Todos corriam de um lado para o outro. Aparentava que não havia descanso. O que eu antes assemelhava ao paraíso tornara-se numa colónia de formigas cuja comida fora roubada e o Inverno começava a ficar próximo.

Esfreguei as mãos tentando concentrar-me. Tinha treinado todos os dias mas ainda tinha bastante dificuldade. Quando consegui, olhei para os meus braços e vi penas coloridas. Não era o que eu esperava, um falcão ou uma águia, mas um papagaio teria de servir. Levantei voo e fui observar a movimentação. Ser pequena facilitava as coisas. Estava curiosa e queria saber o porquê da agitação. Avistei a Princesa Emma, alguém que podia responder às minhas perguntas, e fui ter com ela.

Emma olhou para mim confusa. Papagaios não eram habituais nesta zona. Tentei pensar na minha aparência original e passado um tempo eu era novamente a Anna.

– Vejo que tens estado a treinar Anjo Feiticeiro Novato Frozen Dunbroch.

Sorri orgulhosa, afinal tinha sido notada.

– Obrigada princesa Emma – o meu olhar tornou-se um pouco sério e os meus olhos brilharam de curiosidade. – Eu sei que não é da minha conta embora eu ache importante – A princesa levantou a sobrancelha e eu parei de gesticular e enrolar o assunto – Está a acontecer algo de importante para esta grande movimentação?

Ela olhou para mim com pesar. Apesar do seu sorriso notei a tristeza que nublava os seus olhos.

– Alguns problemas mas logo tudo se resolverá – ela sorriu mais confiante e ao afastar-se sussurrou – assim o espero.

– Mas princesa… - tentei.

– A princesa não quer falar – um voz ríspida cortou-me. O dono era um homem elegante apesar da sua velhice. Inspirava ganancia e arrogância. Apesar de eu ter a fama de confiar em estranhos não gostei daquele homem.

O meu hiddick, Olaf, um agapornis, pousou no meu ombro e piou enraivecido como se o ameaçasse e o homem empinou o nariz num sinal de superioridade e desprezo.

– Achava melhor controlares o teu passarinho, menina incompetente.

Todos os olhares estavam caídos sobre nós, menos o de Emma que parecia alheia a tudo. Foi só quando a minha irmã Elsa apareceu à minha frente que ela nos dirigiu o olhar.

– Tu não te atrevas a insultar a minha irmã – a sua voz estava carregada de raiva e tinha as asas esticadas parecendo mais ameaçadora. O seu hiddick pousava no seu ombro na mesma posição.

– Oh não, a Elsa vai matá-lo – Hiccup comentou e a princesa olhou para ele estupefacta.

– Tens a certeza que não é mais ao contrário?

Estávamos todos presos nos nossos lugares. O homem irradia medo, percebi isso pelos olhares dos outros anjos. A princesa queria mexer-se mas parecia que algo lhe impedia o movimento.

Hiccup negou com a cabeça e, como para o comprovar, a temperatura do ar desceu consideravelmente e o solo em volta da minha irmã começou a congelar.

– Chega! – a princesa gritou. Tinha ganho forças para se mover. – Arnold desde quando te metes com os miúdos?

Arnold olhou para a princesa e notava-se que ele não tinha achado nenhuma graça ao seu comentário. A princesa parecia, apesar de tudo, temê-lo mas ele escolheu, sabiamente, não dizer nenhuma palavra.

– E tu Anjo Feiticeiro Novato Frozen Frost – mesmo sendo chamada, Elsa não tirou os olhos de Arnold – Desde quando desrespeitas superiores?

Ao contrário de Arnold ela respondeu.

– Desde o momento em que se meteram com a minha família. – Olhou para a princesa fixando o seu olhar azul cristalino no castanho âmbar – Ou concorda em ver a família a ser ameaçada e não fazer nada, princesa?

Instalou-se um silêncio ruidoso. O solo tinha descongelado mas o ar ainda estava com uma temperatura inferior à do normal.

– É com eles que espera ganhar? – Arnold zombou. – Boa sorte com isso, princesa.

Quando saiu senti como se um peso saísse do ar.

– Nunca percebi como ainda o mantem como conselheiro, minha senhora.

– Owen Grey – a princesa exclamou – Sabes que isso é considerado desrespeito aos teus superiores?

– O quê? A senhora sabe tão bem como todos aqui que aquele homem sem escrúpulos só a ajuda porque espera receber poder em troca!

– Ele acompanhou-me a minha vida toda e isso não está aberto a discussões. – E, dito isto, a princesa retirou-se.

– Não devias ter dito isso, Owen – Astrid comentou.

– Foi perigoso e embora a princesa respeite todos os que cá estão, Arnold pode ser considerado um pai para ela – Flynn reforçou.

– Pois eu acho que ele fez muito bem – Elsa falou fazendo todos olharem para ela – Alguém precisa de lhe abrir os olhos.

– Elsa! – exclamei.

Os olhos azuis cristalinos de Elsa, que antes apresentavam ternura, agora apresentavam-se escuros e frios.

– Elsa, olha para mim – Jack segurou-lhe os ombros e obrigou-a a olhar nos olhos – Já passou. Nada aconteceu.

Elsa continuava a olhar fixamente para Jack e quando queria virar-se Jack forçava-a a olhar novamente para ele. Ele sorria com ternura e repetia palavras carinhosas. Todos olhávamos confusos menos Hiccup que fixava os seus pés.

– Mattew – Elsa sussurrou e Jack abraçou-a.

Elsa olhava fixamente para o horizonte mas ao sentir o contacto apertado de Jack, desatou a chorar. Ninguém se atrevia a falar. A única vez que tinha visto Elsa a chorar foi quando Merida quis que ela renunciasse a ser minha irmã.

Jack afagava-lhe os cabelos e não se atrevia a dirigir-nos o olhar. Reparei que afagava com mais cuidado e carinho a sua madeixa castanha.

Quando Elsa se afastou, os seus olhos, brilhantes devido ao choro, estavam claros como um céu límpido e estavam raiados com a ternura que eu conhecia.

– Anna – ela olhou para mim – estás bem?

Reparei que havia uma centelha de medo e preocupação. Acenei com a cabeça reconfortando-a.

Naquela altura senti-me impotente. Elsa era minha irmã mas eu não tinha sabido como a ajudar. Eu podia ser irmã de sangue mas o verdadeiro irmão era Jack. Hiccup era capaz de ser mais irmão de Elsa do que eu. Naquela altura senti o que Elsa sentiu quando discutiu com Merida. Apesar de eu adorar Elsa e não querer abrir mão dela, se Jack me afastasse dela eu não teria argumentos para me defender. Eu não poderia fazer nada.