Addicted to love escrita por Caramelkitty


Capítulo 3
Aquela que desenha olhos bicolores a carvão


Notas iniciais do capítulo

Eu sei... demorei outra vez -.-
Aqui está o capítulo!



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O meu cabelo remexia com o vento. Pelo canto dos olhos conseguia ver os tons de prateado que a luz do sol fazia reluzir. Isso era, no mínimo inspirador. E eu sentia-me bem ali, como nunca pensei que me fosse sentir numa escola povoada de gente.

Sempre vivi sozinha e a floresta era a minha casa, o meu lar, o meu sustento. Mas quem diria que um dia, eu iria sentir falta de algo que nem o mais travesso esquilo, nem o mais corajoso leão poderia me oferecer. Quem diria que eu iria ter a coragem de me infiltrar numa escola. Pensei várias vezes em desistir, rasgar aqueles papéis de admissão e continuar na vida simples que levava. Mas agora, aqui estou eu, pela primeira vez numa escola. Tenho medo que descubram que eu sou a minha própria mãe. Fui eu que assinei o papel no lugar do encarregado de educação e, se descobrirem disto, acho que estou bem ferrada. Abri o livro e logo me senti zonza com aquele emaranhado de letras e números. Eu tinha que aprender a ler e a escrever antes que descobrissem que eu não passara por uma escola primária. Eu não quero ter de ir para uma dessas escolas básicas, com miúdos que me dão pela cintura. Iria chamar a atenção, tudo o que eu menos quero.

Desisti de tentar decifrar algum significado naquele livro e tirei os meus lápis e folhas brancas. Esta escola tem de facto algo bom. E esse lado bom é o pátio enorme, onde predomina a vegetação, a liberdade e os bancos de mármore.

Deitei-me de bruços e comecei a desenhar uma pomba que pousara à minha frente.

– Isso linda! Não te mexas! – Eu implorava.

Passos barulhentos afugentaram a minha modelo. Encarei mal humorada a rapariga que interrompera o meu trabalho artístico. Ela tinha cabelos ruivos, usava roupas largas e possuía lindos olhos verdes que eram escondidos por óculos garrafais.

Ela parou a alguma distância de mim e acenou timidamente.

– Olá, eu sou a Cristaly! Sou nova na escola. Vamos ter aula de educação física agora, depois do intervalo e eu gostava de saber se não quererias ser minha companheira de exercícios. É que eu só conheço uma pessoa nesta escola e ela já tem par.

Encarei-a com um esgar retorcido involuntário. Até que ela parecia ser uma boa pessoa, mas eu simplesmente ainda não estava pronta para lidar com gente. Por isso, a única coisa que consegui fazer, foi afastá-la como ela tinha afastado a minha pomba.

– Eu não pretendo ter par para a aula de educação física. Não me interessa que o professor queira emparceirar alunos, eu insistirei para ficar sozinha. Quem sabe se ele não aceitar o meu pedido...

Ela sorriu, meio sem graça.

– Desenhas muito bem! – Elogiou ela.

Decidi fazer o supremo teste. Retirei da minha mochila um desenho e alisei-o contra o banco. Cristaly, curiosa, aproximou-se mais.

– De que cor é esta borboleta? – Perguntei.

Ela olhou para mim, assustada e sem saber o que dizer.

– Como... como vou saber se está desenhada a carvão?

Como eu calculava. Ela era igual às outras.

– Era só isso que precisava de saber. Por favor, podes ir falar com outra pessoa? Eu preciso de alguma concentração e paz para conseguir desenhar.

Os olhos dela humedeceram ligeiramente. Parecia mesmo desolada por ter sido tão obviamente dispensada e expulsa dali. Por momentos senti-me culpada por recusar a companhia da garota. Eu não sabia nada sobre ela, só sabia que ela não tinha uma mente aberta como a minha. Mas nem todos podem ser prodígios, ela parece uma garota simpática. Eu podia tentar... e isso quase me fez voltar atrás nas palavras rudes. Quase...

Quando Cristaly se afastou eu avistei um rapaz que estava sentado num banco próximo ao meu. Ele olhava sonhadoramente o horizonte. O cabelo dele era prateado como o meu e quando ele abriu os olhos, pude ver que estes eram bicolores, ou seja, um deles era dourado e o outro esverdeado. Ele era tão diferente e, por conseguinte, tão bonito que não pude evitar retirar uma nova folha do meu bloco de desenhos e retratá-lo nela. Estava eu a acabar o desenho, quando o rapaz notou que eu o estava a olhar fixamente há já mais tempo do que a cordialidade permitia.

– Olá! – Cumprimentou ele.

Eu apenas fiz um aceno. Ele aproximou-se e eu tentei esconder rapidamente a folha, mas atrapalhei-me e o vento, que eu julgara tão meu amigo, traiu-me e levou a folha diretamente para as mãos do rapaz. Ele segurou o desenho e devolveu-mo, não sem antes dar uma olhada.

– Sou eu? – Perguntou.

Eu senti as bochechas queimarem mas acabei por acenar em concordância.

Ele ia devolver-me a folha, mas depois, semicerrou os olhos e analisou o desenho mais atentamente, sem querer acreditar.

– Como é que... isto foi desenhado a carvão, certo? Como é que conseguiste... desenhar olhos bicolores a carvão? Eles estão aqui, um dourado e o outro esverdeado. Como é que fizeste isso?

O meu rubor desapareceu instantaneamente devido à surpresa. Não era possível, ele era o único até agora que conseguira encontrar a cor nos meus desenhos a carvão. Isso significa que ele era ainda mais diferente e especial do que eu pensara.

– Eu tenho os meus segredos. – Repliquei. – Mas se não mantiver a boca fechada... a minha arte morrerá! Por isso é evidente que não te contarei!

Ele continuava a encarar-me, com excessiva curiosidade.

Está bem, eu consigo colorir um desenho com lápis a carvão, qual é o espanto? Além disso, toda a gente o consegue fazer. Poucos conseguem ver!

– Qual é o teu nome? – Perguntou ele.

– Luana!

– É um bonito nome!

Eu olhei para ele expressivamente. Só passados alguns instantes é que ele percebeu que eu também queria saber qual era o nome dele. Pelo que parece é meio avoado.

– O meu é Lysandre!

O toque da campainha soou estrondosamente.

Levantei-me e dirigi-me contrafeita para a aula de educação física.

Não pude deixar de pensar que talvez tivesse sido indelicado da minha parte não ter me despedido, mas lidar com pessoas não é o meu forte. Nunca sabia o que dizer, como agir. Preferia passar a imagem de uma garota fria do que uma garota boba e atrapalhada.

Claro que foi difícil fazer a aula. Consegui tornar-me inimiga do professor logo de início com o meu pedido que mais saiu da boca como uma exigência. Tive que fazer 20 flexões por castigo.

Ao voltar para a minha casa, ao final do dia, só pensava deprimida, o quanto a minha vida iria dificultar-se de agora em diante. Mas... há uma razão para eu ter me matriculado na escola. Uma razão que me esqueci de mencionar o que é até estranho, pois é a mais importante.

Eu tenho esperanças de vir a encontrar a minha família. No meio de uma sociedade de 127,6 milhões de pessoas. Podem me chamar de louca, mas eu sei que sou apenas sonhadora. E quando eu passei por aquele portão da Sweet Amoris, eu tive o pressentimento de que a minha vida iria mudar... e radicalmente.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado da Luana, próximo capítulo eu vou apresentar a última das minhas Docetes ;)



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