Paz Temporária - Olhos Amaldiçoados escrita por HellFromHeaven


Capítulo 27
De volta à sanidade




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Acabei me abrigando em um prédio abandonado que ficava próximo ao bar. Estava afiando minhas facas enquanto olhava a rua pela janela com muita atenção. Eu estava no quinto andar e, como já havia escurecido, não aprecia haver problemas em ficar ali. Sem falar que eu não estava raciocinando muito bem àquela altura. Depois que todas as facas do Sr. Hakkido já estavam devidamente afiadas e limpas, passei a organizar minha munição. Peguei todas as armas dos Harrisons que matei naquele bar e consegui uma boa quantidade de balas. O problema é que nem todos usavam o mesmo tipo de arma e, consequentemente, o mesmo tipo de projétil. Isso me garantia mais de uma opção na hora que as coisas apertassem (poderia usar uma arma em cada mão, por exemplo), mas limitava o meu tempo de uso.

Continuei ali... Na janela... Observando o movimento inexistente da rua enquanto o vento gelado sussurrava palavras indecifráveis por onde passava. No final, cansei de esperar que algo acontecesse, tranquei devidamente o quarto onde estava e decidi tentar dormir um pouco. É claro que isso não aconteceu. Pelo menos não do jeito que eu queria e precisava. Tive diversos pesadelos, um atrás do outro, onde eu conseguia me desamarrar daquela cadeira, mas nunca chegava a tempo de salvar a Jade e acabava caída de joelhos enquanto Lucas gargalhava como algum tipo de monstro. O complicado é que estava tão cansada que nem conseguia me levantar depois dos pesadelos, acabava dormindo de novo quase que imediatamente. A combinação disso tudo acabou me dando a maior maratona de pesadelos consecutivos que tive em toda minha vida.

Por fim, a manhã chegou e os tímidos raios de Sol que eram quase que totalmente bloqueados pelas nuvens passavam pelas frestas da janela e me indicavam que já era hora de levantar (mesmo que eu não tivesse dormido ou descansado nem um pouquinho sequer). Levantei como se tivesse sido atropelada por um rolo compressor diversas vezes e cai novamente na cama devido ao cansaço. Além do cansaço mental devido aos acontecimentos traumáticos recentes, eu tinha me esforçado bastante na última noite para matar todos aqueles infelizes. Sempre tentei manter a forma, mas o acúmulo de noites mal dormidas estava começando a pesar no meu organismo. Acabei tirando um rápido cochilo de uns dez minutos numa posição meio bizarra e acordei abafada. Fui até a janela e a abri lentamente. Havia uns três carros pratas parados em frente ao bar e pude ver cerca de cinco homens conversando junto a eles. Esses estavam armados com metralhadoras, para o meu azar.

Fiquei apenas os observando por um bom tempo até que mais dez homens se juntaram a eles. Todos usavam praticamente a mesma roupa, mas, mesmo assim, um deles me chamou a atenção. Era um cara baixinho com uma cartola preta que o diferenciava dos outros. Qualquer um acharia aquilo um tanto quanto ridículo... E isso porque era ridículo. Mas não era só isso que o destacava. Sua forma “verdadeira” era tão... Grotesca que quase vomitei enquanto se “transformava”. A soma de uma aparência excêntrica daquelas com essa alma totalmente corrompida só podia significar uma coisa: Cromak Steffans Jinx. Este, provavelmente, era um dos Harrisons mais famosos (mais até do que o próprio Lucas) e ganhou sua fama por ser um tremendo... Monstro. Não era nada mais do que um assassino profissional que trabalhava para o pai de Lucas e que continuou na “família” mesmo depois da mudança de líderes. Aliás, acreditam que ele preferiu assim, pois Lucas não se importava com a imprensa e muito menos estabelecia limites aos seus subordinados. O que aflorou a mente perversa de Cromak, resultando em várias notícias de assassinatos brutais relacionados ao baixinho.

Quando percebi de quem se tratava, só pude pensar em uma coisa: fudeu. Rapidamente peguei todo meu “arsenal” e comecei a me preparar para o pior. Posicionei minhas facas de maneira que pudesse pegá-las com facilidade e empunhei uma das pistolas. Deixei outra na minha cintura junta a um revólver, para o caso de não ter tempo de recarregar e sai lentamente do quarto. Aquele lugar... Digo... Qualquer lugar próximo àquele maldito não era um local seguro e eu precisava sair dali o quanto antes. O prédio em que me escondi estava praticamente caindo aos pedaços e comecei a descer as escadas lenta e cuidadosamente para não fazer nenhum ruído. O que foi praticamente em vão, pois quando cheguei às escadas do terceiro andar, dei de cara com dois Harrisons portando pistolas que se assustaram ao me ver. Admito que primeiramente fiquei sem reação, mas quando o da frente levantou sua arma contra mim, “acordei” e lancei uma das facas em sua testa.

Ele caiu de costas em cima do outro, que acabou largando sua arma enquanto tentava segurar seu companheiro e se manter de pé. Aproveitei essa brecha e saltei um lance de escadas para, então, passar minha faca no pescoço do segundo. O que aconteceu a seguir foi fruto de meu azar... Ou talvez do meu descuido. Aqueles dois infelizes foram indo para trás até cair pela janela que havia ali (francamente, quem coloca janelas em escadarias?), fazendo com que eles despencassem do prédio, se estatelassem no chão e toda a atenção fosse voltada para mim, que olhava entorpecida pela janela. Meus olhos acabaram se encontrando com o daquele monstro e... O mesmo deu um sorriso tão macabro que senti um arrepio percorrendo minha espinha e soube que era hora de correr... Correr muito!

Praticamente pulei todos aqueles lances de escadas até chegar ao térreo (o prédio era um pouco afastado do bar, então tinha tempo até que eles chegassem ali) e continuei correndo até trombar com outro Harrison. Ambos caímos, um para cada lado e levei minha mão à cabeça. Recobrei meus sentidos e me joguei em cima dele, esfaqueando-o logo em seguida. Recolhi minha arma, que tinha deixado cair com o tombo e continuei correndo. O que não durou muito, pois ouvi um disparo e senti uma grande queimação na minha panturrilha esquerda. Ignorei tal sensação e me joguei para detrás do balcão da recepção, ouvindo vários disparos. Peguei a outra pistola e, com as duas armas em mãos esperei alguns segundos em silêncio. Assim que ouvi passos ecoando por aquele ambiente vazio, levantei-me e atirei quase que sem mirar na direção dos sons. Deu certo e derrubei três deles e me escondi novamente. Enquanto voltava para minha cobertura, pude ver mais dois homens vindo pelo outro lado. Minha perna doía muito, mas não era hora para se importar com isso. Esperei mais um pouco e repeti o processo, tento êxito novamente.

Como, desta vez, não avistei mais ninguém, decidi dar uma olhada em meu ferimento. Por sorte, a bala pegou apenas de raspão na lateral da minha panturrilha, mas doía pra caralho e estava sangrando. Rasguei um pouco do meu casaco e amarrei em volta do machucado. Era pouco, mas teria que servir. Assim que cuidei dos “primeiros socorros”, voltei a prestar atenção no silêncio. Este permaneceu presente por cerca de cinco minutos aliado á tensão. Até que finalmente pude ouvir alguns passos... Mas para meu azar (presente bastante naquele dia), eles viam de ambas as direções. Comecei a bolar algum plano quando meu raciocínio foi interrompido por uma voz:

– Não adianta se esconder garotinha. Você está cercada e só lhe resta a morte. Mas para quê fazer isso do jeito convencional? Seria muito mais divertido se...

Aproveitei que o filho da puta estava falando e levantei-me com um braço apontando para cada lado e descarreguei as duas pistolas. Aquilo os assustou e apenas um conseguiu contra-atacar, mas logo morreu. Seu disparo passou de raspão na minha testa, fazendo um pequeno, mas doloroso, corte que começou a sangrar logo em seguida. Olhei ao redor e não encontrei o corpo do baixinho, embora todos os outros estivessem ali. Estava tentando descobrir onde ele poderia estar quando ouvi dois disparos e senti minhas armas sendo arremessadas de minhas mãos. Aquele filho da puta estava escondido atrás de um vaso (o que só era possível devido a seu tamanho), possuía um sorriso malicioso em seu rosto e empunhava uma pistola apontada para mim:

– Seus pais nunca te ensinaram que é falta de educação interromper os outros?

– Meus pais estão mortos e a culpa é de vocês, Harrisons.

– Woah! Acalme-se, pequena. Não será divertido se você continuar exaltada... Droga... O que estou dizendo? É claro que será! Hahahaha!

Ele começou a gargalhar histericamente e baixou sua guarda. Rapidamente arremessei uma das facas contra o mesmo. Acertei seu pulso direito, fazendo com que ele largasse a arma e gritasse de dor. Estava prestes a pegar mais uma faca, mas ele sacou outra arma e atirou em meu ombro esquerdo. Senti uma forte queimação e levei minha mão direita até o ferimento por puro instinto, caindo de joelhos para ficar coberta.

– Sua... Filha da puta! Eu já falei que não se deve interromper as pessoas! Argh... Agora eu estou puto!

– O que houve com sua formalidade de agora há pouco?

– Pra merda com essa formalidade! Você fudeu minha mão!

– E você o meu ombro!

– Acha mesmo que eu me importo? Assim que você levantar vou abrir um buraco no outro!

– Gostaria de ver você tentando!

– Então teste sua sorte! Faça meu dia!

A situação não era nada boa. Meu ombro sangrava muito e a dor proveniente do ferimento me impedia de pensar direito. Rasguei mais um pedaço do meu casaco com dificuldade e enrolei no machucado para, pelo menos, parar um pouco o sangramento. Eu podia até ser boa de mira e tudo mais, só que... Ele era um profissional e só não me matou porque não quis. Afinal... Aquele maldito baixinho me desarmou com a maior facilidade do mundo. Se eu não pensasse em algo rápido, acabaria morrendo. Foi aí que minha sorte decidiu aparecer. Ouvi novos passos seguidos de lentas palmas. Fiquei confusa de início, mas logo relaxei ao ouvir uma voz familiar que não ouvia há muitos anos:

– Muito bom senhor Cromak. Se divertindo como nunca, certo?

– Quem é você, baixinha?

– Baixinha, eu? Não acho que você esteja em posição de dizer alguma coisa... Pequeno príncipe.

– D-do que você em chamou?

– Qual o problema, pequeno príncipe? Seu cachorrinho não está mais aqui para lhe fazer companhia e se sente indefeso?

– I-indefeso?! C-como ousa dizer essas coisas?

– Oh... Sinto muito. Não queria mexer com seus pequenos sentimentos. Mas fazer o quê? Nem todo mundo nasceu para ser um homem de verdade.

– O... Como... Quem... Quem é você?!

Ouvi um disparo e levantei assustada. Mas aparentemente ele havia errado. Mas não era de se espantar, pois apontava a arma contra aquela pessoa com as mãos tremendo muito, mesmo segurando com as duas. Seus olhos estavam arregalados e uma expressão de espanto tomou o lugar de seu sorriso sádico. Aproveitei a oportunidade e decidi acabar de vez com aquilo. Peguei o revólver que estava na minha cintura e atirei contra o infeliz. Acertei sua testa e seu corpo caiu num baque abafado.

Depois de recuperar meu fôlego, pude então me concentrar no que realmente importava e olhei para aquela figura familiar. Era uma mulher baixinha, com cabelos negros e levemente bagunçados que iam até seus ombros. Olhos também negros e quase sem brilho, acompanhados de grandes olheiras me encaravam com um grande sorriso acolhedor. Sua pele, morena como a minha, indicava que era alguém do sul. Mas a verdade é que eu não precisava disso para saber de onde ela viera. Eu sabia exatamente de quem se tratava e corri (com dificuldade devido ao ferimento na panturrilha) o mais rápido que pude e a abracei com toda minha força:

– Irmãzona!

Quando percebi, ela também estava me abraçando e passava a mão em minha cabeça com dificuldade (devido à diferença entre nossas alturas) e... Bem... Eu estava chorando como uma criança que tinha acabado de encontrar os pais depois de se perder em um parque.

– Você passou por várias coisas, não é? Mas está tudo bem. Você não está mais sozinha.

Aquelas palavras acertaram meu coração em cheio e espantaram toda minha insanidade para longe de mim. Nisso, eu percebi o que tinha feito e... Bem... Chorei mais ainda. Ficamos ali por um bom tempo... E... Como posso dizer? Foi uma das sensações mais reconfortantes que senti em minha vida... Bem... Eu estava mesmo precisando daquilo.


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Notas finais do capítulo

*limpa suor imaginário da testa* Aqui está mais um capítulo maroto! Estou quase conseguindo atingir minha meta *u* Ah! Eu estava me lembrando aqui. No epílogo vou deixar uma imagem-bônus para meus queridos leitores. Não deixem que eu me esqueça ='D.
Enfim, estava pensando aqui e.,. Acho que não vai dar pra postar o capítulo amanhã no horário de costume D: Então postarei de madrugada, assim que eu terminar de escreve-lo (acharam que eu ia abandonar a meta, não é xD).
Bem, eu, particularmente, gostei muito de escrever esse capítulo. Espero que a carência de falas não deixe a leitura maçante. Pensei muito nisso quando elem estava pronto, mas não há como evitar. Era o único jeito de passar o que eu queria .-.
Agradeço a quem leu até aqui, espero que estejam gostando e até a próxima =D



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