Yato definitivamente não era um bom stalker, e muito menos conseguia se manter nas sombras. Hiyori podia não ter percebido a presença do garoto, mas o outro membro no quarto sim. Claro, que normalmente nenhum humano normal se importaria com o deus, mas aquele era diferente. Conseguia sentir a presença, e estava completamente incomodado! Aqueles olhos azuis que transbordavam em ódio o fitavam, e isto lhe causava arrepios. Queria devolver o olhar, mas simplesmente não conseguia.

Depois de anos sem ir naquela cidade, chegava e se dava mal com aquilo! Um cara estranho com um olhar penetrante e com ódio o estava praticamente o chamando para uma briga, e sabia que assim que a luta começasse ele perderia, não restava dúvidas. O que deveria fazer? Conversar com o dono dos olhos azuis? Ou fingir que não sentia a presença arrepiante? Se fizer isto, poderia ser que ele fosse atacado quando saísse. Definitivamente as duas escolhas não eram boas. Mas sentia que deveria escolher a primeira, e a mais assustadora. Deuses! Como ele estava com medo. Okay, respire fundo e vá conversar com o cara.

Respirou fundo, falou para a garota a sua frente que iria tomar um ar, e caminhou em direção à porta. Assim que colocou os pés fora da casa, o dono dos belos — e assustadores — olhos azuis apareceu na sua frente.

Agora os olhos estavam ainda mais assustadores. Oh, como estava difícil de devolver o olhar.

— Posso ajudar? — Tentou manter sua voz firme, o suficiente para não parecer assustado.

— Devolve a Hiyori! — Foi simplesmente o que respondeu, a expressão assustadora que tinha antes desapareceu como se nunca tivesse sequer existido. Agora sua cara estava um tanto engraçada, como se ele fosse uma criança e estivesse pedindo para devolver o pirulito que o irmão malvado o roubou.

— Ahn...?

— Você roubou a Hiyori de mim! Ela é só minha!

Ahn! Ele só estava preocupado com aquilo? Não faria mal em machucar um pouco o coração daquele que o assustou, afinal, adorava brincar com as emoções das pessoas.

— Desculpe, não posso fazer isto! Eu amo a Hiyori!

— O que?! — A antiga expressão voltou, não deveria ter feito isto. Yato rapidamente segurou o rapaz pela gola da camisa e o olhou fixamente em seus olhos — Você não vai roubar a Hiyori de mim! Nem que tenha que te matar! Ela é só minha! Entendeu?!

Oh, merda. Agora entendia o ditado de não brincar com o fogo. Yato tinha mostrado uma expressão idiota, mas agora entendia que em momentos importantes a sua verdadeira cara era mostrada. E esta não era nem um pouco amigável como a antiga.

Yato percebeu o que estava fazendo, sabia que Hiyori o odiaria se por "acidente" matasse o garoto que gostava, não queria que ela o odiasse. Soltou o garoto que só faltava molhar as calças de medo. O olhou novamente, usou os mesmo para olhar bem no fundo de sua alma, riu virando as costas voltando para o templo.

Tinha um novo plano, se aquele era o tipo de garoto que Hiyori gostava, era este tipo que ela teria.

Já o garoto, sentia que um milagre havia acontecido por não ter morrido. Rapidamente se levantou do chão e correu de volta para o quarto de Hiyori.

~~//~~

No templo de Kufuku estava realmente uma bagunça, todos estavam em uma correria. Yukine estava a ponto de ficar louco.

"Pegue aquilo."

"Prenda isto aqui."

"Vá buscar aquilo!"

"Faça isto, faça aquilo, me ajude aqui."

"Corra!"

Yukine estava agindo como um escravo, e deveria fazer tudo que mandassem, pobre garoto, corria para todo lado fazendo o que mandavam, e já estava esperando que seu cérebro não aguentasse e lhe transformasse em um louco. Tudo culpa do Yato! Que o deixou lá de mãos beijadas para que o tratassem como seu servo. Ele lhe pagaria quando voltasse. Ah, se pagaria...

Tudo bem que ele estivesse ali para pagar seus "pecados" e trabalhasse na loja do templo, mas e daí?! Ele não era dois para fazer tudo que mandassem! Muito menos o flash para conseguir fazer tudo rapidinho!

Preferia estar estudando com Hiyori, era mais divertido. Para muitos jovens da idade do louro, estudar era um tédio, mas para alguém morto como Yuki, era divertido, principalmente com a garota de olhos violetas! Yukine amava muito Hiyori, e adorava estar ao lado dela, era como ter uma irmã mais velha.

— YUKINEEEEEEEE!

Ouviu um estrondo e logo foi atropelado por seu mestre, que chorava feito um bebê.

— Yato? O que foi? — Respondeu.

Yato fixou seu olhar nos olhos de Yukine, respirou fundo para segurar suas lágrimas e se segurou nos ombros do Yukine.

— Me transforme em um bad boy, por favor!

— Mas que droga você esta dizendo!?

— Um carinha idiota bad boy esta tomando a Hiyori de nos! Ele vai leva-la para longe!

Yukine não se segurou e arregalou os olhos, Yato sempre vivia brincando com algo, mas quando o assunto era Hiyori ele era completamente sério — na maioria das vezes, é claro. Não. Ele pode ter entendido errado. Só pode ser isso. Ninguém levaria sua "irmã mais velha" para longe. Ninguém. Ou será que não? Ela se afastaria?

Sim.

Hiyori morreria algum dia, e ele ficaria ali, somente ele e Yato. Eles ficariam sozinhos. Yato poderia transformá-la em shinki, mas não haveria garantia de que isto aconteceria, que daria certo. Não havia certeza. Oh, isso é tão injusto.

E se não fosse pela morte, Hiyori se afastaria por simplesmente esquece-los. Ela prometera que nunca esqueceria Yato, mas que garantia havia nisso? A morena não pode conter o inevitável. Ninguém pode conter isso, nem shinkis, nem mesmo os deuses. Oh, isso é tão injusto.

Talvez ela queira que isso acabe logo, que ninguém sofra. Idiota, esse modo é bem mais doloroso, mas tão certo. Não, ela estava fazendo que eles sofram! Idiota! Tudo bem que seria melhor que eles a esqueçam logo, mas quem disse que eles queriam isso? Oh, isso é tão injusto.

Agora que Yukine havia se tornado um garoto normal, agora que ele finalmente estava sendo tão feliz. Por quê? Ele não queria perder sua querida amiga. Sua querida professora. Sua querida irmã mais velha. Sua querida Hiyori. Oh, isso é tão injusto.

Não! Ele não deixaria que isso acontecesse! Não deixaria! Ela poderia morrer um dia, ela poderia desaparecer, poderia esquece-los, mas não agora. Yukine aproveitaria a presença de Hiyori ao máximo.

Não importa o quanto a ideia de Yato fosse idiota. Ele ajudaria. Iki Hiyoria já fazia parte de sua vida, já fazia parte de sua nova família.

E Yukkie faria sua família ainda permanecer viva.

~~//~~

Hiyori mantinha os olhos presos na maquete que fazia, não pensou que aquilo seria tão difícil de se fazer... Oh, fazer um presente não era nada fácil. Era bem melhor quando iria em uma loja e escolhesse algo que a pessoa gostava. Só que desta vez pensou que seria mais especial fazer algo, mostrar que colocou sua alma naquele presente. Estava determinada a fazer isso. Por isso pediu um ajudinha extra.

Pensando bem, Yusuke estava realmente demorando. Se ela se lembrava bem, o garoto havia dito que iria simplesmente tomar um ar. Será que algo tinha acontecido? Torcia para que não.

Ouviu então barulho nos tacos da casa, alguém correndo, assustou-se e correu para abrir a porta e ver o que estava acontecendo.

E lá estava ele, Matsuo Yusuke, tão branco como a neve, seus olhos arregalados e transmitindo puro medo, ajoelhado no chão, e respirando tão fundo como se nunca mais na vida fosse respirar. Que droga havia acontecido lá fora?

Matsuo nunca foi do tipo de se assustar assim, era durão, ninguém tentava enfrenta-lo, sempre que caçoavam dele, ele dava o troco, e na maioria das vezes... Não teriam filhos e paravam no hospital. Então o que havia de tão atormentador lá fora? O que assustou Yusuke?

— Yusuke?! O que diabos aconteceu?! — Se ajoelhou ao seu lado tentando acalma-lo.

O garoto olhou com seus olhos azuis assustados e deitou seu rosto no ombro de Iki. Oh, aquele cara de mais cedo realmente o assustou, nunca havia sentindo tanto medo na vida.

— Hiyori, tinha um cara muito estranho lá fora — Foi o que conseguiu dizer. — Ele era muito obcecado com você, eu fiz só uma brincadeira e... — Respirou fundo — pensei que iria morrer!

— Oh, meu Deus! Como ele era?! Ahn, ele te bateu?!

— Por pouco que não me bateu, bem... Não me lembro direito... Era bem bonito e tinha lindos olhos azuis, eram penetrantes.

Hiyori arregalou seus olhos, e pensou na única pessoa que ela conhecia que tinha belos e penetrantes olhos azuis. Yatogami, o deus da guerra. Seu querido deus pobre. Aquele que ela estava evitando à semanas. Por que ele faria mal ao seu amigo, se nem ao menos os dois se conheciam?!

Yato nunca foi do tipo perigoso, quer dizer, ele era forte, mas... Não faria aquilo. Sua vida estava uma bagunça.

Não, deveria ser uma brincadeira. Não havia nada para o que se preocupar. Ele estava tentando apenas assusta-lo. Era só isso. Pelo menos queria acreditar naquilo.

Mataria Yato quando o encontrasse de novo, se o encontrasse depois.

— Yuu, não precisa se preocupar, é apenas um conhecido idiota — Forçou o sorriso e abraçou Matsuo.

— Não acredito que seja isso, Hiyori... Mas vou tentar me tranquilizar... Espero nunca mais encontra-lo de novo...

— Você com certeza não vai encontra-lo mais. Tenho certeza, nem vai se lembrar mais dele.

~~~///~~

Yato já havia se preparado para executar seu plano. Tinha bagunçado seu cabelo e feito um topete no cabelo, vestiu uma camiseta preta, sobre ela havia uma jaqueta jeans, uma calça jeans preta e larga, usava uma botinha masculina. Não era exatamente um bad boy, mas Yukine se esforçou o máximo para deixa-lo parecido, e o pior. Ele teve que gastar o SEU dinheiro, seu precioso dinheiro. O bônus que ele ganhava por trabalhar tanto... Realmente amava Hiyori por ter feito isso. Poderia não ter coragem de pedir para Hiyori retribuir o que tinha feito por ela, mas faria Yato retribuir. Ele poderia ter certeza disto.

Yukine tentou ao extremo fazer seu mestre entender como bad boys agiam, não que ele entendesse muito, mas sabia um pouco sobre. Também tentou fazer que ele aprendesse a andar de skate, pois estava na moda. Não que todo bad boy faria, porque esse tipo anda de motos, só que eles não tinha dinheiro para comprar uma. Então ele teria que impressiona-la com um skate, garotas acham legais... Ou não.

O louro também o ensinou a ser sarcástico, algo que não deu muito certo. Okay, não deu nada certo, as frases "sarcásticas" de Yato eram tão boas quanto as de uma criança de 6 anos. Então dispensou a tentativa.

Bem, o treinamento não estava completo, no entanto, já havia se passado uma semana. Precisavam mostrar o quanto Yatogami aprendeu, ou tentou aprender.

— Yato, esta na hora — Yukine disse abrindo a porta.

— Já estou indo! — Falou sorrindo caminhando em direção à porta.

Mal podia esperar para ver a reação de Hiyori.