Eu peguei o celular e procurei no histórico se o número desconhecido ainda estava lá. Eu não tinha o número do Fernando, mas tinha esperança de que ele ainda usava esse. Eu ia esperar até que minha mãe fosse embora para ligar pra ele. Eu ainda estava esperando a visita do meu pai que apesar de eu quase não vê-lo por causa do seu trabalho e eu era muito apegada ele. Acho que só uma coisas dessas acontecer para poder tirar ele das suas viagens importantes de trabalho.

– Princesa, eu fiquei tão preocupado – meu pai disse entrando no quarto

– Oi pai – eu dei um sorriso fraco

– Assim que eu soube peguei um vôo direto pra cá. Achei que não te veria mais – ele falou me abraçando

– Ta, tudo bem pai, eu to viva.

– Ah querida se eu pudesse eu mesmo iria dar um sermão nessas meninas, onde já se viu fazer uma coisa dessas, agir com tamanha violência. Mas já conversei com os pais de cada uma e eles estão dispostos a arca com a conseqüência pelos atos impensáveis de suas filhas.

– Calma Renato, a polícia vai vim conversar com a Juliana amanhã, e esse pesadelo vai acabar – minha mãe falou tentando acalmar meu pai.

Eu podia ver o quanto eles estavam aflitos, meu pai deu um sorriso pra minha mãe e eles seguraram a mão um do outro. Era raro eu ver essa troca de carinho entre eles, minha mãe sofria muito por meu pai sempre está viajando e quase nunca está em casa, ás vezes ela ficava com raiva, mas sabia que ele fazia isso pra dar uma boa vida pra gente. Mas quando ele aparecia em casa de surpresa os olhos dela até brilhavam de tanta felicidade, eles sempre foram muito reservados, mas dava pra notar que se amavam e fazia qualquer coisa pela família, mesmo com as discussões um pouco freqüente ultimamente.

– Que bom que a gente ta reunido de novo – eu sorri

– Uma pena que seja nessa situação, Ju. Mas só assim pro seu pai sair de qualquer viagem mesmo.

– Silva, você sabe muito bem que...

– Por favor! Não discutam – eu os interrompi

Antes que eles pudessem responder a enfermeira chegou e disse que o horário de visita havia acabado. Minha mãe rapidamente se despediu de mim e saiu na frente. Ela parecia estar com muita raiva. Meu pai me deu um abraço e disse bem baixinho no meu ouvido:

– Princesa, eu prometo que vou viajar menos, conversei lá na empresa e parece que vai dar certo, era pra ser surpresa para sua mãe, mas ela já ta uma fera comigo, amanhã a gente vem te pegar e vamos levar você pra casa, deixei uma surpresa no seu quarto. Eu amo você.

– Também te amo, pai.

Ele me abraçou e me deu um beijo no rosto.

Parece que tudo isso tinha servido pra alguma coisa, deixar minha família mais unida. Eu esperei até a enfermeira sair e resolvi fazer aquela ligação. Meu coração começou a bater forte e então coloquei pra chamar. Chamou por uns estantes alguém atendeu e o telefone ficou mudo.

– Alô? Fê?

Mudo mas eu podia ouvir uma respiração.

– Fernando? Eu sei que você ta aí, eu sei que é você. Por favor! Fala alguma uma coisa. – minha voz começou a fraquejar.

Nada. Nenhuma palavra. Apenas uma respiração rápida.

– Fernando, se for você quero que saiba que está tudo bem. Eu não sei o que ta acontecendo, eu só quero te dizer eu não esqueci o que aconteceu e que tudo que eu disse pra você é verdade. Fernando, por favor responde! – eu comecei a chorar

Nada.

– Eu te amo Fernando, não agüento mais ficar um dia sem te ter aqui por perto e saber se você está bem, sem te tocar. Não to entendendo. Mas eu amo você, nunca se esqueça okay? – as lágrimas queimavam meu rosto

Quando eu ia desligar ouvi uma voz de fundo.

– Com quem você ta falando? Desliga.

Era a Manuela, era ela. Eu não acredito. Desliguei com pressa. E comecei a chorar mais e mais, não queria acreditar que o Marcelo estava certo, nada fazia sentido na minha vida agora.

***

( visão do Fernando)

Eu queria gritar, dizer pra Juliana que eu a amava e que não suportava mais ficar longe dela. Podia escutá-la chorar do outro lado da linha. Queria explicar pra ela que esse sumiço era necessário, era tudo pra fazer aquelas idiotas pagarem por ter feito aquilo com ela. Eu podia sentir pela voz dela o quanto ela estava sofrendo e eu não podia fazer nada, estava impotente. A única coisa que eu podia fazer era escutar e sofrer tanto quanto ela.

– Eu te amo Fernando.

Eu também Ju, te amo muito. Eu repetia isso em pensamento. Vamos ficar juntos ainda, eu prometo.

– Com quem você ta falando? Desliga.

Manuela chega e praticamente toma o celular da minha mão.

– Agora vai ficar em cima de mim, me vigiando também.

– Eu disse que se você falasse com a Juliana, não ia ter depoimento.

– Mas você é um saco! Quero deixar bem claro pra você Manuela, que esse seu plano para me afastar da Juliana, não vai muda em nada o que eu sinto por ela.

Eu estava fazendo isso tudo para conseguir o depoimento chave para declararem a Bruna e suas amigas culpadas. Elas eram tão sem noção que haviam falado para polícia que eu e a Ju tínhamos nos perdido de propósito e a Manuela era a única testemunha que podia acabar com essa mentira de uma vez por todas. Ela iria dar seu depoimento, mas com uma condição que eu ficasse um tempo longe da Juliana. Eu não tinha como dizer não, eu cedi para que a justiça pudesse ser feita e que elas fossem punidas e a Juliana pudesse ficar em paz. Cada segundo longe dela eu me tornava mais infeliz, ela havia sido forte por mim e eu seria por ela.

– Eu não desisto fácil Fernando, amanhã é o dia que vão me interrogar, e se você ir correndo para os braços da Juliana, eu digo que fui obrigada por você e mudo meu depoimento. – ela disse fazendo beicinho

– Com isso você só está conseguindo que eu fique com mais raiva de você, não sabia que aquela menina que foi minha amiga um dia, seria tão mau caráter.

– Que bom, não foi sentindo raiva da Juliana que você se apaixonou por ela? – ela deu uma risada irônica

Eu fechei a cara. Eu não iria ceder tão fácil. Se ela quer jogar, eu também sei ser um bom jogador. Eu iria sair dessa.