Checkmate escrita por Zev


Capítulo 3
Game Over


Notas iniciais do capítulo

Oláaaa, sei que não escrevo a muuuuito tempo, é que tava sem criatividade (as vezes acontece) :P
Mas voltei, e aqui está! (Tem mais comentários no final)



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Será que o oxigênio daquele quarto se esgotaria e eu morreria sem respirar de duas maneiras trágicas e diferentes? Se alguém pudesse morrer duas vezes, aquela pessoa seria eu.

A terra do caco de vidro que escolhera ficou na bacia e o caco, limpo. Agonizei ao rasgar os pontos mal feitos de minha perna com ele, a linha ia se soltando e se encharcando de sangue, enquanto, com uma ponta arredondada do mesmo pedaço de vidro, eu ia procurando algo duro.

Aquela mistura de carne, sangue e terra... Era nojento, mas eu encontrei. Uma plaquinha pequenininha, com 9 números escritos, 956277261. Puxei-a de dentro da carne e segurei com as mãos. Era gelada e áspera. Aquilo devia estar me machucando ate aquele momento. Não tinha como fechar o corte com o pano molhado, precisei rasgar a ponta da calça. Deu certo. Peguei as caixas que estavam sobre a estante e tentei a senha em uma delas. De fato, abriu. A maior de todas, de metal sem cadeado, só com espaço para o código.

Uma vela! Exclamei. Eu conseguira! Mas... Calma... Devia haver algum truque ali. O pavio deveria estar molhado, ou o fósforo estragado. Melhor esperar um pouco mais até acendê-la.

Eu não tinha mais tempo para procurar por chaves. Aqueles dois cadeados não pareciam muito seguros, e eu ainda tinha um martelo, mas precisaria ter cuidado para arrombar as caixas, porque se tivesse algum liquido ou algo sensível lá dentro, eu acabaria por destruir. A precisão de minhas mãos não era adequada, meu corpo não parava de tremer, eu estava perdendo sangue e estava com frio, mas com uma pancada bem dada, abri um deles, e logo depois o outro.

Em uma delas havia uma seringa com a agulha embutida. Seria um desafio confiar na esterilização daquilo, mas acreditei que, se fosse para me enganar e me fazer achar que ela estava limpa não estando, ela viria embaladinha, como se nova.

Na outra caixa havia uma barra de chocolate. Sim, um tablete de chocolate extremamente sedutor, com embalagem vermelha, fechada e perfumada. Na tampa de madeira, havia mais uma agradável mensagem. “você vai morrer, portanto, tome isso como se estivesse tendo seu ultimo desejo realizado. Você sempre gostou desse chocolate”.

Então era pessoal. Mais do que eu imaginara, o filho da puta me conhecia. E sabia do que gostava, embora eu particularmente não me lembrasse de ter visto aquela embalagem antes.

Mas eu não comi o chocolate imediatamente. Eu preferia esperar e, se tudo ficasse molhado e escuro, eu morreria feliz.

E logo eu me toquei que não havia chave nenhuma naquele lugar. A porta estava trancada e assim ficaria para sempre, pelo menos se dependesse de sua abertura pelo lado de dentro. Eu procurara por ela em todos os lugares, mas as pistas e objetos chegaram ao fim.

Não havia chave nenhuma naquela merda.

Eu morreria como um verme.

Melhor mesmo seria misturar aquelas substancias, encher os outros dois potes e acabar com tudo aquilo antes que morresse por afogamento. Não gostava muito daquela idéia.

Iria construir algo que me mataria. Eu era pior do que um verme.

Só mais uma hora. Precisaria ser ágil para encontrar o conteúdo dos outros dois potes, mas a verdade, é que a muito eu já sabia onde estavam. No pote de número 3, segundo a seqüência que encontrara atrás do quadro, e a fórmula que estava no computador, era água. E água eu tinha de monte, porque o quarto começara a se encher, a água surgindo por trás dos rodapés.

A tomada que mantinha o computador e as luzes acesas estava um pouco acima do rodapé. Talvez 30 centímetros ou mais, e ela não podia ser alcançada pela água. Se fosse, a eletricidade me daria um belo choque, e eu morreria.

Basicamente, eu tinha direito de escolher entre morrer por afogamento, morrer por um choque ou morrer por veneno. Eu ia morrer independentemente.

Antes de puxar o cabo, acabando assim com a luz e fazendo o ambiente cair na profunda e total escuridão, eu coloquei os potinhos segundo a ordem certa sobre a mesa. O pote 3 já estava cheio de água e o pote 8 foi imediatamente enchido com o conteúdo que antes estivera dentro de um dos detergentes do armário de limpeza, algo que possuía sua formula química, mas que eu não sabia o que era.

Coloquei o décimo pote no canto, o que seria utilizado para a mistura, que permanecia vazio, e a seringa ao lado. Rezando para que funcionasse, acendi o fósforo, a faísca saiu e o pavio da vela entrou em chamas. Ironicamente, chamei aquilo de sorte. Com a água já fazendo alguns cacos de vidro flutuar, arranquei o cabo da tomada, e tudo o que conseguia ver então, era a mesa e a chama dançarina da vela.

Quando seria à hora certa de comer a barrinha? Não via mais o relógio, mas sentia a água subindo pela minha calça, encharcando minha pele, entrando dentro do meu sapato... A água era gelada e meu corpo já não dava mais conta de me aquecer. Em breve eu poderia nadar naquele buraco escuro.

Pelo menos, morrendo, eu não teria como ter pesadelos sobre aquele lugar.

Segui a seqüência até colocar todos os itens dentro do décimo pote. Havia uma formula de combustão simples no computador e dela eu me lembrava. Eu deveria colocar o pote sobre o fogo então? Talvez aquela pequena chama realmente fizesse alguma mudança em tão pouca mistura. Enrolei dos pedaços de pano seco nas mãos e levantei o pote sobre a vela.

Calculei que a cada minuto, a água subia aproximadamente uma listra da minha jeans, então esperei até que subisse 20 listras para colocar a mistura que borbulhava sobre a mesa.

Suspirei e coloquei o conteúdo na seringa. Ele tinha uma cor transparente, mas menos transparente do que água.

Não sei como vivia antes de passar por tudo aquilo, mas sei que jamais esperei morrer assim, porque comecei a chorar e soluçar discretamente, como se não quisesse que os objetos, que até então me viram ser tão forte, vissem meus humilhantes últimos momentos.

Em breve eu morreria naquele quarto e faria parte dele eternamente. A água continuava a subir e eu continuava a fazer cena. Queria continuar vivendo. Meu corpo implorava por isso...

A água passou de um metro e meio e eu coloquei a vela sobre a estante próxima a porta. Queria ficar lá, porque o fundo daquele lugar me causava mais arrepios. Quando a água passou de dois metros, eu já não podia mais encostar os pés no chão há algum tempo, minhas pernas estavam fracas e me sustentar na superfície cansava.

Por fim, a água chegara à altura da vela, e conseguia sentir os fios mais altos de cabelo no teto. Chegara a hora. Tudo o que eu era, eu não seria mais. Seria apenas um corpo. Um corpo morto, num buraco abandonado.

Porra! Eu não quero morrer! Eu quero sair daqui!

Soquei a porta, teria chutado também, mas minhas pernas estavam ocupadas me sustentando no meio de toda aquela água. Tentei abri-la com as unhas, mas nada consegui sem ser arrancá-las, provocando ainda mais dor. Gritei, xinguei quem quer que tivesse feito aquilo comigo. Mas não adiantava mesmo. Mergulhei e tentei abrir a maçaneta. Era uma maçaneta falsa, colada de forma que ao ser forçada, soltou-se e afundou na escuridão.

Alguém devia me odiar muito mesmo. Alguém que me vencera, no final.

Tremendo mais do que antes, perfurei minha pele com a agulha e comecei, extremamente devagar, a injetar o liquido. Naquele mesmo momento, um caco de vidro raspou em um dos meus cortes e eu comecei a sangrar novamente. A tontura e fadiga tomaram conta de mim.

Não! Eu precisava comer aquele chocolate... Eu havia decidido que seria a ultima coisa que faria antes de morrer! Desembrulhei e com as ultimas forças que faria, ingeri as 250 gramas de chocolate ao leite com uma velocidade considerável para alguém que, imediatamente depois, fechou os olhos e afundou.

A água ficou escura, a chama se apagara, alguns cacos de vidro e outras coisas como resto do estofado encostavam-se a mim, mas isso durou pouco tempo; meus sentidos foram embora, e o empuxo da água ia me levantando novamente, indo de encontro ao teto. A seringa se desprendeu do meu corpo e se foi. Já não conseguia pensar em mais nada.

Merda...

Acabou.


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Notas finais do capítulo

Bem, o que acharam?
Não vou dar spoilers então vocês vão ficar sem saber se morreu ou não ;)
Hm... Meio triste esse capítulo.
Espero que tenham curtido! Até a próxima!



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