Paz Temporária - Olhos Amaldiçoados escrita por HellFromHeaven


Capítulo 16
Sabotagem




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Voltei para a mansão e me esparramei no sofá (eu sei que falo demais desse móvel, mas não posso fazer nada quanto a isso). Fiquei ali apenas alguns minutos, pois Bunny logo me chamou. Segui sua voz até chegar ao porão. Pelo jeito, aquele era o lugar onde todas (ou pelo menos 90%) das reuniões aconteciam. Havia uma mesa e Will, Kimi e a própria Bunny estavam sentados. Sentei em uma das duas cadeiras vazias e apenas esperei. A senhorita bom humor encarava o lugar vazio, apreensiva. Provavelmente estava reservado para a Jade. Só naquele momento notei que ela ainda não voltara. Demorei bastante no caminho para a mansão, já que tive que levar a Lisa para sua casa e... Confesso que andei vagarosamente, pois estava digerindo as informações adquiridas no encontro. Passados dez minutos, o celular da garota apreensiva tocou e ela se ausentou. A ligação não demorou muito e ela voltou com uma expressão mais tranquila no rosto:

– Então gente... Recebi um telefonema da nossa chefe linda e maravilhosa e parece que ela não virá para a reunião. Disse também que não participarei dessa operação porque ela ficará longe da mansão por um tempo. Logo, eu terei que tomar conta do lugar.

– Então... Aconteceu alguma coisa? – perguntou Kimi.

– Nada preocupante. Faz parte do grande plano para acabar com os Harrisons. Pelo jeito, ela virá aqui mais tarde para me contar os detalhes, mas como vocês já estarão no meio do trabalho terei que ficar aqui.

– Não se preocupe Kimi. – disse Will. – Vindo da Jade, deve ser algo bom.

– Sim, mas...

– Não se preocupe! – disse Bunny. – Ela é linda demais para morrer. Enfim, vamos aos negócios.

Ela arrastou um quadro branco apoiado em uma espécie de cavalete e o colocou à nossa vista. Havia alguns nomes de empresas escritos nele.

– Muito bem. Essas são as empresas que fazem negócios com os Harrisons. A Falls Motor provém carros e atenção para os mesmos. A Dynnamo, armas e munições. A Pequeno B... Drogas. E a Carlos Eletrônicos, matérias eletrônicos para que eles possam “grampear” telefones e controlar redes de segurança. Ou seja, é tudo o que eles precisam para manter o controle de sua área. O que vamos fazer é simples, mas arriscado: vamos sabotar algumas negociações que ocorrerão hoje na Dynnamo, na Carlos Eletrônicos e na Pequeno B. Assim, vamos desestabilizá-los.

– Parece uma boa ideia. – disse Will. – Mas... Seremos apenas nós três?

– Não. Vou mandar mais dois membros junto com vocês. Nesse tipo de operação quanto menor o grupo, melhor.

– Bem... Como faremos para sabotar as vendas? – perguntei.

– Façam o que for preciso. Ameacem, subornem, chantageiem... Só não matem nenhum civil. Caso dê merda, vocês estão autorizados a matar todo e qualquer Harrison que aparecer pelo caminho. Mas somente em último caso. Tentem fazer isso “às escondidas”.

– Ótimo! – exclamou Kimi. – O que os dois estão esperando? Não há tempo a perder!

– Ela está certa. Vamos Harry.

– Tudo bem.

– Ah! Mais uma coisa Sr. Harry.

–... Senhor?

– A Jade disse para você ficar de olho nos... Contadores ou algo do tipo e guiar o pessoal. Não entendi bosta nenhuma, mas ela falou que você entenderia... Você entendeu não é? Pelo amor dos Deuses diga que sim.

– Eu entendi. Pode ficar tranquila.

– Ótimo! Ficarei aqui cuidando do “quartel general”. Boa sorte!

Apenas no momento em que pisei no último degrau das escadas daquele porão a minha ficha caiu e senti o peso da responsabilidade que estava agora em meus ombros. Vários pensamentos brotaram em minha mente simultaneamente, mas posso resumi-los em apenas duas palavras: “agora fodeu”. Entramos em um dos carros dos Valentines e aguardamos os outros dois membros. O carro era de um modelo bastante comum no país, o que nos dava certa camuflagem. Não demorou nem cinco minutos para os outros dois chegarem. Logo começamos a nos mover. Will estava no volante e eu estava ao seu lado. Todos pareciam muito calmos, o que me deixava ainda mais nervoso.

A primeira parada seria na Dynnamo. Como era uma fabrica de armas, eu estava muito apreensivo. Muita coisa poderia dar errado, então decidi checar os contadores de cada um antes de sair do carro. Nenhum deles viveria muito, mas pelo menos tive certeza de que não morreriam naquele local. Pelo que Bunny dissera, tínhamos aproximadamente uma hora antes dos Harrisons chegarem ali. Então teríamos que acertar as coisas com o proprietário antes disso.

Um dos dois membros que nos acompanharam ficou dentro do carro no banco do motorista (caso desse merda) e o outro ficou em uma esquina próxima ao local (para ficar de guarda). Nós três entramos e, depois de falar com os atendentes, fomos diretamente à sala do proprietário da fábrica. Na verdade, a produção acontecia em outra cidade. Ali era apenas um “escritório” onde as pessoas faziam encomendas e toda a parte burocrática era realizada. Também era ali onde as encomendas ficavam armazenadas para os clientes “especiais”. Tecnicamente, o porte de armas de fogo era ilegal em todo o país e aquela fábrica fornecia seus produtos para o governo. Mas como dinheiro é o poder em forma de papel, eles acabavam cedendo parte de sua produção a quem estivesse disposto a pagar. Não deveria sair barato, mas era o jeito.

Enfim, entramos na sala do cara. Era bem grande, mas não tinha muita coisa. Apenas uma mesa com um computador e vários arquivos de aço. Ele, um homem na casa dos quarenta anos com ralos cabelos loiros, olhos azuis e óculos, estava lendo um documento enquanto fumava um cigarro. Ficamos parados à sua frente até que ele terminar sua leitura. Logo, o homem nos olhou e perguntou um pouco confuso:

– Seus rostos não são familiares. O que querem?

– Algo simples. - disse Will. – Queremos que vocês parem de negociar com os Harrisons.

O homem arregalou seus olhos e começou a tremer. Pequenas gotas de suor começaram a surgir em seu rosto.

– Eu... Não sei do que estão falando. Não me envolveria com esse tipo de gente.

– Tem certeza? – perguntou Kimi. – Então acho melhor a gente avisa-los para nem virem aqui.

– Pois é. – continuou Will. – Seria uma total perda de tempo passar aqui mais tarde se não encontrarão nada.

– Que... Quem são vocês?

– Somos os Valentines e se não quiser problemas com o governo, apenas pare de se envolver com aqueles putos. – disse Will.

– Eu... Vocês... Vocês não podem provar nada!

– Eu não teria tanta certeza. Temos várias fotos que ficariam ótimas nas primeiras páginas dos jornais.

– Onde estão? Não estou vendo nenhuma com vocês.

– Não somos idiotas a ponto de trazê-las conosco. Estão à salvo.

– Então não há provas de que as mesmas existam. Não vão conseguir nada comigo assim.

– Oh... Então você prefere arriscar? Tenha em mente que se sairmos por aquela porta sem que você tenha concordado em parar suas negociações com os Harrisons, enviaremos as fotos diretamente para o governo. Ah! E se demorarmos demais para sair, nosso companheiros têm ordens de fazer o mesmo.

Era realmente uma chantagem impossível de se ignorar e o homem começou a suar. Depois de murmurar algumas coisas, ele finalmente aceitou e saímos nos sentindo vitoriosos. Acabei não fazendo nada, mas isso acabou sendo bom. Voltamos ao carro e seguimos até o próximo destino: Carlos Eletrônicos. Era apenas um pequeno prédio que prestava serviços de manutenção e vendia produtos eletrônicos, especializados em computadores. Kimi me explicou durante o trajeto que eles eram ameaçados pelos Harrisons por estarem em seu território e, assim, eram obrigados a fazer serviços sujos para os mesmos. Resumindo, provavelmente seria fácil convencê-los.

Chegamos ao local e agimos como no anterior. Chequei novamente os contadores e estava tudo bem. O local era menor do que a Dynnamos, então foi fácil chegar até o proprietário. Este era um homem de aproximadamente trinta anos, ruivo, com olhos azuis e uma expressão apreensiva no rosto. Verifiquei as horas e ainda tínhamos, pelo menos, quarenta minutos até os Harrisons chegarem. Dessa vez, Kimi decidiu falar:

– Você é o dono desta bagaça, não é?

– Sim. O que deseja?

– Oh... Gostei do atendimento... Eu desejo que vocês cortem suas conexões com os Harrisons.

Ele arregalou os olhos e ficou boquiaberto. Todos os outros funcionários pararam o que estavam fazendo e nos olharam assustados.

– Co... Como vocês sabem?

– Não importa! Apenas parem de trabalhar com eles que tudo acabará bem.

– Não podemos! O Lucas me mataria!

– Fique tranquilo. Faça sua parte e nós garantiremos sua proteção. Sua e de seus funcionários, é claro.

– O que te faz pensar que consegue fazer isso? Quem são vocês afinal?

– Somos Valentines. Esse prédio fica próximo à área neutra da cidade. Então não há problema algum! Vamos simplesmente tomar essa área para nós. Isso, é claro, se pudermos contar com vocês.

– Eu... Espere. Isso quer dizer que também pediriam para fazermos trabalhos ilegais? Porque não quero trocar seis por meia dúzia!

– Acalme-se! É claro que não! Só precisamos que vocês parem de fazer esses trabalhos para os filhos da puta. Assim os recursos deles são reduzidos. Não temos nenhum interesse nesse tipo de atividade.

Ele coçou a cabeça e olhou para seus funcionários como se pedisse uma opinião. Todos pareceram concordar com a proposta.

– Posso até aceitar... Mas o que eu falo para os desgraçados que virão daqui a pouco?

– Diga que farão o serviço, mas não façam ué.

– Quer me matar garota? Eu tenho amor à vida!

– Droga! Dá para você me escutar?

– Desculpe-me...

– Diga que fará o serviço, mas dê um prazo de, pelo menos, uma semana. Até lá já estaremos com essa área sob controle.

Ele acabou aceitando e saímos rapidamente do local. Entramos novamente no carro e dirigimos até o último destino: Pequeno B. Eu já estava começando a ficar entediado, já que nem tive que falar nada. Mesmo assim, chegamos ao lugar. Era um grande galpão afastado do centro, mas ainda na área dos Harrisons. Foi mais difícil de entrar, mas acabamos conseguindo. Havia poucas pessoas lá, já que a maior parte do galpão estava sendo ocupada por uma enorme plantação de ervas. Alguns dos funcionários estavam armados, o que me deixou nervoso. Will decidiu negociar:

– O que querem?

– Parem de vender drogas para os Harrisons.

Ele olhou para os outros funcionários e depois novamente para Will.

– Tudo bem. Mas se a gente parasse de vender para ele... O que faríamos com essas ervas?

– Venda para empresas farmacêuticas. Dependendo do que você mistura, elas podem se tornar medicamentos.

– Oh... Entendo... Você está de brincadeira com a minha cara, não é? Acha mesmo que eu trocaria esse negócio? Eu nunca ganharia tanto dinheiro por meios legais. Saia daqui antes que eu me irrite de verdade.

O cara estava certo. Seria burrice desistir facilmente de um negócio tão lucrativo quanto o tráfico de drogas. Mas Jade tinha sido clara quanto a usar qualquer meio possível para conseguir, então Will continuou firme:

– Realmente, vender diretamente para as empresas não daria muitos lucros comparando ao sua atual margem de ganhos. Afinal, essas empresas são exigentes e não aceitam qualquer erva. Teriam que gastar com produtos para manter os insetos longe e fertilizantes adequados.

– Vá direto ao ponto.

– O que diria se nós pudéssemos conseguir esses materiais por um preço miserável?

– Fale mais...

– Nós podemos arranjar esse tipo de coisa direto do fabricante e enviar para vocês. Assim seu custo de produção será mínimo e a qualidade dos produtos elevada.

– Parece bom, mas ainda assim o lucro seria menor.

– Sim... Eu sei, mas...

– Mas nada. Suma daqui! Logo teremos negócios a tratar.

Estávamos andando em direção à saída cabisbaixos, sem dizer nada. Dei uma rápida olhada em seus contadores e estava tudo tranquilo... Até que Will parou e deu meia volta. Seu contador baixou de dias para alguns minutos e meu coração disparou:

– Que merda você está fazendo?

– Vou terminar o que começamos.

– Ele não vai aceitar cara. Vamos embora!

– Por que o desespero? Temos gente vigiando, então não seremos pegos de surpresa pelos Harrisons.

– Eu sei, mas... Seu contador... Está quase zerado.

– Contador? Ah é... Você tem aqueles lances de ver coisas estranhas. A Jade pode acreditar nessas baboseiras, mas eu não.

Eu... Deveria ter tentado impedi-lo com mais convicção... Bem... Não é hora para ficar se lamentando. Will me ignorou completamente e foi até o proprietário. Eu e Kimi ficamos esperando próximos à porta. Não podíamos entender o que eles falavam, mas o homem ambos pareciam irritados. Seu contador “descia” cada vez mais rápido, assim como as gotas de suor frio em meu rosto. Aí... A tensão chegou ao seu pico. Eles estavam discutindo até que Will virou suas costas e voltou a caminhar em nossa direção. O homem sacou um revólver e disparou três vezes contra nosso colega. Um dos projéteis acertou sua cabeça e fez um buraco ao sair por sua testa. Ficamos estáticos por alguns segundos.

Fui o primeiro a sair do transe e olhei para Kimi. A pobre garota suava e tremia muito. Olhei novamente para frente e vi que todos os funcionários armados estavam começando a se movimentar e o proprietário nos encarava com raiva. Peguei no braço da minha companheira e corri o mais rápido possível. Ouvi vários sons de disparos atrás de nós, mas fingi que eram apenas fogos de artifício e continuei avançando até o carro. O nosso colega já tinha ligado o carro. Entramos e saímos cantando pneu. Recolhemos rapidamente o outro membro que estava de guarda na esquina e seguimos de volta à mansão. Kimi ainda estava em transe e lágrimas escorriam por seu rosto. Ninguém disse uma palavra até chegarmos no “quartel general”. Eu tinha falhado na única missão a qual tinha sido incumbido. Durante o trajeto, fiquei pensando em como contaria isso para a Bunny... E como olharia novamente para a Jade? Ela tinha confiado em minha e eu a decepcionei... Bem... É a vida...


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Notas finais do capítulo

Bem... acabei saindo da rotina e acho que não voltarei por um tempo indeterminado. Minha irmã entrou de férias, então vou aproveitar para passar o tempo com ela... o que significa que vai ficar difícil pra escrever.
A história está ficando mais animada, não é? 8D
Agradeço a quem leu até aqui, espero que tenham gostado e até o próximo capítulo =D



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