Fomos a correr. Tínhamos que chegar a tempo. Seria mesmo mau no dia mais importante da vida de um anjo chegar atrasado. Passamos por várias vacas a pastar calmamente. Temos todo o tipo de animais incluindo alguns míticos. Muitos cumprimentaram-nos apressadamente outros somente nos deixaram passar sem cerimónias. O meu coração batia desfreadamente e a adrenalina era enorme. Passamos por varias paisagens, principalmente rústicas, verdes pois Dufins era mais ou menos isso, um amontoado verdejante. Poucos anjos estavam no céu a voar. Para além de teres de treinar e aprender bastante até começar ouvi dizer que era cansativo. Como os músculos das pernas estavam mais desenvolvidos do que os das asas caminhar exigia muito menos esforço que voar. Eu estava bastante animada mas o meu corpo cobria-se de receio também. Diziam que mostrar as asas pela primeira vez era bastante doloroso mas ia diminuindo com o tempo. Era por isso que só aprendíamos aos 15 anos onde já éramos crescidos o bastante parar voar. Antes não estávamos preparados. Mas quando nascessem as minhas asas eu iria encher o peito de orgulho. Iria mostrar que era forte o suficiente e que no meu sangue corria sangue Lufhins embora o colar que eu usava mostrasse o contrário. Uma asa amarela. O símbolo da raça Adnis. Pertencera aos meus pais biológicos e fazia-me sentir bem. Sentia as suas presenças o que me confortava e nunca me separava dele. Pertencia a um conjunto de outro colar, ou seja, estava incompleto, assim como eu me sentia mas eu não ia pensar nisso agora.

– Elsa! – Jack tira-me dos desvaneceios – Já chegamos por isso faz o favor de acordar!

Abanei a cabeça tentando concentrar e focar. Finalmente chegámos ao átrio. Era um grande edifício com grandes pilares/colunas decorados até ao ínfimo pormenor. As paredes tinham imagens de vários anjos. Anjos em alegria, no seu 15° aniversário, anjos a guerrearam uns com os outros. Supus Lufhins contra Adnis. Senti um ardor no peito, exactamente onde estava o meu colar. A minha emoção crescia enquanto observava aqueles desenhos maravilhosamente esculpidos. Mas aquilo não era só um mar de rosas o meu olhar prendeu-se num anjo agachado a perder as penas. A sua cara estava tapada pelas mãos mas a agonia sentia-se, e por momentos senti uma faísca electrizante dizendo para sair o mais rápido possível. Virei-me quebrando o olhar do Fallen Angel e olhei para Jack. Este suavizou-me com um seu olhar e deu-me a mão. Ele tinha seguido o meu olhar e sabia o que eu por dentro estava a tremer de medo. Quando não era convencido e mandão era o melhor irmão que alguém podia ter. Compreendia-me com um só olhar. Hiccup também era um bom amigo, outro irmão para mim. Também percebeu os receios e deu-me as mãos na minha mão livre. Talvez eu tivesse trespassado mais sentimentos do que queria. Eu era uma pedra por fora. Fazia o máximo para não trespassar os sentimentos. Desde os nossos pais, os meus pais adoptivos, morreram eu jurei que nunca mais seria quem era. Uma menina frágil a tudo. Eu nunca mais mostrara os meus sentimentos a ninguém menos ao meu irmão que fazia tudo para não criar uma barreira entre nós.
Com as mãos dadas avançamos, prontos para o que der e vier! Uma vez juntos, juntos para sempre!

– Suponho que sejam os últimos a chegar – uma voz grave ouviu-se – venham, entrem!

O dono da voz era um anjo idoso. A sua cara era bastante enrugada e tinha o cabelo grisalho, não consegui ver os seus olhos. As suas asas azuladas estavam descobertas e descaídas formando um género de manto. Olhamos uns para os outros de sobrancelha erguida, um exato sinal de interrogação mas decidimos seguir o anjo sénior e entramos numa sala pequena onde esperava uma garota chamada, acho eu, Astrid. Lembrei-me disso pois Hiccup tinha um fraquinho por ela. Eu simplesmente não sabia como isso era possível. Ela era bastante irritante, arrogante e convencida e eu não sabia o que Hiccup via nela. Sentamo-nos ao lado dela e o anjo sénior falou.

– Primeiro vamos procurar um hiddick para vocês pois as asas precisam da energia de um hiddick. Alguma objecção? – Quero sair daqui. Pensei mas nada disse. O meu nervosismo estava à flor da pele mas eu continuei impassível.

– “ Veritas est in somnum / Sed dormit et vide quod hiddick est verum” – senti uma enorme vontade de dormir. Aquilo era latim, era como uma ordem para nós. Tentei pensar a tradução mas a minha mente mal raciocinava. Contudo decifrei e descobri o significado. As aulas de latim não tinham sido um desperdício. “ A verdade está no sono / Dorme e verás que esta é a verdade do hiddick”. Logo a seguir apaguei.