Portgas D. Anne? escrita por Neko D Lully


Capítulo 9
Portgas D. Anne


Notas iniciais do capítulo

Hello guys!
Desculpa a demora nesse cap, mas com as aulas voltando complica. Tentarei continuar postando o quanto antes já que estou quase na parte que queria chegar, mas não garanto que poderei me dedicar muito.
Bem, espero que apreciem o capitulo!



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Era como estar se afogando...

Afundando e afundando cada vez mais na imensidão escura a sua volta, sem poder subir a superfície para buscar ar. Impotente, com mãos a segurar-lhe o corpo por todas as partes, arrastando-o para mais fundo naquele mar de pesadelos. Um mar que beira a sanidade e a loucura, entre o consciente e o inconsciente.

Não tinha como escapar.

Por mais que se debatesse, por mais que tentasse fugir para não ver e sentir aquele momento de novo e de novo, não podia. Estava atado a seus medos e inseguranças, como se voltasse a ter aquelas correntes a prender seus pulsos e o impedir de fugir, o impedir de chegar até quem precisava e parar todas aquelas tragedias. Tudo que poderia fazer era chorar e chorar, até que seu corpo estivesse seco e o mar se enchesse ainda mais.

E todas as noites era a mesma coisa. As mesmas cenas, as mesmas memórias. E isso porque nunca poderia fugir de si mesmo. Nunca poderia correr de seus pecados, porque eles estavam presentes em cada caminho que seguia. Cada vez que via seu reflexo, que encarava o mar, cada vez que lia o jornal diário... Mesmo quando respirava conseguia sentir as finas agulhas de culpa e amargura perfurando todo seu canal respiratório, atravessando as paredes de seu pulmão e finalmente acertando o coração, que se contraia em dor.

E cada noite se sentia afogar cada vez mais fundo. Se sentia cada vez mais pesado. Os pesadelos o tragavam como uma forte maré e era impossível nadar contra.

Gritos abafados pelos lábios apertados, a respiração contida e pesada, o coração aos saltos e o corpo com espasmos consecutivos, dolorosos. O pesadelo se seguia, e não conseguia despertar. Estava atado a aquele desespero até o momento que sua mente percebesse que não precisava mais repeti-la, que poderia simplesmente... Apagá-la.

– Ace... Ace! - o chamado da realidade chegou tardio a seu cérebro. Mesmo que seu corpo fosse sacolejado para despertar e que a pessoa que o chamava já começasse a desesperar-se não conseguia abrir os olhos...

Até agora.

Seu corpo deu um ultimo espasmo, esse mais forte, empurrando-o para frente, indo de encontro direto a pessoas que tinha apoiada a sua frente, acolhendo-o em seus braços como se quisesse protegê-lo daqueles terríveis sonhos que o atormentavam.

Ace, ainda com a mente embaçada e perdida, acreditava avidamente que aquele que o amparava naquele momento era o mesmo que estivera a seu lado todos esses dois anos. Aquele maldito velho, que sempre conseguia trazê-lo de volta e posteriormente nunca perguntava nada, fazia de conta que nada tinha visto ou acontecido.

Demorou um tempo para que a morena percebesse que não era Hanry. Para recordar que ele estava morte e que agora estava no navio de seu irmão, o mesmo que a amparava em braços apertados e protetores. Não sabia o que ele estava pensando, e estava cansada de mais para pensar sobre o assunto. Apenas queria descansar, sem mais pesadelos, sem mais sustos... Apenas um bom cochilo sem sonhos.

– O que aconteceu, Ace? Eu não vou saber como te ajudar se não me falar. - a voz preocupada de seu irmão ressoou por seu ouvido, tão próximo como era de se esperar. Estava praticamente pendurado nele, o corpo dependendo do dele para não cair de exaustão.

Pesadelos podem acabar com as forças de alguém.

– Baka... Não tem nada em que precise me ajudar... Eu... Estou bem... - sua voz era pausada, baixa. Um pequeno sorriso surgia em seu rosto enquanto pouco a pouco perdia novamente a consciência, embarcando para um mundo sem sonhos, sem pesadelos. Apenas a mais tranquila escuridão.

Sabo não poderia fazer nada, apenas deixar para o dia seguinte, como em todas as outras vezes.

E na manhã seguinte era como em todas as outras. Não tinha maneiras de pergunta a sua, agora, irmã o que estava acontecendo. Sabia que tinha algo errado, mas não arrumava maneiras de abordá-la e sabia que deveria ser da maneira certa, pois Ace sempre seria um cabeça-dura e não aceitaria ajuda a não ser que a dobrassem da maneira correta, uma que não teria como escapar, simplesmente aceitar.

Mas como conseguiria tal feito se tinha passado doze anos longe da morena? Quando eram pequenos poderia dobra-lo, poderia fazê-lo aceitar o que dizia, mas agora não sabia como ele estava. Talvez fosse o mesmo ou talvez tivesse mudado em alguns pontos.

Bom... Ela parecia mais educada e menos estressada do que costumava se lembrar.

Não conseguiu evitar rir com a memória. Seja como for, pediria conselhos a Koala, ela deveria saber o que fazer se tratando de uma mulher... Por mais que Ace não fosse totalmente uma mulher...

E talvez Koala realmente poderia ter ajudado, se Sabo não tivesse escolhido o pior momento para incomodá-la. O pobre loiro era completamente desligado sobre algumas situações alheias, mesmo sendo aquele que deveria supostamente comandar o navio, ele não se preocupava muito. Dava ordens, sim, mas perdia noção em alguns detalhes de administração que acabavam sendo deixados para a pobre companheira.

Não demorou muito para a confusão conseguir chegar ao ponto em que todos do deque inferior pudessem ouvir, despertando aqueles que ainda não haviam despertados. Dentre eles estava uma certa morena que desajeitadamente ergueu-se da cama, aos resmungos, procurando o lugar de onde vinha a voz do irmão para poder mandá-lo calar a boca.

O problema de tudo isso era simplesmente que, às vezes, Ace não tinha a minima noção de como poderia ser atraente para os homens agora que tinha o corpo de uma mulher. Talvez ela evitasse pensar nesse tipo de situação pelo simples fato de ainda possuir uma mente masculina, não sentia atração por homens e não queria que eles sentissem por ela. Mas suas atitudes desleixadas e grosseiras, tipicas de um rapaz, atraiam a atenção da forma que ele menos queria.

Pois, por mais que fossem atitudes atípicas de uma garota, acabavam estranhamente fofas e provocantes quando Ace fazia.

E naquele momento não existia exceção nenhuma. Trajava apenas um blusão que havia arrumado de Sabo e um curto short que mal chegava a aparece, e isso porque fazia demasiado calor. Ace reclamava quase o tempo inteiro que ainda era obrigada a usar roupas para dormir, mas Sabo nunca a deixaria ficar completamente nua em um navio cheio de homens. O pobre loiro teve o problema de adquirir instintos protetores para com a atual irmã.

E sabem aquele momento em que você acorda e ainda está bagunçado de mais para encontrar alguém? Bem, Ace não estava muito diferente desses momentos, mas não se importava. Sua mente ainda adormecida apenas queria acabar com os estrondosos sons do navio para poder voltar a dormir.

– O casal feliz poderia calar a boca?! - esbravejou assim que se viu próximo aos dois mencionados. O rosto sonolento ainda amassado, os cabelos desgrenhados como um ninho de passarinho, a enorme blusa que usava pendendo de um lado dos ombros, deixando descoberto uma pequena parte de seu dorso. - Brigando logo de manhã! O que aconteceu agora? Estão discutindo o nome dos filhos?

Ace poderia ser tudo, mas não era cego nem burro. Sabia muito bem que aqueles dois companheiros nutriam algo bem mais do que simplesmente amizade. Sabia que algo se acobertava entre os singelo gestos que dividiam e isso se notava pela maneira em que Sabo a encarava, acompanhando cada movimento da garota sem que nem mesmo a mesma soubesse. Era visivel com cada mover de mãos nervosas que Koala fazia quando estava próxima do loiro, ou como dedicava-se completamente a ele, o acompanhando para qualquer lado.

E como todo bom irmão, não perderia a preciosa chance se caçoar do loiro e sua companheira.

As reações em reposta chegavam a ser ainda mais engraçadas que o próprio comentário. Na maioria das vezes ambos ficavam extremamente vermelhos, gaguejavam frases sem contexto ou nexo e então se dispersavam cada um para um lado, não sem antes dar uma ligeira espiada para trás, procurando o caminho pelo qual tinha ido o outro. Talvez só não ocorresse porque Sabo estava preocupado de mais em ajeitar sua aparência para torná-la menos chamativa para se importar com o comentário e talvez por isso Koala acabou não prestando muita atenção também, mesmo que notasse um leve rubor em seu rosto.

A professora substituta de karatê tritão pigarreou, retomando a compostura por completo.

– N-não é nada disso, Ace-chan. - começou Koala. - Estava discutindo com o Sabo-kun o motivo de pararmos na próxima ilha e os mantimentos que teremos que comprar.

– Mas não faz apenas três dias que saímos de Dressrosa? - Koala já não sabia se era de proposito ou se a mentalidade daqueles irmãos era inocente de mais para perceber os próprios erros que cometiam. Afinal, quem não entenderia que havia comido praticamente todo o armazenamento de comida para um mês em apenas três dias?!

Mesmo assim decidiu manter a calma e explicar tudo novamente. Todavia, talvez a maior parte do motivo de manter tanta calma ao lidar com a morena não fosse por sua aparência inocente, mas por ter percebido as mesmas coisas que Sabo. Poderiam não ter tido tempo de comentar um com o outro o assunto, mesmo assim já sabiam perfeitamente quais eram todas as estranhas atitudes da morena.

Primeiramente sua mania de se embebedar sempre antes de ir dormir. Era como se não conseguisse encarar o que estivesse em seu sonho se não tivesse um incentivo antes. Parecia ter medo de dormir. Todavia, essa pequena mania acaba por gerar outro pequeno problema que se deviam as atitudes que tomava quando estava bêbada. Ace definitivamente não sabia o quão atrativa poderia ser agora. E por mais que tentasse se aproximar e conversar, o assunto era sempre desviado por ela, como se o evitasse a todo custo.

Ace disfarçava bem um sorriso, talvez não quisesse preocupar ninguém ou apenas achava que aquele era um problema que deveria resolver sozinha. Seja como for, era um segredo que lhe atormentava todas as noites.

– Entendo. Bem, não é tão ruim assim. Pelo menos posso ter a chance de encontrar algumas informações na próxima ilha. - um enorme sorriso infantil e inocente apareceu em seu rosto e o máximo que Koala conseguiu expressar foi um profundo suspiro cansado.

– Ace-chan... Você realmente...

– Desculpe interromper. - os três voltaram-se para encarar o recém chegado, o rosto sério quase completamente encoberto por uma enorme touca de pelo menos duas cores diferentes, ambas escuras. Sua posição era firme, apesar de descontraída o suficiente para demonstrar aos presentes que sua intromissão não se tratava de nada sério. - Mugiwara no Luffy está ao den den mushi. Quer falar com os dois irmãos.

Os dois irmãos sem mais um segundo de demoro, ansiosos em falar com o mais novo, seja o assunto que for. Koala, por sua parte, permaneceu onde estava, sem conseguir evitar que um pequeno e singelo sorriso se desenhasse em seus lábios, por mais que ainda estivesse um pouco irritada pelos problemas que aqueles dois irmãos poderiam causar.

Acomodou-se em um canto qualquer do navio onde poderia vislumbrar o mar longe dos estresses que se desenvolvia pelo movimento dos tripulantes. Sentindo o vento revolver as madeixas castanhas de seus cabelos encarou o horizonte, o céu tão límpido quanto o oceano. Novamente a conversa com Sabo no primeiro dia retornando a sua mente.

Sua risada escapou logo depois dos primeiros segundos de tensão. Sabo permanecia sério, encarando o lugar por onde seu irmão, agora irmã, tinha desaparecido.

Não seja tão exagerado, Sabo-kun. Tenho certeza que Ace-chan ficará bem, foi apenas uma mudança de sexo, muitas pessoas que encontraram Ivankov passaram pelo mesmo.

– Koala, tente pensar um pouco. Ace tinha pelo menos o dobre da massa muscular que tem agora e seu tamanho diminuiu consideravelmente. Se por acaso isso aconteceu para tampar o buraco que Akainu fez em seu peito, significa que se ele tentar voltar ao normal pode não existir tecido suficiente para preencher o espaço. - as mãos do loiro se apertaram. Apenas o pensamento parecia lhe assustar.

Está tentando dizer que se Ace-chan quer continuar vivo precisa permanecer nesse corpo?

Tudo que faço são especulações, Koala. Não temos a menor ideia de quais são as condições dessa situação, posso estar errado ou completamente certo. O que aconteceu com Ace ainda é um mistério e um milagre. - por instantes Koala vislumbrou um brilho triste no rosto do companheiro, e jurou, por míseros segundos, que o mesmo estivesse prestes a chorar. - Apenas não quero arriscar e jogar fora essa chance que temos.

Suspirou mais uma vez. Por mais que não tivesse conversado mais nenhuma vez sobre tal assunto com o loiro não era difícil para ela notar a preocupação que o mesmo sentia para com a morena naquele exato momento. Ele mais do que ninguém deveria saber da impulsividade de seus irmãos, ele mesmo era um tanto impulsivo, e por tal motivo tinha pleno conhecimento que Ace não pensaria duas vezes nas consequências se já tivesse colocado o objetivo em sua cabeça.

E por mais que estivesse preocupada não via o que poderia fazer naquela situação. Apenas poderia observar cada acontecimento, esperando que ninguém se machucasse no processo. Principalmente Sabo.

Conseguiu vislumbrar, depois de alguns minutos meditando sobre os ocorridos daquele dia, a pequena figura da próxima ilha em que iriam atracar. Não se via mais que a pequena sombra erguendo-se sobre o imenso oceano. E pouco a pouco a mesma sombra ia aumentando, até o ponto em que conseguia ter uma pequena nossa da dimensão da ilha.

Afastou-se do beiral em que se apoiava, pronta para desembarcar e começar as compras que precisava fazer. Não eram piratas, então não existiam problemas em atracar na cidade, mas deveriam ter em mente a possibilidade de já existirem marinheiros na ilha, e como revolucionários contra o governo, era arriscado serem pegos ali. Não eram marginais, era certo, mas de acordo com o governo atual, eles eram perigosos.

E já sabia que os dois irmãos participariam da caminhada pela cidade e realmente chegou a pensar que estaria tudo bem se ficassem próximos dela. Afinal, o que poderia dar errado em uma simples busca por mantimentos?

Todavia, devemos pensar que Ace e Sabo não são irmãos normais. Koala já sabia e de algum jeito tentava evitar pensar, que Sabo desaparecia e fazia o que bem entendesse sem se preocupar com sua posição ou com qualquer outra coisa. E deveria imaginar que Ace não seria muito diferente.

Mas como poderia suspeitar das confusões que aconteceriam naquele dia?

– Vamos, Anne! Não é tão ruim assim. - a voz do loiro ecoou bem próxima. Alguns dos tripulantes já estavam prontos e desembarcando para cumprir suas tarefas. Os dois irmãos se aproximavam, a morena extremante irritada por alguma razão desconhecida enquanto o loiro parecia conter o sorriso de divertimento.

– Urusai! Aquele maldito! Vocês dois um dia me pagam por esse, esperem até conseguir voltar meu corpo ao normal! - esbravejava a morena, o corpo encurvado a caminhar com as mãos no bolso, os pés a bater forte sobre a madeira do navio. Estavam indo em sua direção.

– O que aconteceu para estar tão irritada? Não estavam conversando com Luffy-san?

– Não foi nada. Ace só está um pouco estressada porque tivemos que dar um novo nome para ela. Sabe, se descobrirem que o grande Portgas D. Ace continua vivo a marinha não ia medir esforços para ir buscá-lo. - respondeu Sabo, ainda com um pequeno sorriso de deboche em seu rosto. Ace bufou em desgosto.

– Não entendo porque isso! Eu sou um pirata! Serei procurado do mesmo jeito! - resmungou a morena, ainda em desacordo.

– Vamos Ace-chan. Não deve ser tão ruim, você apenas mudou de nome para não chamar muita atenção. Certo, Sabo-kun? - o loiro assentiu, tentando ao máximo parecer sério com relação ao assunto. - E então, como se chama agora?

– Anne.. Portgas D. Anne. - a má vontade e desgosto estavam estampados em sua voz, entretanto, mesmo com o enorme muxoxo que fazia, não parecia completamente desagradado do nome.

– Luffy que escolheu. Decidimos deixar o sobrenome e dizer que ela é uma irmã gêmea perdida do falecido Portgas D Ace. Afinal serão poucos os que poderão negar a história e menos ainda que teriam o poder para fazer com que outros acreditassem. - Sabo acrescentou, os três já tendo saído do navio e agora caminhavam pela pequena estrada a caminho da cidade.

– Ainda não encontro sentido para tudo isso. Não é como se fossem parar de me perseguir apenas porque mudei de nome. - lamuriou a morena, as mãos atrás da nuca em uma pose descontraída enquanto andava.

– Ace-chan, tente entender...

– Esqueça Koala. Anne-chan é cabeça dura de mais para compreender que precisa manter sua verdadeira identidade em segredo.

– Tsk! Façam o que quiser. Eu vou dar uma volta. - Anne ajeitou o chapéu laranja sobre sua cabeça, os passos direcionando-se para um caminho diferente da dos dois revolucionários.

– Onde pensa que vai? Não pode ficar andar por aí sozinha!

– Ora! Vamos, Sabo. Você sabe que não aguentaria ficar andando em grupo por muito tempo, e outra, se continuarem a ficar comigo vão chamar mais atenção do que o de costume, principalmente por causa dessa minha tatuagem. - Anne mostrou orgulhosa a tatuagem em suas costas, apenas com uma pequena parte tampada pela pequena blusa que usava. - É melhor fazermos nossas tarefas separados e marcarmos uma hora para nos encontrarmos.

– Não é só simplesmente tampar a tatuagem? - perguntou Koala, todavia Anne negou.

– Essa tatuagem continua sendo meu orgulho. Não quero mais tampá-la, apenas faço quando extremamente necessário. - um sorriso triste surgiu no rosto da morena, os olhos se perdendo em algum canto qualquer da cidade. - Então, até mais, encontro vocês no porto de tarde!

E dizendo isso se afastou, sem dar ouvidos as reclamações do irmão ou a qualquer coisa mais. Prometendo a si mesmo que dessa vez conseguiria algum tipo de informação que poderia ser útil.

Mas falar era bem mais fácil do que fazer.

Durante a maior parte do tempo que gastou na cidade, perguntando de mercado em mercado, procurando pessoas que pudessem ter algum tipo de informação relevante, o máximo que tinha conseguido era um "não vai conseguir encontrá-los. Sumiram completamente do mapa depois da guerra." E não que isso fosse fazê-la desistir, mas era desanimador.

Afinal por onde eles andavam? Não era possível que o bando tivesse se separado, ou será que sim? O que faria se realmente fosse isso e não tivesse mais para onde ir? E as emoções vinham com demasiada força. Era um saco ser uma mulher, parecia que todos seus sentimentos tinha triplicado de tamanho e sempre que passava esse tipo de pensamente sentia-se a se desesperar. Os olhos inundavam de lágrimas e parecia que o coração ia sair pela boca.

Precisava se acalmar.

Sentou-se em qualquer lugar que encontrou, os olhos a encarar o céu desprovido de nuvens enquanto respirava fundo a fim de voltar ao normal. Aos poucos, enquanto os pensamentos iam divagando em diversos assuntos, já não se lembrava mais porque se encontrava tão alterada.

Respirou fundo, um pequeno sorriso surgindo em seu rosto. Agora que estava novamente com os nervos no lugar podia voltar a seu trabalho, procurando mais informações e mantendo a esperança ativa...

Um fraco e engasgado choro chamou sua atenção antes mesmo que pudesse se erguer para voltar ao que estava fazendo. O choro era bem baixo, e se não fosse pelo fato de não ter ninguém na rua naquele momento, com certeza não o teria escutado. E sua curiosidade foi maior do que qualquer outra vontade que tivesse no momento, guiando-se pelo som até o lugar de sua origem, deparando-se com uma pequena criança de não mais de seis anos, encolhida entre dois barris que provavelmente teriam lixo dentro.

A criança tinha os joelhos pregados ao peito, os braços rodeando-os com força enquanto apertava as mangás de sua blusa com força. O rosto enterrado entre os joelhos a soluçar baixo, os cabelos negros compridos escorrendo pelos ombros e pernas, bagunçados, sujos e desgrenhados.

Não que fosse uma pessoa preocupada com crianças, nem que estivesse interessada em saber dos problemas dos outros enquanto tinha o seus próprios. Mas olhar para aquela pequena criatura a chorar sem parar a fazia se lembrar de Luffy, quando ainda era um bebê chorão. E aquilo era um saco, pois fazia seus sentidos entrarem a loucura e seu corpo agir por vontade própria.

– Tudo bem? - sua voz saiu preocupada. A criança ergueu a cabeça tão prontamente quanto a escutou, assustada de mais pela abrupta aparição da morena. Seus olhos inchados e avermelhados encararam a recém chegada com puro pavor, ainda deixando escapar algumas lágrimas por seu rosto inchado e marcado. Era uma garota, conseguia ver por suas feições, mas estava desarrumada, suja... Dava pena. - Perguntei se está tudo bem com você, menina. Não se preocupe, não quero machucá-la.

– Então por que quer saber? - astuta. As palavras foram afiadas, todavia tremulas, o corpo todo da pequena tremia e Anne não sabia o que fazer naquela situação. Já havia lidado com uma criança antes? Bem, tinha Luffy, mas ele era um caso completamente diferente de qualquer outra criança.

– Bem, eu apenas fiquei curiosa sobre o motivo de estar chorando sozinha nesse lugar. Mas não precisa me dizer se não quiser, afinal, não é da minha conta mesmo. - estava se preparando para se afastar quando a garota resmungou, chamando sua atenção.

– Me perdi dos meus pais. Procurei por toda cidade, mas não consegui encontrá-los em lugar nenhum. Eu não sei mais o que fazer... - os olhos se encheram de lágrimas mais uma vez, a voz foi falhando, a respiração se agitando. A pequena ia chorar de novo, Anne sabia disso. Droga, aquela situação era terrível.

– Vamos, não chore. - acocorou-se próximo a garota e acariciou seus fios negros, tentando oferecer-lhe seu melhor sorriso confiante. Bem, não tinha esperanças nem ao menos de encontrar sua família, mas pelo menos poderia dar um pouco para aquela pequena garota. - Eu vou te ajudar a encontrá-los. A cidade não é tão grande e duvido que eles vão embora sem você, eles tem que estar em algum lugar por aqui.

– Por que quer me ajudar? - perguntou a garota desconfiada, encarando Anne enquanto tentava inutilmente limpar as lágrimas em seus olhos.

– Porque sei como é estar longe da família e se sentir perdido. - não tinha mentido. Poderia não ter um pai ou uma mãe biológicos, nunca os conheceu de verdade, mas tinha uma família. Vários irmãos e um incrível e admirável pai. E sentia falta de todos eles, por mais que não admitisse, se setia perdida sem eles. - Então vamos?

Estendeu a mão para a garota, para assim começarem a busca pela cidade. Não pensou que poderia ser difícil, afinal, os pais da menina também deveriam estar procurando por ela, certo? Então não deveria demorar muito. E talvez poderia aproveitar também para continuar a buscar informações, não era como se tivesse que parar.

– Ne... Onee-chan. - encarou a pequena que caminhava a seu lado, o olhar de ainda pregada no caminha a frente, procurando alguém que pudesse parecer com seus pais. Anne resmungou, mostrando que estava escutando. - Sua tatuagem... É uma Jolly Roger, não é?

– Hum... É.

– Você é pirata?

– Sou.

– De qual tripulação você é?

– Me assusta seu súbito interesse sobre o assunto, mas, respondendo a sua pergunto, sou dos Piratas do Barba Branca. Por que?

– Curiosidade. Nunca tinha conhecido um pirata antes, principalmente uma mulher.

– Não é tão difícil assim de achar. Principalmente no novo mundo.

– E por que está me ajudando se é um pirata? Piratas não deveriam ser maus? Os vilões?

– Hum... Uma boa pergunta. Somos os vilões, mas nem todos somos cruéis. Acho que isso é uma questão de escolha. Todos os que eu conheço e me relaciono são piratas legais, que apenas querem ser livres.

– Livres?

– É. Navegar os mares sem ter que se preocupar com regras, fazendo o que bem entender. Indo pra onde quiser, ver novos lugares, ter diversas aventuras com todos os amigos que faz, conhecer novas pessoas. Digamos que o mundo vira sua casa e seus companheiros viram sua família. - Anne deixou escapar um pequeno sorriso enquanto dizia aquilo. Diversas memórias passando por sua cabeça, de cada momento, de cada aventura que vivenciou até aquele momento. - Claro, também significa ser odiado por todos, ser pirata é viver fugindo, viver lutando, viver sem um lugar para voltar ou ficar. É ter diversos inimigos e poucos amigos. É correr o risco de ser traído todos os dias da sua vida, mas quando consegue uma aliança fiel não tem nada nesse mundo que possa quebrá-la.

– Ser pirata parece ser muito legal.

– Eu gosto. Não me arrependo de ter escolhido essa vida.

– Hum... - a garota ficou um tempo em silêncio, como se ponderasse sobre o que haviam acabado de conversar. Apenas depois de alguns minutos voltou a falar, com um assunto completamente diferente do que começou. - Ah! Eu me esqueci de perguntar seu nome Onee-chan. O meu é Kendy.

– Ah, bem o meu é...

Estavam passando por uma parte perigosa da cidade. Toda cidade tinha uma, Anne viveu em uma quando era mais nova, quando ainda era um garoto, e viu várias outras pelos lugares em que passou, não era novidade ter essa diferença social, todavia, às vezes, essa diferença se tornava perigosa e quanto mais ao fundo você adentrava, mais arriscado ficava. Era, talvez, o único lugar pelo qual a pequena não havia passado em sua procura, mas agora sentia mais coragem por ter Anne a seu lado, mesmo assim nenhuma das duas esperava pelo que viram.

Anne nem ao menos tinha terminado sua apresentação quando o grito tomou a frente. Mais a frente havia um grupo de bandidos formando um circulo próximo a um dos pequenos barracos do lugar. Risadas e gargalhadas escapavam pelo ar de forma divertida e debochada, era difícil de ver o que estava acontecendo, os corpos se embolavam um no outros, aglomerando-se de tal maneira que não podiam ver o que tinha no centro. Se não tinha errado ao contar deviam ter vinte ou trinta pessoas ali.

Provavelmente humilhavam alguém enquanto tiravam proveito dele... Patético.

A pequena percebeu o que acontecia antes de Anne, disparando na direção do aglomerado, abrindo caminho por entre os corpos apertados para finalmente postar-se no centro da roda.

– Papai! Mamãe!

Não é complicado, agora, adivinhar o que estava se passando. Kendy havia percebido os pais por uma pequena e insignificante greta que havia se formado entre as pessoas por apenas alguns segundos. Seu corpo havia se movido por instinto e agora estava ali, abraçada a mãe enquanto voltava a chorar.

– Mas que droga! Da onde essa garota saiu?

– Ela podia ter permanecido perdida por mais um tempo, estávamos quase faturando alto!

– Não tem importância, tudo que temos que fazer agora é tirá-la dos pais e continuar de onde paramos.

E novamente não era difícil entender a situação. Depois da separação dos pais da pequena e ela os bandidos abordaram os mais velhos, percebendo a melhor situação para contar uma pequena mentira e ganhar com aquilo. Falaram que tinha pequena e a soutariam apenas se tivesse cinco milhões de berries. Obviamente os pais ficaram desesperados. Como conseguir aquela quantidade de dinheiro em apenas um dia? Tentaram abaixar o preço, imploraram para apenas ver a menina uma vez, para ter certeza de que estava bem, e foi por tal motivo que agora se encontravam naquela lamentável situação.

– Peguem a garota. - um dos bandidos havia vociferado no meio do estardalhaço e logo em seguida dois deles haviam se aproximado com a intenção de arrancar a garota dos pais. Fácil, sendo dois e estando armados. Precisaram apenas puxar a gola da camisa da pobre garota para que ela estivesse em sua posse.

– Me soltem! Me soltem! - esbravejavam a pequena, sacolejando os braços e as pernas tentando escapar, apenas conseguindo mais gargalhadas dos homens a sua volta.

E antes que pudesse imaginar Anne já estava no meio de toda aquela confusão. Seu soco acertando em cheio o rosto do homem que segurava a pequena, nocauteando-o ao instante enquanto carregava a pequena. Não compreendia totalmente a situação, mas não poderia deixar que continuasse. Afinal, já tinha dito que ajudarei a garota, então iria até o fim.

– Vadia! Quem você pensa que é? - questionou um dos bandidos, enfurecido pela queda do companheiro. Os outros já preparando suas armas para o que viria em seguida.

– Anne. Portgas D. Anne. E eu vim aqui acabar com a raça de todos vocês!


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Bem, era pra ele ter ficado maior, mas decidi dividir. Espero que tenham apreciado.
Bye bye, até o próximo!



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