Um mundo além do mundo escrita por Lobo Alado


Capítulo 23
Um dragão sem asas, sem ar para voar


Notas iniciais do capítulo

Olá cavaleiros!
Venho até vocês com uma surpresa... mas não para você, e sim para mim! Eu imaginava concluir este capítulo com uma parte só, mas ainda falta bastante coisa para terminá-lo, então vou dividi-lo em dois.
É isso, uma boa leitura a vocês.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/506861/chapter/23

Kewird correu ansioso pelas arvores da praça. Eragon Matador de Rei anunciaria algo, e todos os Cavaleiros estariam lá para ouvir. Procurou em meio às cores de escamas pelo dragão azul escuro. Mas não o encontrava... Ela está fugindo de mim?

Ela tem motivos? Shavaníra andava ao seu lado. Kewird, você deve lembrar-se de como as coisas são e de como você está vendo. Está obcecado por esta elfa magricela...

Quieta! Kewird magoou-se com aquelas palavras. Não queria que o dragão tivesse razão, apenas sentia como se a elfa estivesse escondendo-se. Desde o dia na floresta branca, ela nunca mais havia aparecido com frequência, a não ser nos treinos. E ele não sabia o que fazer.

O Sol já tocava o horizonte por entre as construções. Cansado de procurar, Kewird recostou-se a uma árvore, um pouco afastado dos outros Cavaleiros. Shavaníra deitou o pescoço em seu colo e ele pôs-se a coçar sua cabeça. O dragãozinho fêmea era o menor dos novos dragões da ilha, não desenvolvia-se da mesma forma que os dragões machos, mas era deslumbrante, e os machos a disputavam em suas brincadeiras.

Zeón não deveria já estar aqui? Shavaníra questionou.

Ele disse que terminaria apenas mais um capítulo do livro e logo encontraria comigo aqui.

É capaz de ele perder-se nas palavras e perder o pronunciamento de Eragon-elda.

Kewird sorriu.

Não duvido que isto possa acontecer.

À sua volta, muitos e muitos outros dragões e Cavaleiros conversavam entre si. Kewird sentia-se como um peixe fora d’água, não importava o que o dissessem, não sentia-se como um igual de todos aqueles estranhos de espadas coloridas. Sentia uma saudade imensa de casa, sempre antes de dormir, contava ao seu dragão histórias sobre o lugar onde havia nascido e se criado.

Mas ao mesmo tempo queria mergulhar dentro daquele mundo novo, sem nenhuma insegurança.

Veja... Shavaníra olhou para a multidão.

Então Kewird distinguiu um azul escuro entre o colorido dos outros dragões. Era Blöh.

São eles. Kewird afirmou.

Então a elfa surgiu. Passando entre os Cavaleiros, de flauta na mão, passeando os dedos longos pela superfície de madeira com ligeireza, arrancava uma melodia do instrumento.

­– Líria! – Kewird chamou, estendendo um braço, antes que a elfa sumisse novamente na multidão.

A elfa parou abruptamente, de costas, e a melodia parou de soar. Por um momento pareceu uma escultura sem vida, se não fosse pelos cabelos ondulantes. Ela virou-se lentamente. Estava com uma expressão estranha no rosto.

– Kewird? Algum problema?

O rapaz gelou.

– Não... é... apenas queria ouvir suas bonitas melodias.

Shavaníra olhou-o aborrecida.

– Tudo bem... – A elfa lançou-lhe um olhar que contradizia a sua postura inicial, deixando-o confuso, e sentou-se ao seu lado. – Garota... você está bem grande. – Ela sorriu para Shavaníra e coçou suas escamas.

– Blöh... – Kewird fez uma curta reverência com a cabeça.

Humano... A voz mental de Blöh era estranhamente melódica.

– O que acha que Eragon Matador de Reis falará? – Perguntou Kewird temeroso de que um silêncio constrangedor se formasse.

– Eu não sei... Eu mal tenho visto ele fora dos treinos, nossas aulas são poucas, ele está muito envolvido com Ariän. – Seu semblante tornou-se sombrio.

– Ariän... Eu vi seu dragão hoje, é... tenebroso.

Está enorme, e cresce cada vez mais... Não há normalidade ali, tenha a certeza. – A voz da elfa era dura, Kewird podia sentir seu abalo.

– Esqueçamos isto... Uma boa melodia apaziguará o ambiente.

Líria sorriu largamente. O seu rosto era belo em qualquer expressão facial, e surpreendente em cada uma delas.

– Você tem total razão, humano. – Os longos dedos foram para seus lugares. E os lábios alaranjados fizeram a melodia.

Kewird fechou os olhos e permitiu que a música trouxesse suas sensações boas. Mas tudo o que via era o rosto de Líria e seu sorriso laranja-queimado. Arrepiou-se, tocado pela musica.

– Kewird?... – Ele abriu os olhos, surpreso pelo chamado da elfa, que o olhava com divertimento. Ela deu uma gargalhada melódica. – Estava realmente envolvido na musica, isto é bom... você é sensível.

– Ah... Obrigado. – Ele forçou um sorriso, constrangido. – O som puxou-me para si.

Por algum momento nenhum dos dois falou. Tudo o que Kewird pôde fazer foi escutar a cacofonia que os Cavaleiros e Dragões faziam pela praça.

– Kewird – A elfa quebrou o silêncio. – Você já consegue expandir sua mente?

– Eu tenho evoluído bastante, Blödhgarm Ebrithil tem me ajudado... já sou capaz de tocar consciências próximas. – Kewird tirou uma mecha de seus cabelos negros dos olhos, estavam bastante grandes, nunca havia passado tanto tempo sem que cortasse o cabelo.

– Então mostre-me. – Ela pediu com um tom autoritário.

– Eu... Tudo bem. – Kewird esforçou-se para conseguir expandir a mente... que antes não passava de um nome para ele.

Concentrar-se ainda não era uma tarefa fácil, e o fluido mundo que mesclava-se em sua mente parecia sempre retrair... Mas depois de algum esforço conseguia escapar para fora das paredes mentais, mesmo que pouco.

Sua mente alcançou um fluido temperado de sensações coloridas. Delirante e tão segura em egocentrismo que era intimidante... Mas ele percebeu também incertezas sobre muitas coisas, e ansiedade.

Bom... A consciência respondeu ao toque, e logo em seguida resguardou-se.

Kewird abriu os olhos e deparou-se com os grandes olhos negros da elfa a fitá-lo.

– Você já consegue expandir sua mente, isto é certo. – Ela deu um sorriso afoito. – Mas ainda não consegue controlá-la. Deve tomar cuidado com os seus pensamentos, não os deixe transparecer.

O coração de Kewird disparou. Aquilo significava alguma coisa?

Na verdade, sim... Shavaníra disse apenas para ele. É um tolo vivendo uma fantasia tola, é bom que perceba isto agora.

– Eu ainda tenho tempo para aprender... – Ele respondeu envergonhado.

– Já sabe quando Blödhgarm pretende partir para Noëma? – A elfa perguntou.

Kewird coçou o queixo, atordoado com a pergunta.

– Creio que ficaremos aqui por mais dois meses. Depois disso... iremos embora, e iniciarei, junto de Zeón, meu treinamento.

Ela assentiu e recostou-se na árvore. Era estranho fitá-la agora, relacionar o pouco que sentiu de sua consciência com o semblante que via no rosto élfico. Mas tudo em que pensava enquanto a sugava com os olhos era em sua beleza.

Usava uma camisa élfica de verão, de vivo púrpuro, com detalhes prateados. Calças de couro marrom e botas negras de cano longo completavam suas vestes. Os cabelos negros estavam soltos, cobrindo os ombros e espalhando-se nas costas até a cintura.

A forma como sentava-se, recostada na árvore e envolvendo os braços em seu próprio abraço a tornava bela de uma forma única para ele. Não era apenas beleza, mas a sensação que o semblante dela lhe proporcionava, não tinha haver apenas com o quão belo era seu rosto. Na verdade, ele não sabia dizer...

– Você está muito bela hoje, Líria. – Ele viu-se dizendo. – Bela e radiante como o dourado do dia.

A elfa deu uma gargalhada divertida, olhando nos seus olhos com um olhar zombeteiro.

– Não me presenteie com elogios tão vazios, humano.

Kewird sentiu um nó na garganta, não era aquela recepção que esperava.

– Eu... não são elogios vazios, vejo beleza em seu rosto. – Ele guiou lentamente sua mão ao rosto da elfa. Tocou-lhe a maçã do rosto com suavidade e deslizou os dedos até seu queixo. – E vi como está radiante por dentro. Como está feliz... vi sua consciência. Como pode ser um elogio vazio?

Ela agarrou seu braço, apertando com força e brutamente.

– Você não viu minha consciência, apenas tocou levemente... um contato superficial. Não aguentaria mais que isto. – Ela afrouxou os dedos ao redor de seu pulso. – No entanto aceito seus elogios...

Depois daquilo Kewird manteve-se mais reservado, assim como a elfa.

Logo depois Zeón apareceu, salvando-os da constrangedora presença um do outro. O rapaz ruivo andava sem ligar para o caminho que seguia. Os pés seguiam à própria vontade e o olhar acompanhava o movimento sem dar importância a nada, perdido dentro de seus próprios pensamentos.

– Zeón! Aqui... – Kewird chamou o rapaz distraído.

Zeón sobressaltou-se, como que despertando de um sonho. Ao seu lado caminhava com passadas fortes o vermelho Göro. O Dragão já era grande o suficiente para Zeón montá-lo. Shavaníra ainda tinha dificuldades para suportar Kewird, mas era capaz.

– Kewird... Por que não me esperou, só faltava apenas um capítulo, eu lhe disse... – Zeón deitou o olhar em Líria. – Cavaleira – Ele fez uma reverência. – Eragon já deu o aviso?

– Não – Kewird respondeu. – Já estou aqui há algum tempo, se não percebeu quando saí. – Suspirou.

Zeón sentou-se do lado de Kewird. Göro mordeu o rabo de Shavaníra, como sempre fazia, provocando-a agressivamente. Os três esperaram profundamente quietos pelo Matador de Rei. Mas quando ele caminhou serenamente até o centro da praça o anseio podia ser sentido de longe em cada um deles.

O líder dos Cavaleiros usava uma túnica élfica branca, justa e formal em seu corpo. Os cabelos castanhos escuros enrolavam-se ao ombro. E o rosto trazia uma paz bonita de se fitar.

– Meus amigos – Um sutil meio sorriso formou-se em seu rosto. – Como estão? Tenho estado muito fechado para vocês, é verdade. Mas eu precisava. – Ele passou o olhar pelas ondas de pessoas e escamas e asas coloridas. – Precisava poupá-los dos desvios de seus ensinamentos, mas... temo que não posso mais fazer isso. Este é um dos motivos pelo qual trago vocês aqui.

– Matador de Reis. – Uma voz soou entre a multidão. – Eu realmente estou bastante confuso. Nós estamos, creio eu. – Um elfo, inconfundivelmente, surgiu entre os outros, com um olhar solene e ousadamente arrogante. – Você nos ignorou totalmente, e fingiu não haver uma criatura perturbadora sempre ao seu lado. – O elfo tinha uma postura tão rígida que Kewird começou a sentir o próprio corpo desconfortável.

– Elder – O líder dos Cavaleiros pronunciou com o dobro da calma anterior. – Compreendo perfeitamente como sentiram-se, e como sentem-se com tudo o que está acontecendo. Ah... e deixarei passa o criatura perturbadora desta vez. – Ele lançou um olhar de reprovação ao elfo que esforçou-se para sustentá-lo. – O fato é que... Como poderia explicar-lhes algo de que nem eu tinha conhecimento? Manter Ariän ao meu lado foi uma escolha feita em conjunto. Ele mostrava-se um risco no inicio, nós mestres sentimos a necessidade de mantê-lo por perto, mas agora mostra-se útil e quase essencial para o desenvolvimento de nossa tão recém nascida ordem. Não sabemos muito a respeito dele, é certo, mas o tempo são as águas que devastam qualquer muralha de segredos. – Eragon escondeu as mãos atrás das costas. – Você foram poupados de toda a confusão momentânea, e do processo de adaptação e aceitação da condição de cavaleiro da parte de Ariän... Não se preocupem, meus amigos! – Ele abriu os braços e passou o olhar por todos ali. – Agora é o momento que mais preciso de vocês, e nada, vejam bem, nada será escondido. – Matador de Reis fez uma pausa tão extensa, trespassando o foco de sua visão como uma estatua qualquer, que Kewird achou que o recado estava dado, mas então o líder dos cavaleiros suspirou. – Nada será escondido de vocês. Hoje, como alguns de vocês já devem ter conhecimento, voltou para a ilha dos cavaleiros a nossa embaixadora, Niarël. E sua volta tem mais significado do que se pode predestinar. A volta de Niarël marca uma nova e importante fase dos Cavaleiros de Dragão.

“Os antigos de nossa ordem viajavam por toda Alagaësia, e tinham a missão de manter a paz, como é de conhecimento de todos vocês... É isso que pretendemos fazer também, mas pergunto-lhes... como poderemos manter a paz se estamos em construção? Não podemos. Então, Cavaleiros, a partir deste dia, os Cavaleiros de Dragão estão isolando-se na ilha de Kormodra, não manteremos contato com a Alagaësia até que consertemos o nosso legado.

O silencio que seguiu foi perturbador, dando uma ênfase pesada às palavras de Matador de Reis. Ninguém ali conseguia acreditar no que tinham ouvido, ele sabia.

Se tinha entendido direito, ou se as palavras de Eragon significavam exatamente aquilo... não, não poderia ser. Shavaníra...

Vamos esperar o que ele tem a dizer; Shavaníra disse sem se abalar.

A baderna quebrou o silêncio repentinamente, e os rugidos mesclavam-se com as vozes protestantes formando uma algazarra estrondosa.

– Silêncio, por favor... Silencio! – Eragon-elda acalmou-os com uma momentânea autoridade. – Pode parecer uma medida rude e radical, mas é extremamente necessária para nosso crescimento. E mesmo que não concordem, e não achem justo que a medida tenha sido tomada sem que tenham sido informados, quero que saibam que não há nada que possamos fazer... não foi eu nem nenhum dos mestres que tomou a decisão, mas sim os Eldunarí, e ninguém conseguirá passar pela barreira mágica deles.

– Barreira mágica?! – Dessa vez Elder, o elfo que havia protestado inicialmente, avançou mais dois passos determinados. – Isso é inadmissível! Você tem de fazer algo para impedir isso... Estamos isolados?!

– Elder, acalme-se! – Matador de Reis permaneceu no centro do circulo, inabalável. – Eu não posso fazer absolutamente nada... os encantamentos mentais utilizados pelos Eldunarí estão acima de meus conhecimentos, e ainda que eu pudesse fazer alguma coisa, não faria. – Um meio sorriso com uma leve culpa surgiu em seu rosto. – Já tomei minha posição... ainda que lidere esta ordem, os verdadeiros sábios são eles, foram eles que conquistaram tudo isto... – Ele fez a mão passear horizontalmente. – Não sejamos egoístas... logo agora no momento em que precisamos nos manter reservados. – Ele cerrou novamente os braços às costas. – É isso? São cavaleiros e agora vivem por conta própria, sobrevivendo apenas da espada colorida e do fogo do estomago? Sei que não é fácil de aceitar, mas tentem no mínimo compreender... esta é a única opção que têm.

Os Cavaleiros não ousaram levantar a voz em protesto, mas Kewird via a raiva e incompreensão nos olhos de muitos. Alguns poucos apenas olhavam para o chão, outros simplesmente não ligavam.

– Acreditem, também não é fácil para mim... encarar esta nova realidade... é demais para assimilar tudo o que isso trás numa torrente tão grande. – Ele fez mais uma pausa para certificar-se de que permaneciam calados e atentos. – Mas algo me ajudou a encarar isso. Algo que talvez os ajude também. – Ele pousou a mão no cabo de sua espada. – Recebemos um recado de outra viajante próxima de nós. Cavaleiros... preparem-se para hoje. Arya Matadora do Dragão, Drottning vem trazendo novos cavaleiros da Alagaësia. Eles chegarão ao luar desta noite. Sei que muitos não a conhecem, e sei que muito poderão aprender com ela e seu dragão... Um membro distante de nossa ordem se aproxima, animem-se! Gostaria bastante de ficar mais um pouco com vocês, meus amigos, mas tenho assuntos importantes a tratar, e tenho que aprontar o porto para a recepção de nossos convidados. – Eragon Matador de Reis caminhou até o grande e brilhante Dragão azul, escalou com habilidade a perna dela, que era como uma grande árvore.

A essa altura todos já estavam totalmente eufóricos, e pareciam ter esquecido os recados anteriores de seu líder. Saphira escamas brilhantes deu um rugido e saltou para o ar abrindo as asas.

Matador de reis, já acima de todos, utopicamente na sela de seu dragão, acenou, carismático, para seus alunos e sumiu logo depois penetrando no azul do céu.

Kewird estava um pouco perturbado. Era muita coisa para sua cabeça. Não que ele realmente se importasse em estar isolado, nunca saíra da ilha de qualquer forma. Seu pai, Amber, viera para ajudar a construir Venora, mas preferiu acomodar-se e ajudar a construir um pequeno vilarejo ao sul, onde as águas do mar eram amenas, e os companheiros que ajudavam a construir o lugar eram simpáticos. Foi então que conheceu Âneea, que viria a ser sua mãe. Então definitivamente eles resolveram instalar-se no lugar e construir uma vida juntos.

Mas a notícia sobre a rainha dos elfos... Isso o excitava. Já havia visto uma pintura dela com uma lança na mão, correndo em direção ao Dragão negro de Galbatórix. Como será ela, Shavaníra? Será semelhante à Líria? Ele olhou para a elfa, que estava também espantada com a notícia, mas com qual delas ele não sabia dizer. A boca estava discretamente aberta e as sobrancelhas arqueavam-se sem querer.

– Isso poderá ser mesmo verdade? – Zeón estava boquiaberto. – Por que ela viria assim tão de repente?

– Pode ser qualquer coisa... Vamos apenas esperar que ela venha. – Líria suspirou ruidosamente, com um sorriso no rosto... – Será uma experiência única, ver a Rainha de minha raça.

– Você... Você nunca a viu antes?

Líria balançou a cabeça.

– Deixei a Alagaësia quando era um bebê de colo, não tive contato com outros elfos a não ser os do porto e os de Venora. – Ela disse franzindo um pouco as sobrancelhas.

– Ah... – Kewird fechou a boca quando ameaçou ficar boquiaberto. A elfa era muito nova! Isso era confortante, não imaginava conhecer elfos tão jovens, e saber que Líria tinha quase a mesma idade que si, ou talvez fosse mais nova, era mais confortante ainda.

– Você tem quantos anos, Elfa? – Zeón perguntou com os olhos arregalados.

Líria comprimiu os lábios e fechou o rosto.

– Hã... O que ouve? – Perguntou Zeón dando um passo para trás.

Não é educado perguntar a idade para os elfos... Shavaníra respondeu.

– Desculpe-me, não importa na verdade... ah, eu...

– Tenho pouco mais de quinze anos. – Ela interrompeu com uma voz cortante.

Zeón coçou o couro cabeludo.

– Então, vamos fazer algo até que o luar chegue? – O rapaz ruivo mudou rapidamente de assunto. – Eu não quero me aprisionar em um quarto abafado até lá...

– E por que não? – Líria recostou-se em Blöh. – Creio que os Eldunarí não criaram uma barreira mágica envolvendo a praça. – Resmungou. – Vamos para a floresta então?

Zeón sorriu.

– Seria bom levarmos espadas também, a vontade de treinar pode vir.

– Passemos na arena de luta, neste caso. – Kewird levantou-se. – Tenho certeza que não negarão três espadas. – Montou Shavaníra, e o pequeno Dragão saltou para o ar, com mais facilidade para sustentar Kewird do que nas outras vezes que o Cavaleiro a montou.

Guarda as palavras da elfa rancorosamente... A fêmea observou. Eu disse para abrir os olhos.

Não posso simplesmente ignorar o peso das palavras que ela me direcionou... Não sabe o que fala, Shavaníra. Você sabe que não podia guardar para mim mesmo o que sentia... Sabe que eu tinha de tentar falar, não finja que isso poderia ter sido fácil para mim.

Eu sei... desculpe-me meu pequenino sorridente. Convivi por muito tempo com os elfos que cuidavam de mim no salão dos ovos, e mais tempo ainda com os eldunarí na pedra de Kurthian, eu partilhei de suas lembranças, sei como funcionam os elfos... e os humanos também, apenas queria o seu bem.

Posso ouvir seus conselhos, mas não poderá ser tão fácil segui-los acima de meus instintos.

Ela rugiu pondo um fim no assunto e bateu mais forte as asas, levando-os para a arena.

Ao seu lado surgiu, batendo asas maiores que as amarelas de seu dragão, e com mais força, Göro. As escamas vermelhas rosadas, assanhadas, brilhavam ao pôr do sol, um brilho ardente e selvagem. Montado em seu dorso, na sela marrom que ele mesmo fizera com a ajuda de Blödhgarm Ebrithil – Kewird também fizera sua própria sela. – estava Zeón. Os cabelos vermelhos chicoteavam ao vento e pareciam em chamas ao banho do sol.

Do outro lado, Blöh voava mais tranquilamente, dominando o ar com mais serenidade. Líria montava com habilidade precoce para o tempo a que era cavaleira. Ela acenou ao ver que ele a observava. Kewird devolveu o aceno e voltou-se para o seu próprio vôo.

Os três dragões percorreram a cidade, passando pelas grandes construções como se fossem pequenas libélulas passeando entre troncos de árvores.

A grande arena surgiu entre os prédios logo. Os dragões pousaram juntos, despertando a atenção dos poucos que estavam por perto. O homem responsável pela arena os guiou até o arsenal.

– Três espadas? – Ele levantou uma sobrancelha. – É bom que sejam devolvidas, e em bom estado. Três já sumiram... Três, não é coincidência?

O homem entregou três espadas a eles, mas pestanejando o tempo todo sobre o mau estado das espadas que recebia, e sobre o sumiço das tais três espadas.

– Para onde iremos agora? – Perguntou Kewird inquieto. A verdade era que ele estava curioso, queria que o luar chegasse logo, queria ver o ser tão lendário de que ouvira falar tanto.

– A floresta... – Zeón endireitou o cinto da bainha na cintura. O rapaz parecia um verdadeiro herói de suas histórias, quando não abria a boca para falar exageros. – Não a branca, a floresta da costa, ou então podemos ir para a montanha da costa sul. Li algumas coisas interessantes sobre o lugar...

– É arriscado, tem certeza que é isso mesmo que você está propondo? Pretende afastar-se tanto da cidade? – Kewird nunca antes tinha ido tão longe. Três cavaleiros inexperientes por conta própria, isso não poderia dar certo.

Se não quiser ir não há problema algum. Kewird sentia que Shavaníra não estava nem um pouco incomodada com a ideia de afastar-se tanto, na verdade a ideia mais que agradava a ela.

– O que poderá acontecer? Não há motivos para se preocupar. – Zeón montou Göro.

– Para a Montanha do Sul então... – Kewird confirmou montando Shavaníra.

*

O ultimo vestígio de luz do sol morreu com a esperança de Kewird de desistir daquela ideia. Os três já estavam tão longe que nem o grande Rochedo Cinzento era visível, mas o barulho das ondas ainda não havia chegado, ele não sabia quanto tempo mais teria de suportar esperar.

Maldito seja Zeón e suas ideias...

Relaxe um pouco, pequenino sorridente, qual o motivo de estar aqui se não para degustar um pouco a vida?

O rapaz respirou fundo, enchendo o peito do ar salgado e frio. Sorriu.

Você tem razão, degustar a vida nas asas de um Dragão. Deitou-se no dorso da companheira e abraçou seu pescoço escamoso.

Ou não estavam mais tão distante da costa sul, ou a demora tornou-se mais aceitável. As águas revoltas logo apareceram no horizonte, cintilando ao luar que tomara o lugar do sol no céu, assim como o grande e solitário monte rochoso, onde as ondas quebravam-se com violência.

Göro foi o primeiro a mergulhar para o chão, Blöh e Shavaníra não se demoraram.

A costa era pedregosa, formada por pedras do tamanho de um punho, e as ondas prateadas traziam mais delas, e levavam outras.

Kewird retirou as botas e deixou os pés escorregarem pelas pedrinhas. Desceu desajeitadamente até onde as pedras eram puxadas pela água. Mergulhou os pés nas pedras e esperou até que a água os molhasse.

O grande monte era um campo de ecos de ondas a quebrar. O brilho do luar estava tão forte que a lua era como uma bola mágica de luz branca. Arya Drottnig... Kewird pensou ao fitar a grande bola branca. O rapaz nunca tinha ido além do sul da ilha dos cavaleiros, e só conhecia a Alagaësia por livros infantis, e agora mais do que nunca parecia uma terra fantasiosa que não existia no mundo real...

...Mesmo assim ele sentia-se ruim por não poder visitar o desconhecido lugar.

Sou um Cavaleiro de Dragão, Shavaníra, o que devo fazer? Ele perguntou enquanto a água gelada passava por entre as pedras escorregando por seus pés. Para que se tem asas se não se pode voar?

É bastante triste pensar que estamos isolados nesta ilha por sabe-se lá quantos anos... Não foi isso que você imaginou quando tornou-se cavaleiro... A companheira embalou os pensamentos com uma profunda e triste compreensão. Mas nós podemos crescer cada vez mais, e nos tornar cada vez mais fortes, até que estejamos tão grandes e fortes que o mundo não poderá mais nos segurar.

Kewird distraiu-se e gargalhou fortemente.

Sim... nós cresceremos.

– O que o distrai tanto, Cavaleiro? – Líria surgiu como um relâmpago surge no céu escuro, sentando ao seu lado.

Só agora Kewird via o aspecto levemente imaturo da elfa. Ele podia ver a criança manifestar-se no rosto élfico agora, e isso só o deixava mais atraído, e não menos seguro como de inicio imaginava.

– Estava pensando na Alagaësia... estava pensando no fato de abandonar as esperanças de conhecê-la. E também no que se seguirá daqui para frente, e... – Ele parou de falar e olhou para as mãos.

– E no luar... e no rosto de Arya Drottnig.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E então? Achei este capítulo muito difícil de escrever, não sei o que houve, mas isto acontece frequentemente comigo hahah, espero que tenham gostado.
O que acharam? Qual a visão de vocês sobre o capítulo e sobre a história?
O próximo capítulo não tem previsão para sair... preciso manter a cabeça limpa.
É isso, até breve amigos!
21/05/15



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Um mundo além do mundo" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.