Novum escrita por Kash


Capítulo 2
O Futuro


Notas iniciais do capítulo

Me perdoem pelo tempo de demora. Quase que eu demorei três dias pra escrever.
De verdade, foi muito difícil. Até porque um primeiro capítulo sempre é muito difícil. Então, se não ficou tão bom quanto a expectativa, me perdoem. :s
Não, a fanfic não girará em torno do esporte citado, se alguém tiver dúvida. Esse capítulo foi pra exibir mais ou menos o que acontece no futuro e um pouco do que aconteceu no passado.
(Palavras diferentes que não foram explicadas serão explicadas mais à frente)



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— Beta-um-dois-zero-quatro para Omicron-cinco-oito-três. Iniciar transporte.


Ouviu a cápsula se fechar, e uma leve sensação no estômago como se estivesse em cima de uma plataforma pendurada a dez mil metros do chão. Nunca tinha estado, mas imaginava que fosse algo parecido. Quase podia ouvir suas moléculas se desintegrando e sentia-se bastante enjoado. Essas são as consequências, afinal, de usar um teletransportador. Mas uma vantagem é que tudo isso dura menos de um segundo.


Antes que desse por si, a cápsula em que estava se abriu. Saiu, ainda meio tonto. Estava em outro lugar e sentia algo nas pernas. Tentou focalizar o que diabos não o deixava andar.


Ah, são só braços, pensou.


Espera. Nas pernas?


— Mano! — emitiu uma voz aguda e infantil. Só então conseguiu perceber que era Allie que o abraçava. Acariciou as madeixas roxas da menina antes de desvencilhá-la.


Allie não estava ali sozinha. Por mais que uma criança de oito anos pudesse andar seguramente numa praça, Ethan nunca a vira sem sua irmã. Olhou à sua volta, procurando a versão mais velha da menina ao seu lado. De certa forma, era isso que era Lenne. As duas eram tão parecidas que, se a idade das duas se igualasse, provavelmente seriam iguais. Allie tinha até pintado o cabelo de roxo para ser igual à irmã, em um ato de admiração. Mesmo os olhos, de um tom amarelo esverdeado, eram muito semelhantes.


Sentiu alguém se aproximar, mas mesmo assim se assustou quando uma mão lhe tocou o ombro. Virou-se, não surpreso de ver Lenne.


— E aí. — disse, e ergueu a mão num gesto de "faça um high-five". Não era incomum. Aliás, era completamente comum os dois fazerem isso.


— E aí. — respondeu e riu em seguida. — Ainda não entendo o porquê de essa pirralha me chamar de "mano".


— Eu não sou pirralha! — bufou em protesto. — Sou pré-adolescente!


— Tá certo, pirralha. — deu uns tapinhas na cabeça da mais nova, justamente porque sabia que isso iria irritá-la mais. — Mas e aí, Lenne, você já sabe onde exatamente a gente precisa ir?


— Eu vim fazer uma pesquisa com a Allie. As lojas de esportes lá na frente têm exatamente o que a gente precisa, mas... São um pouco... — diminuiu o som da voz, o que fez com que saísse um sussurro. — absurdamente caros.


— O quê? Não ouvi.


— Quanto dinheiro sobrou do último torneio, Ethan? Eu espero que a gente ainda tenha bastante, mesmo com a restauração total da nave. Precisamos ganhar dessa vez. É questão de honra, eu sei que você me entende.


— A gente tem que investir nos efeitos especiais. Isso conta pra nota, sabem? Da última vez quase não tivemos nota em questão de efeito. — ralhou Allie.


Os três pararam de falar quando ouviram um ruído em algum lugar. Ali perto havia um sofá grande, fazendo um semicírculo no chão de aço azul da praça-shopping. À sua frente estava um televisor de cerca de cinquenta polegadas, transmitindo um programa que meia dúzia de pessoas assistiam. Os três se aproximaram para poder ouvir.


"Space Cadet é o esporte mais jogado da galáxia, com mais espectadores e jogadores do que o antigo futebol terráqueo. O jogo consiste em grupos de até três pessoas em uma única nave, a qual tem um dispositivo que indica o nível de danos. Uma vez ultrapassado, a nave sai do jogo. São colocadas dez naves em campo, e cada uma tem dois objetivos: Perdurar até o fim do jogo e completar os percursos definidos. Os juízes também avaliam os efeitos especiais e as manobras de cada um, o que conta para a pontuação geral.", transmitiu a televisão.


A tela projetou um holograma que mostrava o último torneio oficial ocorrido.


— A gente participou desse! — animou-se Allie.


— Participamos. Enfim, vamos embora. Essa é uma daquelas televisões que mostra coisas que todo mundo sabe, e se não sabem não têm interesse. Essas pessoas devem estar assistindo só porque não têm nada pra fazer.


— É mesmo. E temos mais coisa pra fazer do que ouvir sobre um jogo que jogamos todos os meses. — a mais velha do grupo riu, e puxou sua irmã para que ela começasse a andar. — Vamos, Allie.


A praça tinha menos movimento do que o comum em um local normal. A maioria dos transeuntes eram velhinhas em cadeiras voadoras automáticas ou maridos sendo arrastados por suas mulheres para as compras. É, mesmo depois de dois mil anos isso não mudara.


Passaram por várias lojas, que vendiam coisas diversas — holobooks, robôs que preparam café, multichips e mochilas-helicóptero. Desses, a população universal concorda que o mais útil é a mochila-helicóptero, invento que reduziu em 90% os problemas lombares. Os únicos opositores do artefato foram os estudantes, que nunca mais puderam dizer "deixei o material em casa porque a mochila estava pesada demais".


Sobre os multichips, bem, qualquer um que tenha vivido no século XXI sabia que eles iriam existir alguma hora. Não é um evento novo no século XLIV, contudo. O aparelho existe desde meados do terceiro milênio, e atualmente é tão usual que pode ser comprado por menos de dez pânglios — uma moeda semelhante ao real, apenas com o nome alterado.


O O O


Pânglio foi uma raça de animais que habitou o oeste do continente Ingálio, em Annulos. Seu couro era usado em sapatos e calças; seu pêlo, em casacos de inverno; seu penacho, em chapéus; as escamas, em bolsas; os ovos do animal podiam ser comidos, mas também davam belos enfeites, de tão grandes e coloridos que eram. Dizem que sua aparência era também muito útil para atormentar o sono de qualquer um. Por ser considerado o animal que teve mais importância em toda a história, foi homenageado com um nome de uma moeda. Houve quem considerasse os pânglios mais úteis do que os multichips, ou mesmo que as — blasfêmia! — mochilas-helicóptero.


O mercado aproveitou para fazer, é claro, promoções: "Gaste pânglios comprando pânglios". Tortas de pânglio, empadas de pânglio, pânglio à pânglio, pânglios inteiros... E não só comidas. Bolsas, calças, jaquetas, petecas e muitos itens feitos de pânglios.


Na semana seguinte, quando a promoção teve seu fim, o pânglio fora extinto.


Ninguém soube explicar o porquê.


O O O


Finalmente chegaram à loja de esportes. Demorou tanto que Ethan chegou a ativar seu multichip e ligar o GPS, mas não precisou usá-lo. Não foi por muito movimento ou pelo fato de a praça ser colossal — era minúscula —, mas sim porque a loja ficava no fundo do único corredor existente por ali, ao lado do banheiro masculino da praça-shopping.


Se estivessem no passado — mais precisamente dois mil e trezentos anos antes —, não cheiraria muito bem dentro do estabelecimento. Mas todo o local exalava aquele aroma gostoso de artigos esportivos e, principalmente, nave nova.


(Entenda: No futuro, naves são os carros. Andam na mesma velocidade que carros. São pilotadas quase da mesma maneira que carros. E, principalmente, cheiram como carros.)


Os três começaram a analisar cada item da loja que se relacionava a Space Cadet, exceto, é claro, pelas naves já montadas. Diferentes volantes pra ajudar a executar várias manobras, canos que expelem fumaças e pós coloridos — os preferidos dos juízes —, itens para tunar a nave e artefatos um tanto mais caros, chamados de trapaças. São eles que danificam a nave até certo ponto e fazem com que ela saia de campo. Ethan e Lenne raramente usavam, à pedido de Allie. Na condição de uma criança de oito anos, ela realmente não gostava de ser desonesta, e quando tinha de ser ficava emburrada por horas.


O líder do time fez as contas. Ganharam poucos pânglios no último torneio — afinal, terminaram em sexto — e muitos foram gastos no conserto e na melhora da aparência externa da nave. Tinham cerca de mil pra gastar, mas ao menos não precisariam comprar nada pra melhorar a carapaça. Se concentrariam nos canos de efeitos e nas trapaças, mesmo que Allie não gostasse e os três só usassem como último recurso. Lenne tinha dito, e com razão: Precisavam ganhar dessa vez. Ele não achava que fosse só por questão de honra, mas por dinheiro também. E porque esse seria o último torneio do semestre, que definiria os classificados para os Jogos Oficiais.


Mas de qualquer maneira, tinha um bom pressentimento sobre o dia do jogo. Nenhum dos três repetiria os erros dos jogos anteriores; eles ficariam em primeiro.


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Notas finais do capítulo

Pra esclarecer: O próximo capítulo vai mostrar o jogo, sim, mas a fanfic -NÃO- vai girar em torno dele. Foi mais pra apresentar mesmo, como eu disse lá em cima.
Agradecimentos ao Thugles por ele ter me ajudado com o nome do continente em que os pânglios se localizavam. :3
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