Altharian: The Resistance escrita por C Blue


Capítulo 2
Capítulo 1 - Desaparecido




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A luz do sol entrou pela janela e bateu em minha face confundindo-me por um momento. Não estava mais em sonhos de luzes e gritos distantes. Não sabia ao certo o que era pior meus pesadelos ou o ensino médio. Levantei-me da cama indo ao banheiro, olhei-me no espelho fitando as olheiras que circulavam meus olhos cinzentos. A pele pálida e os cachos negros desgrenhados. Andei para o chuveiro e deixei a água percorrer meu corpo quando senti uma tontura tocar-me. A visão ficando turva. Parei com a água ainda caindo e sentei-me fechando os olhos. Não era a primeira vez que isso acontecia. Com alguns instantes, os abri e percebi que havia passado. Estava arfando levemente. Sai do banheiro ainda confuso, vesti uma camisa e jeans simples, com meus All Stars. Descendo as escadas ouviu os sons da cozinha. Robert – esguio e ombros largos – tomava café e assistia ao jornal matinal.

– Bom dia, Caleb – disse Robert– preparado para retornar a escola?

Olhei para Robert e assenti. Nossa relação não era muito amigável, mesmo ele sendo meu pai. Sentei-me em uma cadeira após preparar algo para tentar comer, nunca como direito pela manhã, mas me esforçava. Não estava prestando atenção no que vinha da TV nem no que Robert resmungava. Quando terminei – ou não – o que estava comendo, ele me ofereceu uma carona para a escola, falei que iria pedalando e recusando, sai de casa e peguei minha bike na varanda. O caminho que pegava sempre para chegar a zona “civilizada” da minha enorme – minúscula – cidade, era uma estrada de terra ladeada por árvores até chegar onde ela se tornava em asfalto. Não sei o porquê de Robert ter escolhido uma casa de uma antiga fazenda para viver - ele nunca falava do passado, mas eu gostava do ar limpo que tínhamos ali. Pedalando, cheguei na escola e “estacionei” a bike, trancando-a, e entrei.

Minha escola era uma droga. Muitos jovens falam isso, sei. Mas no meu caso, era bem verdade. O corredor estava cheios de jovens conversando, abrindo os armários. Eu parei em frente ao meu e o abri. Um ano usando o mesmo armário e você acaba fazendo amizade com o cara ao lado se ele não é um CDF, jogador ou um metidinho popular... Bem, ao menos se não se enquadrar nessas opções. No meu caso, eu fiz uma boa amizade com Josh. Cabelos que desciam até a nuca, castanhos, olhos claros. Mesmo sendo “um cara bonitão”, era legal, bem, há um ano era como eu, sem muitos músculos visíveis e, claro, virgem. Agora, estava na lista dos 25 bíceps mais desejados da escola. Sim, eu dei o título.

– Hey Cal – ele falou – como foram suas férias?

– Acho que não se surpreenderá se disser que passei em casa.

– Não.

– E eu peguei um “bronze”. – Batendo na porta do armário de Josh e ficando ao seu lado apareceu Sammy. Ela estava com um leve bronzeado em sua pele morena. Isso realçava sua cascata de cabelos tão escuros e seus olhos verdes. Ela estava diferente...

– Conseguiu – disse, sorrindo – está mais bonita. - Ela fez uma carreta, rebaixando minha piada, mas também riu.

O sinal soou e olhamos nossos horários. O primeiro horário, meu e de Sammy, batia, então fomos juntos a aula de história e no caminho para sala, ela tentou perguntar sobre meus pesadelos. Aquilo estava me deixando noites muito mal dormidas. Em algumas eu me acordava com gritos, suado e sem ar, e Robert ao meu lado tentando me acalmar. O que era desconfortante, já que não eramos muito ligados. Eu não havia falado mais nada com Sammy sobre esse assunto desde o começo das férias, quando ela viajou com a mãe.

– Você está visivelmente cansado.

– Não é nada, já disse. Noites tranquilas. - O que era mentira, os sonhos vinham piorando a algumas noites.

Ela me olhou como se dissesse que a conversa não havia acabado ali e entramos na sala. A Srt. White era a mesma, sua aula estava um saco, então não prestei muita atenção, preferindo estudar depois em casa.

Eu escrevia destraido quando novamente minha visão ficou turva, olhei o quadro e a letras estavam desfocadas, uma pontada na cabeça me fez apertar os olhos e baixa-la, segurando-a com as mãos. Com os olhos fechados sentir dor e tontura pararem tão inesperadamente como surgiram. Ninguém percebeu.Na hora do almoço Sammy, Josh e eu pegamos uma mesa e sentamos para comer. Josh havia terminado rápido, pois tinha algo para fazer.

– Então... - disse Sammy, quando ficamos à sós, acrescentou sussurrando - seus pesadelos.

– Eu já disse, sem mais pesadelos. Estou prefeito, bem, tanto quanto possível.

– Cal, é sério. - Ela tomou um pouco de suco - Você está visivelmente cansado.

A algumas mesas da nossa, Paul Miller, o maior idiota da escola - também nomeado por mim - nos fitava. Sammy continuou falando, mas parei de escutar quando vi Paul se levantar de sua mesa e andar em nossa direção. Pior, estava vindo à nossa mesa. Pior...

–Hey Sammy...

– Samantha – disse, ele me olhou e depois voltou para ela.

– Samantha, bem, eu vou dar uma festa hoje... E, quem sabe você esta afim. Aparece, vai ser legal.

Ótimo, um babaca do time - o que mais odeio - dando em cima da Sammy. Poderia ser algum cara legal ao menos.

– Valeu Paul, vamos aparecer por lá.

– Vamos? – dissemos, eu e Paul.

– Claro. – Sammy me fitou como uma mãe dizendo com os olhos que o filho deve ser um bom garoto.

– Então... – Paul me olhou, ele claramente não gostou da ideia de me ter em sua festa – Okay. - e com um sorriso, claramente forçado, deixou nossa mesa.

– Sammy, com certeza você não é uma boa amiga.

– Claro que não.

– Sabe que não vou nessa festa.

– A única coisa que sei é que vai usar algo maneiro.

Depois do acontecido no almoço passei o resto do dia tentando tirar a ideia de Sammy de sua cabeça. Sabia que para ela era só algo legal para fazer a noite. Mas para mim, era um local onde estaria cheio de gente que detesto, não entendia o que ela queria em me levar na Festa de Retorno às Aulas de Paul Miller, O Idiota. Saindo da escola - repeti novamente que não iria a festa - voltei para casa, onde comecei as atividades de retorno do Sr. Tunner. Josh me ligou, para tirar algumas dúvidas. Quando terminei, fiz o que normalmente fazia só em casa, ler, ouvir música... Já era quase noite e não havia recebido ligações de Sammy, o que não era um bom sinal.

Robert chegou e estava cansado, isto estava estampado em sua cara. Ele murmurou algo "estarei no quarto, caso precise de algo" – visivelmente desconfortado em o falar – e subiu as escadas indo para o quarto. Estranho. Depois disso, preparei algo para comer enquanto assistia qualquer coisa na TV quando batidas na porta da frente vi, abrindo a porta, um sorriso no rosto moreno de Sammy.

– Está pronto?

Garotas e suas cento e dez mareiras de nos obrigar a fazer o que querem. Havia saido do banho e me vestido, estava passando pelo corredor, parei na porta de Robert, bati levemente, abri e coloquei a cabeça para dentro. Ele estava na mesa com o Notebook e vários papéis, manuscritos.

– Hey, – ele levantou a cabeça e me olhou - estou saindo com Sammy...

– Certo – não sei o que vi em seus olhos, ele acrescentou – tenha cuidado.

A ida até a festa foi calma. Sammy fez comentários sobre como eu era um anti-social que odiava a todos, eu respondi que a única que odiava agora, era ela. Logo estávamos descendo seu carro e entrando na casa de Paul – seus pais viviam de viagens, então não era uma simples festa. As batidas da música ecoavam pela casa, saindo pelas janelas. Ainda era cedo, mas com certeza os vizinhos não estavam gostando muito. Não demorou muito para que Sammy sumisse entre as pessoas e eu me encontrasse sozinho. Ótimo.

Andei pela casa vendo garotos bêbados riem em bando, alguns fumando sabe-se lá o quê. Casais se pegando nos corredores não ligavam para o restante. Parei no jardim, era grande, rodeado por uma cerca de plantas, a grama era verde e bem viva e havia uma piscina retangular. Um cara tirou a camisa e pulou na piscina levantando muita água, algumas pessoas riram e mais jovens o seguiram. Sentei em uma cadeira de sol um pouco afastada da borda - na outra cadeira, ao meu lado, um casal de lésbicas davam uns amassos.

– Está muito perdido aqui não, Cal? - Josh apareceu. Segurando dois copos, ergueu um para mim.

– Cara, está tão óbvio assim? – peguei a bebida. Ele riu. O gosto de álcool no ponche desceu rasgando minha garganta quando tomei um gole da bebida.

– Paul me convidou – disse ele – eu não vinha, mas Sammy me obrigou a vir, disse que você ficaria só... Mesmo assim, eu não tinha nada para fazer.

Eu estava para sorrir quando subitamente, como antes, minha visão turva entrou em ação... Só que mais forte e acompanhada por uma dor nas têmporas tão aguda, que me fez tocá-las de imediato, soltando um grito de dor.

– Cal? – ouvi a voz de Josh preocupada, aos meus ouvidos ela parecia distante. - Cal!

Senti as mãos dele segurando meus ombros, ele fitava minha face, e percebi que algo escorria de meu nariz, passei os dedos e quando os vi, estavam vermelhos. Sangue. Alguns dos jovens nos olharam.

– Cal, fique aqui, vou chamar Sam. Fique aqui.

***

Devo admitir que não tinha sido legal ter deixado Cal sozinho na festa. Entrei no quarto de Paul, grande e arrumado, as luzes estavam apagadas, mas uma janela que dava numa varanda estava aberta, deixando a luz do luar banhar o cômodo. Uma sombra, alta e forte, ficava no meio da janela. Paul. Ele me olhou, não pude ver seus olhos azuis.

– Tentando ser romântico? – Disse.

– Claro que não.

Ele andou pegando minha mão no caminho e me guiou, sentou-se na beirada da cama, colocando-me entre suas penas, comigo de pé.

– Sei que é "curtição" – disse ele.

Claro, não sentia nada muito forte por ele, nem por algum outro. Tudo era somente físico. Passei os braços pela nuca de Paul, desci a cabeça, e toquei seus lábios com os meus. E repeti. Repeti até os beijos ficarem mais intensos, fortes e desesperados. Suas mãos deslizaram minhas curvas e ele acariciou minhas costas. Passei os dedos por entre seus fios loiros e espetados, tão diferentes dos cachos negros de Cal... Paul foi deitando-se devagar na cama e eu o segui, sem nos separamos dos beijos, eu estava deitada sobre ele. Minhas mãos percorreram seus músculos, ombros e passaram para barriga lisa, rija. Pequei a bainha da camisa de Paul, levantando, tirando levemente...

Quando uma luz nos atingiu, a porta do quarto estava aberta. Josh se encontrava na entrada, a face com misto de descrença, surpresa. Ele abaixou levemente a cabeça, visivelmente desconfortado com a cena.

– Sam, procurei você pela casa toda. – disse ele, enquanto me retirava de cima de Paul, recompondo-me. – é Cal... Ele não está bem.

Com isso, saímos do quarto, com Paul nos seguindo. Josh nos levou até o Jardim, ao chegar parou e olhou o local espantado.

– Ele não está mais aqui.

Ao perguntar alguns dos jovens por Cal, eles não sabiam onde ele havia ido. Procuramos por toda a casa. Separados. Minha mente estava confusa com os acontecimentos. Josh me viu com Paul, Cal desaparecendo. Depois de nenhum resultado nos reencontramos na sala.

– Não conte para ele o que viu. – me vi falando isso para Josh, não sabendo direito o motivo. Observei uma mancha vermelha na camisa azul dele – O que...

– Não é meu sangue - ele me fitou – Temos que encontrar Cal...

– Ele não está aqui, procuramos por toda casa – disse Paul. ele pegou celular - temos que chamar o pai dele... Ou a polícia.

– Polícia?

– Sam, eu já tentei ligar para ele – disse Josh – Ele sumiu.


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Notas finais do capítulo

Next >
" – O que você fez com Cal?
—Samantha, não pode se envolver nisso... "



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