Paz Temporária - Olhos Amaldiçoados escrita por HellFromHeaven


Capítulo 18
Abaixando os impostos




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/506167/chapter/18

Quando chegamos à mansão, ficamos dentro do carro por alguns minutos. Aquele foi o primeiro assassinato que presenciei em toda minha vida. Pelo jeito, Will era querido entre os Valentines, pois meus três companheiros pareciam emocionalmente abalados com sua morte (principalmente Kimi). Depois de nos recuperarmos, mesmo que apenas parcialmente, fomos relatar o ocorrido à Bunny. Esta, estava no escritório da Jade (aliás, era a primeira vez que eu via aquele lugar) usando óculos e lendo alguns papéis. Deve ter percebido por nossos rostos que algo tinha dado errado, pois seu sorriso característico desfez-se rapidamente ao nos ver:

– Olá... O que houve? Espere... O Will...

– Ele... – disse Kimi. – Fez seu trabalho de uma maneira exemplar até o fim!

– Entendo... Então não deixaremos que seu sacrifício seja em vão!

– Eu... – disse. – Não pude... Ele... Eu...

– Não se culpe. – disse Kimi. – Ele não quis lhe ouvir quando falou sobre o contador ou algo do tipo... Aquele... Idiota!

Os olhos da garota começaram a ficar marejados. E, por mais eu ela estivesse certa, eu ainda podia sentir o peso da impotência sobre minhas costas. Provavelmente notando que o clima estava ficando cada vez mais pesado, Bunny decidiu fazer algo a respeito:

– Então... Como eu fico de óculos? Sedutora, intelectual e irresistível, não é?

O comentário pegou todos de surpresa e, antes que pudéssemos perceber, estávamos todos rindo. Aquela maluca sabia mesmo como animar os outros. Ficamos daquele jeito por alguns minutos e foi o suficiente (pelo menos para mim) nos sentirmos melhor:

– Só você mesmo. – disse.

– Já lhes avisei que a tia Bunny proíbe rostos tristes aqui na mansão. Enfim, a Jade passou por aqui enquanto estavam sabotando os Harrisons e me explicou todo o plano, mas antes que possamos continuar preciso saber o que deu errado.

– Só tivemos problemas no Pequeno B. – disse. - Ele não quis aceitar o acordo porque acabaria perdendo lucros... Aquele puto... Mas os outros aceitaram sem nos causar quaisquer problemas. Teremos que tentar falar com o cara do Pequeno B de novo?

– Não há necessidade. A essa altura os Harrisons já devem estar cientes de nossas ações, ou seja, voltar lá em um pequeno grupo seria muito perigoso. Acho melhor continuarmos com o plano.

– Entendo.

– Como deu merda por lá, vou intensificar a segurança na nossa área da cidade antes de sairmos.

– Essa é uma ótima ideia, já que eles provavelmente ficarão muito putos. Afinal, o líder deles é uma criança mimada crescida.

– Exatamente! Boa parte do nosso plano conta com esse lado infantil do Lucas para funcionar direito. Enfim, o próximo passo consiste em cortar parte do lucro que esses filhos da puta têm com sua área.

– Os Harrisons têm vários jeitos de ganhar dinheiro lá dentro. – disse Kimi. – Por onde vamos começar?

– Boa pergunta! Nosso real objetivo não é cortar os lucros, pois isso levaria tempo demais. O que queremos é irritá-los e chamar sua atenção para que Jade consiga prosseguir com sua parte da operação. Toda semana, uns dois ou três Harrisons são encarregados de recolher certa porcentagem dos lucros das lojas naquela área. E esse dia é amanhã. Nosso trabalho será impedir que eles recolham o dinheiro usando qualquer meio possível ou seja, o confronto será inevitável. Por hora, estão dispensados. Aproveitem o resto do dia para relaxar e se preparar para amanhã. Ah... Menos você, Harry.

Todos se retiraram do local lentamente. Naquele momento foi possível notar que eles ainda estavam bastante abalados com todo o ocorrido. Bem, não era de se espantar. Fiquei parado em pé à frente de minha nova chefinha em silêncio até não poder mais ouvir o som dos passos de nossos companheiros. Quando tudo o que restou foi o silêncio absoluto, ela apontou para uma cadeira que estava encostada na parede. A posicionei em frente à mesa e sentei-me. Bunny, que até então continuava com seu belo sorriso, assumiu uma expressão mais séria e retirou seus óculos:

– Eu... Não entendo e acho que nunca entenderei totalmente como funciona esse seu lance de ver o... Coiso das pessoas...

– Contador.

– Isso! Admito que normalmente eu não levaria essa informação a sério, mas Jade disse que eu poderia confiar em você. Então farei isso. Amanhã iremos eu, você, Kimi e mais três Valentines especializados em combate. Você sabe como usar uma arma?

– Não...

– Era o que eu temia...

– Eu... Sinto muito...

– Estou brincando! Na verdade eu já contava com isso. Enfim, você ficará atrás de todos cuidando da nossa retaguarda. Quero que preste atenção nos nossos coisos...

– Contadores...

– Foi o que eu disse. Nos nossos contadores para que ninguém morra. É claro que algo pode dar errado e é bom que você não se sinta culpado se isso acontecer. Todos aqui entraram para a família sabendo que poderiam morrer a qualquer momento, então se alguém do seu grupo morrer, use isso como motivação para seguir em frente e não como uma pedra sobre suas costas.

– Eu... Tentarei fazer o meu melhor.

– Esse é o espírito!

– Ah! Um pergunta apenas por curiosidade: desde quando você usa óculos?

– Ah... Isso? – disse Bunny enquanto apontava para seus óculos que estavam em cima da mesa. – São apenas para leitura. Não se preocupe, eu vejo bem de longe e sou boa de mira. É que eu tinha o costume de ler antes de dormir... No escuro, então minha visão acabou ficando ruim para coisas próximas.

– Entendo. Mais alguma coisa?

– Não. Pode dormir no sofá agora.

– Ei... Não é minha culpa se aquele sofá é bom pra porra.

– Isso é verdade.

– Bem, vou nessa e... Obrigado pelas palavras... Foram reconfortantes.

– Manter a moral do membros elevada é uma das minhas funções, então não se preocupe com agradecimentos. Apenas fique feliz e eu também ficarei.

Saí da sala sorrindo e fui direto ao meu quarto (não, desta vez resisti aos encantos do sofá). Tomei um longo banho quente e deitei em minha cama. Fiquei olhando para o teto enquanto pensava em tudo o que havia acontecido até aquele momento. De repente, o rosto de Lisa veio à minha mente e, depois de lembrar-me de que ainda possuía seu número, senti uma imensa vontade de telefoná-la.

Comecei, então, uma busca pelo meu telefone que durou cerca de meia hora (aquele maldito estava dentro da minha gaveta de cuecas e não tenho a mínima ideia de como ele foi parar lá). Logo depois, descobri outro obstáculo: estava sem bateria. E lá se foram mais trinta minutos até que eu achasse um Valentine com o mesmo modelo de telefone que o meu e pregasse o carregador emprestado (o meu estava na minha casa quando ela pegou fogo). Pluguei-o na tomada e, depois de esperar alguns segundos, pude finalmente liga-lo. Rapidamente telefonei para Lisa.

Depois de esperar um bom tempo, ninguém atendeu. Pensamentos como “ela deve ter saído” e “talvez esteja ocupada” passaram por minha cabeça. Para minha surpresa, alguns minutos depois ouvi o toque do meu telefone e rapidamente o atendi:

– Oi!

– O-olá... Harry?

– É... Sou eu mesmo.

– Oh... Desculpe-me por não atender antes. Meu telefone estava camuflado em cima da minha cama, já que minha visão é... Coisada.

– Não tem problema. Estou à toa mesmo.

– Entendo... Então... Como vão as coisas?

– Mais ou menos. Ando ocupado com a “guerra” contra os filhos da pu... Contra os Harrisons. Até perdemos um companheiro hoje... Eu... Não pude fazer nada...

– Nossa... Sinto muito... Não fique assim. Aposto que a pessoa não gostaria que você ficasse se lamentando. Força!

– Agradeço pelas palavras de incentivo. Bem... E você? Como vai?

– Já me recuperei psicologicamente de minha última aventura e, pelo jeito, mais nenhum Harrison veio nos perturbar.

– Isso é ótimo! Fico feliz que esteja bem.

– Obrigada. Bem... Só por curiosidade... Por que me ligou?

– Eu... Não sei ao certo. Apenas tive vontade de fazê-lo.

– Oh... Que bom...

– O quê?

– Nada! Eu... É... Tenho que ir agora... Tchau.

– Tchau. Até... A próxima.

– Sim! Ainda não me esqueci da sua proposta. Logo poderei tocar violino para você.

– Estarei esperando ansiosamente.

Desliguei o telefone e decidi tentar dormir. Tudo indicava que teria uma ótima noite de sono, pois me senti muito bem depois de falar com Lisa. Pena que não foi bem assim... As imagens do cadáver carbonizado do meu pai e de Will sendo baleado foram as grandes estrelas dos espetáculos chamados “meus pesadelos”. Como resultado, estava me sentindo horrível pela manhã e, como sairíamos antes do meio dia, não poderia nem tirar um cochilo poderoso no sofá milagroso.

Aprontamo-nos e entramos no carro rumo à parte Harrison da cidade. Um dos tais “especialistas em combate” estava ao volante e Bunny estava no banco do carona. Eu, Kimi e mais dois estávamos atrás. Desta vez, estávamos em uma van branca, muito utilizada em transporte de mercadorias pequenas (o que nos garantia um leve disfarce). Levamos cerca de vinte minutos para chegar até nosso destino: um bairro comercial de médio porte localizada na áreas dos Harrisons. Paramos a van em um beco e Bunny se virou para nós:

– A partir de agora a coisa ficará séria. Harry para facilitar seus “comandos”, vou apresenta-lo aos três. Esse aqui ao meu lado é James e será meio que o “guia” dessa operação, uma vez que já fora um Harrison. Os outros dois ai são Bretan e Ana.

– James... Bretan e... Ana. Tudo bem.

– Todos aqui sabem que os putos são muito confiantes, certo? Hoje, nos aproveitaremos disso. Parece que eles nunca pensaram que poderíamos tentar impedir essa coleta de impostos porque apenas mandam uns três ou quatro membros para a tarefa. Isso torna tudo mais fácil, claro. Ficaremos de guarda no bar da esquina, disfarçados de clientes e, assim que os malditos entrarem iremos rendê-los. Tentem evitar tiroteios.

Saímos da van e entramos no bar (todos menos Bretan). Pedimos algumas bebidas e sentamos espalhados pelo local para não levantar suspeitas. Ficamos cerca de dez minutos esperando até que três homens entraram e foram direto até o balcão. O do meio bateu algumas vezes contra a madeira e olhou com desgosto para o proprietário. Este foi em sua direção aparentemente nervoso:

– O-olá senhor Harrison.

– Não me venha com formalidades. Cadê o dinheiro?

– B-bem... Os negócios vão mal esse mês... Então...

– Nós não ligamos para como seus negócios vão! Apenas nos dê o dinheiro e iremos embora!

– Bem... Eu... Não tenho.

O homem levantou o proprietário pela camisa e começou a gritar com o mesmo, que estava aparentemente desesperado. Bunny estava em uma cadeira bem próxima aos três e nos deu um sinal para agir. Rapidamente levantou, sacou sua pistola e deu uma forte coronhada no Harrison mais próximo. Este caiu de cara no balcão, fazendo com que seus companheiros virassem. Kimi, que também estava próxima, mas na direção oposta, correu e deu uma bela voadora na cara do outro. Deixando apenas o homem que estava segurando o proprietário acordado. O Harrison logo ficou puto:

– Que merda está rolando aqui? Decidiu se virar contra nós, maldito?

Ele estava prestes a sacar sua arma, mas Bunny pressionou o cano de sua pistola contra a cabeça do infeliz, que “congelou” imediatamente.

– Ele não tem nada a ver com isso. O buraco é muito mais embaixo, seu puto.

– Q-quem são vocês?

– Somos Valentines e a partir de hoje, nenhum morador de Sahoc terá que pagar impostos para vocês.

– Acha mesmo que sairá impune?

– Estou pagando para ver.

– Entendo... Nesse caso...

A essa altura, James, Ana e Kimi cercavam o homem com armas em punhos. Enquanto isso, eu apenas observava toda a ação de uma cadeira distante do balcão. Notei que todos os contadores começaram a cair rapidamente e percebi que era hora de agir:

– Abaixem-se!

– Deu merda! – disse o Harrison.

Consegui ser mais rápido do que o maldito e todos se abaixaram a tempo. Uma rajada de balas atravessou as portas do bar e atingiu tanto o Harrison quanto o pobre proprietário. Por sorte, nenhum dos nossos foi atingido. Havia mais dois homens lá fora com metralhadoras. Um tiroteio logo começou. Os Valentines pularam para trás do balcão e o utilizaram como barricada enquanto os Harrisons avançavam. A ação não duraria muito, pois os contadores dos filhos da puta estavam bem baixos. Aproveitei que ainda não tinha sido notado e me escondi atrás da minha mesa. Logo notei Bretan chegando cautelosamente do lado de fora do bar. Meus companheiros dentro do bar estavam acuados pela diferença de poder de fogo e seria muito arriscado para o Bretan atirar nos dois sozinho. Então, como estava praticamente invisível, decidi criar uma distração (mesmo que fosse muito arriscado). Peguei uma garrafa de cerveja que estava no chão e a atirei contra os dois, atingindo um deles na cabeça. Eles, então, se viraram para mim criando uma brecha para Bretan que logo começou a atirar. Ele foi seguido dos outros Valentines e, depois de apenas alguns segundos, os dois Harrisons estavam no chão.

Havia buracos de bala por toda a parte e um cheiro forte de sangue e carne queimada podia ser sentido. No final, alguns civis morreram, Ana levou um tiro no ombro e o bar foi destruído, mas tenho certeza de que nosso recado estava dado. Afinal, dois Harrisons sobreviveram e nos certificamos que eles levariam a notícia de que não havia mais lugar para eles ao Lucas.

Fiquei feliz por tudo ter saído como o planejado, mas, ao mesmo tempo, não gostava da ideia de ver gente morrendo. Podia ter certeza de que a imagem dos dois Harrisons sendo baleados por todos os lados teriam uma participação especial nos meus pesadelos dali para frente, mas não havia o que fazer. Ah! E eu tinha certeza de mais uma coisa: aquelas não seriam as últimas mortes que eu presenciaria.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Demorei para terminar esse aqui... Sinto muito :c
É que ando desanimado para escrever...mas... ainda escreverei!
Não vou deixar esse sentimento me impedir de terminar minha fic u.u
Enfim, Agradeço a quem leu até aqui, espero que estejam gostando e até o próximo capítulo =D



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Paz Temporária - Olhos Amaldiçoados" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.