Paz Temporária - Olhos Amaldiçoados escrita por HellFromHeaven


Capítulo 17
Rompendo barreiras




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Fomos direto à mansão para que Jade pudesse se despedir do pessoal. O caminho foi relativamente longo e ela conversou comigo durante todo o trajeto. Quando chegamos, Harry já havia saído para começar a grande operação de sua líder. Fiquei impressionada quando entramos, pois aquele lugar era muito maior por dentro. Estava observando os detalhes do interior quando outra garota chegou e abraçou Jade com força:

– Jade! Sua linda!

– Bunny delícia!

Apenas fiquei observando a cena confusa. E minha confusão aumentou incrivelmente quando as duas se beijaram. Não sabia o que fazer e senti como se estivesse em uma zona proibida. Estava quase saindo de cena quando as duas pararam e olharam para mim:

– Oh... Desculpe-nos... Nem te vi aí... – disse a garota.

– Bem... Jackie... Essa aqui é a Bunny. Minha namorada.

– Oh... O-olá...

– Ah! Você é aquela garota que deu uma surra no Lucas, não é?

– Não foi bem uma surra... Eu apenas o deixei inconsciente.

– Droga! Queria estar lá para ver isso. Gente como ele precisa apanhar um pouquinho de vez em quando mesmo. Agradeço em nome de todos os que o odeiam.

– Eu... É... Eu... De nada...

– Bem... Tenho que te falar meu plano completo antes de sair daqui. Jackie, como ficará comigo não há necessidade de lhe explicar agora. Pode ficar à vontade. Nós voltaremos logo.

– Tudo bem.

As duas saíram da sala e fiquei parada ali por alguns segundos. Depois de pensar um pouco, decidi guardar a imagem das duas se beijando apenas para mim e não contar para ninguém sobre o ocorrido. A sociedade não vê relacionamentos de pessoas do mesmo sexo com bons olhos, principalmente no meu antigo país. Aliás, o simples fato de alguém usar a expressão “pelos Deuses” por lá era motivo de encrenca. O governo ainda estava preso aos ideais da reforma cética. Pelo visto, esse não é o caso de Solene. Afinal, o país foi um dos fundadores do UDH. Enfim, é um lugar muito melhor para se viver. Voltei a mim e continuei observando os detalhes da decoração até as duas voltarem. Tenho certeza de que demorou bastante, mas nem percebi porque estava entretida.

– Desculpe a demora. – disse Jade.

– Oh... Não foi nada.

– Heh... Vejo que gostou da decoração da casa da minha linda e maravilhosa marida. – disse Bunny.

– Sim... Vocês decoram a casa de um jeito diferente das pessoas de minha terra natal. Se essa casa estivesse lá, as paredes estariam cheias de objetos decorativos.

– Entendo. Pelo jeito somos três estrangeiras aqui. – disse Jade. – Sou de um país no extremo ocidente chamado Mariesis. Meu povo costuma pintar afrescos nas paredes, mas decidi deixar assim pros Valentines de Solene não estranharem.

– Já eu sou do extremo oriente. Vim de um país chamado Drakhus. Minha família saiu de lá quando eu tinha uns dez anos, já que meu pai era daqui. Ou seja, sou uma mestiça. Enfim, lá essa casa seria de madeira, como todas as outras construções habitacionais.

– É interessante como há boas diferenças entre os países mesmo que exista apenas um grande continente. – disse Jade. - Imagina se fossem separados pelo mar? Aposto que até os idiomas seriam diferentes.

– É verdade... Mas daí seria bem mais difícil para todos conviverem. – disse. – Se bem que ainda existem alguns traços do antigo idioma. As pessoas do meu país costuma nomear as coisas usando-o.

– Meu nome é um desses casos. – disse Bunny. - Embora eu não tenha ideia do que signifique.

– Enfim, vim aqui para me despedir de você, minha linda. Espero que tudo dê certo e nós possamos ficar juntas novamente.

– Não fale assim! Tudo vai dar certo e nós vamos ficar juntas de novo!

As duas se abraçaram e pude ver lágrimas escorrendo de seus rostos.

– Me mantenha informada de tudo... Está bem?

– Pode deixar... Cuide da casa enquanto eu estiver fora. Se algo acontecer comigo... Quero que você assuma.

– O quê? Você... Tem certeza?

– Nunca estive tão certa de algo. Oh, na verdade... A única coisa da qual eu tenho mais certeza é meu amor por você.

– Ah... Não diga essas coisas na frente dos outros... Assim eu fico sem reação.

– Quando eu voltar vou lhe dar um beijo daqueles na frente de todos. Prepare-se!

– Tudo bem.

Jade e Bunny terminaram sua despedida e a primeira me deu uma grande mochila, enquanto carregava outra. Saímos da mansão e só então percebi que ela nãos estava usando suas roupas formais como de costume (sou distraída em relação a roupas). Apenas a segui até um prédio aparentemente abandonado na área neutra da cidade. Durante o trajeto, fiquei pensando na relação entre as duas garotas. Era algo diferente e... Estranho para mim, mas, ao mesmo tempo, me comoveu. Cheguei a me perguntar o que “Ela” pensaria daquilo, mas não consegui chegar a nenhuma conclusão. Então apenas decidi aceitar tudo, já que não tinha nada a ver comigo (outro pensamento roubado da Jessy). Subimos três lances de escadas e entramos no quarto de número 307. Diferente do resto do prédio, o quarto estava em ótimas condições. Jade logo colocou a mochila no chão, próxima ao sofá e se sentou. Fiz o mesmo e ela logo começou a me explicar as coisas:

– Antes que você pergunte esse aqui é um ponto estratégico que eu adquiri ano passado no caso de tudo dar errado. Por fora o prédio é uma desgraça, mas todos os quartos estão habitáveis. Vamos usar esse lugar como “quartel general” nas nossas operações. O pessoal lá de casa já começou a parte deles, então pretendo fazer o mesmo.

– Eles foram cortar os lucros dos Harrisons, não é?

– Sim. E nós vamos cortar os “contatos” dos mesmos.

– Por que as aspas?

– Como um grupo criminoso, assim como nós, os Harrisons precisam convencer parte das autoridades locais a deixa-los agir livremente pela cidade. No nosso caso, temos o prefeito e boa parte da delegacia do nosso lado, já que contribuímos para a economia de Sahoc. Já os Harrisons, utilizam suborno para se manterem aqui. Afinal, eles não trazem nada de bom para a cidade. Então o que vamos fazer, é falar com esse pessoal e dar nosso jeitinho para ferrar com os putos.

– Vocês sabem bastante sobre eles.

– É que a rivalidade entre os Harrisons e os Valentines vem da época em que meu avô mandava nas coisas. É claro que tudo ficou mais calmo quando eu assumi, mas sempre estivemos em conflito. Então, aproveitando nosso “tratado de paz”, decidi espioná-los para que pudéssemos ferrar com tudo caso eles nos desrespeitassem. E foi o que aconteceu.

– Entendo... Então, o que tem nessas mochilas?

– Oh! Quase me esqueci. São suprimentos, já que não sabemos quanto tempo isso vai durar. E algumas armas, claro. Você sabe como atirar?

– Sei. De onde eu venho, é normal aprender esse tipo de coisa na escola. Apesar de eu ter saído de lá muito jovem, pude aprender o básico e o resto meu pai me ensinou. Ele era um guarda noturno de uma empresa de logística daqui.

– Oh... Tinha me esquecido de que você é do sul. As coisas por lá devem ser meio complicadas.

– Você não tem ideia...

– Enfim, vou te dar uma delas para que possa se proteger. Não gosto de matar, mas farei isso se preciso. Afinal, tem muito mais do que apenas nossas vidas em jogo. Partiremos assim que terminarmos de nos arrumar. Pegue uma arma e torque de roupa. Vamos à luta!

Peguei uma calça preta, uma camisa branca simples e um casaco preto na mochila e os vesti. Também peguei uma pistola. Era mais gelada e pesada do que me lembrava. Mas, mesmo sendo uma ferramenta de tirar vidas, me trouxe uma sensação boa, nostálgica e tranquilizadora quando a segurei com as duas mãos mirando contra a parede. Talvez por me lembrar de quando meu pai me ensinara a atirar em latinha vazias de refrigerante. Ele sempre me disse que saber como manejar uma arma de fogo poderia salvar minha vida. Pelo jeito, ele estava certo. Levamos cerca de vinte minutos para aprontar tudo e logo saímos do prédio.

Ela foi à frente e andamos por uns dez minutos até que resolvi começar uma conversa:

– Então... Onde estamos indo?

– Vamos dar uma passadinha na prefeitura. Um dos vereadores aceita suborno dos babacas e convence os outros a deixa-los em paz.

– Entendo... Tem algum plano?

– Claro! Vamos improvisar.

– O quê? E desde quando improvisar é algo planejado?

– Esse tipo de “encontro” sempre é imprevisível, mas políticos são sempre covarde, o que facilitará nosso trabalho.

– Oh... Mas... Não sou boa em improvisar.

– Não tem problema. Deixe que eu fale. Apenas fique atenta caso ele tente fugir. Se isso acontecer, derrube-o com seus golpes milenares passados de geração a geração.

– Tudo bem... Geração a geração?

– Estou brincando. Só pra descontrair mesmo. Apenas ignore.

– Oh... Tudo bem então...

Chegamos à prefeitura em apenas quinze minutos. Ficava na área neutra da cidade e não era muito longe do nosso “quartel general”. Como os Valentines têm um acordo com o prefeito, chegamos facilmente à sala do tal vereador. Era um escritório grande com alguns arquivos de aço e uma mesa de madeira com um computador. O homem, que aparentava ter quarenta e poucos anos, estava olhando fixamente para o monitor do computador (mesmo com uma pequena pilha de documentos sem assinatura em sua mesa). Ficamos paradas por alguns minutos, mas ele não parecia ter nos notado, então Jade decidiu mudar isto:

– Boa Tarde!

O vereador apenas nos encarou por alguns segundos e logo voltou a olhar fixamente o monitor.

– Estou ocupado. Voltem mais tarde.

– É... Você realmente está ocupado... Tem uma reunião conosco neste exato momento!

Ele, então, voltou a nos encarar com uma expressão de desgosto e parou o que estava fazendo:

– Não veem que tenho uma enorme pilha de documentos para assinar? Vão embora!

– Não me venha com desculpas esfarrapadas! Estava mexendo no computador até agora! E essa pilha nem é grande.

– Eu... Não lhe devo satisfação nenhuma!

– É verdade... Mas e quanto ao prefeito?

– Eu...

– Ele é um grande amigo meu r aposto que adoraria saber disso.

– Não há necessidade disso... Eu... O que querem?

– Queremos que pare de aceitar suborno para acobertar os Harrisons.

O homem arregalou seus olhos e abriu sua boca. Seu tom de voz ficou tenso e suas mãos começaram a tremer.

– D-do que v-você está falando?

– Você sabe muito bem Sr. Joshua Gray Harvis.

– C-como você...

– Não lhe devo satisfação nenhuma! Tenho várias provas contra o senhor. Provas que podem acabar caindo “sem querer” nas mãos da imprensa.

– O quê? V-você n-não teria coragem!

– O único covarde aqui é o senhor! Não ouse me subestimar.

– Eu... Mas... Eles vão me matar!

– Claro que não. Os Valentines tomarão o controle de toda a cidade logo logo.

– Eu... Não sei...

– Bem, você quem decide. Caso concorde com meus termos, ninguém ficará sabendo do seu envolvimento com os filhos da puta e poderá viver sua vidinha miserável em paz. Agora, se discordar... Seremos obrigadas a lhe expor para a mídia e você passará um bom tempo atrás das grades... Ou morrerá. De um jeito ou de outro terei o que eu quero. Só vim aqui para não ser injusta contigo.

– Eu... Agradeço a consideração, mas... C-como posso ter certeza de que vocês são confiáveis?

– Pense bem, se eu fosse te passar para trás, por que me daria o trabalho de vir até aqui em primeiro lugar? E caso ainda tenha dúvidas, fale com o prefeito. Pergunte sobre nós e diga que a Jade mandou um “olá”.

– T-tudo bem... Eu... Aceito seus termos. Só espero que vocês cumpram com sua parte e tirem esses assassinos do poder...

– Pode ficar tranquilo! Se eu fosse uma Harrisons, você estaria morto agora.

Saímos do escritório do Sr. Harvis com a cabeça erguida, deixando-o em um estado de choque. Foi mais fácil do que eu pensei que seria. A senhorita Jade Valentine realmente não estava na liderança à toa. Cheguei a me perguntar se Bunny seria do mesmo jeito na hora de tratar de negócios e tive um pouco de inveja do jeito descontraído e autoconfiante das duas. Enfim. Deixando minha autoestima de merda de lado, o sucesso daquele encontro me deixou bastante animada. Estava pronta para a próxima!


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Notas finais do capítulo

Bem, eu avisei que demoraria, mas... aqui está mais um capítulo fresquinho!
Como já disse, estou aproveitando para passar mais tempo com minha irmã, já que ela está de férias e ando sem tempo para escrever. Mas tudo voltará ao normal quando as aulas voltarem... eu espero.
Ah! Uma curiosidade marota para vocês: amanhã irei no Anime Friends *joga confetes* /o/ vai ser daorudo e talz...
Enfim, espero que estejam gostando do rumo que a história está tomando. Agradeço a quem leu até aqui e até o próximo capítulo =D



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