Um Erro Inocente escrita por Lady Light Of Darkness


Capítulo 19
Capítulo 18


Notas iniciais do capítulo

Sem revisão



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Stella desviou o olhar e buscou o horizonte enquanto o silêncio tenso se estendia até quase o insuportável. Não havia sido fácil confessar a verdade a Taylor. Não só parecia tola por ter confundido uma tépida simpatia com amor, como perdera uma de suas mais eficientes proteções contra as investidas do marido. Agora que já não podia mais se esconder atrás dos leais sentimentos por Frankie, estava vulnerável e se sentia muito desconfortável.
Mesmo assim, descobria-se incapaz de continuar mentindo. Taylor provara ser muito mais leal e confiável do que jamais ousara esperar. Arriscara a própria vida para garantir sua segurança, algo que Frankie jamais teria considerado. Ele merecia a verdade.
Por muito tempo ouviu-se apenas o som das folhas nas árvores e um distante ladrado de uma matilha. Estavam penetrando no bosque que cercava a propriedade.
Aproximando a montaria da dela, Taylor estudou seu rosto com um olhar estranhamente intenso.
— Entendo — ele finalmente murmurou.
— Gosto dele como de um amigo, é claro —Stella se apressou em explicar, incapaz de controlar a furiosa onda de pânico que a inundava.
— É claro.
Ela umedeceu os lábios ressequidos, podendo quase sentir o olhar penetrando sua alma enquanto a observava, esperando registrar qualquer movimento que a traísse.
— E desejo ajudá-lo a enfrentar a mãe. Nenhum cavalheiro deve se deixar dominar com tanta facilidade.
Houve mais uma breve pausa.
— Stella?
— Sim?
— Pode olhar para mim, por favor?
Ela respirou fundo e, devagar, ergueu os olhos para o rosto sério. Por um momento tenso, sentiu-se perdida naquela imensidão azul. Eles pareciam tão ternos, tão cheios de compreensão e bondade, que seu coração quase derreteu.
— Como pode estar tão certa de seus sentimentos? — ele perguntou. Sua voz soava incerta, o que era surpreendente. — Por muito tempo esteve certa de amar esse cavalheiro, e ele só está aqui há uma semana.
— Eu... acho que estava mais apaixonada pela idéia de estar apaixonada —Stella respondeu relutante, sem prestar muita atenção ao caminho que estavam seguindo. — Tinha razão quando disse que fiquei muito sozinha depois do casamento de Jess. Ela sempre esteve tão presente em minha vida, que não soube o que fazer quando ela deixou de precisar de mim.
Felizmente, ele não demonstrou nenhuma arrogância ao ouvi-la admitir que sempre estivera certo. Um sorriso generoso distendeu seus lábios.
— Então, encontrou uma nova causa para defender?
Stella pensou no apoio determinado que oferecera a Frankie e no vergonhoso prazer em superar a mãe dele. Agora que refletia sobre toda essa questão, concluía que sua atitude era mais uma resposta ao desafio proposto a sua capacidade de ajudar um semelhante do que um interesse genuíno por alguém do sexo oposto.
— Sim — admitiu encolhendo os ombros. —Frankie era tão impotente e incapaz de defender-se que, naturalmente, tentei ajudá-lo.
— É perfeitamente compreensível, Stella. Você tem um coração piedoso. É o que mais admiro em você.
Foi impossível evitar o rubor de prazer que tingiu seu rosto. Sabia que qualquer sedutor de razoável sucesso possuía especial talento com as palavras, mas sentia-se tão suscetível quanto qualquer outra dama a seus elogios.
— Sinto-me uma tola ingênua — disse, esforçando-se para distraí-lo de sua agitação.
— Não deve alimentar tal sentimento.
— Por que não?
— Nunca peça desculpas por sua natureza bondosa. Se todos possuíssemos essa mesma generosidade de sentimentos, o mundo seria muito melhor.
Stella respirou fundo para acalmar as batidas do coração. Um verdadeiro mestre com as palavras, de fato.
— É fácil para você falar assim. — Precisava amenizar a atmosfera tensa. — Duvido que alguma vez tenha confundido simpatia com amor.
Os lábios dele se contorceram compondo uma máscara de desdém.
— Talvez não, mas conheço o sentimento de desilusão que se experimenta quando uma pessoa revela ser diferente da imagem que criamos para ela.
Foi necessário um momento para que ela compreendesse o significado dessas palavras. Uma ponta de compaixão fez vibrar seu coração.
— Está falando de seu pai?
— Sim. — O antigo, porém persistente, desapontamento podia ser visto no fundo de seus olhos. — Quando era jovem, eu o colocava num pedestal. Ele era bem-apessoado, envolvente, e um pai tão maravilhoso que eu duvidava de que qualquer cavalheiro pudesse equiparar-se àquele homem, mesmo que se esforçasse muito para isso.
Stella ofereceu um sorriso compreensivo. Sabia que não era fácil para ele confessar o antigo e secreto sentimento de ter sido traído, e descobria-se profundamente tocada por ter merecido sua confiança nesse aspecto.
— Quando descobriu a verdade?
Ele olhou para frente. Sem dúvida relutava tanto quanto ela em revelar sua vulnerabilidade.
— Acho que sempre soube que ele apreciava a companhia de outras mulheres —Taylor contou em voz baixa. — Meu pai raramente fazia segredo de suas visitas ao vilarejo, onde buscava seduzir toda mulher bonita que chamasse sua atenção. Mas o panorama ganhou cores vivas quando, numa determinada manhã, eu acordei cedo e vi meu pai entrando em casa na ponta dos pés. Minha mãe o esperava na porta de seus aposentos, e havia lágrimas correndo por seu rosto. Naquele momento eu me dei conta de como minha mãe sentia profunda mente a dor causada pelas traições de meu pai.
Stella sentiu uma raiva surda pelo pai de Taylor. Como um homem era capaz de tratar a esposa com tanto desrespeito? E, mais importante, como tinha coragem de desapontar o filho que o adorava? Podia sentir que Taylor ficara devastado com a descoberta de que o pai não era o modelo de virtude que ele até então imaginara. Ainda jovem, certamente estivera dividido entre a lealdade pelo homem que adorava e o amor pela mãe que sofria. Era uma posição difícil e dolorosa para uma criança.
— Alguma vez confrontou seu pai? — ela quis saber. Empregava um tom cauteloso, pois não desejava abusar da confiança que nem sabia merecer, mas tinha de aproveitar essa chance para saber mais sobre o homem que chamava de marido. Seus traços ganharam uma rigidez assustadora.
— Uma vez. Eu tinha dezessete anos. Minha mãe havia sido procurada por uma garçonete de um bar da cidade. A mulher exigia dinheiro para sustentar o filho que estava gerando e que ela dizia ser de meu pai. Ouvi o confronto e fiquei muito zangado por minha mãe ter sido colocada naquela posição embaraçosa.
— O que fez seu pai?
— Ele riu. — Um tremor quase imperceptível percorreu o corpo elegante do lorde. — Em sua opinião, as mulheres da cidade estavam ali para sua diversão, e minha mãe estava sendo exageradamente sensível e dramática por sofrer com suas infidelidades. Ele disse que amava sua esposa, mas que nenhum cavalheiro devia ter a responsabilidade de ser fiel.
Stella estava chocada. Seu pai adorava a mulher com quem se casara. Sua mãe. Nunca houvera a menor insinuação de que ele pudera ter desejado outra mulher. E, na verdade, sua mãe havia sido exatamente o tipo de mulher que teria esperado o marido na porta de casa para recebê-lo com um vaso na cabeça, em caso de traição. Ela jamais teria chorado.
— Mas você não acreditou nele — ela o encorajou a pros seguir com o relato.
Taylor sorriu. Era evidente que percebia o desgosto da esposa com o comportamento de lorde Llewellin.
— Não. Eu o acusei de ser egoísta e insensível e o agredi. Arranquei sangue de seu nariz.
— Meu Deus!
— Foi necessário algum tempo para nos reconciliarmos. De fato, só me dispus a deixar de lado nossas diferenças quando me dei conta de que a raiva que sentia por meu pai perturbava intensamente minha mãe.
Stella balançou a cabeça, duvidando de que poderia ter a mesma generosidade em semelhantes circunstâncias. Era melhor para a família que Taylor e o pai não se enfrentassem nem alimentassem ressentimentos, mas não seria fácil fingir não notar tal traição.
— Sua mãe deve ser uma mulher muito forte e corajosa — ela comentou admirada.
De repente Taylor a encarou, e seus traços ganharam uma inegável suavidade, fruto do amor por sua mãe.
— Ela é, realmente. Embora tenha tido oito filhos, sempre conseguiu fazer cada um de nós sentir-se especial.
— E o mimou sem nenhuma vergonha — ela brincou.
— Essa é uma acusação que não posso negar. Agora me fale sobre seus pais.
Pega de surpresa pelo pedido repentino, Stella balançou a cabeça.
— Não há muito que contar. Vivíamos tranqüilamente em nossa propriedade. Meu pai era um fazendeiro de alma, e minha mãe nunca demonstrou grande interesse pela sociedade. Lembro-me de que eles sempre pareceram muito apaixonados. Todos os dias meu pai acordava minha mãe com uma rosa ainda em botão.
— Ah, um romântico...
Um sorriso doce distendeu seus lábios. Seu pai sempre tivera uma natureza generosa e um forte amor pelos livros.
— Sim, creio que sim.
— E você esperava um dia desposar um cavalheiro igualmente devotado?
Embora esse nunca tenha sido um pensamento consciente, agora ela percebia que havia mesmo nutrido a esperança de um dia ser amada como a mãe havia sido. Como seria merecer um olhar fascinado? Ser tratada como um presente raro a ser valorizado e protegido?
Saber que nunca conheceria tais sentimentos oprimiu seu coração.
— Imagino que sim — confessou.
Como se sentisse o súbito desconforto, Taylor estendeu a mão para afagar seu rosto.
— Eu sinto muito, Stella.
Ela o encarou surpresa.
— Por quê?
Um suspiro brotou do peito do lorde.
— Você é uma mulher que merece um cavalheiro que possa amar de verdade. Um casamento de conveniência jamais será o suficiente.
Não queria pensar no futuro, ou acabaria sonhando com coisas que jamais poderia ter.
— Como diz o reverendo Sid, nem sempre podemos trilhar os caminhos que escolhemos — ela respondeu com tolerância e resignação. Seu destino havia sido decidido, e tudo que podia fazer era tirar o melhor proveito dele.
Taylor sorriu.
— Ah, sim, ouvi um sermão semelhante.
Stella decidiu ser corajosa.
— E não posso negar que nosso desafortunado incidente salvou-me de um casamento com Frankie.
— Sim, esse é um ponto a ser considerado — ele concordou.
E então, sem aviso prévio, Taylor deteve o cavalo e olhou em volta.
Instantaneamente alertada por seu movimento brusco, Stella fitou-o apreensiva.
— O que foi?
— Eu quase me havia esquecido — ele respondeu com ar misterioso. — Há algo que eu gostaria de lhe mostrar.
— Aqui?
Desmontando, ele atou as rédeas a um galho próximo. Depois, aproximando-se dela, estendeu os braços numa silenciosa oferta de assistência.
— Venha comigo, Stella. Pode confiar em mim.
Por um momento Stella limitou-se a olhar para os braços estendidos.
Pode confiar em mim...
Taylor não sabia por que havia escolhido essas palavras, mas nesse momento continha a respiração enquanto esperava que ela decidisse entre buscar refúgio por trás das muralhas imaginárias de proteção ou aceitar o que ele desejava oferecer.
De repente percebia que esse momento ia muito além de uma simples oferta de ajuda. Era um momento crucial que poderia mudar para sempre seu relacionamento. Ou ela o repelia, ou tinha a coragem de permitir a aproximação.
Um silêncio denso os cercava. Stella olhou para as árvores que os isolavam do restante do mundo. Então, quando Taylor já começava a temer por uma rejeição, ela moveu a cabeça em sentido afirmativo,
— Muito bem.
Tomado por uma súbita euforia, Taylor pôs as mãos em sua cintura delgada e a retirou da sela, colocando-a no chão.
O perfume de flores invadiu seus sentidos quando, relutante, ele a soltou e se virou para indicar o caminho. Senti-la sob seus dedos despertara repentinamente o desejo que havia mantido soterrado durante a semana anterior. Não podia deixar de se perguntar se não cometia um engano. Estar ali sozinho com a esposa não era sua escolha mais sensata, se um breve e inocente contato podia fazer seu estômago queimar com a fúria da urgência frustrada.
Com esforço, Taylor balançou a cabeça e seguiu caminhando para a frondosa árvore diante deles. Havia esperado uma semana para passar uns poucos momentos com a esposa.
Não arruinaria o precioso tempo de que dispunham juntos por estar consumido pela luxúria.
Não era seu pai.
Parado sob os longos e fortes galhos da árvore, ele se esticou para tocar um dos mais baixos e, com a facilidade conferida por anos de prática, balançou o corpo algumas vezes antes de erguê-lo.
Stella sufocou um grito.
— Taylor! O que está fazendo?
— Espere só um momento — ele pediu, usando os galhos para prosseguir na escalada.
— Por Deus, vai acabar quebrando o pescoço!
Ele riu ao alcançar as tábuas que cercavam a casa perfeitamente escondida entre a densa folhagem.
— Não sou tão velho que não possa escalar uma árvore — respondeu, rastejando sobre as pranchas para pegar a escada de corda que ficava enrolada ao lado da porta. Movendo-se até a beirada do patamar, ele começou a baixar a corda. — para trás. Vou ajudá-la. — Assim que viu a ponta da corda tocar o chão, ele a segurou com firmeza. — Pode subir?
— Ainda não sou tão velha que não possa subir por uma escada de corda —Stella respondeu com tom sarcástico.
— Tome cuidado.
— Francamente... — Mas ela parou de falar quando, ao vencer o último degrau, viu a casa entre a folhagem e ficou perplexa. — Mas... o que é isso?
Taylor ajudou-a a subir ao patamar e sorriu.
— Vivemos nessa propriedade até meu avô morrer. A casa não era tão grande, e com sete irmãs mais velhas, logo ficou evidente que eu precisava de um refúgio, um local onde eu pudesse me esconder de todo aquele instinto maternal. Meu avô construiu a casa na árvore para que eu pudesse me refugiar nela nos momentos mais difíceis, e nunca contamos nada a ninguém.
— Quer dizer que tinha um bangalô só seu?
— Exatamente. E não pense que era um luxo. Com sete irmãs, a casa na árvore era uma necessidade. Agora vejamos... — ele deslizou a mão por cima de um parapeito. — Onde foi que eu deixei...?
Tomando a chave que acabara de encontrar, Taylor abriu a porta e convidou-a a entrar. O cheiro de poeira e desuso dominava o único aposento que havia sido quase um palácio em sua infância.
Em um canto estavam o sofá e a poltrona que haviam sido retirados do sótão em sua casa, e havia também uma escrivaninha onde ele passara horas a fio escrevendo horríveis poesias. Perto da janela havia um telescópio que ele usara para enxergar todo o terreno e fingir que era um pirata protegendo seu tesouro. Tudo era muito rústico visto pelos olhos de um adulto, mas, na infância, aquele olhar representara o paraíso.
— Este era seu esconderijo?
— Infelizmente, o lugar sofre as conseqüências de um longo período de negligência — ele se desculpou, notando as teias de aranha que brilhavam ao sol.
— Afirmo que seu bangalô está em melhores condições do que muitos chalés da cidade—Stella opinou sorrindo.
Ouvindo um estalo fraco, Taylor franziu a testa e correu para perto da porta.
— Não se mova até eu ter certeza de que as tábuas ainda estão firmes — disse, percorrendo todo o perímetro da cabana até ter certeza de que nenhuma tábua havia apodrecido durante sua prolongada ausência. — Tudo parece estar bem — concluiu.
Curiosa para descobrir mais sobre sua incomum infância, Stella aproximou-se da escrivaninha.
— Suas irmãs nunca descobriram o segredo?
— Nunca — ele contou, lembrando os meios elaborados que costumava empregar para despistar qualquer um que tentasse segui-lo quando se dirigia ao esconderijo. — Nem minha mãe sabia da existência da casa na árvore.
— O que fazia quando estava aqui?
Era embaraçoso discutir suas fantasias infantis.
— Quando eu era mais jovem, fingia ser um pirata e esse era meu navio. Ou eu imaginava ser um cavaleiro em seu castelo.
Felizmente, o sorriso que bailou nos lábios dela não manifestava nada além de doçura e compreensão.
— Que encantador!
— Oh, pode ter certeza de que eu era mesmo encantador!
— Era? E quando cresceu...?
Rindo, ele se aproximou dela ao lado da escrivaninha. Mais uma vez, tinha perigosa consciência do calor e do perfume tentador de sua pele. A urgência de tocá-la era quase incontrolável.
— Não sei ao certo se desejo confessar — murmurou, sem dar importância às próprias palavras até vê-la subitamente tensa.
— Suponho que tenha usado este lugar para seduzir todas as jovens do vilarejo.
Era ridículo sentir-se ofendido pela acusação injusta. Mas estava ofendido. Por que ela suspeitaria do pior? Dedicara realmente mais tempo do que era apropriado à busca do prazer.
Mas não queria que sua esposa o considerasse um lascivo, um devasso sem limites. Queria sua confiança. Queria convencê-la de que nunca a magoaria.
— Não poderia estar mais errada, Stella. Nunca seduzi nenhuma mulher aqui.
Ela corou constrangida.
— Oh...
Disposto a pôr fim ao clima de discórdia que ameaçava instalar-se entre eles, Taylor levantou a tampa da escrivaninha para pegar um maço de papéis guardado dentro do móvel. Sem se dar tempo para arrependimentos ou receios, colocou todas as folhas nas mãos da esposa.
— Pegue.
— O que é isto?
— A chocante e detestável poesia que eu costumava escrever quando era mais jovem.
Ela o encarou por um momento, perplexa, e depois baixou a cabeça para ler as primeiras linhas da página no topo da pilha.
Taylor fazia um grande esforço para não fugir enquanto ela lia a enxurrada íntima de emoções que ele despejara sobre o papel.
Jovem e ingênuo, não tentara esconder ou disfarçar a ânsia pelo verdadeiro amor, nem crença inocente na existência de uma mulher que preencheria sua vida com alegria e sonhos.
Uma eternidade se passou até que ela o fitasse com os olhos brilhantes. Seu coração disparou quando ela estendeu a mão para tocá-lo no braço.
— Taylor... é lindo!
Um prazer ridículo o invadiu.
— Não. É apenas tolice.
— Gostei muito de tudo que li, Taylor. — Ela se aproximava devagar, ameaçando sua sanidade. — Por que parou de escrever?
— Nunca desejei me tornar uma imitação pobre de Byron. Um poeta da melancolia é mais do que suficiente em nossa sociedade.
— Devia publicar o que escreveu.
— O quê? De jeito nenhum! — Ele pegou as folhas da mão dela e as devolveu à escrivaninha. — Para ser honesto, nunca imaginei que um dia as mostraria a alguém.
— Por que não?
— Bem, não sei... Acho que é como desnudar a alma. É um sentimento bem desconfortável.
— Fico feliz por ter decidido dividi-las comigo.
Incapaz de continuar resistindo à tentação, Taylor tocou o rosto delicado.
— Você é minha esposa. Não deve haver nada que não possamos compartilhar. — Os dedos se deliciavam com a suavidade acetinada da pele pálida, mas uma dor intensa rasgava seu coração. Não era a conhecida dor do desejo, mas um antigo ferimento muito mais potente que simples luxúria. Solidão. Sentira falta da presença dessa mulher em sua vida. Gostava de provocá-la e ver a luz cintilando em seus olhos. Gostava de sentir o perfume de sua pele e tocar seus cabelos. —Stella...
Sentindo a súbita mudança na atmosfera, ela o encarou séria.
— Sim?
— Há muito desejo beijá-la — ele revelou com simplicidade.
— Oh...
Encorajado por não ter sido imediatamente repelido ou censurado, Taylor segurou seu queixo entre os dedos.
— Posso abraçá-la?
Sabia que era arriscado deixar a decisão nas mãos dela. Teria sido mais simples tomá-la nos braços e fazer amor com ela até privá-la da capacidade de dizer não. Sem arrogância, sabia que poderia seduzi-la, se quisesse. Mas havia tomado uma decisão. Queria que ela o aceitasse sem reservas, e queria que não houvesse arrependimentos ou pesares.
— Sim...
A resposta o pegou de surpresa.
Seria um sonho?
Taylor fitou-a e viu uma luz mais intensa em seus olhos.
Não era um sonho.
Temeroso como um menino, ele a abraçou e suspirou.
— Tê-la em meus braços é uma razão mais do que suficiente para estar vivo — disse.
Ela tocou seu peito, e a carícia hesitante o fez fechar os olhos.
— Taylor ...?
— Sim, meu amor?
— Eu...
— Fale, Stella. — Sentia-se à beira de um precipício onde poderia encontrar a morte, caso desse um passo em falso. — O que você quer?
— Eu... não sei.
Percebendo que a esposa era tímida demais para expressar seu desejo pelas palavras, Taylor levou-a até o sofá e, removendo a cobertura que o protegia, deitou-a sobre as almofadas.
O coração batia depressa em seu peito. Queria muito agradá-la, satisfazê-la, não só no sentido físico, mas como marido. Queria ser o homem que um dia ela poderia amar.
—Stella... — eu a desejo tanto! Mas não a pressionarei agora. Não quero que ofereça mais do que está preparada para dar. Confia em mim, meu amor?
Devagar, surpreendentemente, ela ergueu os braços para recebê-lo.
— Sim, Taylor. Eu confio em você.


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