Paz Temporária - Olhos Amaldiçoados escrita por HellFromHeaven


Capítulo 26
Acertando as coisas




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Foi complicado digerir a ideia de que Lisa passaria a lutar do nosso lado, mas... Bem... Como posso dizer... Ela sabe é muito persuasiva. No final, acabei me conformando e começamos a andar juntos até a mansão. Paramos bem em frente ao portão e apenas ficamos parados por um tempo observando todos os Valentines entrarem cabisbaixos no local (coisa que achei que nunca veria). Um clima pesado pairava no ar... Não seria estranho se estivesse chovendo... Ou no caso, nevando. Mas nenhum desses clichês estava presente. É claro que havia nevado na madrugada anterior, mas o clima estava até quente para o inverno e a brisa característica de Sahoc parecia ter se escondido em algum lugar distante. Depois de refletir sobre isso enquanto olhava para o céu, notei que Lisa não carregava nenhuma espécie de bolsa ou mala ou mochila... Enfim, qualquer objeto onde poderia carregar seus pertences. Estranhei, afinal... Se ela iria morar conosco, então era de se esperar que levasse seus pertences (eu só não o fiz porque tudo o que era meu virou cinzas).

– Lisa...

– Diga.

– Você falou que iria nos ajudar, certo?

– Sim!

– E com isso... Você quer dizer que morará conosco, certo?

– Sim... Por que as perguntas?

– Bem... Virá sem nenhum pertence, roupa, bichinho de estimação ou qualquer outra coisa?

– Ah! Então é isso que está lhe incomodando. Como eu disse anteriormente, falei com Bunny antes do enterro e já providenciamos isso.

– Oh... Entendo. Ela já lhe mostrou a casa?

– Não. E... Acho que isso aqui é grande demais para chamar de “casa”. – disse coçando a cabeça.

– Heh... Verdade. E é exatamente por isso que tenho a obrigação de mostrar o local. Vai que você se perde por aí.

– Não seria de se espantar, levando em consideração o meu probleminha de vista.

– Oh... Eu tinha até me esquecido disso.

– Não sei como pode se esquece de algo assim. Deve ser porque eu consigo lhe ver claramente. Daí fica fácil se movimentar com você por perto.

– Deve ser isso mesmo. Enfim... Chega de enrolação. Temos muito o que ver...

Entramos junto aos poucos Valentines que ainda entravam no local e comecei a mostrar toda a instalação a Lisa. A cozinha, a sala com seu sofá maravilhoso, a sala de jogos, os quartos, o sótão, o porão, o escritório da Jade... E, por último, o jardim. Paramos poucos passos à frente da porta que dava acesso ao mesmo e... Parei de repente. Não consegui prosseguir. Lisa andou um pouco à minha frente, mas logo notou minha imobilização repentina, voltou-se para mim e parou também. Olhei para minhas pernas e... Elas simplesmente não se moviam. Usei todo meu esforço, mas nada aconteceu. Foi aí que olhei ao meu redor e... Os rostos de Jade e Kimi apareceram diante de meus olhos.

Aquele belo e bem cuidado jardim com uma grande variedade de flores multicoloridas fazia um lindo contraste com a neve, já que algumas das flores ainda estavam aparecendo. Era um espaço muito bonito, porém... Triste. Triste, pois faltava algo... Ou melhor, faltavam algumas pessoas que nunca mais poderiam se deitar na grama ou simplesmente contemplar a beleza do mesmo. Memórias relacionadas às duas... Ao Will... Ao meu Pai... Enfim, a tudo o que ocorrera até aquele momento começaram a passar rapidamente em minha cabeça, como se fosse um vídeo acelerado até chegar ao presente. Quando me dei conta, lágrimas escorriam pelo meu rosto e Lisa estava me abraçando. Fiquei entorpecido por um momento, mas logo retribui o abraço e notei que ela também chorava. Aí foi o fim. Ver aquelas lágrimas escorrendo pelo rosto de minha amiga acabou com todas as minhas forças que usava para reprimir toda minha tristeza e frustração adquiridas nesses últimos dias e... Bem... Acho que nem preciso explicar direito o que houve.

Ficamos ali... Abraçados... Chorando... Um consolando o outro até que todos os sentimentos ruins se esvaíssem de nossos corpos e almas. Enxugamos nossas lágrimas voltamos a olhar a paisagem. Não sei quanto à Lisa (por causa do fato de ela ser praticamente cega e tal), mas por algum motivo... Não pude deixar de me encantar com o que via. A tristeza e a sensação de vazio que pairavam sobre o jardim, agora pareciam reforçar sua beleza. Aquela visão daria um quadro perfeito... Na verdade, acho que só ficaria perfeito se fosse primavera, já que assim poderia capturar toda a beleza existente ali.

Enfim, depois de ficarmos contemplando aquele local por cerca de uma hora... Ou seria mais... Ah... Não importa. Voltamos para a mansão e sentamos no sofá fodão. Aquela fora a última parte importante das instalações que deveria apresentar à nova residente, então estava com o resto do dia livre. Livre... Foi neste momento, quando tinha acabado de em aconchegar no sofá, que uma pergunta brotou na minha mente: “Sem a Jade, o que será dos Valentines?”. Isso me incomodou tanto que arrumei minha postura e levei a mão direita à minha boca. Quando estava começando a formular hipóteses, Bunny, como se tivesse ouvido meus pensamentos, entrou na sala e olhou para mim. Seu rosto não continha aquela expressão de “moleca sorridente” de sempre. Estava mais séria e... Vazia.

– Harry, Lisa... Preciso dos dois no porão... Agora.

Levantamos rapidamente e seguimos em direção ao local destinado em silêncio. Lá, encontramos James e Ana sentados em volta de uma mesa redonda. Ana não apresentava mais o gesso em seu braço e estava visivelmente abatida. James brincava com um canivete e... Estava com a expressão de sempre. Sentamo-nos também e esperamos. O silêncio foi o único a conversar durante uns dez ou vinte minutos. Depois disso, Bunny apareceu e sentou-se à mesa. Ela nos olhou um a um e depois repetiu o processo, suspirou profundamente e começou a falar num tom sério:

– Ontem tivemos uma grande... Não... Uma gigantesca perda na nossa família e... Sei que todos vocês devem estar se perguntando: “e agora?”. Bem... Foi para isso que os convoquei. Dentre todos os membros, são os que eu mais confio. Quanto à Lisa, sei que mal a conheço, mas ela será importante nos nossos próximos passos, então não há porque impedi-la de assistir a essa reunião. Enfim... Quero algumas sugestões antes que eu fale as alternativas em que pensei.

– Primeiramente... – disse Ana em um tom triste. – Eu gostaria de dizer que... Não me vejo em condições de propor nada... Eu... Digo, minha mente está uma bagunça e não consigo pensar direito.

– Tudo bem. Eu entendo. Mais alguém?

– Estou aqui apenas para cumprir ordens. – disse James. – Então o que o líder dos Valentines disser, eu cumprirei. E, com isso, gostaria de levantar uma questão: quem será o sucessor ou a sucessora da Jade?

– Já vou chegar nisso. Harry?

– Eu... Sou novo nessa vida e não posso ajudar muito na linha de frente, mas... Sinto que Jade gostaria que terminássemos o que ela começou. Não por vingança, mas sim para garantir a paz de Sahoc. E acho que a melhor pessoa para assumir o lugar dela seria... Você, Bunny.

– Bem... Eu... Não sei bem o que dizer... Lisa... Tem algo a dizer?

– O-o quê? Eu? Bem... Eu... Meio que caí de paraquedas nessa reunião e... Não estou muito por dentro dos assuntos que podem ser relevantes nessa situação, mas... Estou com vocês no que decidirem.

– Heh... Muito bem. Depois de passar a noite em claro pensando sobre toda a merda que está rolando e que poderá acontecer... Cheguei à conclusão de que não há como simplesmente desistir dessa guerra. Ou seja, os Valentines vão continuar existindo até ganharmos essa porra e pretendo comandá-los no lugar da minha amada. Mas isso me fez levantar outras questões, o que levou a duas alternativas. A primeira consiste em ganhar a guerra, fazendo com que os Valentines tenham controle total sobre a cidade. E a segunda seria parecida com a anterior, só que ao invés de manter o controle da cidade depois da vitória... Nós acabaríamos com os Valentines e deixaríamos a cidade livre das duas famílias. Como veem, derrota ou desistência não são opções válidas, mas preciso da opinião e dos votos de vocês para escolher o futuro de nossa família.

– Eu... Voto em manter o controle da cidade. – disse Ana. – Muitos de nós não têm para onde ir se isso tudo acabar.

– Concordo com ela. – complementou James. – Sem falar que nada garantiria que os Harrisons não voltariam assim que nos dissipássemos.

– Você tocou num ponto interessante. – disse. – Mas isso não vale apenas para os Harrisons. Qualquer um poderia formar uma nova organização e tomar a cidade, já que não teria ninguém para impedir.

– Eu... Acho estão certos... – disse Lisa. – Sem falar que o jeito de “controlar” da Jade ajuda bastante o povo mais pobre.

Bunny nos olhou um a um novamente e sorriu. Aquele não era um sorriso como os inocentes e descontraídos que costumava estampar em seu rosto. Este demonstrava uma determinação invejável e contagiante. Ou seja, a porra tinha acabado de ficar séria.

– Era exatamente isso o que eu queria ouvir. Eu realmente não estava com vontade de jogar todos esses anos que a Jade investiu em nós no lixo sem mais nem menos. Agora que isso foi decidido, só precisamos de um plano de ação para acabar de vez com esse conflito. Quero terminar isso o quanto antes.

Passamos o resto da tarde discutindo sobre como faríamos para acabar com essa porra o mais rápido e com o menor número de baixas possível. Optamos por uma abordagem direta, mas cuidadosa ao mesmo tempo. Como possuíamos contatos e espiões dentro da área inimiga, decidimos coletar algumas informações com eles e localizar todas as bases dos Harrisons. Com as coordenadas em mãos, só restaria comandar rápidas investidas nas mesmas. Depois disso, a única coisa que ficaria faltando seria eliminar o líder deles, Lucas (isso, é claro, se não o matássemos e uma dessas investidas) para acabar de vez com nossos inimigos.

Decidido o plano, Bunny foi anunciá-lo ao resto dos Valentines da mansão, James ficou encarregado de escalar os participantes das investidas e Ana de contatar nossos aliados que estavam em território inimigo. Lisa e eu fomos liberados, já que precisávamos estar com nossa mente descansada para as operações.

Aproveitamos a oportunidade e voltamos ao jardim. Lá, conversamos até anoitecer, entramos novamente, jantamos e, depois de conversar mais um pouco, fomos dormir. Deitei em minha cama e nem sequer encarei o teto. Fechei os olhos determinado a garantir nossa vitória. Afinal... Estava devendo isso a todos aqueles que perderam suas vidas no percurso.


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Notas finais do capítulo

Continuando a maratona de capítulos estou conseguindo cumprir minha meta ='D. Se as provas não atrapalharem muito, tudo indica que terminarei Cursed Eyes antes do fim de novembro!
Esse capítulo foi mias tranquilo, para dar uma pausa em todo aquele sangue da "rota" da Jackie. Enfim... Essa tranquilidade vai acabar nos próximos capítulos e... Quando eu paro para pensar no quão perto estou do término dessa fic eu fico emocionado ;u; Obrigado àqueles que me apoiaram e ainda me apoiam.
Agradeço a quem leu até aqui, espero que estejam gostando e até a próxima =D



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