– Muita coisa... Logo ficará sabendo as novidades. – Eragon abraçou a si mesmo. – Se me permitissem, gostaria de um tempo a sós com Saphira, vocês podem voltar à cidade, irei logo em seguida.

– Claro...– Niarël montou o seu esguio dragão ciano. – Até breve, Matador de Reis.

Oriúmos escalou a perna de Istalrí e o vento tremeu com o abrir de asas do dragão laranja.

Blödhgarm deu um aceno modesto e subiu à cela de Awremöm.

Falaremos do que aconteceu aqui, depois... Ele disse antes de voar em direção à cidade.

Ariän e Baöh já não estava mais ali, haviam simplesmente sumido.

Pequenino... Saphira espirrou água do mar com sua pata. Isso nos poupará das falsas mensuras simbólicas para com os governantes da Alagaësia... veja por esse lado.

Foi uma ação cautelosa e inteligente dos Eldunarí... e facilita nosso trabalho com os novos cavaleiros... eu sei. Eragon sentou-se na areia. Mas concretiza a profecia de Angela... Eu realmente nunca voltarei à Alagaësia.

Pequenino... Saphira encostou o focinho em sua cabeça. Aqui é o nosso lar.

Eu sei. Eragon abraçou os joelhos. Saphira... Ele chamou, enquanto olhava para o horizonte.

Sim?

Você se lembra do que eu lhe perguntei quando estávamos vendo o pôr-do-sol, no navio, no dia em que Blödhgarm tornou-se Cavaleiro?

Você me perguntou o que nos esperava. Ela também focou a visão no horizonte.

Nós já sabemos o que nos espera? Perguntou ele.

Ela espirrou novamente a água com a pata, brincando com as ondas.

Nós ainda descobriremos... Nós sempre teremos de descobrir. Ela abriu as asas. Pequenino, irei deixa-lo sozinho... Sei que precisa ficar. Nos vemos depois.

Sim... até.

Eragon descalçou as botas e enterrou os pés na areia, enquanto olhava o horizonte e pensava no que Saphira disse. Desembainhou Brisingr e fincou-a na areia. Tirou a túnica branca que vestia aquele dia. Caminhou algum tempo pela margem do mar e então adentrou-o devagar.

Quando a agua batia em seus joelhos, parou e juntou os pés. Fechou os olhos e expandiu a mente... livrando-se de todo o peso que a acompanhava... pôs-se a meditar, ali... em pé, na água.

Após algum tempo, sua mente viajava em sonhos despertos, mas ele ainda explorava, mesmo que não totalmente consciente, tudo à sua volta.

Sentiu, em determinado momento, algo aproximando-se de si. Algo que levitava no ar, como se navegasse... sentia energia envolvendo o que quer que seja que aproximava-se. Permitiu que a pequena fonte de energia aproximasse-se de si.

Aproximou-se mais... e mais... até que parou bem à sua frente.

Quando Eragon abriu os olhos, viu, bem à frente de seu nariz, um pequenino navio feito de folhas de arvores. As folhas estavam secas e já não verdes nem marrons, mas negras. Amarrado ao maior mastro dos três que tinha, havia um pergaminho enrolado.

O coração de Eragon disparou por um breve momento, mas logo controlou-se. É de Arya... Como é possível? Ebritilar? Umaroth, Glaedr? Achei que vocês não permitiriam que qualquer mensagem da Alagaësia chegasse à ilha.

Nada passou por nosso encantamento, Eragon... Glaedr respondeu. Se alguém tivesse conseguido quebrá-lo, nós saberíamos. A explicação mais óbvia é que isto não veio da Alagaësia. Logo após, o dragão retirou-se para seu silêncio melancólico.

Eragon estava confuso, mas tudo o que poderia fazer era ler a mensagem que o pequeno navio carregava. Retirou o pergaminho do mastro.

Assim que tocou o navio, ele desfez-se em pó negro, como cinzas. Abriu o pergaminho e leu a mensagem.

“Eu e os novos cavaleiros aguardamos você e os mestres no porto de Kormodra, se puder nos receber ao luar desta noite. Desculpe-me vir sem nenhum aviso, não consegui contatá-lo antes de partir.

Arya.”

Eragon radiou ao ler a assinatura da carta... Ele considerava que nunca mais veria a elfa em toda sua vida, mas ali estava um bilhete, e lhe provava que estava enganado.

Sem alarde, mas com um imenso sorriso no rosto, e uma descrença infantil, Eragon saiu da água. Calmamente vestiu a túnica e embainhou Brisingr depois de retirar a areia da lamina.

Saphira... Eragon chamou. Você pode vir agora?

Depois de um tempo ele escutou as batidas das asas do dragão.

Qual o motivo de tanta felicidade, Eragon?Saphira pousou na areia curiosa e divertida.

– Você não irá acreditar... – Disse ele sorrindo.

O Cavaleiro compartilhou suas lembranças com o dragão.

Saphira abriu bem as pálpebras ao se dar conta do que ele estava falando. Eragon sorriu com a reação do Dragão.

Fírnen está vindo também, com certeza, você não acha?

Eragon gargalhou.

– Mas é claro, não seja boba! – Ele subiu com alegria o dorso dela.

Imagine o tamanho que ele deve estar!

Sim... deve estar bem grande. Ele deu uma palmada leve no pescoço do dragão.

Sorria durante todo o percurso de volta à cidade. Passou pelos campos verdejantes, pela floresta branca, pelo vale sem sol, imaginando o que Arya acharia de Kormodra.

Sobrevoaram a grande praça de Venora com anseio.

Oriúmos, Blödhgarm... Eragon os contatou depois de entrar no Salão do Mestres. Venham ao Salão dos mestres... preciso lhes contar algo. Eragon esperou, tamborilando a mesa, de pergaminho na mão.

Blödhgarm e Oriúmos chegaram juntos.

– Eragon, o que ouve? – Oriúmos caminhava ao lado de seu enorme dragão. ­– O dia está agitado. – Os olhos púrpuras do elfo cintilaram peculiarmente.

– O que tem a nos dizer? – Blödhgarm saltou das costas do dragão cinza.

– Faremos uma festa de recepção no porto. – Ele os disse. – Hoje ao luar.

– Seu humor mudou como do inverno para a primavera, Matador de Reis, quem vem aí? – Oriúmos sentou-se à mesa.

– A Rainha dos Elfos e os novos cavaleiros... pelo menos os de Du Weldenvarden, acho eu. – Sorriu com a cara de espanto dos amigos.

– O que está dizendo, – Perguntou Blödhgarm incrédulo. – Como sabe disso, Eragon-elda? Achei que não receberíamos mais mensagens da Alagaësia...

– A mensagem não vem da Alagaësia. – Explicou. – Acabei de recebê-la, Arya provavelmente já está bem perto do porto.

– Isso é maravilhoso! – Exclamou Oriúmos com um sorriso que não se via com frequência em seu rosto. – Há tempos não vejo Drottning. E será bom para os jovens cavaleiros uma visita de uma cavaleira distante e lendária...

Eragon gargalhou.

– Sim... Será bom. – Levantou-se. – Agora vamos fazer os preparativos. Precisamos contatar os elfos da floresta da costa no porto. Eles precisam nos ajudar.

*

O Pôr-do-sol estava à sua frente, assim como os Dragões e cavaleiros que preenchiam a praça. Eragon avistou um dos novos Cavaleiros recostado à uma arvore, Kewird. Estava junto de outra dos novos cavaleiros, era Líria, a elfa cavaleira do dragão azul escuro. Todos os novos cavaleiros estavam presentes, menos Ariän e Baöh. Os restantes pareciam estar adaptando-se bem.

O lugar havia ganhado um agito especial, depois de Eragon anunciar a visita da Rainha dos Elfos. Teve de responder algumas perguntas ansiosas e explicar o que nem mesmo compreendia aos detalhes, a surpresa era tão grande para si quanto para eles.

Montou Saphira, exibindo um sorriso para os aprendizes e partiu ao som das venerações de Cavaleiros e rugidos de Dragões.

*

O rochedo cinzento quase parecia ser laranja, banhado pelo pôr-do-sol, mas, de longe, Eragon avistou um ponto branco, na beira do penhasco de sua caverna, e no céu, batia asas um dragão branco.

– Você não foi à convocação que fiz há pouco... – Eragon disse à Ariän depois de pousar na entrada da caverna.

– Você apenas não me viu. ­– Ele deu um meio sorriso sem tirar os olhos do sol poente.

Ariän sempre assistia o pôr-do-sol, e não vacilava os olhos brancos. Eragon ainda descobriria o porquê.

­– Então sabe o que acontecerá ao luar...

– Sim, a visita da Bela Rainha do Elfos. – Ariän deu um sorriso, como se soubesse o que ele sentia pela elfa.

– Você irá?

Ariän abraçou os joelhos ainda sem tirar os olhos do sol.

– Muitas pessoas... atordoará minha mente, mas não se preocupe, irei.

Eragon assentiu e seguiu para dentro.

– Espere... – Ariän chamou.

– O que? – Eragon virou-se.

Ariän, pela primeira vez – Se Eragon estivesse certo – parou de olhar para o sol poente, e fitou profundamente o líder dos cavaleiros.

– Por que você acha que não pode voltar?

Eragon engoliu em seco, uma sensação estranha o invadiu. A mesma de quando Ariän o chamou de Matador de Espectros... Ele sabe?

– Do que você está falando?

– Sem perguntas estúpidas... Diga-me, Eragon. Estou aqui para ouvi-lo e ajuda-lo.

Eragon respirou fundo antes de responder.

– Por que está escrito no meu destino... – Ele sentou-se ao lado de Ariän. – Há muito tempo... – Ele teve de esforçar-se para contar a história sem vacilar. ­– Há muito tempo, uma mulher... uma misteriosa mulher – Ele sorriu ao citar Angela. – leu o meu destino, e disse-me que eu partiria da Alagaësia para sempre, e nunca mais voltaria. E então sonhei... – Sentiu os olhos humedecerem. – com um navio branco à luz do luar, e minha partida foi exatamente da forma que foi no sonho... Isso sempre esteve destinado a acontecer, Ariän. Nunca mais voltarei à Alagaësia.

Ariän o fitou, com os olhos brancos profundamente mortos cheios de tédio.

– Então é isso? Eragon Matador de Espectros? – Ele abriu um leve sorriso. – Uma profecia? É isso que o faz se esconder na sua ilha?

– Ariän... você não entende...

– Você não sabe o que eu entendo ou não. – A raiva agora parecia tê-lo dominado. – Você só saberá se a tal profecia é verdadeira se provar que não é... Eragon... Algo só existe até o momento que fazemos parar de existir.

– Mas...

– Eragon... – Ariän olhou para o Pôr-do-Sol. – Veja... há uma luz no céu, e nada sabemos sobre ela, e quanto mais tentarmos descobrir, saberemos que sabemos pouco, pois há muito mais que se possa saber. Quanto mais se sabe, mais é visível o quão pouco se sabe. Ninguém jamais será sábio, Matador de Espectros. – Ele fez uma pausa demorada. – E o quão longe uma profecia pode dizer? Nunca mais voltar? – Ele sorriu. – Isso não é tudo, a não ser que você queira. Eragon, olhe. – Então os dois olharam para o Pôr-do-Sol... Eragon compreendia o que aquele homem queria dizer, e isso o assustava. – Há uma luz no céu, e nada sabemos sobre ela... assim é a vida. Também há uma luz no seu destino, Eragon, e ninguém sabe nada sobre ela. Cabe a você descobrir.


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Notas finais do capítulo

E então?
Os próximos capítulos se seguirão a isso, não sei se estão criando espectativas, se devem ou se eu mesmo devo, não posso ir contra ao que eu mesmo penso em escrever, na verdade, tenho que parar por aqui hhahahah até!
01/05/15



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