Paz Temporária - Olhos Amaldiçoados escrita por HellFromHeaven


Capítulo 8
Bem vindo à Família




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Eu ainda estava em choque, então não pude explicar a situação direita à Jade, mas a minha casa queimada acabou aparecendo no noticiário me ajudando um pouco. A casa... Acho que seria errado chamar aquele lugar assim... A mansão era maior por dentro e muito bem decorada. Todos os cômodos por onde passei tinham tapetes diferentes e as paredes possuíam alguns detalhes feitos com adesivos próprios para paredes que davam um charme a mais no lugar. É claro que eu não estava ali para apreciar a decoração e nem estava podendo prestar atenção em tais coisas. Ela me conduziu até a sala e pediu para que eu sentasse no sofá enquanto trazia algo para eu me acalmar. O sofá era incrivelmente confortável e havia uma enorme televisão na parede (foi aí que vimos a notícia). Pouco tempo depois, Jade retornou com uma xícara de chá e me ofereceu. Ela me confortou e disse que eu poderia fazer parte da família e, com isso, morar ali.

Dormi mal pra cacete por causa de tudo o que havia acontecido (não pela cama, porque também era confortável pra porra) e levantei como se estivesse com um grande saco de pedras em minhas costas. Fui até a cozinha e encontrei uma cafeteira com café. Tomei umas duas canecas para tentar superar a noite mal dormida, mas sem muita eficácia. Decidi ir até a sala e me esparramei no sofá. Porra, como aquele maldito sofá era confortável! Meus olhos começaram a fechar lentamente e quando me dei conta estava cochilando. Acordei assustado alguns minutos depois e olhei ao meu redor para me certificar que estava sozinho. Infelizmente esse não era o caso. Havia uma garota de aproximadamente 20 anos sentada ao meu lado usando roupas idênticas às que a Jade estava usando em todas as vezes que nos encontramos. Tinha longos e lisos cabelos negros e olhos azuis. Ela era muito bonita e exibia um sorriso cativante em seu rosto:

– Parece que alguém não dormiu muito bem.

– Bem... Sim...

– Então... Você deve ser o garoto de ontem.

– Suponho que sim.

Ela se aproximou do meu rosto e depois olhou para meu corpo como se em analisasse.

– Não sei muito bem no que a Jade estava pensando...

– Algum problema?

– Nada. É que você tem cara de bonzinho. Se quiser fazer parte dessa bagaça tem que treinar umas caras de mau!

Ela então fechou a cara e abriu a boca fazendo uns... Rugidos provavelmente no intuito de “parecer” malvada. É claro que aquilo foi mais fofo do que qualquer coisa e eu apenas ri.

– Não ria! Esse é o rosto da morte!

E com aquilo eu acabei rindo mais ainda. Ela me acompanhou e, depois de algum tempo compartilhando risadas, voltou ao seu sorriso cativante e disse com um ar d vitória:

– Viu só? Já está até rindo! A tia Bunny aqui é maravilhosa, não é?

– Se você diz...

– Mas o quê? Seu mal agradecido! Jade! Vem aqui!

Até então eu não tinha notado, mas havia um número considerável de pessoas pela mansão. Alguns apenas encostados em um canto qualquer e outros conversando em pequenos grupos. Pouco tempo depois do grito da tal... Bunny, pude ver a Jade descendo as escadas atendendo ao seu pedido:

– O que é essa gritaria logo cedo?

– Jade! Manda esse moleque pra fora!

– O que houve? Não me diga que... Ele tentou agarrar os seus peitos!

– O quê? Eu não fiz nada...

– Pior!

– Quê? Mas eu...

– Pelos Deuses... O que foi que ele fez?

– Cheguei aqui e ele estava cochilando no sofá e quando acordou parecia um morto-vivo, daí tive o trabalho de animá-lo e ele ainda não concorda que eu sou maravilhosa.

– Oh... Harry... Como você pôde? Todos aqui sabem que a Bunny é uma diva! Só não é mais do que eu, claro.

– Ora, isso é óbvio! Afinal, você é minha linda.

Àquela altura eu já nem sabia mais o que pensar, então decidi apenas ficar em silêncio. Por mais louco que tudo aquilo pudesse parecer, me trazia uma sensação boa de “estou em casa”. Apenas sorri e entrei na brincadeira:

– Minhas sinceras desculpas. Me certificarei de concordar da próxima vez em que fizer essa pergunta, senhorita Bunny.

– Eita... Pra quê tanta formalidade?

Ela me deu um mata leão e começou a bagunçar meu cabelo. Por mais que não aparentasse, a garota era forte. Tentei me livrar sem sucesso algum.

– Não precisa dessa frescura toda. Só diga que eu sou foda e eu te perdoo.

– Tudo bem! Você é foda! Agora me solte.

Ela me soltou e, como estava fazendo força para me soltar, acabei caindo do sofá. Todos acabamos rindo no final. Jade se aproximou de mim e me ajudou a levantar.

– É bom ver que já está animado. Afinal... Ontem foi um dia difícil, não é?

– Sim... Mas pelo jeito é meio difícil ficar desanimado por aqui.

– Pois é! Qualquer tipo de desânimo é totalmente proibido pela tia Bunny aqui.

Era realmente estranho, mas o clima daquele lugar me fazia sentir melhor. Claro que não estava totalmente recuperado e minha sede de vingança continuava intacta. Estava viajando em meus pensamentos quando Jade me deu dois tapas amigáveis no meu ombro direito:

– Então... Eu sei que você já confirmou que ficaria por aqui, mas ontem sua condição era, no mínimo, complicada. Então devo perguntar novamente agora que sua mente pode processar adequadamente se você realmente está disposto a entrar para a família.

– Sim. Minha decisão continua a mesma.

– Não espere que só porque está entre nós vai poder sair matando todo e qualquer Harrison que vir por aí.

– Eu sei... Mas, mesmo assim...

– Precisa de um lugar para ficar, certo?

Permaneci em silêncio e abaixei levemente minha cabeça. Queria vingança acima de tudo, mas não tinha sequer pensando no quão egoísta era aquele pensamento. E, como a Jade disse, eu não tinha mais aonde ir. Meu pai e minha mãe eram filhos únicos e todos os meu avós haviam morrido há algum tempo. Cheguei a pensar em desistir e apenas procurar um abrigo qualquer que me aceitasse. Mas, como se soubesse o que eu estava pensando... Espere... Na verdade ela sabia o que eu queria... Enfim, Jade colocou as duas mãos em meus ombros e deu uma leve sacudida em meu corpo:

– Fique tranquilo. Vai ficar tudo bem.

Não soube o porquê, mas aquelas palavras me atingiram como uma faca diretamente no coração. Voltei meu rosto para cima e ela me encarava com um belo sorriso reconfortante em seu rosto. Meus olhos foram ficando cada vez mais marejados, até que desabei em cima dela e chorei como uma criança com medo. Ela me abraçou e me confortou até que minha crise passasse. Levou cerca de cinco minutos até que eu voltasse ao normal. Olhei ao meu redor envergonhado para verificar as reações de todos que estavam por ali, mas ninguém parecia esboçar nenhuma reação. A maioria continuava conversando e aqueles que nos observavam exibiam um sorriso no rosto, como se entendessem minha situação. Fiquei aliviado, já que esperava ouvir alguns risos. Limpei minhas lágrimas e senti um tapa delicado nas minhas costas. Era Bunny que me estendia um lenço de pano branco com alguns detalhes de costura cor-de-rosa. Peguei o pedaço de pano e o usei para limpar meu rosto:

– Viu só? – disse Bunny. – Agora você já pode sorrir de novo! Não se preocupe quanto ao choro. Todo mundo chora de vez em quando.

– Obrigado...

– Não precisa agradecer. – disse Jade. – Não fizemos nada de mais. Bem, agora que seu cérebro está realmente funcionando direito vou refazer a pergunta.

– Não precisa. Mina decisão continua a mesma.

– Imaginei.

– Que imaginou o quê. Você consegue ver essas bagaças.

– Hehehe. Pensei que você tivesse se esquecido. Enfim, já que você está decidido, é hora de mostrar como as coisas funcionam por aqui. Sigam-me!

Ela me mostrou o restante da mansão. Tudo estava bem conservado e a decoração era impecável. Aquele lugar definitivamente era maior por dentro do que por fora, principalmente por causa de um imenso porão onde eles armazenavam as armas. Havia muito mais gente do que eu imaginava e comecei a me perguntar como eles conseguiam dinheiro para manter tudo aquilo e, como se estivesse lendo meus pensamentos, jade logo respondeu:

– Deve estar se perguntando sobre o dinheiro, certo?

– Na verdade... Estou sim. Esse lugar é enorme e tem muita gente morando aqui. Pelo que eu saiba, vocês não cobram “impostos” dos moradores nem extorquem porcentagens dos lucros das lojas, então... De onde vem esse dinheiro?

– Eu sinto repulsa por esses métodos antiquados de se manter uma grande família de influência dentro de uma cidade. Meu pai adorava fazer desse jeito, mas eu remodelei a família inteira quando entrei na liderança.

– A diva Jade deixou isso aqui de um jeito que ninguém consegue criar uma reclamação sequer.

– Não é bem assim... Mas voltando ao que eu dizia, em vez de cobrarmos por segurança e roubarmos parte dos lucros eu decidi que seria muito melhor para todos se cooperássemos.

– Como assim?

– Simples: nós temos contatos e, com a ajuda deles, conseguimos desviar vários carregamentos de alimentos, medicamentos, produtos que se pode encontrar em qualquer loja local. Depois vendemos para os comerciantes locais a preços mais baixos do que os fornecidos pelas empresas. E como desviamos os carregamentos de graça, qualquer preço que colocamos já é um bom lucro!

Aquilo fazia sentido. Ela tinha controle sobre boa parte da cidade e ouvi dizer que também estava presente em algumas cidades vizinhas. Desse jeito o lucro seria sempre de, no mínimo, 100% e não haveria problemas com a população, já que isso não teria como ser mal visto por ninguém. E também justificava a certeza de que a população estaria ao seu lado, já que sua morte representaria a chance de aquele sistema ser substituído pelo “antiquado”. Essa garota era esperta e esse deveria ser o motivo pelo qual Lucas queria acabar com ela.

– Entendeu tudinho?

– Sim... É muito bem bolado.

– Obrigada.

– Então... Onde eu me encaixo nesse sistema?

– Boa pergunta! E a resposta eu só darei amanhã, no seu primeiro trabalho. Por hoje apenas descanse e aproveite para se enturmar.

– Tudo bem.

– Ah! Quase me esqueci. Você deveria ligar para Lisa. Olhei no seu celular e tinha algumas chamadas perdidas dela ontem à noite.

– Oh... Tudo bem eu... Espera, você fuçou no meu celular?

– Claro! Quase atendi, mas quando o peguei já tinha parado de tocar.

– Tudo bem... Obrigado... Eu acho...

As duas saíram e fora fazer... Alguma coisa. Decidi descansar e ligar para Lisa apenas depois do almoço, já que eu ainda não me sentia bem o suficiente para falar sobre o incidente no momento. Voltei até a sala, me esparramei novamente naquele sofá e fiquei ali o resto da manhã. Fiquei dormindo acordado enquanto pensava em tudo o que acontecera até ali. Minha vida nunca mais seria a mesma.


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Notas finais do capítulo

Cá estou novamente com mais um novo capítulo~
Espero que esse "revezamento" de pontos de vista não esteja ruim para vocês, leitores, já que sem ele não conseguiria passar tudo o que eu quero.
Enfim, espero que estejam gostando, agradeço a quem leu até aqui e até o próximo capítulo /o/



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