Checkmate escrita por Zev


Capítulo 2
O jogo - Parte II


Notas iniciais do capítulo

Bem, ai está mais um capítulo, espero que todos gostem ^^



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Olhei novamente para o computador. Ele continuava ligado. Cliquei no atalho de imagens e decidi analisá-las com mais atenção. Aquela ultima era apenas um fundo escuro. Tentei associar o que vi, mas não me parecia haver ligação nenhuma entre uma chave, equações químicas, estofado, e seringas.

Talvez não houvesse ligação entre as imagens, mas a idéia do estofado eu rapidamente compreendi. Removi todas as almofadas do sofá, sacudi-o, mas não havia nada. Tossi por causa do pó que subiu. Nunca tivera asma, mas naquele momento, senti que chegara perto de ter. Eu precisaria rasgar aquelas almofadas para encontrar o que tinha ali. Provavelmente, o filho da puta do meu seqüestrador não me deixaria uma faca de presente. Poderia terminar de rasgar aquele sofá remendado com as mãos, mas elas doíam demais...

Com um caco de vidro do vaso esparramado, rasguei as costuras do couro do sofá cuidadosamente, não queria fazer mais sujeira. Não me levou muito tempo. O estofado podre esfarelava em minhas mãos. Repeti o processo em todas as costuras, mas o objeto ali escondido não estava em nenhuma delas. Ele estava na base do sofá, num vão deixado por duas madeiras. Para partir no meio, eu precisei apenas deixar algo pesado cair em cima, no caso, eu.

Ali dentro estava uma caixa de fósforos. Havia um fósforo dentro. Um. Eu poderia acreditar que haveria uma vela em algum lugar, ou tocar fogo no estofado. Preferi acreditar na primeira opção.

Revirando o armário de limpeza mais uma vez, encontrei uma chave de fenda e um martelo. Eles pareciam ser as únicas coisas em bom estado ali. Procurei por algo em que eles me pudessem ser útil. Encontrei duas coisas. Em primeiro lugar, poderia desparafusar as madeiras que trancavam a janela e quebrar os vidros, em segundo, uma saída de ar que ficava embaixo da escrivaninha, cujos parafusos eu poderia tirar.

Eu ri. Talvez meu seqüestrador tivesse cometido um passo em falso e deixado itens que me permitiria fugir pela janela. Ia sonhando com a luz do sol enquanto desprendia cada uma das tabuas. E se estivesse chovendo? A paisagem seria como? Uma cidade? Montanhas?

Eram tijolos. Sim, não havia nada atrás do painel da janela. Os tijolos estavam pintados, formando um sol amarelado, montanhas verdes e um céu azul. Devia ter sido desenhado por crianças... Mas que criança iria até aquele lugar?... Era só tinta. Mal pintado, escorrera uma cor sobre a outra. A mensagem "Você vai morrer” me pareceu à melhor parte do desenho. Pelo menos por aquilo eu já esperava. Era apenas provocação assim como o gif que me aparecera no computador. Tudo era apenas para me irritar.

O ódio me consumiu mais uma vez.

No meu acesso de fúria, atirei o martelo contra o desenho, destruindo alguns tijolos e fazendo alguns estilhaços voarem em mim. Uma chave caiu junto com os estilhaços. Dessa vez, nem arrisquei usá-la na porta. Sabia que não seria, pois o tamanho dela era nitidamente diferente do tamanho da fechadura.

Quis me sentar em algum lugar, à força que fizera para quebrar a janela cobrara muito do meu corpo, mas agora não existia mais sofá. Precisava de fogo. Sentia-me como um rato, vítima de alguma experiência, testando minha inteligência. Se eu não encontrasse uma vela, acabaria por queimar o sofá... Ah não... A fumaça me mataria. Suspirei. Aquele fato me fazia crer que haveria sim uma vela em algum lugar.

Abri uma das gavetas da escrivaninha com a chave. Não havia vela ali dentro, mas sim sete potes de vidro, tampados cuidadosamente, com tamanhos e conteúdos diferentes. Associar os conteúdos com as equações químicas me pareceu correto. Eu precisaria misturá-los, talvez, seguindo a seqüência que eu encontrara sobre o sofá, mas... Ainda faltava alguma coisa... Alguns dos potes estavam vazios.

Quando se passasse quatro horas o quarto estaria completamente cheio de água ou começaria a se encher? E... Por onde surgiria essa água?

Uma das luzes no teto piscou uma, duas vezes e então diminuiu seu brilho. Senti o coração acelerar, e suor escorrer pela minha testa. Eu precisava daquela vela, rápido, porque se eu ficasse sem luz, estaria tudo acabado.

Desparafusei desesperadamente a saída de ar que estava no chão. Não era uma saída de nada. Era apenas um buraco no chão, e dentro dele, mais fundo do que poderia alcançar esticando o braço, havia uma esfera azulada.

Sem pensar duas vezes, derramei um pouco de água da bacia que estivera enchendo dentro do buraco, e, para minha sorte, a esfera flutuava. Enchi ate que conseguisse pegá-la, e então, deixei a bacia sob a goteira novamente.

Era mole e gelatinosa, dentro, havia uma mensagem, que, para retirá-la de lá, bastou amassar a esfera, desmanchando-a. Eu bem que gostaria de ter encontrado uma vela. Agora precisaria descobrir onde mais poderia estar. Já não aguentava mais aquilo. Eu precisava pensar mais do que conseguia, e isso estava me matando.

O silencio cortado apenas pela minha respiração enquanto lia o papel, era doloroso. Meu coração saltava quando eu apenas ousava imaginar o que encontraria se passasse por aquela porta. O que fizera eu para merecer aquilo?... Quem eu era?

“O código para a abertura de uma das caixas está gravado em uma pequena placa de metal. A placa está muito bem guardada em uma das partes de seu corpo. Use um prego para rasgar a pele e encontrá-la.”

Estivera esperando por um código. Derramei algumas lagrimas ao imaginar a dor. Nada que eu esperasse viria, por que eu não conseguia entender isso? A situação me fodia com qualquer movimento que eu fizesse.

Procurei por algum prego afiado o suficiente entre as madeiras que removera da janela. Ironicamente, poucos deles não estavam completamente enferrujados. Talvez um dos cacos de vidro do vaso estilhaçado... Isso! Não esperavam que eu tivesse quebrado o vaso! Se eu me rasgasse com um prego desses, certamente pegaria alguma doença. Mas com aqueles cacos...

Agora precisaria apenas encontrar o local em meu corpo. Não havia espelhos ali, o monitor do computador era fosco, e não havia reflexo em local algum. Nem na água da bacia transparente. Não tinha como saber se havia algum “remendo” em meu rosto ou costas. Mas não sentia nada ali, alem dos cortes que fizera por conta própria.

Minhas pernas doíam. Estiveram doendo o tempo todo, mesmo logo após acordar. Mergulhei um pano já molhado na bacia novamente, tirei o jeans e passei sobre minha perna, procurando remover a sujeira dos cortes e terra. O jeans estava nojento. Rasgado, fedido. Ah, eu estava com razão.

Um pouco abaixo da minha virilha, uns pontos mal feitos assinalavam que a pista estava ali. Havia um pequeno relevo em relação ao resto da pele, e doía um pouco mais. Uma dor um pouco mais aguda, centralizada.

Passei o pano por cima mais uma vez, escolhi o mais afiado e mais firme dos cacos de vidro, e mergulhei na bacia por alguns segundos. Estava gastando água demais. Talvez eu precisasse mais tarde...

Pelo ritmo que eu seguia, água é o que não faltaria naquele quarto. Por algum motivo assustador, eu ri daquele pensamento. Será que eu estava enlouquecendo?


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Notas finais do capítulo

Elogios, críticas, sugestões... Cometem!
K-k, bom final de semana para todos!



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