Contágio escrita por MrArt


Capítulo 112
Estação 6 - Capítulo 112 - O Olhar de Compaixão


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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— Sua temperatura está normal – Tuppence falou trocando a bolsa de soro de Bel, que permanecia deitada na sua cama em um quarto da clínica. O corpo já estava repousado havia alguns dias devido a cirurgia, mas se recuperava bem em estado lento. Não era para tanto, mas em meio as dificuldades do apocalipse zumbi, conseguiram realizar a proeza de uma cirurgia sem complicações; exceto pelo fato de uma pequena hemorragia, nada grave – Consegue levantar o braço? – Perguntou, segurando uma prancheta.

— Eu estou acamada, não aleijada – Bel foi estúpida e grossa com Tuppence, o que era previsível em resultado das medicações. Levantou o braço esquerdo inteiro com certa dificuldade, enquanto tomava o soro no outro, mas conseguiu.

— Não vou tirar sangue hoje – Bel agradeceu mentalmente por aquela notícia e então ajeitou sua touca azulada na cabeça – Mas vai ficar em observação caso tenha uma recaída – Rumou até a porta – Amber irá trazer o seu almoço.

— Ei! – Chamou por Tuppence antes dela sair. Ficaram alguns segundos em silêncio até Bel perguntar – Eu me livrei desse tumor? Não é? – Perguntou esperançosa, esperando uma resposta imediata da enfermeira.

— Se livrou sim, Bel – Tuppence deu um sorriso para Bel, que pela primeira vez em meses, estava retribuindo um, mesmo que bem fraco, ainda – Por favor, não faça nada que atrapalhe a sua recuperação.

— Okay – Bel assentiu e então se encostou na cabeceira da cama após Tuppence sair. Havia uma televisão pequena que Boone e Kei haviam pego de uma loja nos arredores de Albuquerque, e então a ligou, colocando em filme bem antigo, tendo pelo menos uma distração.

Estava quase adormecendo quando ouviu a porta do seu quarto ser aberta, se assustou de início e cogitou se levantar da cama e pegar o abajur no criado mudo, mas não fez nada ao perceber que era Amber entrando com sua comida.

— Estou interrompendo? – Amber perguntou, segurando uma tigela branca e um copo de plástico. Bel pegou o controle e pausou o filme.

— Não, eu estava esperando – Bel disse e então pegou a tigela – Posso me virar sozinha – Insistiu, pegando o par de talheres e então começou a comer do ensopado.

— Está certo – Amber deu os ombros, visto que Bel não precisava de auxílio naquele quesito.

Antes de Bel terminar de se alimentar, recebeu outra visita, mas essa de fato era inesperada.

— Olha quem está aqui! – Patrícia entrou no quarto com Matthew em seus braços. O garoto já estava com um ano de idade e aparentava estar bem grandinho e saudável, seus cabelos alaranjados e ondulados eram realmente radiantes. Bel abriu um vasto sorriso ao ver o bebe.

— Matthew, como você está enorme! – Amber fez uma voz fina ao ver o bebe, que começou a se chacoalhar no colo de Patrícia.

— Ele está sentindo sua falta – Patrícia falou colocando um pano de Matthew em seu ombro, enquanto o ajeitava no colo de Amber – Fica saindo do berço sozinho e engatinhando até o seu quarto – Bel riu.

— Então quer dizer que você está trás de mim, seu danadinho? – Bel apertou levemente os dedos de Matthew, que deu uma gostosa risada. Deu uma suspirada, colocando sua tigela no criado mudo – Como estão as coisas lá fora?

— Normais, não há nada de novo por Albuquerque – Patrícia disse – Parece que os zumbis não estão mais por aqui a muito tempo. Os membros da equipe de busca dizem que eles desapareceram. Acho que houve uma debandada – Tirou sua própria conclusão.

— Não me preocupo com isso a tanto tempo que me esqueço que essas coisas existem – Bel disse se sentando na cama. Olhou para a porta e viu a figura loira passar por ela – Parece que todos resolveram me visitar hoje – Bel riu ao ver Polly.

— Olá pessoal – Polly disse, entrando timidamente no quarto.

— Me dê um abraço – Bel abriu os braços de forma cansada e então Polly foi até ela, a apertando levemente – Estou sentindo tanta a sua falta – Falou.

— Digo o mesmo – Se soltou do abraço e então a encarou. Polly notava como Bel havia emagrecido e é claro, perdido um pouco de cabelo durante o tratamento. O grande milagre de Bel realmente havia sido a cirurgia – Está se sentindo melhor?

— Bem melhor – Afirmou – Quando vai voltar para cá definitivamente? – Perguntou, esperançosa por uma resposta positiva

— Eu não sei... – Polly encarou o chão branco do quarto – Não dá para saber ainda se estou preparada. Ainda sinto que ele está por aqui andando entre nós – Disse e então se fez um silêncio no quarto – Não acredito no que aconteceu até hoje. Mesmo com tanta coisa que passamos, essa é a única que me recuso acreditar que foi real.

— Eu também – Bel disse da forma mais otimista possível – Ninguém viu o que realmente aconteceu. Robert pode estar vivo em algum lugar... – Disse dedilhando as mãos de Polly – Ele com certeza estaria comigo durante o tratamento, o tempo todo – Bel cruzou os braços e então ficou pensando no loiro – Uma coisa eu tenho certeza. Ainda não vimos Robert pela última vez – Olhou para Polly, ainda com um resquício de esperança dentro de si.

 

Flashback

 

Semanas após o início do Contágio. Robert estava sentado no galho de uma árvore, numa floresta próxima ao acampamento em que estavam, no estado de Utah. O loiro conseguia ter uma visão panorâmica das árvores e também do acampamento bem ao fundo delas. Era uma imagem extremamente bonita da natureza, se for comparar os mortos-vivos que agora eram parte dela.

O cheiro das folhas e dos botões das flores extremamente sublimes, indicavam claramente que estavam na estação do verão. Ainda mais, se contassem pelo calor que fazia nos últimos dias e o clima abafado que prevalecia quando saiam para a rodovia em busca de algum suprimento ou até mesmo um sobrevivente perdido.

— Está boa a visão aí em cima? – Bel perguntou, tampando sua visão pela metade com a mão, uma vez que os raios de sol passavam entre as árvores e batiam em seu rosto.

— Normal – Robert respondeu, ainda sentado no galho, balançando as suas pernas sem perceber – Dá para ver a Michelle e a Polly brigando daqui – Comentou e então riu da cena de discussão que rolava perto das barracas do acampamento – Suba aqui! – Falou, gesticulando suas mãos, simulando para que Bel viesse até ao lado dele.

— Não. Não vou conseguir – Bel disse sem graça.

— Ora, é só colocar um pé em cada galho enquanto subir e escalar – Robert falou um pouco alto por estar num lugar elevado da árvore – Vamos, você consegue, quando você chegar mais perto eu te seguro, combinado? – Propôs.

— Certo – Bel concordou e então dobrou a barra de sua calça para prevenir um futuro tropeção. Segurou firmemente nos galhos da árvore e então começou a escala-la lentamente, com algumas dificuldades, mas nada que a impedisse. Parou na metade do caminho e então bufou – É muito alto – Olhou para Robert, que ainda aparentava estar longe.

— Metade já foi. É como se estivesse começando novamente – Falou, contente por Bel não ter desistido. A morena continuou escalando e então finalmente chegou no topo, e como Robert havia falo, a ajudou a ficar ao seu lado sem correr mais nenhum perigo – Viu só? Conseguiu – Sorriu animado ao ver Bel sentada ao seu lado.

— Eu estava lá embaixo – Bel disse assustada com a altura em que estava – Isso aqui é muito alto – Disse o óbvio.

— Gosto de vir aqui quando não há nada para fazer no acampamento – Robert disse observando a paisagem – É bem mais calmo, não preciso ficar aturando as brigas que a Jay e a Rita têm toda hora. Aliás, não preciso ficar vendo os problemas dos outros. Essa gente é um pé no saco – Cruzou os braços, sem perder o equilíbrio – Tudo bem que encontramos um lugar seguro desde Denver, mas vamos enlouquecer se ficarmos aqui para sempre.

— Nós não vamos ficar aqui para sempre – Bel proferiu, temendo que aquilo fosse uma possível realidade deles.

— Acha que isso uma hora vai acabar? – Robert perguntou encarando o solo terroso brevemente antes de olhar para Bel novamente – Detonaram uma cidade inteira para conter a infecção. Não é possível que não vão conter esses canibais.

— É difícil saber – Bel disse sem uma opinião formada – Acho que se isso acabar, as coisas não vão ser mais como antes – A morena parecia preocupada com o futuro que os reservava – Utah está completamente vazia desde que chegamos e... Ontem no rádio ouvi que o exército está conseguindo manter Los Angeles de pé, por enquanto – Falou, sendo um pouco pessimista.

— O problema é que – Robert bateu levemente no galho, desacreditado com as coisas que estavam vivenciando – Muitas pessoas estão morrendo. Estamos vivendo agora como animais para sobreviver. Isso é perturbador.

— Acho que se ficarmos juntos agora – Bel disse e então tocou sem qualquer intenção, a mão de Robert, que virou seu rosto para perto do dela – Nós podemos garantir mais um tempo de vida – Disse e então deu os ombros – O que temos a perder?

— Há tantas coisas que já perdemos quando isso começou – Robert disse sentindo a respiração de Bel contra a sua – Pode ser que as poucas coisas que tenhamos suma de uma hora para outra, como um sequestro – Falou, e então os dois selaram os lábios em um beijo quente e totalmente esperado por ambas as partes. Pararam segundos depois e acabaram por ficarem se encarando.

— Bel! Está aí? – Ouviram a voz de Lia e então se afastaram um pouquinho – Ah, o que estão fazendo no alto dessa árvore? – A loira perguntou vendo os dois sentados no galho como se nada houvesse acontecido segundos atrás.

— Estamos apreciando a vista – Bel disse – Dá pra ver o acampamento daqui.

— Ah, que seja – Lia disse, de modo que aquilo não fosse relevante para ela – Kei está chamando todo mundo para uma reunião geral. Não parece ser muito importante, mas sabem como ela é – Falou, entediada.

— Já estamos indo – Robert informou, enquanto Bel descia lentamente da árvore. Os dois então chegaram no solo sem nenhum problema e então voltaram para o acampamento. Aparentemente nenhum clima tenso ficou entre os dois, mas aquele beijo, foi o único que deram entre si. Após aquela tarde, nunca mais tocaram sobre o assunto, como se nada houvesse acontecido.

 

 

Fani saiu correndo pelas ruas de El Distrito. Havia uma enorme adrenalina correndo por todo o seu corpo, acompanhada de um grande orgulho de si mesma. Estava tão eclética, que as pessoas pela cidade que passavam por ela, comentavam o seu repentino comportamento.

— Fani? Está tudo bem? – Tamar perguntou vendo a loira andar em passos apressados perto dela.

— Está! – Fani disse espontânea e com os olhos arregalados, se virando brevemente para Tamar.

— Bela conversa. – Tamar falou, antes de voltar aos seus afazeres na creche da comunidade. A morena sempre desconfiava que Fani tinha um parafuso a menos, e agora aquilo só confirmava a sua teoria.

Não demorou muito e encontrou Kei, prestes a sair da cidade para mais um horário de buscas por suprimentos. A oriental estava consertando o motor de seu novo jipe, totalmente equipado com placas, grades e armas, tudo ao seu gosto. Fani correu até ela.

— Preciso que venha comigo – A loira disse impaciente, mas Kei a ignorou primeiramente – Ei, estou falando contigo.

— Vá caçar o que fazer Fani, estou ocupada agora – Kei disse pegando uma chave estrela – Chame o Riki para fazer babaquices por aí. Tenho coisas mais importantes para fazer.

— Kei, o que eu tenho para falar é muito sério – Fani tentou convencer Kei que não a faria perder tempo como da última vez – Se você não vier comigo agora, vai se arrepender pelo resto de sua vida quando descobrir.

— Por que então não me conta agora? – Kei se virou e cruzou os braços.

— Não sei qual vai ser sua reação, por isso não quero fazer nada precipitado – Fani disse ficando irritada por estar sendo menosprezada por Kei – É importante para você. Mas se não quiser saber – Deu os ombros – Outra pessoa pode me ajudar – Se virou e então começou a se afastar de Kei, que fechou o cenho.

— O que você quer? – Kei não hesitou e então perguntou. Fani deu um sorriso, e então virou-se para a oriental.

— Reúna Polly, Boone, Athena, Juan, Taissa e Ozzy no antigo bar do César – Fani pediu – Encontro vocês em dez minutos – Disse, sem dar mais nenhuma outra palavra para Kei, que ficou com um extremo ar de dúvida sobre o que a loira estava tramando.

Rapidamente todos os convocados estavam no que era o bar de César, que agora funcionava como uma mercearia. Era perturbador pensar que todos os antigos trabalhadores dali haviam morrido tão cruelmente, mas agora, ali ao menos funcionava para outra coisa. Halsey havia se tornado responsável pela administração do local, e havia deixando a recepção da comunidade.

— O que a Kei precisa? – Boone entrou no estabelecimento, encontrando Percy e Athena lado a lado. O tatuado se encostou em uma das mesas e cruzou os braços.

— Parece que há alguma coisa rolando lá fora – Athena respondeu.

— Não sei por que eu vim. Não posso andar além dos muros – Juan não havia se acostumado com a sua nova condição física. Havia uma enorme cicatriz no local em que havia sido esfaqueado anteriormente, e então era um risco iminente para si arriscar qualquer coisa.

— Não seja rabugento – Athena deu um tapa na cabeça de Juan, o repreendendo – Dê graças a Deus que está vivo. Não me faça lembrar de todo aquele terror que passamos – A ruiva tinha ataques de pânico ainda. Essa era a sua cicatriz psicológica.

— Kei já está aqui? – Polly apareceu, vestindo seu casaco escuro – Falei para o Scorpion voltar para o abrigo dele. Resolvi ficar na cidade hoje – Comentou, mas não parecia tão animada pela decisão.

— Como Bel está? – Boone perguntou para a loira.

— Ela está legal. Abatida ainda, mas está muito melhor do que da última vez que a vi – Polly se sentou em uma das mesas, ao lado de Boone – Perguntou onde você estava, duas vezes – Abaixou a cabeça e encarou o chão xadrez.

— Vou aparecer lá mais tarde – Boone afirmou. Não havia deixado Bel de lado um dia sequer durante todo os dias de tratamento. Ficou junto dela nos momentos mais difíceis, especialmente em suas recaídas e surtos, sendo totalmente compreensivo a todo tempo. O câncer era uma arma tão poderosa, que afetava até mesmo as pessoas que não o tinham, mas Boone sabia ser forte nestas ocasiões melhor do que qualquer um.

Depois de alguns minutos, Kei finalmente estava entre eles, acompanhada de Fani, que ainda estava se mostrava ansiosa.

— Não chamou o Ozzy e a Taissa? – Fani perguntou para Kei, notando a ausência do casal.

— Já estamos aqui! – Ozzy gritou, empurrando a porta.

— Estávamos fazendo a vigia em uma das torres – Taissa arrumou o colete, que aparentava estar frouxo.

— Estavam muito – Polly disse debochadamente.

— Sem brincadeiras, pessoal! – Fani disse ficando no meio do cômodo – Isso é muito sério! – Apontou o dedo para Juan, antes que ele fizesse alguma piadinha sarcástica – Não chamei vocês aqui sem um motivo. Estava fazendo uma coisa durante meses e só hoje, somente hoje, consegui um bom resultado – Ela disse orgulhosa de si, segurando algumas lágrimas que teimavam em cair do seu rosto. Todos ali perceberam como a moça estava e então se compadeceram dela, ficando em silêncio – Robert está vivo – Disse e então diversos olhares esbugalhados foram feitos, bem como alguns rostos boquiabertos.

— Espera... – Ozzy disse duvidoso.

— Cale a boca – Kei insinuou em socar o rosto do rapaz – Continue, Fani.

— Antes que achem que eu fiquei louca ou que estou conversando com as plantas – Fani se sentiu incomodada ao lembrar dos apelidos que lhe davam constantemente – Zain conseguiu arrumar a bateria de um rádio que eu encontrei – Explicava da forma mais clara possível – Fiz uma transmissão de rádio e as ondas de transmissão ainda estavam funcionando. Robert estava falando comigo – Falou, e então Polly abriu um sorriso em seu rosto – Ele está vivo pessoal. Robert está vivo, ele conversou comigo.

— E o que ele disse? – Boone perguntou, com o estomago completamente embaraçado ao ouvir o relato de Fani.

— Bom... – Fani abaixou a cabeça e suspirou. Essa era a pior parte, mas não podia esconder nada naquela altura do campeonato.

— Diz logo! – Polly gritou, irritada com aquele suspense. A loira então ergueu a cabeça disse:

 – Robert está na...


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Notas finais do capítulo

Onde será que Robert está? :o

Será que descobriremos no próximo capítulo?



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