Um Erro Inocente escrita por Lady Light Of Darkness


Capítulo 20
Capítulo 19


Notas iniciais do capítulo

Sem revisão



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Stella sentia-se... como? Viva, certamente.
Plena.
Inteiramente segura.
E estranhamente presunçosa.
Cercada pelos braços de Taylor, Stella aninhou-se em seu peito. Havia esperado sentir prazer quando fosse tomada pelo marido. Apesar da recusa em ceder à tentação, no fundo sempre tivera consciência de seu desejo por Taylor. E o fato de ter sonhado com grande freqüência esse exato momento revelava a vontade de descobrir toda a beleza dessa entrega.
O que não havia esperado era a pura intensidade das sensações que a dominaram, ou a maneira imediata como Taylor revelara sua própria necessidade. Mais de uma vez, ele havia perdido toda a sofisticação estudada e tateado às cegas com ardor, fazendo-a sentir-se linda e sensual. Stella se abrira, tornando-se inteiramente vulnerável, mas o conhecimento de que Taylor fizera o mesmo despertava nela uma sensação de poder como nunca havia imaginado poder sentir.
Ele depositou um beijo carinhoso em sua têmpora.
— Não era assim que pretendia que fosse — murmurou com humor contido.
Mais confiante do que jamais estivera em toda sua vida, Stella virou a cabeça para encará-lo.
— Está arrependido?
Ele a apertou contra o peito com mais força.
— É evidente que não. Como poderia me arrepender da coisa mais preciosa que já aconteceu em minha vida? Só quis dizer que planejava fazer do nosso primeiro encontro uma ocasião mais romântica.
Stella estava feliz por não ter sido uma sedução planejada. A paixão incontrolável e ardente que brotara entre eles havia sido mais excitante, mais autêntica do que um ataque premeditado aos seus sentidos.
— Suponho que haja algo de muito romântico num bangalô escondido — ela disse.
— Bem, confesso que ele é muito mais romântico agora do que na minha infância. Fingir ser um pirata ou cavaleiro nunca foi tão agradável.
— Por outro lado, devo ressaltar que me sinto enganada.
Ele ficou tenso, como se temesse uma acusação terrível.
— De fato, minha querida? Posso saber por quê?
— Você disse que nunca utilizava este lugar para seduzir mulheres.
Ele suspirou aliviado, enquanto as mãos afagaram suas costas numa demonstração de carinho.
— Não até hoje, e não gosto da palavra sedução. Ela sugere que roubei alguma coisa que você não estava disposta a me dar.
— Bobagem, Taylor. Você sabe que isso não é verdade.
— Espero sinceramente que não. — Ele mudou de posição para apoiar-se sobre um cotovelo e fitá-la com uma expressão subitamente sombria.
— Há pouco me perguntou se eu estava arrependido. Agora eu lhe faço a mesma pergunta.
Apesar da timidez que ainda sentia em discutir o que acabara de acontecer ali, Stella resistiu ao impulso de oferecer uma resposta petulante. Sentia que sua resposta era importante para Taylor.
— Não — disse com simplicidade.
— Graças a Deus. — O lorde fechou os olhos por um instante antes de abri-los e exibir uma nova luminosidade. Era evidente que sua resposta era ainda mais importante do que havia imaginado. — Não creio que poderia suportar... Oh, Stella, você me faz sentir a incerteza da juventude.
Ela o encarou chocada. Seria esse homem o mesmo sedutor experiente e arrogante com quem se casara? Ele parecia tão perplexo quanto ela com as emoções que haviam brotado entre eles. Era tão fascinante quanto inesperado, e seu coração transbordava uma alegria arriscada, perigosa.
— Você? — Stella conseguiu falar com esforço, emprestando ao tom de voz uma leveza que estava longe de sentir. Não sabia se queria sentir uma ligação tão forte com esse homem.
Taylor riu de seu espanto exagerado.
— Considera minha declaração tão chocante assim, minha querida?
— Considero sua declaração inacreditável — ela respondeu com grande honestidade. — Você é arrogante e seguro demais para se sentir incerto de alguma coisa.
— Talvez eu seja mesmo seguro e arrogante, mas só quando trato de assuntos que não têm grande importância — respondeu ele, mais sério do que antes. — E o que estamos discutindo aqui é muito importante. Muito importante.
O mundo parecia ter parado de girar. Mais aturdida ainda, ela fitou os profundos olhos azuis. Era importante, percebia de repente. Talvez o evento mais importante de toda sua vida.
— Sim — murmurou.
Por alguns momentos os dois se olharam em silêncio, ambos buscando as perguntas não formuladas que ainda pairavam no ar. Para onde iriam a partir dali? Que mudanças ocorreriam no relacionamento? O ressentimento que havia marcado os primeiros meses de matrimônio havia sido finalmente superado?
Uma nuvem encobriu o sol, deixando o final de tarde envolto em sombras, e Taylor deixou escapar um suspiro resignado.
— Por mais que deseje permanecer aqui para sempre, acho que devemos ir inspecionar o terreno vizinho e voltar para casa. Não quero que o Sr. Hammerback fique preocupado por conta de nossa ausência.
Ele estava certo, é claro. O pobre reverendo estava agitado e apreensivo desde a primeira aparição do Sr. mascarado. Não queria dar ao pobre homem ainda mais motivos para preocupação.
Mesmo assim, relutava em se levantar. Por mais absurdo que pudesse parecer depois de tudo que havia acontecido entre eles, não tinha coragem para exibir-se nua diante de Taylor.
— Eu...
Seu marido franziu a testa ao notar sua hesitação.
— O que foi, Stella?
Sentindo-se tola, ela apoiou o rosto corado em seu ombro.
— Pode se virar de costas enquanto me recomponho?
— O quê? — A surpresa era clara em sua voz.
— Sei que é ridículo, mas...
— Não — Taylor a interrompeu sorrindo, tocando seu rosto para forçá-la a encará-lo. — Compreendo que esteja tímida, e sei que esse sentimento ainda vai perdurar por algum tempo. Espere um momento. — Com a graça elegante que fazia parte de sua natureza, Taylor levantou-se. Depois, com movimentos fluidos, ele recolheu a coberta do chão e a segurou como uma cortina entre eles. — Agora pode ter alguma privacidade.
Profundamente aliviada por não ter sido alvo do escárnio do marido por causa de seu constrangimento infantil, Stella recolheu as peças espalhadas pelo chão. Em poucos momentos conseguiu calçar as meias e todas as peças que compunham o conjunto íntimo, mas, já com o vestido sobre o corpo, ela constatou desanimada que não conseguiria alcançar os ganchos e colchetes que o fechavam nas costas.
— Ora... — resmungou contrariada. Nunca havia considerado a necessidade de uma criada para ajudá-la a vestir-se depois de um interlúdio como aquele. Como outras mulheres resolviam esse dilema?
— Algum problema? —Taylor indagou com tom levemente divertido.
Ela mordeu o lábio. Não tinha escolha senão confessar o que a perturbava.
— Não consigo fechar meu vestido.
A coberta caiu no chão, e ele a encarou com um sorriso sensual e pecaminoso.
— Ah, mas essa é uma tarefa para seu marido. Permita-me, minha querida...
Ao contrário dela, Taylor não parecia perder um grama de modéstia enquanto caminhava em sua direção. Sufocando uma risadinha nervosa, ela se virou para que ele pudesse ter acesso aos botões.
Com maior habilidade do que havia exibido ao despi-la, Taylor manejou os delicados colchetes até fechar toda a extensão das costas do vestido. Depois, sem aviso prévio, ele se inclinou para depositar um beijo quente em seu pescoço.
Stella sobressaltou-se com o violento prazer que a tomou de assalto.
— Taylor — protestou com voz trêmula. — Devia estar me ajudando a recompor-me!
Ele gemeu baixinho.
— Descobri que prefiro descompô-la.
Para seu espanto, Stella sentiu com nitidez espantosa o calor tentador que começava a brotar novamente da parte inferior de seu ventre. Nunca havia imaginado que uma mulher pudesse experimentar desejo tão intenso e tão rapidamente.
— Disse que tínhamos de ir — lembrou, mais para tentar conter-se e não derreter nos braços do marido do que por sentir alguma real urgência em deixar o chalé.
— Talvez tenha me precipitado — ele disse, abrindo alguns colchetes para deslizar os lábios úmidos e quentes por suas costas. — O Sr. Hammerback está visitando o reitor, e é possível que não sinta nossa falta senão daqui a algumas horas.
Stella deixou a cabeça cair contra o ombro do marido, rendendo-se ao calor que a inundava. Estava assustada, também. Até pouco antes estivera determinada a permanecer impassível aos avanços do marido, e agora... Agora que permitira a intimidade, não tinha mais forças para resistir ao charme de Taylor.
— Creio que é melhor voltarmos para casa — murmurou, sem tentar sequer disfarçar sua covardia.
— A voz da razão — ele suspirou, beijando-a mais uma vez antes de concluir a tarefa de fechar seu vestido. Depois, enquanto ela permanecia de costas, Taylor recolheu suas roupas e vestiu-se. — Pode se virar agora. Estou decente.
Virando-se devagar, ela o viu ainda terminando de vestir o casaco e ajeitando os cabelos com as mãos. Seu marido era um homem muito atraente, mesmo sem a gravata que, amarrotada, foi jogada sobre o sofá. Seus traços arrogantes pareciam mais suaves e eram quase juvenis quando, sorrindo, ele ofereceu um braço para acompanhá-la até a porta.
Encantada por lembrar que esse maravilhoso e fascinante cavalheiro agora era seu marido, Stella apoiou a mão em seu braço. Juntos eles saíram da cabana, cuja porta Taylor fechou com firmeza. Ela se dirigiu à escada de corda, mas foi detida pelas mãos do marido em seus ombros antes que pudesse começar a descer.
— O que foi? — indagou intrigada.
Ele a fez se virar para poder ver seus olhos.
— Eu não... machuquei você?
Stella levou um instante para compreender que ele se referia à perda de sua inocência. Um calor eloqüente tingiu seu rosto.
— Eu estou bem — ela garantiu encabulada.
— Precisa me dizer se está dolorida, ou se sente algum tipo de desconforto. Não gostaria de ser causador de alguma dor que pudesse afligi-la — ele persistiu, sabendo que seu corpo inexperiente devia estar sentindo os efeitos da primeira experiência íntima. — Promete que vai me contar?
Há muito tempo ninguém se preocupava com seu bem-estar. Lágrimas ardiam em seus olhos, e ela se sentia ridícula por isso. Era maravilhoso se sentir protegida e amparada.
— Sim, eu prometo.
— Agora podemos ir, se estiver pronta.
— Quando quiser...
— Tome cuidado — ele a preveniu enquanto segurava a escada. Atento, ele a viu descer degrau por degrau até chegar ao chão, e só então a seguiu. Quando pisou no solo, Taylor ofereceu novamente o braço para que, juntos, eles se afastassem da árvore frondosa.
— E a corda? — Stella perguntou enquanto caminhava pelo bosque.
Ele sorriu e a puxou para mais perto.
— Creio que devo deixá-la onde está. Tenho esperança de que queira voltar a visitar meu refúgio no futuro próximo.

Com uma sutileza que teria causado inveja ao mais hábil criminoso, Taylor penetrou na casa ainda adormecida e se dirigiu para os aposentos da esposa. Um sorriso ridículo distendia seus lábios enquanto ele se aproximava da cama cercada por cortinas finas.
Saíra desse mesmo quarto poucas horas antes, também com toda cautela para não ser visto, depois de ter feito amor com Stella. Tudo que desejava era permanecer aninhado em seus braços pelo resto da noite, mas sentira seu constrangimento inocente diante da possibilidade de algum criado encontrá-lo em sua cama.
Não podia negar que lamentava tanta timidez. Gostaria de gritar ao mundo que sua fascinante esposa agora era sua de verdade, e no sentido mais íntimo possível. Queria tomá-la com aquele espírito possessivo tão característico do gênero masculino. E, no entanto, encantava-se com sua inocência.
Era um cavalheiro habituado a mulheres experientes que buscavam o próprio prazer sem pudores ou falsa modéstia, mulheres que desejavam sua companhia com um único propósito. Stella havia sido um contraste com essas mulheres por se mostrar desajeitada, inexperiente e, por isso mesmo, deliciosa. Suas respostas não eram produto da sofisticação, mas do coração.
Ela não era uma mulher que pudesse separar essas duas coisas. Tal constatação ainda provocava arrepios de medo em Taylor. Seria ruim desapontar uma amante. Desapontar a mulher que oferecera com relutância um pedaço de seu coração seria insuportável.
Mas não desapontaria Stella. Faria tudo que pudesse para ser o marido que ela desejava ter.
Com esse propósito em mente, ele havia deixado o quarto da esposa no meio da madrugada para ir buscar um pouco de paz na estufa, e agora retornava a esse mesmo aposento como um garoto apaixonado.
Debruçado sobre a cama, ele aproveitou o tempo para estudá-la à luz do amanhecer.
Um sorriso iluminou seu rosto diante daquela cena de rara beleza. Cachos exuberantes e avermelhados se esparramavam sobre o travesseiro, emoldurando a cabeça de contornos mais do que perfeitos. Ela parecia tão frágil e imaculada quanto a rosa recém-colhida que levava entre os dedos.
Inclinando-se para frente, ele aproximou a flor de seu nariz sem tocá-lo. O perfume potente pairava no ar, e ela mudou de posição com um suspiro satisfeito, deitando-se de costas. Divertindo-se, Taylor aproximou novamente a rosa do nariz de Stella, vendo satisfeito que ela abria os olhos.
— Bom dia, minha querida — ele sussurrou.
Os olhos verdes ainda estavam sonolentos e confusos quando ela o encarou intrigada.
— Taylor?
O lorde executou um elegante floreio ao oferecer a rosa.
— Um presente para você.
Surpresa e emocionada, ela aceitou a flor com um brilho de compreensão nos olhos.
— Uma rosa...
— Queria provar que posso ser tão romântico quanto qualquer outro cavalheiro ocasionalmente.
Sentando-se, ela segurou as cobertas contra o corpo de forma a conservar a modéstia, embora sorrisse sedutora.
— É muita delicadeza sua.
— Não é delicadeza. É egoísmo.
— Egoísmo?
—Queria uma boa desculpa para vir visitar minha esposa a esta hora da manhã — ele contou, rindo ao vê-la levantar uma das mãos para ajeitar os cabelos.
— Não consigo imaginar por que desejava ver-me. Devo estar horrível.
Ele balançou a cabeça. Mesmo com os cabelos desalinhados e o rosto corado pelo sono, ela nunca estivera tão linda.
— Está adorável, como sempre — garantiu orgulhoso. Um súbito brilho debochado iluminou seus olhos.
— Que mentira mais descarada, senhor!
Disposto a provar que ela era de fato irresistível, Taylor inclinou-se sobre a cama.
— Deseja uma demonstração irrefutável de quanto a considero encantadora, minha querida?
Ela se deitou novamente, tomada de assalto pela timidez que a tornava ainda mais fascinante.
— Taylor, logo minha ama estará aqui.
Ele desenhou o contorno de sua boca com a ponta do dedo indicador. Uma onda de satisfação o invadiu ao vê-la estremecer sob a delicada carícia.
— Podemos trancar a porta.
Havia antecipação em sua expressão, uma reação que aquecia o coração de Taylor e despertava outros lugares de seu corpo. Stella olhava para a porta com ansiedade e apreensão. Devia estar imaginando o que pensaria a ama quando, ao chegar com seu chocolate matinal, encontrasse a porta trancada. Bem, ela deduziria o óbvio.
— Eu...
Taylor silenciou pressionando os dedos contra sua boca.
— Não, ainda não se sente confortável.
Um sorriso aliviado foi a recompensa por sua compreensão.
— Deve estar pensando que meu comportamento é infantil...
Sério, ele estudou os traços da mulher que se tornara parte indispensável de sua vida.
—Stella, tudo isso ainda é muito novo para você, e sua timidez me encanta, realmente. Só desejo agradá-la. Quero que seja feliz no nosso casamento.
Ela refletiu sobre as palavras em silêncio. Depois o fitou com um olhar intenso, curioso.
— E o que você quer, Taylor?
A pergunta foi recebida por um rápido erguer de sobrancelhas que denotava surpresa.
— Além de você, quer dizer?
Ela corou.
— Sim — confirmou.
Taylor precisou de alguns instantes para considerar a questão. Passara cinco meses dizendo todas as coisas erradas a essa mulher. Queria acertar pelo menos uma vez. E tinha de ser agora.
— Sabe, por muito tempo pensei desejar uma fantasia impossível. Uma mulher que não poderia existir de verdade.
Os olhos dela foram obscurecidos pelo pesar.
— E agora não terá mais chance para procurá-la.
Ele balançou a cabeça, segurando seu queixo para impedir que ela desviasse o olhar do dele.
— Eu já encontrei essa mulher — disse com firmeza. — O problema é que estava cego e ressentido por ter sido forçado a assumir o compromisso de um casamento, e esses sentimentos me impediram de enxergá-la.
Stella abriu bem os olhos, como se temesse estar sendo vítima de uma brincadeira cruel.
— Você... já encontrou essa mulher?
— Oh, sim. — Ele sorriu com ternura. — E ela é tudo que sempre esperei que fosse. Inteligente, linda, terna de coração, mas com um espírito independente. E, melhor de tudo, ela possui uma impressionante capacidade de agradar seu marido.
— Pensei tê-lo ouvido dizer que eu era uma megera de língua afiada — ela lembrou com insegurança.
Taylor riu, tomado por uma súbita e intensa felicidade. Não podia dar nome a essa estranha e insondável emoção que o deixava tonto e fazia o coração dançar de alegria, mas não lutaria contra ela.
— Você só tem a língua afiada quando sente a necessidade de proteger-se. Como eu tentava provocá-la a fim de manter uma distância segura entre nós.
Um tênue fio de esperança penetrou em seus olhos verdes enquanto ela o estudava atenta.
— Somos dois tolos, Taylor.
Ele encolheu os ombros, desistindo de tentar entender o passado. Era o futuro com essa mulher que desejava considerar.
— Sim, somos mesmo tolos, mas talvez precisássemos de tempo para nos acostumarmos à nova situação. Teria sido impossível viver um casamento como o nosso sem enfrentar alguns mal-entendidos.
— Sim, eu sei.
As mãos acariciaram a linha do queixo de Stella, e mais uma vez ele se surpreendeu com a deliciosa suavidade de sua pele.
— A espera serviu para aguçar meu apetite — murmurou, sorrindo para ela com ar insinuante.
Stella riu, e seus olhos foram inundados pela certeza de seu poder sobre ele.
— É um desavergonhado, senhor meu marido! — censurou-o brincando.
— Só com você, Stella. Estava falando sério quando fiz meus votos. Agora é minha esposa, e serei fiel a você.
— Eu sei. Confio em você.
Eram as palavras mais lindas que ele jamais ouvira, e foi necessário agarrar-se a toda força de vontade que ainda possuía para não cobri-la com seu corpo e provar a intensidade de seus sentimentos.
— Tem certeza de que não gostaria de trancar a porta? — ele ainda arriscou uma última vez.
Stella hesitou enquanto seu corpo era sacudido por um tremor, mas finalmente balançou a cabeça.
— Ainda não.
— Muito bem — ele concordou sem rancor. Um dia ela estaria preparada para esquecer o mundo e viver todos os prazeres do amor. Podia esperar. Podia ser paciente. — O que pretende fazer hoje?
Ela fez uma careta engraçada de desgosto e resignação.
— Suponho que terei de ser uma boa anfitriã. Já abandonamos nosso hóspede ontem, lembra?
Taylor não permitiria que nenhum pensamento relacionado a Frankie Carter ameaçasse seu bom humor. Stella já havia admitido que nunca amara o idiota. E se ainda gostava dele como amigo, era um homem generoso e amadurecido o bastante para aceitar essa ligação platônica.
Bem, talvez não aceitar, ele reconheceu. Ainda desejava socar o nariz do pateta e chutá-lo para fora de sua propriedade, mas pelo menos era astuto o bastante para não revelar seu desejo inteiramente masculino de manter sua mulher bem afastada da companhia de outro cavalheiro qualquer.
— Tem razão. É apropriado — conseguiu resmungar com tom razoável.
— E você, o que vai fazer?
— Vou procurar lorde Sinclair para fazer uma oferta por suas terras — Taylor decidiu repentinamente, certo de que não devia ameaçar o pouco controle que tinha permanecendo em casa, onde teria de ver o Sr. Carter agarrar-se a sua esposa como se precisasse de sua ajuda até para respirar. Covarde! — Se tivermos mais de um filho, vamos precisar de propriedades para deixar de herança.
Ela arregalou os olhos ao ouvir a referência casual aos filhos que poderiam ter. Um brilho de puro prazer cintilou em seus olhos. Era óbvio que ela ainda não havia considerado a inevitável conclusão da nova intimidade que vivia com o marido. Felizmente, a idéia parecia agradá-la, em vez de chocá-la.
— E se tivermos apenas filhas? — ela provocou.
Taylor encolheu os ombros, revelando que a hipótese não o aborrecia em nada. Tinha muitos primos que poderiam garantir a linhagem, qualquer que fosse o sexo de seus filhos.
— Nesse caso, as terras que compramos serão herdadas por elas. Não duvido de que nossas filhas serão tão capazes quanto a mãe delas de administrar uma propriedade.
Havia esperado tranqüilizá-la com suas palavras determinadas, mas, de maneira surpreendente, Stella começou a chorar.
— Oh...
Horrorizado por pensar que podia tê-la magoado ou ofendido, mesmo sem ter essa intenção, ele se aproximou e segurou o rosto delicado entre as mãos.
— Por Deus, o que é isso, Stella?
Fitando-o com os olhos cheios de lágrimas, ela deixou escapar um soluço.
— Ninguém jamais me disse algo tão lindo...
O espanto rivalizava com o alívio, e Taylor acabou não contendo uma gargalhada. Quase morrera de susto! Não queria vê-la chorar nunca mais.
— Oh, minha querida, só você ficaria mais feliz por ser admirada por sua capacidade de administração do que por seus encantos de mulher...
— Oh, mas eu também gosto de ser elogiada por meus encantos e... — De repente ela parou como se algo muito importante interrompesse seus pensamentos. — Taylor, não pretende ir sozinho ao encontro de lorde Sinclair, não é?
— Não, levarei Paul comigo. — Nunca mais voltaria a pôr sua vida em risco, agora que encontrara a felicidade.
— E não vai correr riscos inúteis e desnecessários?
Ele a beijou nos lábios.
— Prometo que nada vai me impedir de voltar a sua cama esta noite — murmurou. E com enorme relutância, ele se levantou. Queria ficar... para sempre. — Agora suponho que devo ir, antes que sua ama apareça e nos surpreenda aqui. Até mais tarde, meu amor.
O sorriso que iluminou seu rosto continha promessas do paraíso.
— Até mais tarde.


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