Contágio escrita por MrArt


Capítulo 111
Estação 6 - Capítulo 111 - Você Não está Falando com Uma Loira Burra!


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Havia se passado um ano. Ninguém mais havia visto Robert desde que ele deixou El Distrito com Vasili, também desaparecido até então. Depois de um dia de ausência, resolveram procura-lo, o que se tornou dias de buscas desesperadoras e aflitas a procura de Robert, até para fora do condado, mas não encontraram sequer um fio de seu cabelo.

Nas primeiras horas o principal foco de todos eram encontrar Robert. Nas próximas setenta e duas horas, o principal foco era encontrar um corpo.

Mas nem todos tinham esse pessimismo, e as buscas sempre continuavam.

Foram inúmeras teorias criadas para o desaparecimento de Robert; entre muitas delas, ideias completamente absurdas. Robert havia matado Vasili e fugido, ou Vasili havia o matado e fugido ou até mesmo que os dois fugiram sozinhos para que o russo não fosse morto. E ainda havia a imaginação de alguns que acreditavam que Robert havia se jogado de uma pedreira próxima de Albuquerque.

As coisas haviam mudado aos longos dos meses desde que Robert havia sumido. Lentamente a cidade se reconstruiu após toda a confusão, apesar dos restantes dos destroços visíveis em alguns pontos. Bel finalmente começou a se tratar do tumor e Kei, criou um hábito de sair todas as manhãs para ir ao portão da cidade e ver se Robert estava voltando, mas isso sempre acontecia nos seus devaneios e pensamentos.

E como espero por muitos, Polly havia enlouquecido por terem colocado na sua cabeça que Robert havia morrido, e Scorpion tomou a decisão de removê-la para fora da cidade durante alguns dias.

— Não há zumbis por aqui – Boone anunciou olhando pela rua completamente vazia, que dava acesso a uma das entradas de Albuquerque. O tatuado segurava uma sniper, semelhante as de Kei – Não há ninguém por aqui... – Disse baixinho, para si mesmo.

Fani e Percy andavam pela rodovia principal, indo até Boone. Havia revistado toda aquela área e não havia nada de incomum.

— Aquela área está toda limpa – Disse Fani retirando seu boné e limpando a testa – Estamos seguros, por enquanto – Colocou o antebraço sobre a cabeça, tampando a luz do sol.

— Vamos voltar para El Distrito. Não há mais o que fazer aqui – Percy disse encerrando a vigia naquele dia. Boone olhou de lado, encarando uma árvore morta – Sinto muito Boone, mas você precisa aceitar que agora ele está...

— Robert não está morto! – Apontou seu dedo para Percy, enraivado. Se virou e guiou-se até o jipe deles, se sentando na parte de trás.

— Não deveria ter tocado neste assunto – Fani bateu com seu boné no peito de Percy – Se não fosse aquele psicólogo que encontramos, ele já teria atirado em você caso explodisse de vez. Seja mais sensível, Percy – A loira disse e então foi para o jipe.

— Sensível... – Percy revirou os olhos e bufou – Ninguém é sensível comigo nessa porcaria – Colocou a arma nas costas e foi para o veículo, tomando o local da direção.

 O caminho inteiro foi de silêncio, exceto pela parte de Fani, que insistia em mudar as estações de rádio constantemente, mesmo que todas apenas transmitissem um ruído repetitivo e também incomodo para os ouvidos de qualquer um, mas a loira não desistia das coisas tão cedo.

 – Sabe que nenhuma rádio desse estado não funciona a muito tempo, não sabe? – Percy perguntou, quebrando a falta de comunicação. Fani revirou os olhos e não respondeu, agora ela tentava conectar dois fiozinhos vermelhos do sistema do rádio – O que está fazendo? – Perguntou novamente enquanto olhava rapidamente o que a moça fazia, para não se distrair enquanto dirigia.

— Estou tentando fazer essa porcaria ter sinal – Disse mordendo a própria língua, tentando ao menos não se distrair.

— Sinal? – Percy riu debochado – Desde quando se interessa nisso?

— Meu querido... – Fani se virou e olhou para Percy – Eu trabalhei para o governo do estado durante muito tempo. O que eu mais sei fazer é mexer com aparelhos eletrônicos, além de rastrear as coisas virtualmente para benefício dos outros. Mas isso não é uma coisa que venha ao caso – Disse e então voltou ao seu pequeno experimento – Eu só não fiz isso durante esse tempo todo por falta de oportunidade, por que eu te garanto que eu sou boa com o que eu faço. Você não está falando com uma loira burra! – Virou-se mais uma vez e então piscou para Percy, que ficou calado até chegarem em El Distrito. Boone ouviu toda a conversa e deu um sorriso monótono, sem tocar no assunto.

 

Flashback

 

2014. O Capitólio do Governo do Novo México estava um caos. Todo o exército e praticamente toda a reserva havia sido convocada para evacuar os parlamentares e senadores do estado, bem como seus familiares. A infecção já havia se espalhado por quase todas as cidades e o controle de doenças já não havia mais como prosseguir suas atividades para tentar contê-la.

O Capitólio havia virado uma completa bagunça. Havia homens e mulheres andando desesperadamente por todos os cantos enquanto ouviam os noticiários na televisão que eram transmitidos agora dentro de PRÓPRIO do lugar, já que não havia segurança mais nas ruas. O governo americano estava à beira do colapso.

— Senhorita Marvel, precisamos sair – Zain apareceu no gabinete de Fani, que revisava um último formulário do Deputado Silles, membro da Câmera dos Representantes. A loira não estava muito preocupada com o que estava acontecendo fora do prédio. Para falar a verdade, Fani não achava seguro sair dali tão cedo, já que todas as pessoas que saíram dali nos dias anteriores estavam sendo dadas como desaparecidas.

Zain saiu do gabinete de Fani, que finalmente se levantou após ouvir o barulho dos tiros do lado de fora do prédio, ainda cogitou em permanecer um tempo, mas sabia que ficaria tarde demais e ela acabaria ficando para trás. Fani não tinha tantas alternativas naquele momento e fugir era a única delas, mesmo sendo um dos maiores riscos no momento.

— Por onde vamos? – Após recolher seus documentos mais importantes e guardar numa bolsa de couro, Fani encontrou um dos generais do exército, Gooding, em um dos corredores ajudando na evacuação. Estava se crucificando por dentro ao ter deixado várias coisas importantes, não só no gabinete, mas em todo o Capitólio, mas era aquilo ou sua própria vida.

— O helicóptero vai te levar para Albuquerque – Informou Gooding, enquanto retirava mais três pessoas de uma sala.

— Albuquerque? – Fani continuou seguindo Gooding, segurando fortemente suas coisas para que não caíssem no meio do tumulto – Fui informada que seria levada para Washington ou Nova Iorque. Se for para ir a Albuquerque eu mesma vou com meu carro – Falou irritada, Gooding suspirou e virou-se para a moça, que permanecia na sua cola.

— Escute aqui – Gooding disse se segurando para não explodir em meio a situação – Santa Fé está em estado de calamidade e o Protocolo Quarentena foi acionado para todo esse condado. Se você não quiser ficar presa aqui com aquelas coisas lá fora, me obedeça! – Dessa vez o general havia gritado e Fani ficou quieta – Você tem sorte de ter um transporte para te salvar! Nem todas as pessoas daqui poderão sair a tempo e isso inclui eu! Agora caia fora daqui! – Disse virando e empurrando a loira em direção as escadas.

— Mas... – Fani tentou argumentar mais uma vez, mas Gooding já havia sumida na multidão que estava naquele corredor.

O prédio inteiro se estremeceu com o barulho de explosões vindas do lado de fora. O tumulto ali dentro só piorou quando as luzes começaram a piscar e deixarem o local sem energia por alguns segundos. Fani estava sendo arrastada pela multidão, mas na direção contrária que deveria ir.

— Eles estão aqui! – Ouviu uma voz feminina aos gritos. A barriga de Fani congelou em meio ao desespero, até que ela começou a empurrar todos que a impediam de se locomover. Agora havia muito pouco tempo para escapar.

— Sai da minha frente! – Fani empurrou Starla, uma das congressistas da cidade, sem sequer pensar se ela era uma autoridade maior ou não. Só se arrependeu quando a empurrou para um dos infectados, que começou a dilacerar a mulher completamente – Meu Deus! – Fani gritou desesperada ao ver Starla sendo morta na sua frente.

— Senhorita Marvel! – Zain puxou Fani pelo braço, a arrastando escada a cima – Precisamos ir agora para o helicóptero antes que ele parta! – Os dois correram o mais rápido que podiam pelas escadas, tentando não esbarrar em ninguém mas era impossível – Perdemos muito tempo na evacuação! Metade dessas pessoas vão morrer quando o protocolo for ativado! – Finalmente chegaram no heliponto, no telhado do capitólio. Havia algumas pessoas embarcando com o auxílio de alguns soldados.

— Espera! – Fani segurou Zain antes de entrar no helicóptero – Está me dizendo que se esse protocolo for ativado? A cidade corre o risco de...

— Ser dizimada! – Zain gritou, pois, o barulho dos tiros ecoando pela cidade inteira era insuportável – Todo esse condado vai ser destruído por uma bomba! Parece que estão fazendo o mesmo com Denver e Las Vegas! Anda logo, você tem poucos minutos – Empurrou Fani para os braços de um soldado, pois ela ficaria ali se não fizesse nada.

— Zain! – Fani gritou para o rapaz enquanto era colocada dentro do helicóptero – O que vai acontecer com você?!

— Eu vou me virar! – Zain disse se afastando do helicóptero – Se cuide, Fani! Não deixe aquelas coisas te pegarem! Ficarei bem! – Gritou. Fani colocou as mãos na janela do helicóptero quando este começou a decolar, se afastando do solo.

— Zain... – Sussurrou o nome do rapaz cada vez que o helicóptero se afastava do capitólio. Após alguns segundos já não tinha visão dele. Se encostou no assento em que estava e ficou olhando aleatoriamente para as pessoas que haviam sido salvas e imaginou Zain ali – O que acabou de acontecer?! – Perguntou para si mesma, em estado de choque.

Fani ouviu um estrondo e temeu achando que fosse o helicóptero atingido por alguma coisa, mas quando botou o rosto na janela, pode ver vários feixes de luzes saindo de aviões militares e atingindo vários pontos de Santa Fé, causando uma destruição iminente. O céu de Santa Fé estava sendo iluminado por diversas explosões, num espetáculo inimaginável de destruição e Fani assistiu tudo aquilo horrorizada, pensando em como Zain estaria agora.

 

— Não há algo que possamos fazer no momento. Sei que quer fabricar balas com moedas, mas isso é uma tarefa muito complicado – Zain falou para Kei, enquanto polia a sua sniper, deixando-a limpíssima e claro, restaurada. Estavam em uma oficina construída pela equipe de construção a algumas semanas, e esta parecia estar funcionando perfeitamente.

— Está difícil encontrar munição por aí, parece que fabricar não é uma má ideia – Kei disse pegando a sua sniper – Pense nisso, pode favorecer a todos nós – Deu uma olhada na sua querida arma, pensando em coisas aleatórias.

— Ainda sente falta do seu amigo? – Perguntou, enquanto soldava uma barra de alumínio – Não o conheci muito bem, mas ele me parecia uma boa pessoa.

 – Já tem um ano desde que ele sumiu – Kei disse deprimida – Vi muita gente morrer durante todo esse tempo, mas ele é diferente, sabe? – Começou a encarar o chão, tentando esconder sua fraqueza – Éramos como uma família, quer dizer, ainda somos – Falou – A única coisa que me faz ficar aqui é a Bel, quero ter certeza que ela sairá daquela maldita doença.

— Eu a vi esses dias na clínica – Zain comentou – Ela me parece melhor depois daquela cirurgia.

— Sim, sem aquela cirurgia... – Kei suspirou enormemente aliviada – Não a teríamos conosco agora. Ela é uma boa garota, não merece tudo isso o que está passando.

— Kei, nenhum de nós merece isso – Zain se levantou de sua mesa de trabalho deixando a solda numa estante – Estamos fazendo o possível para garantir nossa sobrevivência, tanto é que reconstruímos esse lugar durante os meses. Mesmo depois de todas essas dificuldades.

— De fato – Kei concordou e então rumou para fora da oficina – Me orgulho de ter reconstruído esse lugar, pelo menos isso. Até mais, Zain, e obrigada por tudo – Sorriu e então deixou o local.

— Por nada – Zain assentiu e então voltou ao seu posto de trabalho.

Zain permaneceu ali durante um bom tempo sem preocupações. Estava em um local seguro, sem zumbis ou pseudos-assassinos à solta. Seu trabalho era bom e se orgulhava disso, era bem falado em El Distrito, e para o seu alívio, estava isento de qualquer atividade que envolvesse saídas perigosas da comunidade para procurar suprimentos.

— Muito trabalho, Zain? – Fani entrou na oficina e assustou o rapaz devido seu surpreso surgimento. O árabe teve que segurar fortemente suas ferramentas para que não a derrubasse – Me desculpe se te assustei – Riu, se encostando em um dos armários de metais. Pegou uma lixa de seu bolso da calça e então a passou nas unhas.

— Não precisa se desculpar – Zain disse guardando suas ferramentas em um baú – O que fez de bom hoje?

— Nada demais. Não tem mais graça sair para as buscas, não há nenhum zumbi – Fani reclamou como se aquilo fosse a coisa mais insana do mundo – Esse lugar está mais limpo que calcinha de freira, chega a ser sem graça.

— Por que não volta para a administração da cidade? – Perguntou – Fazia isso tão bem desde que chegou aqui, e agora não tem o Timothy na sua cola.

— Timothy é um desgraçado, ele me aprisionou naquele prédio e eu quase morri nele – Fani revirou os olhos e então guardou sua lixa – A melhor coisa que eu fiz foi sair quando tive oportunidade. E mais, agora tenho uma casa só minha.

— Muito bom – Zain cruzou os braços, a parabenizando – Ah, arrumei isso para você – Revirou os bolsos do seu macacão e retirou uma pequena bateria, a jogando para Fani – Disse que ela ainda era reutilizável, e tinha razão. Consegui restaurá-la. Pode haver algumas falhas, mas não é nada que estrague tão cedo, pode durar bastante tempo se tiver cuidado.

 E isso eu tenho muito – Fani falou, segurando a bateria – Valeu mesmo, Zain.

— O que vai fazer com ela? – Perguntou novamente.

— Vou testá-la! Estou atrás de uma bateria que funcione a meses! – Disse, e então saiu da oficina, deixando Zain para trás. Os dois eram bons amigos desde Santa Fé, e desde a terrível separação de ambos temporariamente, acabaram por valorizar o relacionamento ainda mais – Oi Polly! – Cumprimentou a amiga loira, que andava pelas ruas da cidade acompanhada com Scorpion. Polly apenas deu um aceno sem graça para Fani e então seguiu o seu caminho.

Entrou novamente no jipe de Percy, verificando antes se não havia ninguém ali por perto. Se sentou no banco do motorista e novamente começou a mexer no sistema do rádio. Retirou algumas peças desnecessárias que serviam mais para uma gambiarra e então colocou a bateria restaurada por Zain. Ainda agradecia mentalmente ao amigo por ter feito aquele grande favor para ela.

— Vamos lá... funcione – Fani disse mudando todas as estações de rádio, que ainda transmitiam apenas ruídos. Para não desistir completamente, Fani puxou a antena, tentando estabilizar a conexão e ficou muito tempo ali, até que finalmente ouviu algo diferente dos ruídos.

T...— Ouviu uma voz tentando entrar em conexão – Tes... Testando!— Fani pegou imediatamente o microfone do rádio e respondeu.

— Testando! – Fani falou ofegante – Testando?! – Entrou em desespero quando a pessoa não respondeu a ela – Por favor, não saia da linha!

— Eu conheço essa voz! – Fani se arrepiou ao ouvir a voz masculina a respondendo, sabia muito bem quem era ali atrás – Parece ser de alguém de El Distrito! Mas não é nenhuma das minhas amigas! – Continuou – Por favor, me diga quem é!

— Fani! – Respondeu – Aqui é a Fani falando com você.

Fani?!— A voz pareceu impressionada – Finalmente consegui entrar em contato com vocês, é um milagre! A pessoa que está falando com você, é o Robert!


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Notas finais do capítulo

Até o próximo!



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