Acordei num compartimento arredondado. Onde é que eu estava? Tinha a cabeça enevoada e zonza. Ainda meia sonolenta andei para a única janela que estava naquele pequeno compartimento. Ó céus! Uma tontura fez-me cair para trás. Eu estava numa torre muito alta, e eu tenho medo de alturas.

Bem, agora vão pensar, medo de alturas, sério? Quando é que se tem medo de alturas e se é um anjo? Também eu pensava assim mas eu não podia fazer nada. Era mais forte que eu. Comecei a andar às voltas naquele compartimento redondo. Como é que eu ia sair dali? Melhor como é que eu tinha chegado?

Sentei-me na pequena cama que lá existia e tentar relembrar os acontecimentos. Estava numa sala com os meus amigos e com o meu irmão! Íamos recuperar os hiddicks. O ancião disse algumas palavras em latim, não sabia como chegara à conclusão ma o meu íntimo dizia que era latim, e tive uma vontade inexplicável de dormir. E acordei aqui. Espera, estaria eu a sonhar?

Ouço bater à porta. Havia alguma porta na altura? Estava um pouco confusa mas a confusão torna-se em medo quando a maçaneta roda. Olhei para os lados há procura de algo para me esconder. Nada! Fiquei apavorada.

– Rapunzel! – uma senhora jovem de cabelos pretos encaracolados entrara – que bom que acordaste!

– Quem és tu? – a minha voz tremera mas eu dei uma postura mais confiante embora estivesse a tremer por dentro. Merida ficaria orgulhosa.

– Não te preocupes com o meu nome – deu um sorriso enigmático – tens fome?

Olhei para a maçã vermelha como sangue. O meu estômago protestou por comida.

– Não – disse eu e então lembrei-me – Onde está o meu irmão?

– O teu irmão? – ela disse estupefacta mas não lhe chegara aos olhos. Estava a mentir – Tu não tens nenhum irmão.

– Estás a mentir – gritei eu embora estivesse apavorada por dentro. Procurava desesperadamente por uma saída – Eu estou a sonhar.

A minha afirmação soara mais uma pergunta receosa mas eu fingi não dar por isso. Pena não poder dizer o mesmo da desconhecida.

– Claro que não estás a sonhar Rapunzel! – Ela disse furiosa e foi então que vi. As suas feições tornaram-se mais enrugadas e de repente não era uma jovem senhora mas sim uma idosa de aspeto tenebroso. O seu cabelo tornara-se cinzento e crescera, a sua pele mais flácida e os olhos ganharam um brilho vermelho. Vermelho sangue, pensei, como uma maçã!

E, foi aí que percebi. Tinha que fugir! Não havia escapatória a não ser… Um arrepio percorreu-me a espinha. Estava na hora de provar que eu conseguia ultrapassar um pequeno (assim esperava eu) medo de alturas.

Com uma rapidez que ganhara de estar habituada destrancei o meu cabelo e sem que a desconhecida, a quem eu começara a decidir chamar de Gotel simplesmente pelo nome me dar arrepios assim como a velhota, saltei da varanda agarrando o meu cabelo a uma viga como se fosse um chicote! Não esperava fazer aquilo, nem sabia que conseguia mas mais valia ter uma ideia maluca do que nenhuma!

Comecei a descer a uma velocidade incrível e eu gritava desesperada. Tu consegues Punzie, tu consegues! Os meus gritos juntavam-se aos de Gotel embora os dessa fossem gritos de frustração. Afinal, conseguira camuflar a minha destreza na minha aparência frágil! Verdade seja dita, estava a gostar do meu novo eu!

Mal pousei os pés no chão, que estavam descalços por sinal, comecei a correr na relva fofa como se esta acariciasse os pés. Mas eu não estava a desfrutar da sensação afinal estava a ser perseguida por uma bruxa! Sim, uma autêntica bruxa. Procurei uma maneira de fugir olhando para os lados. Estava encurralada. Isto não era para encontrarmos um hiddick? Bem eu estava a tentar sobreviver!

Árvore! Subi a uma árvore. Tinha folhas amareladas. Perfeito, pensei. Enrolei-me nos meus cabelos. Isto daria um bom disfarce.

– Rapunzel? – perguntou – onde estás?

Resisti ao impulso de lhe dizer uns quantos palavrões! Não, essa não era eu. Eu não suportava palavrões mas ela estava a tratar-me como uma criança. Olhei à procura dela e foi aí que vi. Ela estava exactamente debaixo da abro. Sustive a respiração. Ela não me ia encontrar.

– Onde se meteu o raio da rapariga? – ouvi paços a afastar e soltei a minha respiração e reparei num camaleão a observar-me com um estranho interesse.

– Também estás a esconder-te de alguém? – sussurrei ao misterioso camaleão. Este sorriu, sim, sorriu e eu não resisti ao impulso de lhe afagar. Mal lhe toquei fui sugada para dentro de um vórtice.

Acordei. Bem, eu estava a começar a ficar farta de acordar. Olhei para os lados. Hans olhara-me com um curioso interesse. Afastei o olhar. Embora fosse irmão de Anna e Merida, as minhas melhores amigas, metia-me medo. Aquele olhar misterioso era capaz de assustar qualquer um. Olhei para o seu ombro. Um gato. Supus que fosse o seu hiddick. Ambos os olhos mostravam mistério, eram um tanto imprevisíveis como calculistas. Mas, e eu vou admitir, eram sedutores. Embora ele não ligasse, Hans tinha muita gente caída aos pés. A sua cara, um tanto Bad Boy, e os olhos frios faziam qualquer rapariga derreter-se. Verdade seja dita em já sentira uma ligeira atração. O seu físico ajudava bastante. Mas isso era passado. Ele não era o meu género.

Sinto algo a bater-me na perna e instintivamente olho para lá. O tal camaleão olhava para mim com os seus olhos perspicazes. Peguei nele com a mão e pu-lo no meu ombro.

– Bem, Pascal – o nome assentava-lhe como uma luva – agora é esperar pelos outros.

O silêncio rompera na pequena sala. O ancião olhava para os corpos a dormir normalmente. Esperava algo anormal mas via-se que isso não era coisa que acontecesse pois muitas vezes ele fechava os olhos e apreciava o silencio calmamente.

Pouco a pouco os gemidos interrompiam a sala e os meus amigos iam acordando. Quando Kristoff acordou, embora não me tivesse apercebido, um peso saiu-me dos ombros.

– Kristoff – chamei baixinho e ele veio ter comigo.

– Um camaleão? – Perguntou e eu assenti o que fez os seus lábios curvarem-se num sorriso.

Ele mostra um dedo e nele segurado está uma ave pequena.

– Um pardal – ele explicou – acho que os nossos hiddicks sabem escolher.

Sorrimos. Ouvimos mais uns gemidos e Anna e Merida acordaram ao mesmo tempo. Nos ombros de Anna estava repousado um agapornis: uma ave amorosa e bastante cantora. A condizer com Anna. Com Merida a minha opinião era que o seu hiddick era bastante parecido também. Com um temperamento de um vulção e feroz nada melhor que um urso para a descrever.

– Bem – a voz do ancião entoou nas paredes da pequena sala – está na hora de abrirem as vossas asas. – E um arrepio percorreu-me a espinha devido à minha antecipação do que poderia vir à acontecer.