Flor Azul & Rubi escrita por Alekz Fergues


Capítulo 1
Cristian & Sofia


Notas iniciais do capítulo

Ainda em processo de Formação

"Quem olha para fora sonha, quem olha para dentro desperta." - Jung



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Vem,
Te direi em segredo
Aonde leva esta dança.

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Vê como as partículas do ar
E os grãos de areia do deserto
Giram desnorteados.

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Cada átomo
Feliz ou miserável,
Gira apaixonado
Em torno do sol.

.

Ninguém fala para si mesmo em voz alta.
Já que todos somos um,
falemos desse outro modo.

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Os pés e as mãos conhecem o desejo da alma
Fechemos pois a boca e conversemos através da alma
Só a alma conhece o destino de tudo, passo a passo.
Vem, se te interessas, posso mostrar-te.

.

Desde que chegaste ao mundo do ser,
uma escada foi posta diante de ti, para que escapasses.
Primeiro, foste mineral;
depois, te tornaste planta,
e mais tarde, animal.
Como pode isto ser segredo para ti?

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Finalmente, foste feito homem,
com conhecimento, razão e fé.
Contempla teu corpo - um punhado de pó -
vê quão perfeito se tornou!

.

Quando tiveres cumprido tua jornada,
decerto hás de regressar como anjo;
depois disso, terás terminado de vez com a terra,
e tua estação há de ser o céu.

.

Não durmas,
senta com teus pares
A escuridão oculta a água da vida.
Não te apresses, vasculha o escuro.
Os viajantes noturnos estão plenos de luz;
não te afastes pois da companhia de teus pares.

.

Faltam-te pés para viajar?
Viaja dentro de ti mesmo,
e reflete, como a mina de rubis,
os raios de sol para fora de ti.
A viagem conduzirá a teu ser,
transmutará teu pó em ouro puro.

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Sofreste em excesso
por tua ignorância,
carregaste teus trapos
para um lado e para outro,
agora fica aqui.

.

Na verdade, somos uma só alma, tu e eu.
Nos mostramos e nos escondemos tu em mim, eu em ti.
Eis aqui o sentido profundo de minha relação contigo,
Porque não existe, entre tu e eu, nem eu, nem tu.

.

Oh, dia, levanta! Os átomos dançam,
As almas, loucas de êxtase dançam.
A abóbada celeste, por causa deste Ser, dança,
Ao ouvido te direi aonde a leva sua dança.

.

Ontem à noite, confidencialmente, eu disse a um velho sábio:
– Não me esconda nada dos segredos do mundo!
Muito docemente, ele me disse ao ouvido:
– Chut! Podemos compreender, mas não exprimir!

.

Quero fugir a cem léguas da razão,
Quero da presença do bem e do mal me liberar.
Detrás do véu existe tanta beleza: lá está meu ser.
Quero me enamorar de mim mesmo, ó vós que não sabeis!

.

Eu soube enfim que o amor está ligado a mim.
E eu agarro esta cabeleira de mil tranças.
Embora ontem à noite eu estivesse bêbado da taça,
Hoje, eu sou tal, que a taça se embebeda de mim.

.

Ele chegou... Chegou aquele que nunca partiu;
Esta água nunca faltou a este riacho
Ele é a substância do almíscar e nós o seu perfume,
Alguma vez se viu o almíscar separado de seu cheiro?

.

Se busco meu coração, o encontro em teu quintal,
Se busco minha alma, não a vejo a não ser nos cachos de teu cabelo.
Se bebo água, quando estou sedento
Vejo na água o reflexo do teu rosto.

.

Sou medido, ao medir teu amor.
Sou levado, ao levar teu amor.
Não posso comer de dia nem dormir de noite.
Para ser teu amigo
Tornei-me meu próprio inimigo.

.

Teu amor me tirou de mim.
De ti, preciso de ti
Noite e dia, eu queimo por ti.
De ti, preciso de ti.

.

Não posso dormir quando estou contigo
por causa de teu amor.
Não posso dormir quando estou sem ti
por causa de meu pranto e gemidos.
Passo as duas noites acordado
mas, que diferença entre uma e outra!

.

Não temos nada além do amor.
Não temos antes, princípio nem fim.
A alma grita e geme dentro de nós:
– Louco, é assim o amor.
Colhe-me, colhe-me, colhe-me!

.

À noite, pedi a um velho sábio
que me contasse todos os segredos do universo.
Ele murmurou lentamente em meu ouvido:
– Isto não se pode dizer, isto se aprende.

.

A fé da religião do Amor é diferente.
A embriaguez do vinho do Amor é diferente.
Tudo que aprendes na escola é diferente.
Tudo que aprendes do Amor é diferente.

.

– Vem ao jardim na primavera, disseste.
– Aqui estão todas as belezas, o vinho e a luz.
Que posso fazer com tudo isso sem ti?
E, se estás aqui, para que preciso disso?

.

Rumi (1207-1273) em Segredos

.

[...]

.

Depois dos prantos sob a lua, a lua azul ainda persiste ao novo Orfeu, agora Cristian se depara com um mistério, e declama Ode à Sofia.

.

I

.

Numa noite de estrelas, o Hipnos tocou minha alma melancólica

Já sabemos que o sonho são imagens da mente e consciência simbólica

É tal matéria-prima da imaginação, tem como lapidar

E quem guia o coração, a paixão e a razão tem que se equilibrar

Que seja ouro ou diamante, o último será o primeiro, eis o amor

Luz da vida, transcede qualquer seja a forma, até mesmo o seu autor

.

Como deves saber, este é o meu monólogo com as estrelas

“Ora, ouvir estrelas?” O poeta sabia! E só é triste não vê-las

Mas em sonhos estou entre elas, pois de lá que veio a minha essência

Compõem meu corpo sólido, e atravessou o tempo em sua fluência

Pois veja o que sou agora, uma coisa do mundo de certa maneira

Quão tão longe estou, que produto afinal reflete a mesma inteira?

.

Deito-me eternamente em seu berço esplêndido por sua natura

E peço o teu consolo, ó mãe desconhecida me tire a tristura,

Um grão filho, um rei sem coroa, ainda menino, o velho peregrino

Entoa a canção dos bardos, e dos trovadores o perdido hino

Nem tão longe da vossa graça, nem tão perto de vossa beleza

Apresentou-a de si mesma, amada Sofia, sua própria natureza

.

Fiz da minha alma a tua morada o seu castelo, o nosso lar poético

Então que seja idílico ou seja punk, natural ou sintético

Aqui já não jaz morto, som de magia e jazz é valsa, ou de boleros

Tal noite negra Orfeu tocou um blues, e fez a bossa nova de Eros

Porém, já muitos sóis eram passados, hoje então navegaremos

Por sonhos nunca antes devaneados, sobre as númens passaremos

.

O teu mundo é tão grande, e o meu tão pequeno, Sofia o que somos?

Por isso fui a Pasárgada, infeliz estava eu preso sob os domos

Pois voltei de lá rei, depois que descobri o paraíso inventado

Reflexo do jardim criado por estética e mito passado

Para o alto Parnaso depois eu parti, e as musas visitei

Que inspiraram as virgens, tal como Apolo criei um jardim que fitei

.

Da fonte de Castália bebi, e de ouvir apenas me inspirei

Mergulhei em tuas águas, e olvidei das mágoas as marcas que deixei

Com a lira de Apolo um legado pra Orfeu, pois quem canta compõem

Quem compõem há de ter um espírito poético assim como Poe

Assim como o sol se põe, do outro lado ele nasce, do oriente ao poente

Pois rio que nasce ouro, pela noite à luz do poeta é latente

.

Ouro e boro de igual ao de mercúrio doce também já tomei

Sobre a lua argentada lucífera torna a si com lauras rei

Da taça dionisíaca o louco se faz torto dentro dos espelhos

Sangra ao vinho o alquímico processo real de tons azuis vermelhos

De sua força a coragem de um leão que do ruge o céu fora azulado

Serpenteia o destino da orbe amarelada com véu esverdeado

.

A chegada da noite que anuncia os fios que tecem estrelares

Vem Sofia o teu amor com os meus olhos ter o bel-prazer lunares

A paz que consegui através da tua alma mater inebriante,

Aconchegar em braços de ninfas carícias de uma doce amante,

Receba-me ao encanto aos toques de afagos no âmago de ser

E quem ama não teme nem a escuridão e nem teme morrer

.

Com chocolate, vinho e mel tua rubra veste alegra como delícias

Sabedoria estimada, ser da intimidade que me trás carícias

Que preza a real bondade erotídeas, e bebe ares ao qual liberta

Apaixonadamente inspirada com mil rosas, é a tua coberta

Vem incerta ao amor que se autodescoberta para quem desperta

Então não desespere porque a primavera será descoberta

.

Assim como Calímaco conta em seus hinos, temos jardineiras

Estas nascem das árvores, são hamadríades as nossas floreiras

Anunciam com tamanha alegria a primavera em sua festa chegada

Com seus jogos florais e píticos em tua homenagem amada

Dispersam prantos quando da queda das folhas, assim despetalam

Formam forros macios quando nós dois deitarmos elas vêm e badalam

.

Coração marca o tempo como as notas aéreas de Bach palpitaram

Ao balé dos gracejos das sílfides, curam dores que passaram

Nos afetam orvalhos que fulguram asas da imaginação

Gotas de chuvas feitas de hidromel que caem, e confunde a razão

Vinde o maná da vida, o secreto elixir em lazúli e rubi

Pedra filosofal dos amantes das doces amritas bebi

.

Ao teu lado Sofia, minha imensa alegria, sejamos almas gêmeas

Nosso jardim tão belo com todas as flores, com todas as gemas,

E com todas as cores, a nossa simbólica seja octarina

Façamos dessa história o arquétipo áureo do amor qual destina

Tenhamos mais que mil e uma noites devir em nossa eterna flor

Assim seja no céu e na terra ligando estrelas ao esplendor


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Notas finais do capítulo

Alquimia do Amor: https://www.youtube.com/watch?v=QbVdQCy-J3E

Depois de fazer esta primeira parte poética, tomei conhecimento do Romance da Rosa, estava estudando sobre Santo Graal, Ciclo Arturiano e a origem do Romance em prosa, que provavelmente será o tema do terceiro capítulo, fiquei perplexo ao deparar com que encontrei, mas agora trabalharei também em cima desse depois.

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O Roman de la Rose, “onde estão contidas todas as artes do amor”, foi uma das obras literárias mais lidas da Idade Média. Um poema alegórico (que significa romance) composto no francês do século XIII, foi considerado já no século XVI como um clássico nacional. As primeiras 4.058 linhas do poema foram escritas por Guilherme de Lorris, por volta de 1230. Jean de Meun escreveu um acréscimo de 17.724 linhas por volta de 1275. A obra é ao mesmo tempo uma canção cortês, uma história de iniciação e um jogo literário empregando ilusões metáforas e outros recursos literários. O autor, que fala na primeira pessoa e incorpora L'Amant (o Amante) na história, viaja em um sonho para um lindo pomar habitado por Déduit (Lazer) e seus companheiros, Jeunesse (Juventude), Richesse (Riqueza), Liesse (Alegria) e Beauté (Beleza). Os ideais corteses personificados são os atores reais da fábula, que narra as aventuras do Amante que, tendo sucumbido às leis do Amor, o senhor todo-poderoso, deve evitar as armadilhas de Male Bouche (Boca suja), Dangiers (Perigo) e Jalousie (Ciúme) para conquistar sua amada, a Rosa. Cerca de 300 manuscritos do Roman de la Rose foram preservados em todo o mundo. Esta cópia pertenceu à biblioteca de Jean de Berry (1340-1416), o terceiro filho de D. João II, o Bom, um grande patrono das artes e um bibliófilo esclarecido. Pelo menos, duas mãos podem ser distinguidas nas pinturas. Uma, mais maneirista, exibe figuras com formas finas e delgadas, típicas do estilo gótico internacional, que foi mais proeminente em toda a Europa nesta época e que teve origem na corte parisiense.

http://www.wdl.org/pt/item/593/



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