Novo Mundo escrita por Mi Freire


Capítulo 3
Quanta ousadia!


Notas iniciais do capítulo

Algumas coisas que acontecem nesse capítulo vão definir melhor o relacionamento entre o David e a Alison. Eles são diferentes, mas acabam se dando bem. Têm lá seus altos e baixos.



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Alison o convidou para entrar em seu apartamento com um simples gesto. Gael sempre muito atirado – mesmo se mostrando durão na maior parte do tempo – correu até David e o mesmo inclinou-se para brincar com o cachorro. Alison ficou de longe, observando aquela cena. Imaginando pois quais motivos Gael havia gostado tanto de David assim logo de cara, sem nem conhece-lo. Da mesma forma que aconteceu com ela, mas que não poderia admitir isso em voz alta.

— Como você me encontrou aqui?

Ele riu, colocando o vinho sobre a mesinha ao lado do sofá.

— Ruivinha, esqueceu que eu te acompanhei até a porta do seu prédio naquela noite de chuva?

— Na mesma noite em que eu disse: nada de apelidos.

— O.K ruivinha, desculpa. É que...

— Nada de apelidos! – repetiu ela, impaciente.

— Ta bom, Ali. Mas como eu estava dizendo...

Ela se deu por vencida, pelo visto ele não tinha entendido muito bem o que ela quis dizer. E também, não queria brigar. Não quando ele justamente tinha aparecido, mesmo tão tarde da noite.

— E isso aqui é pra você. – ele deu um passo à frente, estendendo finalmente o buquê de flores para ela. — E o vinho também.

— Obrigada. É muito gentil da sua parte. Mas você não acha que um simples buquê de flores vai me seduzir, acha? E pra ser sincera, eu não bebo nada alcoólico. Mas fique à vontade para se servir um pouco...

— O quê? Não. De forma alguma. – ele riu, sentando-se. Antes mesmo dela convidar. — Eu não vim até aqui para seduzi-la. E você tem um namorado, eu vi ele saindo quando cheguei. As flores são um gesto de... Carinho. E o vinho, ah, bom, eu não podia imaginar que você não...

— Tudo bem. – ela o interrompeu. — Obrigada de qualquer forma. Vou na cozinha pegar uma taça pra você. Não demoro.

Alison pegou uma jarra vazia, encheu com água até a metade e colocou as flores dentro, para que não morrerem tão cedo. As colocou perto da janela entreaberta, para sentirem o ventinho entrar. No armário da cozinha ela procurou por uma de suas taças que ganhou de alguns colegas da Universidade no primeiro ano. Mesmo que nunca tivesse chegado a usa-las, pois ela não bebe. Em hipótese alguma.

— Aqui está. – ela entregou a taça a ele, sentando-se no sofá menor ao lado e cobrindo o colo com as almofadas.

David que já havia abrido a garrafa sem qualquer dificuldade, se serviu e colocou a garra de lado, dando seu primeiro gole no liquido.

Não era comum receber estranhos em sua casa, mas David não era qualquer estranho. E também, estava começando a se sentir incomodada por não está vestida a propriamente, com um moletom velho azul-bebê de ficar em casa e meias coloridas.

Pelo menos os cabelos ruivos estavam bem penteados.

Já ele parecia a vontade, mesmo estando ali pela primeira vez, como se fosse de casa. Usava um jeans preto, uma jaqueta escura e sapatos também escuro. Discreto e charmoso.

— Posso saber porque você não bebe? – ele perguntou curioso, voltando seus olhos para ela.

Gael deitou-se no meio do carpete no centro da sala.

— Você sabia que o consumo de bebidas alcoólicas está ligada a diversas doenças? Como hepatite alcoólica, cirrose, gastrite, perda de sensibilidade no corpo, alteração dos reflexos, câncer, entre muitas outras. Além da dependência, claro. Que também é um fato muito agravante. Com o consumo constante de bebidas alcoólicas o organismo passa a necessitar de quantias cada vez maiores de álcool, podendo levar a pessoa a perder o controle e ter compulsão à bebida. – ela suspirou, havia falado rápido demais. E ele nem piscou, surpreso. — Eu penso no meu futuro sabe? Penso nos meus filhos, penso na minha saúde...

— Já entendi. – ele sorriu, interrompendo-a. — Mas você não acha que tudo isso é uma grande bobagem? A bebida pode até fazer muito mal para a saúde, mas tem também o lado positivo. Como por exemplo, o consumo moderado pode fazer bem ao coração. E porque você se preocuparia tanto com o futuro se ele ainda nem aconteceu e você nem sabe se vai chegar até lá viva e com saúde para ver?

— Se eu não beber e evitar um montão de coisas, talvez eu chegue lá, diferentemente de você, que pode acabar se perdendo no caminho. Eu tenho muito mais chances que você. Já parou para pensar nisso?

— Hum, sim, claro. Mas isso não é uma garantia. Você pode até ser mais saudável que eu em alguns aspectos, mas se, sei lá, por ironia do destino você acabe sofrendo um acidente de carro, ou, qualquer outra coisa. E seja grave, tipo, muito grave. Aí...

— Olha, chega. – pediu ela. — Não precisa continuar. Eu já sei. Você é do tipo que se nega a ver a verdadeiro de baixo do próprio nariz. O.K. Não sou eu quem vai esfrega-la na sua cara. Você já é grandinho o suficiente para fazer suas próprias escolhas. – ela sorriu, aliviada por não ter que continuar aquela discussão boba. Cada um tem sua vida e faz dela o que bem entender. — Agora me diz, porque você veio aqui? Quero dizer, depois de tanto tempo desde a primeira e última vez?

— Eu pensei em vir antes. Pensei mesmo. Pensei muito nisso, tanto que até achei que estava começando a ficar maluco. Eu não sou de dar muita importância a certas coisas. Prefiro simplesmente viver e esperar as coisas acontecerem como têm que acontecer. Mas aí – ele deu mais gole em sua taça, apreciando o sabor do vinho. — eu estava passando por aqui e pensei: Hum, porque não? Ela parece ser uma garota bastante interessante para se conhecer. Então eu vim. Porque as vezes é realmente cansativo esperar a vida nos surpreender por si só.

— Entendi. – ela assentiu, sentindo-se sem jeito. — E você se enganou? Porque acho que não começamos muito bem. Você veio até aqui educadamente, sendo gentil, amigável, e eu, não fui muito simpática, tentei te dar lições de moral, recusei um dos seus presentes, tivemos uma pequena discussão... Talvez eu não seja em nada como você imaginou que eu fosse. Olha, eu sinto muito, é que...

— Não, de forma alguma – ele riu outra vez. Ela começou a perceber que gostava daquilo. Ele tinha bom-humor e não perdia a pose por nada. Ao contrario dela, que se alterava por qualquer coisinha. — Pelo contrário, você é exatamente como eu imaginei que fosse.

— Ah é? – ela sorriu também, voltando a olhar pra ele. — E como é que você imaginou que eu fosse? Posso saber?

— Desde aquela noite eu sabia que você tinha alguma coisa de diferente. Algo especial. Pela maneira como você andava de baixo da chuva ou como você reagiu diante da ousadia dos meus amigos bêbados. Até mesmo pela maneira sutil que você me tratou quando eu corri até você na tentativa de salva-la das brincadeiras dos meus amigos imbecis. Mesmo não me conhecendo você foi... Educada. E naquele momento, não era bem o que eu esperava de você, de uma mulher tão bonita e exótica, mas aí você me surpreendeu e percebi que você era exatamente como eu havia imaginado da primeira impressão que eu tive sua.

Alison desviou o olhar, constrangida com aquela revelação.

— Não precisa ficar com vergonha, Ali. Não foi a minha intensão te constranger. – ele voltou a dizer, chamando a atenção dela. — E a propósito, você tem namorado. Eu lhe devo respeito.

— O Caleb não é o meu namorado. Ele é o meu chefe e nós estamos... É complicado. Hum, deixa pra lá. Você não entenderia.

— Talvez não. Mas ele te faz bem, não faz? Pela sua carinha sim. – ela assentiu, pois ele tinha razão. — Então isso é tudo que importa, certo?

Novamente ela assentiu. Mas não teve coragem de fazer a mesma pergunta. Não perguntou se ele também namorava. Provavelmente sim. Homens como David não ficam atoa por aí por muito tempo.

— Acho que eu não vim em uma boa hora. – ele disse, olhando as horas no relógio do visor do celular. Deu um último gole no vinho, acabando com todo o liquido dentro da taça. — Está tarde. Eu vou indo.

Ele levantou-se de imediato. Gael ao perceber a movimentação, levantou as duas orelhas e cabeça para ver o que estava acontecendo. E ela também se levantou, indo até a porta para acompanha-lo. Seria loucura se o convidasse para ficar mais um pouco. Gostou da visita dele e queria aproveitar um pouco mais. Mas talvez ele tivesse razão, estava ficando tarde demais, apesar de ser uma sexta-feira à noite.

— Foi bom te ver. E obrigado pela conversa. Prometo que vou pensar melhor a respeito da bebida. – disse ele em tom de brincadeira, então ela percebeu que ele não falava sério. Provavelmente tudo que ela dissera havia entrado por um ouvido e saído pelo outro. Ele não se importava tanto assim com essas coisas quanto ela, o que era completamente compreensível.

— Gostei também de poder te rever. – admitiu ela, abrindo a porta para ele sair. — Apareça mais vezes. E dessa vez, não demore tanto. Vou ficar esperando pela sua próxima visita.

— Está bem. Não prometo nada. Minha vida é bem complicada, mas eu volto sim. Agora que você fez o convite. – ele sorriu, beijando o rosto dela. Alison não esperava por tal gesto, mas gostou de poder sentir os lábios gelados dele em sua bochecha quente outra vez. — Boa noite, Ali.

— Boa noite, Dave.

≈≈≈

Naquela mesma noite após ter guardado o vinho que ele lhe dera na geladeira, trancado portas e janelas e se cobrido de baixo das cobertas para dormir, enquanto Gael se aninhava em seus pés, sobre a cama; Alison pensava que David não poderia ter aparecido em melhor hora e que aguardaria ansiosamente por sua próxima visita.

Com tais pensamentos preenchendo sua mente, ela custou a dormir. Mas quando finalmente pegou no sono, teve bons sonhos e só acordou muito tarde, na manhã de sábado, sentindo-se bem melhor.

E com alguém batendo a sua porta antes mesmo de ela levantar.

≈≈≈

— Eu posso ficar aqui hoje? Ou, pelo menos, pelos próximos dias? – ele perguntou de imediato, parecia muito aflito e perdido. — Tive uns probleminhas com o aluguel do meu loft. Só deu tempo de pegar uma mochila com algumas coisas minhas.

— Claro. Fique o tempo que precisar. – disse ela, ainda meio sonolenta. — Vou preparar um café fresco pra gente.

Ele foi atrás dela até a cozinha, Gael logo atrás, também faminto.

— Eu sinto muito pelo transtorno. – desculpou-se David, tirando a jaqueta e colocando nas costas da cadeira onde sentou-se enquanto ela ligou a cafeteira e pegou o pó de café. —Eu pensei em procurar algum amigo, mas é incrível que quando a gente mais precisa deles, parece que evaporaram. Mas se eu tivesse ligando pra gente sair e tomar uma cerveja, não só apareceriam dois, como também todo o resto.

— Eu entendo. Tudo bem. Está tranquilo. – dizia ela, ainda de costas. — Meu apartamento é pequeno. Mas você pode ficar com a sala.

Para muitos aquilo pareceriam loucura: hospedar um estranho dentro de sua própria casa. Mas Alison conseguia confiar em David, antes mesmo de conhece-lo completamente. Ela sabia, ela sentia, que ele não poderia lhe fazer mal. Não enquanto Gael estivesse por perto, apesar de ter simpatizado bastante com o novo amigo. E também, David não parecia em nada com um assassino em série, um tarado, ou coisa do tipo.

— Eu prometo que você nem vai perceber a minha presença. – ele garantiu, pegando a xícara de café que ela estendeu a ele. — Obrigado.

— Eu vou tomar um banho. Eu já volto. E quando eu voltar a gente pode conversar melhor sobre isso.

Não foi um banho demorado. Alison vestiu um jeans de lavagem clara, uma regata verde-escuro e calçou os chinelos. Prendeu os cabelos ruivos em um coque mal feito, passou gloss e lápis de olho. Arrumou a cama e organizou seu quarto o máximo possível. Abriu as janelas, deixando o ar entrar. Lá fora estava gelado, mas o sol fazia um grande esforço para dar as caras. Quem sabe mais tarde, ele conseguiria.

Ainda não conseguia acreditar que tinha aceitado David ali em sua casa. Não imaginou que voltaria a vê-lo tão cedo. Ele era uma caixinha de surpresa. No fundo, sentia-se favorecida, por ele ter pensado nela para pedir ajuda antes de qualquer coisa.

— Ei, não! Não! Não! Não! – ela voltou para a sala de estar a tempo de ver David fumando na sacada. A fumaça entrando pela porta e invadindo o ambiente. —Isso não é um cigarro de.... Maconha. É?

Sem graça por ter sido pego no flagra, David se livrou do cigarro antes que fosse tarde demais. Jogando-o lá em baixo.

— Você sabe o quanto essa porcaria é prejudicial a sua saúde? – a passos firmes ela foi até ele na sacada, parando de frente a ele, olhando-o com certa dureza. David engoliu em seco, como se estivesse olhando para a própria mãe passando-lhe um sermão. — Olha David, isso, aqui não. Nunca mais! Por favor. Eu até aceito você ficar aqui em casa por uns dias, até você se acertar. Mas eu tenho regras e você vai precisar conviver com elas enquanto estiver aqui.

— Você tem razão. – ele torceu os lábios, arrependido. — Dessa vez eu exagerei. É que eu estou tão acostumado que... Bom, isso não vai voltar a acontecer. Não se eu puder evitar. – ele a pegou pelas mãos e os dois sentaram-se no sofá. — Para que eu não volte a cometer erros assim, você precisa me dizer o que eu posso ou não fazer dentro da sua casa.

— É muito simples. – ela tocou o braço dele em um gesto amigável. Foi quando percebeu que sua pele era quente e macia. Era a primeira vez em que o tocava. — Lave tudo que sujar, em hipótese alguma deixe a tampa do vaso sanitário em pé, não deixe suas coisas largadas pelos cantos, nada de toalha suja sobre o sofá, restos de comida dentro do lixo, só abra o que realmente for comer, nada de televisão ligada para as paredes no último volume, e bom, basicamente é só isso. Deu para entender? – ele assentiu. — Enquanto você estiver aqui a gente vai conversando, se adaptando, se acostumando, corrigindo os erros, aprendendo um com o outro...

— Você tem toda razão! – ele levantou-se, seguindo até a cozinha. Alison foi atrás. — Mas o que você vai fazer pra gente de almoço?

Ela riu, bem humorada.

— O quê? Não! Eu não sei... Cozinhar. – ficou sem graça pela confissão. Aquilo soava tão infantil e imaturo. Ela já era uma mulher e no mínimo deveria saber preparar alguma coisa. O problema é que como sua mãe estava sempre reclamando, ela não sentia vontade de tentar. — Eu sei fazer café, fritar um ovo, preparar macarrão instantâneo, fazer suco, arroz, até mesmo fritar carne sem queimar. Mas é só isso. Eu costumo comer fora ou preparar qualquer besteira.

— Tudo bem. – ele riu, olhando em volta. Vendo a cozinha pela primeira vez. — Eu tive que aprender a me virar, quando decidi que queria morar sozinho. Minha mãe não me ensinou nada disso, mesmo assim eu dei meu jeito. Sempre fui muito curioso e aprendi com facilidade. Não sou chefe de cozinha, mas eu sei me virar bem. Posso preparar o almoço pra gente, o que você acha?

— Eu acho ótimo! – ela respondeu prontamente. — Vai ser.... Legal. Eu só preciso ir no mercado comprar o que está faltando.

— Quer que eu vá com você? Eu posso te ajudar – ele virou-se pra ela, encarando-a. Esperando por uma resposta.

Alison percebeu, enquanto também olhava pra ele, que além de ser lindo, com seus olhos castanhos mais claros a luz do dia, David também é muito prestativo e cavalheiro.

— Não precisa...

— Eu vou mesmo assim.

≈≈≈

— Onde eu guardo isso? – David perguntou ao levantar um pacote de biscoito recheados. Os dois haviam acabado de chegar do mercado e com uma pequena lista que Alison fez antes de saírem com uma folha velha de caderno, os dois compraram tudo que faltava em casa.

— Na prateleira do meio, na dispensa. – disse ela, guardando os legumes dentro da geladeira embutida na parede.

Com a ajuda de David foi mais fácil guardar tudo em seu devido lugar.

— Ai droga! – ela bateu a mão na testa. — Esqueci de comprar sal. Está acabando! – Alison odiava esquecer as coisas, por mínimas que fossem. — Já sei! Vou na vizinha pegar um pouquinho para o nosso almoço. Não demoro! Se quiser, já pode ir começando a preparar o que for necessário, já que você faz tanta questão. Eu volto para ajudar.

Alison correu até a porta frente a sua, não demorou muito para Margo abrir a porta, ainda de pijamas e pantufas cor de rosa.

— Posso entrar? – Alison perguntou, com um largo sorriso. Estava feliz por ver a amiga, ela parecia estar em um ótimo humor.

— Se você quiser ver o Tony só de cueca – Margo deu de ombros, bem-humorada. — tudo bem pra mim.

Alison tentou rir.

— Melhor não. – ela disse, constrangida. Já deveria ter imaginado que Tony estaria ali em um sábado à tarde. — Você me empresta um pouquinho de sal? O meu está acabando. O David vai...

Ela parou de falar naquele momento, se dando conta de que havia falado demais.

— David? – Margo arregalou os olhos. — brincando? – ela sorriu de lado, afetada. — Ele está aqui?

— É. Hum. Bem. Ele tá. – respondeu ela, ainda mais sem jeito. Não deveria ter falado tanto, Margo não a deixaria em paz ao saber da novidade. Sua amiga sabe ser bastante exagerada quando quer. — É só por uns dias. Coisa rápida.

— Alison, você ficou doida? – a expressão de Margo mudou de divertimento para preocupação. — Ele é só um desconhecido e vai ficar hospedado na sua casa por tempo... Indeterminado?

— É. Tipo isso. Coisa rápida. Eu já disse. – Alison bufou contrariada, tirando uma mecha do cabelo ruivo dos olhos. — Você vai ou não me emprestar um pouco de sal?

≈≈≈

David parecia bem experiente tomando conta da cozinha.

Ele parecia em casa como se já soubesse exatamente onde estava cada coisa que precisava, bastante familiarizado com o ambiente. Ele tornava tudo tão simples e prático! Naquele momento, ele mexia com uma colher uma das tantas panelas no fogo. Enquanto isso, sentada a mesa, muito calada e distraída em seus próprios pensamentos Alison picava tomates, batatas e cebolas.

O céu lá fora estava azul, com poucas nuvens. Porém, o ar que entrava pela janela aberta da cozinha era gelado.

— Você cozinha sempre? Quero dizer, cozinha sempre em casa só pra você mesmo? Ou, cozinha para todas as mulheres que você convida para passar um tempo onde você mora?

Ele riu com a pergunta dela.

— Eu mal tenho onde morar, imagine só ter ingredientes suficientes para impressionar uma mulher. – ela riu também. Por um momento teve receio que ele se ofendesse com suas brincadeiras um tanto indelicadas. — Apesar de saber cozinhar muito bem por sinal, eu faço minhas refeições na rua mesmo. É mais prático pra mim. Já que eu sou sozinho.

Ela assentiu calada.

O telefone começou a tocar, na sala de estar. Gael deitado no carpete estava dormindo até ser acordado pelo toque. Uma de suas orelhas se levantaram, em alerta.

Alison foi atender o telefone, antes que fosse tarde demais.

— Ah. Oi, Caleb. – quase tinha se esquecido da existência dele, por isso ficou tão surpresa ao ouvir sua voz. Os dois não tinha combinado nada para aquele fim de semana.

Da bancada que dividia a sala da cozinha, sem querer, David ouvia tudo.

— Eu sinto muito, mas não vai dar. Porque? Ah, porque, é, bom, a minha mãe, ficou de passar aqui, pra gente ficar um tempo juntas. É, eu não sei exatamente que horas, mas eu tenho certeza que ela vem. Amanhã? Ah, você não pode amanhã? – ela pausou por alguns segundos — Tudo bem. A gente se vê na segunda-feira então. O.K. Tchau. Beijos. Hum. É. Tô com saudades também.

David não conseguiu conter o riso quando ela colocou o telefone no lugar e voltou para a cozinha suspirando fundo.

Parecia de certa forma bem... Cansada.

— Você não deveria ter mentindo para o seu namorado. – ele comentou sentando-se com ela a mesa. Para ajudá-la a cortar as cebolas, que costuma não ser um trabalho muito fácil. — Eu poderia ter saído, sei lá, ir por aí encontrar meus amigos, beber alguma coisa, passaria a noite fora e vocês poderiam ficar... Juntos. Não quero atrapalhar....

— Eu já disse: ele não é o meu namorado. Nós estamos apenas... Ficando. É só isso. – ela olhou pra ele, como se os olhos verde-claro sorrissem por si só. — E você é meu hospedes, de forma alguma te deixaria na mão. De jeito nenhum!

— Já entendi. Vocês são o que chamam de relação não definida. Mesmo assim, eu não quero ser um problema....

— Olha, vamos parar por aqui com essa conversa. Você não quer ter essa discussão comigo, ou quer? – Alison levantou-se para lavar as mãos, havia terminado de cortar a sua parte. — Se eu fosse você ficava mais de olho nas panelas para não queimarem.

— Você tem razão, General. – ele brincou fazendo-a rir, levantando-se também. — Agora que terminamos de cortar tudo, vamos terminar logo com esse almoço. Eu estou faminto!


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Notas finais do capítulo

Parece meio apressado as coisas aconteceram tão depressa assim. Espero que não tenham tido uma má impressão. Mas nem foi tão forçado assim. Os dois são adultos, maduros e, bom, basicamente tudo é mais fácil quando você tem uma vida própria sem depender de alguém. Comentem! E eu continuarei logo. Beijão!