O Herói do Mundo Ninja escrita por Dracule Mihawk


Capítulo 88
Eu os encontrei


Notas iniciais do capítulo

Olhei para o relógio, vi 04h06min de Domingo... Respirei profundamente. Sabem por quê?

(Pausa: boa-noite, gente!)

Porque, caraca!, finalmente conseguir responder todo mundo! Aff, aff, aff... (começa a ofegar). Demorei, mas acabei! o/

PS.: quero dizer, eu acho que acabei. Fiquei tanto tempo longe do Nyah! que as atualizações só mostram até certo número de ícones no Feed.

Bom, antes de falarmos sobre este capítulo, eu gostaria de dar uma notícia séria para vocês. Eu, Victor, Beta Reader do Nyah! Fanfiction e autor de O Herói do Mundo Ninja, estou a terminar de escrever o último capítulo desta história. Sim. Ele está com, aproximadamente, 72% de desenvolvimento concluído. Restam alguns detalhes aqui e acolá. Gostaria que soubessem de antemão porque... bom, eu meio que criei um laço com vocês, cada um de vocês — desde aqueles que ouso chamar de meus amigos até os fantasminhas que nunca deram as caras para mim. Como eu disse outrora, O Herói do Mundo Ninja está chegando ao fim. Não vou dizer "o fim está próximo" (soa meio apocalíptico), mas é basicamente isso. Enfim, queria que soubessem.

Sobre este capítulo, bom, há uma cena em especial nele. Será um momento da personagem Mira Uzumaki, a vice-líder dos Yuurei — amada por alguns, desprezada por outros. Para esta cena, eu peço, consideravelmente, a todos vocês que, se possível, leiam enquanto ouvem uma música que deixarei disponível abaixo. Não é obrigatório o procedimento, mas, para quem ousar abrir o link, entenderá o que quero dizer. É importante que seja, também, exclusivamente, neste momento da Mira. Acreditem, o sentido é esse.

Eis o link da música:

https://www.youtube.com/watch?v=-5qhNRmMilI&feature=youtu.be

Bom, é isso. Tenham uma boa leitura e nos vemos nas Notas Finais o/



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Aquela aula era uma tortura. Tanto para quem a ministrava quanto para quem a assistia. Aprender o Selo Amaldiçoado dos Hyuuga era, ao ponto de vista de Hinata, desnecessário e cruel. Um retrocesso que profanava a memória de Neji, seu primo.

— Esta é a sequência de selos manuais: Bode, Serpente, Rato, e, por fim, o selo específico para a ativação da técnica. — Hiashi mostrou apenas os dedos indicador e médio erguidos na mão direita. — Com isso, você conjurará uma Maldição sobre o nervo óptico do Hyuuga que deseja subjugar, acarretando no selamento do Byakugan dele.

— O Selo Amaldiçoado dos Hyuuga não atinge só o nervo óptico, eu sei — comentou Hinata, vazia. — É uma técnica de tortura abominável. Afeta todos os nervos do corpo humano, fazendo com que a pessoa agonize de dores no cérebro, olhos e medula espinal. Se usada excessivamente, leva a vítima à morte.

— Sim. — Hiashi assentiu. — Um Hyuuga de má índole pode utilizar esta técnica para assassinar um companheiro.

— E não há defesa para o Selo Amaldiçoado — acrescentou Hinata. — Uma vez que o agressor tenha executado a sequência de criação do Fuuinjutsu, após tocar na testa da vítima, a marca aparecerá. Após isso, o destino do Hyuuga atingido estará nas mãos de quem conjurou o selo. Não... — Hinata falou com tristeza. — É o domínio de terror que a Família Principal exerce sobre a Secundária.

— Cuidado com suas palavras, Hinata — Hiashi sussurrou ameaçador. — Não ouse pisar nas tradições que-...

— Isso é hipocrisia, meu pai! — falou estupefata. — Tudo! O senhor falou de buscar o futuro, de proteger nossos próximos no clã, mas quer que eu, quando me tornar a líder, amaldiçoe crianças, ceifando, desde cedo, a perspectiva de liberdade delas! Não quero ser parte disso, não quero... O Neji-niisan jamais me perdoaria se seu... — Hinata se conteve. — A liberdade do meu primo veio quando ele morreu por mim na guerra. É isso? Os membros da Secundária devem morrer para que nós, da Principal, continuemos nossas vidas disseminando esta marca amaldiçoada?

— Neji morreu por você porque ele escolheu desta forma, Hinata! A liberdade dele já existia, ele tinha o direito de escolher seus próprios caminhos! Se não se lembra, Hinata, foi seu próprio amado, Naruto Uzumaki, quem ensinou isso a ele. Não abra a sua boca para falar besteira. Neji morreu por você porque quis protegê-la, não porque algo ou alguém o ordenou morrer! — Hiashi gritava com a filha, suspirando a cada pausa. Depois, falou mais baixo, recompondo-se: — Você não foi a única pessoa a aguentar este fardo. Meu irmão, Hizashi, seu tio... Ele...

Hinata conhecia a história. A história trágica dos gêmeos Hiashi e Hizashi Hyuuga. Nascido primeiro, Hiashi, pai de Hinata, foi destinado a liderar Família Principal. Quanto a Hizashi, pai de Neji, que nasceu minutos depois, coube representar a Família Secundária e, notoriamente, receber na testa o Selo Amaldiçoado do clã Hyuuga.

— Meu irmão morreu no meu lugar, Hinata... — Hiashi falou, vago e pesaroso. — Não pense que sobreviver é tudo para você e eu. Às vezes, permanecer vivo com este fardo na consciência é mais doloroso que morrer no lugar de alguém.

Hinata abaixou a cabeça. Mencionar Neji não levaria a nada. Só traria à tona mais sofrimento para ambos. Silenciosa, ela assentiu.

— Desculpe-me.

As horas que se seguiram pareciam se arrastar. Liberada da última lição antes da tão esperada — agora, devido aos acontecimentos dos últimos meses, nem tão esperada assim — cerimônia de nomeação, Hinata se fechou no próprio quarto. Nele, ela via o horizonte pela janela, seu escape momentâneo.

Por não estar trancada, a porta se abriu devagar e hesitantemente. Hinata não precisou se virar para descobrir quem estava acabando com sua privacidade. Naquela casa, apenas uma pessoa tinha tal costume.

— Vocês costumava bater antes de entrar, Hanabi. — A brisa da tarde fazia as cortinas dançarem na janela.

— Hinata-neesama, eu posso...

— Sim. Venha.

Hanabi atendeu prontamente. Entrou de vez no quarto da irmã mais velha e fechou a porta atrás de si. Foi até a cama, onde Hinata estava sentada, admirando a paisagem, e se aconchegou do lado dela. Considerando tudo o que havia acontecido, Hanabi achou ser mais sábio não puxar assunto. Ficou em silêncio ao lado da irmã, apesar de, vez ou outra, olhá-la de esguelha para conferir se existia alguma mudança na expressão facial da mais velha.

Foi Hinata quem quebrou o silêncio.

— Como você está? — perguntou.

— Eu? Eu tô ótima. — Hanabi riu forçadamente, e depois voltou à feição cabisbaixa. — Sim, eu estou.

Hinata olhou para a irmã.

— Ontem foi seu encontro, não é mesmo?

— Uhn? Oh, sim. Foi. — Os olhares das duas se encontraram, e Hanabi viu uma pequena oportunidade para se aproximar de Hinata. — Foi legal. Quer dizer... Ah, foi bom.

— Você e o Konohamaru-kun se divertiram? — perguntou Hinata.

Hanabi absorveu aos poucos aquelas palavras e não conseguiu conter a vermelhidão nas bochechas, pensando no encontro que foi junto com Konohamaru Sarutobi.

— O filme foi legal. E o Konohamaru pagou o Combo Mega Duplo de pipoca com refrigerante que eu pedi. Também, era obrigação dele, não é? Onde já se viu convidar a garota para sair e não pagar o que ela quer?

— Que filme vocês dois foram assistir?

Hanabi coçou a cabeça, confusa.

— Não me lembro do nome, Hinata-neesama. Só sei que tinha uma coisa do Fio Vermelho do Destino, de umas almas interligadas e tudo o mais, de que os dois só estariam verdadeiramente felizes se estivessem um com ou outro, e blá blá blá...

Vendo as feições de suposta irritação, mas escancarada empolgação em contar os detalhes, de Hanabi, Hinata não pôde deixar de sorrir. Lembrara-se que estar com a irmã mais nova era prazeroso e divertido. Hinata, por um momento, esqueceu-se da janela e das obrigações. Seu novo escape era a voz de Hanabi.

— ... E aí, em uma cena do filme, ele tentou, o Konohamaru... — Hanabi pigarreou antes de continuar. — Bom, ele tentou, apenas tentou, viu?, me beijar. Mas eu peguei o canudinho e espetei o olho dele! — Hanabi falou orgulhosamente categórica. — É, eu fiz isso. Aposto que me convidar pra ver aquele filme foi toda uma estratégia para bolar o clima perfeito. Não deu certo!

Hinata riu. Depois, arqueou a sobrancelha, encarando a irmã.

— Não deu?

— Claro que não, Hinata-neesama!

— O Konohamaru-kun só tentou?

— É. Só tentou!

— Vocês dois não se beijaram?

— Não! De jeito nenhum!

— Nem por um segundo?

— Não, eu... — Hanabi tinha um belíssimo discurso em mente para declarar, mas os olhos analíticos e, ainda assim, maternos de Hinata punham a resistência de Hanabi em xeque. Era incrível como aquele rosto angelical poderia ser tão profundo também, pensava Hanabi, que suspirou. — Tá bom. A gente se beijou. Mas foi rápido!

Hinata sorriu satisfeita.

— E aposto que, apesar do beijo, você acabou espetando o olho do Konohamaru-kun com o canudinho, não foi?

— Mas é claro! — Hanabi declarou, estupefata. — Pela minha honra! Eu caí na armadilha, Hinata-neesama. O encontro, o Combo Mega Duplo de pipoca com refrigerante, o filme romântico, o toque na mão, o beijo com música de fundo por causa do filme... Você acredita que desta vez o Konohamaru nem veio com aquelas cantadas estúpidas?! Ele agiu perfeitamente e eu fui derrotada. Eu tive que fazer alguma coisa e...

— Hanabi — Hinata interrompeu a irmã.

— Que foi?

— O Konohamaru-kun gosta de você. De verdade.

Hanabi desviou o olhar, meio envergonhada. Não era novidade para ela que Konohamaru Sarutobi tentava uma, duas, diversas vezes conquistá-la. No fundo, ela sabia que os sentimentos do garoto eram profundos. E, talvez por isso, e porque, também, nunca tinha se envolvido amorosamente — sequer pensado a respeito — a confundia, a assustava.

— Eu sei — confessou Hanabi.

— E eu sei, também — continuava Hinata —, que você sente algo por ele.

— Mas é confuso, Nee-sama. — Hanabi gesticulou com os braços. — Eu nunca parei pra pensar nessas coisas de namoro e tudo o mais. Não a sério.

— Eu entendo. — Hinata deu um sorriso para a irmã mais nova.

— Eu me sinto insegura, e acabo descontando no Konohamaru. É complicado pra mim. Eu... Ah, mas que droga! Eu estou corando, não estou?

Hinata riu da reação da irmã.

— Eu gosto de conversar com você. Desde que iniciei minha preparação para a posse, não pude te dar tanta atenção assim. Eu peço desculpas a você, Hanabi.

Os olhos de Hanabi irradiaram felicidade, ao passo que transmitiam à Hinata a seguinte mensagem: Até que enfim, hein!

— Não pense que você fugiu dos meus olhos, Hinata-neesama — Hanabi falou, convencidamente. — Mesmo enquanto você e o papai treinavam, eu mantinha os olhos em você. Foi o... — Hanabi se conteve. Parou antes de dizer certo nome. — Foi ele quem pediu pra eu tomar conta de você, né?

Pronto. Haviam entrado em um assunto complicado. E, no fundo, Hanabi se amaldiçoava por isso. Reconsiderou que não tinha escolhido as melhores palavras — ainda que não tivesse citado à Hinata o nome que a tanto fazia estremecer.

— O Naruto-kun. — Hinata apertou os dedos das mãos.

— O Konohamaru me disse que ele terminou o treinamento com o Hokage-sama — Hanabi arriscou prosseguir naquela conversa. — Ele agora domina o Shunshin no Jutsu. Ele, o Naruto, está muito mais forte.

— Eu acredito — disse Hinata. — É da natureza dele.

— Hinata-neesama... — Hanabi respirou profundamente. — Naquele dia... Sabe, quando você e ele terminaram... Foi de verdade? Quero dizer, você ainda gosta dele, não é?

Hinata olhou para as próprias mãos, pequenas, brancas e trêmulas. O céu vespertino na janela — uma combinação exótica de azul-cinzento das nuvens com o alaranjado do sol poente — fazia a mente da Hyuuga viajar.

— Penso naquele dia desde que vi as costas do Naruto-kun desaparecer da minha visão — admitiu Hinata. — Mas, treinando com o papai, fiquei mais forte do que eu era. Foi o preço que eu paguei para me tornar o que sou hoje.

Hanabi não comentou que Hinata estava fugindo da pergunta. Achou melhor questioná-la outro dia. Naquela tarde de inverno de Dezembro, Hanabi Hyuuga estava muito grata por ter sua irmã de volta. Isso bastava.

— De todas as mulheres que eu conheço nessa vila — Hanabi segurava a mão da irmã —, você é, sem dúvidas, a que eu mais admiro, Hinata-neesama.

— Hanabi... — Hinata olhou nos olhos da mais nova, sem saber o que dizer para ela. Sentiu vergonha de si mesma por tê-la deixado de lado durante o tempo em que foi treinada por Hiashi.

Os pensamentos enevoaram quando a voz de Natsu Hyuuga, a guarda-costas de Hanabi, bateu à porta.

— Com licença, Hinata-sama, Hanabi-sama.

As irmãs se observaram, e Hanabi, dando de ombros, levantou-se da cama para abrir a porta do quarto de Hinata.

Natsu era uma mulher jovem, de cabelos curtos — à altura do pescoço — e pretos. Usava um costumeiro avental de empregada doméstica sobre o kimono cinzento. Na testa, o protetor ninja da Vila da Folha.

— Natsu? — perguntou Hanabi, aguardando-a falar.

— Hanabi-sama, desculpe-me pelo incômodo. Vim informar que a Hinata-sama tem visita.

— Visita? — Hanabi voltou-se para irmã, que mesmo dentro do quarto, pôde ouvir perfeitamente. Depois, novamente, virou-se para a guarda-costas. — Natsu, não é quem eu tô pensando que é, é? — perguntou Hanabi meio curiosa, meio esperançosa. — Foi ele quem veio visitar a minha irmã?

Mas Natsu negou com a cabeça.

— Não é o Naruto, Hanabi-sama. É a Sakura-san.

Hanabi se virou para irmã. Hinata encolheu os ombros.

— Deixe-a entrar, Natsu — pediu Hinata gentilmente. — Faz tempo que não vejo a Sakura-san.

* * *

Era sempre agradável estar na companhia de uma amiga como Sakura. Se antes ninguém a visitava, naquela tarde, porém, pelo menos duas pessoas haviam separado tempo para ela, e Hinata ficou feliz por receber atenção.

Sakura estava mais bonita do que Hinata conseguia se lembrar. Ela vestia um casaco avermelhado com detalhes rosados nas extremidades das mangas e dos bolsos laterais, além de uma cobertura felpuda branquinha no pescoço. Calças de cor branca, que iam até as canelas, e sandálias cor-de-rosa de tom suave. Sakura Haruno era graciosa, assim como o significado de seu nome.

— Finalmente consegui te ver, hein Hinata! — Abraçou a amiga, assim que a viu. — Você sumiu nesses últimos meses.

— Estive ocupada, Sakura-san. Nem pude retornar as suas ligações. Desculpe.

— Ah, tudo bem. Bom, agora podemos conversar, não?

— Sim, claro que sim! — Hinata sorriu. Ter Sakura ali parecia lhe tirar um pouco o peso das costas.

— Claro que sim, é? — Sakura estudou o rosto de Hinata. — Então posso concluir que você não estará mais ocupada hoje?

Hinata confirmou com a cabeça.

— Minha última lição foi hoje. Agora, só restam os preparativos para a cerimônia de posse. Mas será o meu pai que tomará a frente. Eu, por hora, estou livre.

— Ótimo! — Sakura pôs as mãos sobre os ombros de Hinata, sorrindo radiante para esta. — Vamos sair!

— Sair? — Hinata franziu a testa, pensativa. — Quando?

— Hoje!

— Hoje? Q-que horário?

— Agora mesmo! — respondeu Sakura animadamente. — Você, eu, Ino e Tenten. Já as convidei antes de vir aqui te ver. Vamos nos encontrar na pracinha. O que me diz? Um encontro de garotas é sempre animado, não? — Sorriu.

Hinata olhou para as mãos de Sakura em seus ombros, segurando-a. Depois, fitou os olhos em expectativa da Haruno, o sorriso amigável que ela lhe dava. Sakura, quem Hinata considerava sua melhor amiga, estava a convidando para sair. Hinata pensou consigo mesma: Por que não? Era uma oportunidade para fugir um pouco da realidade vivida no último trimestre, de ser ela mesma, uma mulher normal, não uma futura líder de clã.

— Vou me trocar.

Os olhos de Sakura brilharam de felicidade.

— Não demore, ouviu? Vou te esperar lá embaixo.

Saiu do quarto da amiga. Hinata fechou a porta detrás de si e foi se escolher as roupas que usaria.

* * *

O encontro entre as garotas foi muito além das expectativas de Hinata. Junto das amigas, ela foi ao cinema, lanchou coisas nada saudáveis em uma rede de Fast Food, fez compras, etc. Há tempos não se divertia. Realmente, ter escolhido acompanhar Sakura foi a melhor decisão a ser tomada.

Estavam retornando para casa, as quatro. Tenten carregava um gigantesco urso de pelúcia, um prêmio que havia conseguido por arremessar perfeitamente um dardo no alvo em um parque. Apesar de ter conquistado a premiação máxima, ela parecia zangada.

— Aquele ridículo... — Tenten fez um muxoxo. — Onde já se viu? Eu tava pagando pra jogar! — Apertou o urso com mais força.

Ino não conteve a risada.

— O problema é que você tem uma mira ótima, Tenten. Ia conseguir todos os prêmios da barraquinha sozinha em uma tarde. Achei bem estranho o coitado do homem deixar você levar mais dois prêmios além de... — Ino olhou para a pelúcia. — Quanto mede essa coisa?

— Hum! Não me importa — resmungou Tenten. — Se os prêmios estão lá, são para serem conquistados. E eu tinha direito!

— Você está parecendo uma velha, Tenten. — Sakura riu. — Eram apenas brinquedos.

— E minha reputação de mestra de armas da Folha, Sakura. — Tenten falou orgulhosa.

— Tão orgulhosa quanto o namorado — comentou Ino com um risinho.

— Ah, já vamos falar nos rapazes? — Tenten suspirou. — Outro assunto, por favor.

— Concordo com a Tenten — disse Sakura. — Hoje o dia é só nosso, sem o envolvimento deles. Não é mesmo, Hinata? Hã? Hinata?

O olhar da Hyuuga, porém estava distante. A atenção voltada para o conhecido casal que passeava com uma menina pequena. Hinata sorriu ao reconhecer o amigo Shikamaru Nara acompanhando Kurenai Yuuhi, ex-professora de Hinata, e a filha dela, a pequenina Mirai Sarutobi.

— Eu volto logo, Sakura-san. — E sem qualquer outra palavra, direcionou-se ao encontro do trio, deixando as amigas para trás.

Foi Shikamaru quem notou a presença de Hinata e a indicou para Kurenai, que carregava Mirai nos braços. Os olhos vermelhos e aconchegantes de Kurenai se iluminaram quando viram a pupila se aproximar.

— Olhe só quem encontramos, Mirai — Kurenai dizia para a menina. — Sim, é a Hinata.

— Boa-tarde, Kurenai-sensei, Shikamaru-kun e... — Hinata se achegou à filha de Kurenai, acariciando-lhe o rosto. — Olá, Mirai-chan. Como você vai?

A menina de olhos grandes e curiosos observou Hinata sem entender o que estava acontecendo. Abriu a boca e a fechou logo em seguida. Depois, estendeu os minúsculos dedos da mão direita aos cabelos de Hinata, brincando com alguns fios. Mirai pareceu sorrir.

— Mirai, deixe o cabelo da Hinata. — Kurenai falou para a filha com um tom suave.

Hinata não se incomodou.

— Oh, tudo bem. Kurenai-sensei. Tudo bem.

— Shikamaru — Kurenai se voltou para o acompanhante —, você poderia nos dar licença? Eu gostaria de falar a sós com a Hinata agora.

Por um momento, Hinata desconsiderou o silêncio. Então, notou que segundos consideráveis haviam se passado e Shikamaru e Kurenai ainda se observavam — ela serena, ele hesitante.

— Kurenai-sensei... — Shikamaru tentou argumentar.

— Por favor — ela o interrompeu. A voz um pouco mais baixa e séria.

Shikamaru olhou de Kurenai para Hinata, e depois para a menina Mirai, que ainda brincava com mechas dos cabelos da Hyuuga. Um tremor quase imperceptível ocorreu nos lábios do líder do clã Nara. Por fim, ele acabou cedendo.

— Está bem. Mas, por favor, Kurenai-sensei, reconsidere o meu pedido. — Virou-se para Hinata e a saudou com um aceno de cabeça. — Boa tarde, Hinata. — Deu as costas para as duas, deixando-as de um modo misterioso aos olhos de Hinata.

— O que houve com o Shikamaru-kun? — Hinata perguntou.

Kurenai demorou a responder, ainda observando as costas do pupilo de Asuma se afastarem.

— Ele está preocupado.

— Com a senhora?

Kurenai assentiu.

— Foi muito bom nos encontrarmos, Hinata. Eu queria mesmo conversar com você.

Hinata tentava ligar uma coisa a outra. Olhou para o lado, para a direção que Shikamaru havia partido, e depois para a professora.

— Estou ouvindo, Kurenai-sensei.

— Que bom. Porque, provavelmente, será difícil encontrar outra oportunidade para falar a respeito deste assunto com você, Hinata. — Delicadamente, Kurenai afastou a mãozinha de Mirai do cabelo de Hinata, o que fez a menina gemer incomodada. — Como você já sabe, eu decidi retomar minha vida como Kunoichi.

— Isso já faz dois anos, Kurenai-sensei — Hinata teve um mau pressentimento. — Por que está falando sobre isso?

O que Hinata recebeu foi um tímido e triste sorriso de Kurenai.

— Eu tenho uma filha, Hinata. — Olhou para Mirai. — Quando retomei minha vida ninja, participei do Exame Jounin avaliando o Naruto. Nada complicado para mim. Mas agora, com esse clima de tensão que há no ar, com essa organização criminosa, os Yuurei, é diferente.

O nome Yuurei fez um calafrio percorrer a espinha de Hinata Hyuuga. Lembrou-se do País dos Demônios, da derrota para um membro daquela organização, e de como sua vida tinha mudado desde tal episódio. Foi obrigada a abandonar a carreira ninja a contragosto, deixar de lado o relacionamento com Naruto e se dedicar sufocantemente à preparação para liderança do clã. De certa forma, os Yuurei tinham parte nisso também.

— Eu sei — falou Hinata, pensativa.

Os olhos de Kurenai de focaram na expressão vaga que, agora, Hinata transmitia.

— O Hokage está enviando Jounin aos arredores e regiões circunvizinhas em busca do inimigo. Em conciliação com os outros Kage, conseguiu permissão para outros de nós irmos explorar os demais países. Claro, o Kakashi foi bondoso comigo e não me convocou de imediato. Mas...

— Não há progresso algum — adivinhou Hinata. — Eu sei. Comentam lá no meu clã.

— Ninguém consegue encontrá-los, Hinata. Ninguém. Os Yuurei aparecem e somem como fantasmas sem deixar rastros. O contingente de ninjas não está dando conta. Houve relatos de aparição deles no País dos Demônios três meses atrás. Na época, a Tsunade-sama enviou nove agentes da ANBU atrás do inimigo.

— E nenhum retornou — concluiu Hinata.

— Soube da Vila da Névoa? Enviaram um esquadrão com vinte e um Jounin de Elite na semana retrasada.

— O que houve? Morreram também?

Kurenai respirou profundamente.

— Kakashi falou que a Mizukage recebeu uma pena vermelha do tamanho de uma Katana nos portões da vila. Cravada nela estavam vinte e um protetores ninja da Vila da Névoa. — Hinata tremeu, levando a mão ao braço esquerdo. Graças à pomada curativa do clã Hyuuga, já não havia cicatriz de queimadura no ponto atingido pela pena de fogo de Taka Kazekiri. A única marca dolorosa estava na mente dela. — O mais assustador foi que, em cada um dos protetores ninja, estava rabiscada uma palavra. Apareciam nessa ordem: “Sem,” “Deixar”, “Corpos”, “Assim”, “Agem”, “Os”, “Yuurei”. — Kurenai suspirou antes de prosseguir: — A mesma mensagem três vezes.

— É horrendo.

— Obviamente — continuou Kurenai —, a Mizukage retaliou a afronta dos Yuurei. O Kakashi me contou isso também. Ela foi pessoalmente ao País dos Demônios.

— A Mizukage-sama fez isso? — espantou-se Hinata. — O que aconteceu?

Kurenai negou com a cabeça.

— Nada. Quando ela chegou lá não havia nada de Yuurei, nenhum rastro sequer. Foi como se eles nunca tivessem estado naquele País. A única prova de que o inimigo teve presença naquele lugar foi o pavor escancarado nos rostos dos cidadãos. No mais... Não conseguiram encontrá-los.

— Eu pensei que o objetivo deles era só o Naruto-kun — falou Hinata, embasbacada. — Mas agora eu vejo que os Yuurei querem mais. O alvo deles é todo o mundo ninja.

— As Cinco Nações vão revidar. — Kurenai ajeitou os braços, pois Mirai havia adormecido neles. — É o prenúncio de mais um conflito de nível mundial.

— Não... Uma Quinta Guerra Ninja? É isso o que eles querem?

— Eu não sei, Hinata. Sinceramente, não sei. Mas é fato que muitas marcas da Quarta Grande Guerra Ninja ainda estão presentes, mesmo que dois anos já tenham se passado desde o fim dela. Não vejo as Cinco Grandes Vilas prontas para uma guerra agora.

— Eu concordo com a senhora, Kurenai-sensei. O medo, o horror do que vimos na guerra passada... — A voz de Hinata se tornou distante. A imagem de um Neji morto ao lado dela ainda a atormentava. — Não dá para travarmos uma guerra agora. Mais que economia das vilas é o estado de espírito dos ninjas.

— E é por isso que é dever de cada um de nós impedir que a guerra chegue até nós — falou Kurenai decidida. — Quero construir um futuro para a minha filha, Hinata. Eu quero... quero ter a certeza de que haverá um lugar para ela chamar de lar, e não vou deixar que tirem isso dela. Essas organizações criminosas já tiraram muito de mim e de minha família.

Asuma-sensei. Hinata lembrou-se do amor de Kurenai, morto por Hidan, da Akatsuki.

— Kurenai-sensei. — Hinata pigarreou, temerosa. — A senhora...

— Hinata, eu te criei como uma filha. — Kurenai pediu para que Hinata se calasse; queria falar. — E, agora, vejo em você uma amiga, e tenho orgulho de ver a mulher que você se tornou. Eu te peço, cuide da Mirai para mim. Eu... — Kurenai se calou por um segundo, mordendo o próprio lábio. — Eu fui designada para ir também atrás dos Yuurei.

Aquela notícia atingiu Hinata em cheio. Não recebia notícias de baixas, com exceção dos ocorridos no País dos Demônios. Por buscarem um inimigo impossível de rastrear, os ninjas da Folha sempre voltavam a salvo para a vila — o próprio Sasuke Uchiha já havia se aventurado, inclusive, nas Dimensões de Kaguya Ootsutsuki atrás dos Fantasmas. Entretanto, sabia Hinata, a situação era uma lâmina de dois gumes, pois não havia quaisquer garantias de retorno segura ao lar caso os Yuurei quisessem se mostrar. E uma vez revelando-se, os inimigos se mostravam implacáveis. De um jeito ou de outro, o perigo sondava quem fosse atrás da organização criminosa.

— A senhora tem uma filha, Kurenai-sensei. Ir atrás deles... Não faz sentido. Não faz sentido algum.

— Hinata. — Bem sabia Kurenai que seria uma conversa complicada. — Eu aceitei a convocação do Hokage-sama. Partirei em sete dias.

— Não pode! Kurenai-sensei, eu mesma pedirei ao Hokage-sama para revogar a convocação, eu...

— Como? — Kurenai sorriu solidária, mas pesarosamente para a pupila. — Você sequer faz mais parte do Corpo Jounin da vila, Hinata. Suas obrigações, agora, se limitam ao clã Hyuuga, não com a política interna, ou ainda com o sistema militar da Folha. Sua opinião seria desconsiderada.

— O Kakashi-sensei me conhece, ele é uma boa pessoa e me ouviria. E ainda que não, eu pediria para alguém próximo dele como a Sakura-san ou o... — Hinata ficou em silêncio. Não disse, mesmo pensando, Naruto-kun.

Kurenai sacudiu devagar a cabeça.

— Não se preocupe, Hinata. Não tenho a pretensão de morrer, se é o que pensa. Quero ver minha filha crescer. Mas, caso eu... — Kurenai se calou por dois segundos. — Bom, Mirai estará em boas mãos: as suas. Você será a madrinha da Mirai, Hinata. É o meu pedido para você.

— Kurenai-sensei, eu não sei se... — Encontrou os olhos de Mirai, que se abriram quando a pequena despertou do cochilo. Grandes, gentis, tão escarlates quanto os da mãe. Era difícil para Hinata não ceder àquele par de orbes que tanto a observava com curiosidade.

E, para dificultar ainda mais, Mirai riu para Hinata. Uma risada bonita, engraçada, típica de bebê, mas, ainda assim, de som único. O rosto singelo e redondo da garota, as bochechas rosadas. E a risada... O coração de Hinata se apertou dentro dela. Mirai não poderia crescer sem a mãe, sem Kurenai. Mas como lidar com aquela situação? Caso amadrinhasse Mirai Sarutobi, como se organizaria para educá-la e, ainda por cima, se dedicar por inteiro ao clã Hyuuga quando se tornasse a líder? E o que pensariam dela, caso Hinata tornasse ao Distrito com um bebê? O que Hiashi pensaria?

O que Naruto pensaria?

Não, pensava Hinata. Era uma criança normal, era a filha de sua amada professora. Kurenai havia criado Hinata como uma filha quando Hiashi a repudiou na infância, preferindo Hanabi. Querendo ou não, devia um favor talvez inigualável à Sensei, a mulher que mais se importou com ela. E, além do mais, tratava-se de um apadrinhamento, não uma adoção. E mesmo que o fosse, pensou Hinata outra vez consigo mesma, que tinham as outras pessoas com isso?

No fim, foi impossível para Hinata não ceder aos puxões gentis da pequena em seus cabelos. Hinata não se importou, até achou divertido.

— Tudo bem, Kurenai-sensei. — Riu com outra puxada de Mirai, que encontrou um ótimo divertimento nos longos fios de Hyuuga. — Eu... Eu aceito.

O semblante de Kurenai se tranquilizou um pouco. Ao que parecia, há muito tempo o temor de uma resposta negativa atormentava os pensamentos da Jounin.

— Muito obrigada, Hinata — agradeceu Kurenai, encurvando a cabeça para a futura lide dos Hyuuga. — Eu não sei como te agradecer.

— Não. — Hinata se curvou para a professora. Mirai se esticou nos braços de Kurenai, tentando pegar os cabelos de Hinata, que lhe escapavam pelos dedos infantis. — Sou eu quem deve agradecer, Kurenai-sensei. Por tudo. A senhora foi... por muito tempo minha mãe e meu pai também. Muito do que sou se deve à senhora.

— Hinata...

Apesar do que ouvira falar a respeito da aluna nos últimos dias, era ótimo ver que a gentil Hinata Hyuuga ainda estava ali, bem existente.

* * *

As ruínas do País do Redemoinho.

As pisadas eram lentas e uniformes. Os olhos cabisbaixos e distantes. As mãos sacudiam à medida que o corpo andava. O cabelo longo e ruivo dançava como fogo à brisa da tarde. As vestes negras deslizavam pela grama e pelas pedras no chão.

Mira Uzumaki parou. Ali, em seu mundo de isolamento, a vice-líder dos Yuurei fez o que lhe era costumeiro toda vez que visitava as ruínas do país-natal: sentou-se sobre uma pequena saliência — sua preferida desde a infância —, de onde podia ver toda a extensão de seu vilarejo, o antigo lar do uma vez temido clã Uzumaki.

Os olhos azul-safira contemplavam a paisagem vidrados. Um ar nostálgico tomava a mulher, ao passo que as lembranças de horror vinham quase instantaneamente em sua cabeça. Observou os escombros do que havia chamado de lar uma vez: as casas reduzidas a entulhos de rochas e plantas trepadeiras, troncos inteiros de árvores derribados e ocos aos montes, a escola — pequenina e quase no limite de onde Mira conseguia enxergar — com paredes negras devido aos ataques de fogo. Mira ainda podia ouvir os gritos chorosos das crianças que foram mantidas dentro daquelas paredes, enquanto ninjas da Nuvem disparavam chamas avermelhadas das bocas. Era impossível não esquecer, foi uma das meninas a ser aprisionada na escola e, possivelmente, a única a escapar. Como recompensa, ainda era atormentada com pesadelos deste dia que queria tanto esquecer, bem com os ecos morrendo incinerados dos jovens Uzumaki.

Não muito longe da escola, a praça do vilarejo, onde Mira se lembrava de ver homens sendo enfileirados e degolados. À esquerda, a rua de esquina, onde grávidas tinham suas barrigas rasgadas por Kunai.

A tormenta de Mira, o que ela testemunhou tão jovem. Deste incidente, nasceu todo ódio que ela passou a nutrir pelo Sistema de Vilas, pelas Grandes Nações e pelo mundo ninja.

Mas apesar de tudo, Mira sempre visitava seu vilarejo quando podia. Sempre. Pois era ali que conseguia, também, ter melhores lembranças da única pessoa que a fez sorrir de verdade, a única quem esta considerou uma amiga: Kushina Uzumaki. Tamanha a proximidade das duas, que muitos achavam serem elas irmãs de sangue, quando, ainda, eram ótimas companheiras uma da outra. Inseparáveis. Inseparáveis até Kushina ser escolhida e levada pela Vila Oculta da Folha para substituir Mito Uzumaki como portadora da Raposa de Nove Caudas, a terrível Kyuubi.

Sentada sobre a grama, Mira tateou a parte interior das próprias vestes. Da cintura, tirou um objeto curioso: uma flauta talhada em bambu. Os dedos de Mira apreciavam o instrumento — velho e já desgastado — com certa afeição e graça.

— Você se lembra daquele dia, Kushina? — perguntou ao vento. — De quando nos conhecemos. Eu estava aqui, sozinha, nesta mesma saliência, quando você veio até mim. Você me disse que eu tocava bem e que éramos parecidas, apesar de você admitir não ter nenhuma noção de música.

A Yuurei riu vaga e triste.

— Eu sinto sua falta, minha amiga. Minha irmã — falou. — Mas eu prometo, vou vingar nós duas e nosso clã. Todos aqueles que nos fizeram sofrer, ou que representam este sistema ninja amaldiçoado vão pagar. A tragédia dos Uzumaki não foi esquecida como desejavam as Cinco Grandes Nações, não... Eu me lembro, e farei com que o mundo inteiro lembre também.

Pôs os lábios sobre a flauta e pôs-se a tocar. As notas saíram baixas, no princípio, e curtas. Mas à proporção que Mira tocava, o tom se elevava e se originava a música. A melodia era suave e melancólica, mas bonita também. Parecia que tudo, até a brisa, havia parado para escutar o triste som que simbolizava a ruína dos Uzumaki.

Mira parou de dedilhar a flauta, seus lábios já não sopravam ar no instrumento. Quieta, ela não precisou se virar para descobrir quem a observava ali.

— Não está muito longe de seu parceiro, Hana Sakegari? — perguntou Mira, de costas.

Hana, que estava ali a poucos instantes, engoliu em seco, constrangida. Mesmo sabendo que a vice-líder era uma Kunoichi Sensorial acima da média, o simples fato de ter sido descoberta tão rapidamente confrontava a alcunha de “fantasma” dos Yuurei.

— O Líder-sama me pediu para...

— ... Vir aqui me chamar, eu suponho. — Mira ajeitou uma mecha dos cabelos ruivos. — Pois bem, sente-se, Hana. Temos tempo.

A garota se sentiu um tanto receosa; sequer mexeu os pés.

— O que foi? — Mira se virou, olhando Hana por sobre o ombro. — Está temerosa por estar em minha presença?

— É que... — A garota coçou a cabeça infantilmente, forçando um sorriso para esconder a timidez. Sem sucesso. — Bom... Esta é a primeira vez que estou a sós com a Mira-sama. Digo, sem ter o Kioto-sama do meu lado. E não estamos no esconderijo.

— Compreendo. — Mira, aos olhos de Hana, não parecia agir como a onipotente Mira Uzumaki, a temível vice-líder dos Yuurei, parceira do “Líder-sama”; ela estava tão humana naquele momento, tão suave e delicada. Mesmo com as palavras curtas e a linguagem objetiva. Hana se perguntava se estar ali, no País do Redemoinho, era um refúgio para a outra de tudo e todos. Uma ironia intrigante, considerando que aquele lugar havia sido invadido e destruído por uma nação mais forte. — Eu pareço uma mulher estranha para você, aqui, não é, Hana?

E, outra vez, o constrangimento tapeou Hana Sakegari.

A menina deslizou as mãos pela capa, arrumando-a. Retirou o capuz da cabeça, os olhos verde-esmeralda ainda estranhando a situação.

Sentou-se ao lado de Mira, abraçando as próprias pernas. Por um minuto inteiro, as duas ficaram em silêncio. Hana por estar tão inusitada e intimamente próxima subcomandante, ao passo que esta absorvia a essência prazerosa que o ambiente podia lhe proporcionar.

— Eu nunca estive aqui antes — falou Hana, incomodada demais por permanecer calada. — País do Redemoinho. Aqui é tão... triste, e tão bonito também. Faz lembrar o seu rosto, Mira-sama.

Comentou e se virou para a superior. Hana se surpreendeu bastante por ver um sorriso distante nos lábios de Mira. Seria possível que aquelas palavras tivessem tocado a misteriosa vice-líder?

— Há quem diga que os Yuurei já morreram — Mira riu sem graça —, e que nós somos verdadeiros fantasmas. Assombrações desgraçadas que estão no mundo para atormentar os vivos. — Voltou-se para Hana, que arqueou a sobrancelha, curiosa. — Talvez tenham razão ao dizerem isso de nós. Eu penso que morri naquele dia... — E indicou com um leve aceno de cabeça para a ruína no horizonte.

— Mira-sama... — Hana ficou sem palavras. Mal conseguia se abrir com Kioto Hyuuga, seu parceiro nos Yuurei, quanto menos fazê-lo desabafar. Ele era frio, e Hana sabia que algo o tinha feito sofrer. Em algum momento de sua vida. E foi este motivo que o levou aos Yuurei, assim como todos os demais membros. Todos daquela organização tinham passado por um pesadelo, grande ou pequeno, em suas respectivas vidas. Todos, sem exceção. Uma experiência que os fez darem as costas ao mundo ninja. Sim, Hana pensava, Kioto era frio. Frio como Dairama, frio como o líder dos Yuurei. Frio como Mira. A mesma mulher que, naquele exato momento, estava conversando com a menina Hana. Não como uma superior, mas como uma companheira. Uma igual.

Flagrou-se corada quando Mira lhe tocou na cabeça, como uma mãe faz com a filha amada.

— Foi o próprio Iori quem se interessou pelas suas habilidades — revelou Mira à garota. — Suki é a Yuurei Sênior responsável por encontrar e recrutar novos e ideais membros para os Yuurei, com as permissões do Iori e minha, obviamente. Mas quando ele soube que havia uma garotinha que foi capaz de evitar o Mugen Tsukuyomi de Madara Uchiha, meu parceiro ficou ávido para integrá-la a nós, Hana Sakegari.

— Eu não sabia disso! — confessou a menina, impressionada. — O-o próprio L-líder-sama?!

Mira assentiu.

— Sabia-se até então que apenas o Susano’o de Sasuke Uchiha havia bloqueado a luz lunar infectada de ilusões que Madara havia ativado durante a Quarta Grande Guerra Ninja. Bem longe da batalha, Iori, meu parceiro, também protegeu os Yuurei do Mugen Tsukuyomi usando o Meiton para ofuscar o brilho da lua. Assim, nenhum de nós foi pego no Genjutsu. Agora... quando descobrimos que você, Hana, havia utilizado outro método e sido bem-sucedida, ficamos impressionados de fato.

Hana ficou um pouco encabulada.

— Eu só manipulei todo o pessoal do meu clã. Nós, os Sakegari, éramos de longe os melhores em Genjutsu. Naquele dia, quando vimos a lua ficar vermelha, eu só pensei rápido: ordenei a todos que me protegessem. Daí meu pai, minha mãe, meus avós, amigos... todo mundo conjurou contrailusões para fazer frente ao Mugen Tsukuyomi, considerado até então o Genjutsu mais forte já criado...

E Hana se calou, suspirando por se lembrar do feito.

— E assim, você perdeu todos ao seu redor — concluiu Mira. — O Mugen Tsukuyomi foi tão severo que consumiu os seus próximos até a morte, não é?

— É, Mira-sama — respondeu Hana. — No fim, todos foram consumados pelo uso excessivo de chakra. Quando cederam à luz da lua, já estavam quase mortos. E eu, desprotegida. Sozinha, que chances eu teria de fazer frente a um jutsu daqueles? Quando todo mundo morreu e minha defesa de contrailusão caiu, eu senti minha consciência se esvair por dois segundos, só de olhar aquela luz vermelha e gigante. Ela parecia tão próxima de mim... Mas, ao que pareceu, eu não fui pega. Uma cortina de escuridão encobriu os meus olhos no instante que eu cederia ao Mugen Tsukuyomi.

Hana sacudiu a cabeça devagar, risonha.

— Eu jamais imaginaria que os três Yuurei mais fortes viriam até mim. O Líder-sama em pessoa, a senhora, Mira-sama e... — Hana soltou um suspiro, corando. — O Kioto-sama.

— Eu senti um acúmulo de chakra onde você residia com seu clã e não acreditei que mais alguém além dos Yuurei e dos combatentes na guerra haviam resistido. O Byakugan do Kioto confirmou meu pressentimento e, por fim, fomos atrás de você. Mas tudo começou porque Iori viu potencial em você. Realmente, Hana, bloquear um Genjutsu como o Mugen Tsukuyomi, ainda que por alguns instantes, é um feito digno de um Yuurei Sênior.

A menina ficou boquiaberta, os olhos arregalados.

— Isso é sério, Mira-sama?

— Particularmente, eu indicaria você ou o Ryuumaru para substituir o lugar que Juha deixou. Taka Kazekiri também é forte, mas me faz lembrar demais a parceira dele, a Suki. Não quero outra pessoa me considerando uma rival. Isso só prejudicaria nossa organização.

— E o Kan? — perguntou Hana. — Ele tem aquelas loucuras da religião dele, mas até que luta bem. E tem dois braços de novo.

— Kan, pelo que vi, está mais preocupado agora em vingar o Juha do que tomar o lugar dele. Os dois, apesar das diferenças, formavam uma parceria admirável, além de serem bons subordinados. Eu não tinha problemas com eles.

Hana deu um risinho.

— Entendi.

Depois as duas se voltaram à quietude. O constrangedor e enfadonho silêncio para uma, o amigável e apaziguador silêncio para outra. Hana, vez ou outra, se virava para Mira, mas esta apenas contemplava as ruínas de seu antigo lar como se estivesse hipnotizada pela visão, como se estivesse fadada a ficar ali, serena, observando da saliência gramada o caos metros adiante.

A atenção da vice-líder só foi desviada quando o ar às costas das duas de distorceu em uma passagem de vácuo e escuridão gelada. A figura encapuzada que dela saiu encurvou a cabeça respeitosamente na presença de Mira Uzumaki.

— Mira-sama. — Era Kioto. — A senhora está bem? O Líder-sama disse que a senhora estava demorando.

— Kioto-sama! Você veio aqui! — Hana se levantou na hora, correndo para o companheiro. Parou, porém, a meio caminho, voltando o rosto para Mira. — Hã... Mira-sama, eu posso...?

— Pode se levantar e acompanhar seu parceiro, Hana — falou Mira, ainda observando o distante. — Tem a minha permissão.

— O-obrigada, Mira-sama. — Encurvou-se pomposa e desajeitadamente a menina. — E me desculpe pela falta de educação.

Até Kioto se surpreendeu com aquelas palavras. Hana tinha fama de ser a mais infantil e extrovertida dentre os fantasmas. Mas era notório que a garota respeitava e admirava demais seus superiores. Inclusive Suki, de quem menos gostava.

Enquanto Hana se encaminhava para o lado de Kioto, Mira guardava a flauta de bambu.

— Vá à frente, Kioto — ordenou Mira. — Irei logo em seguida.

Acatando as ordens de sua superior, Kioto Hyuuga a reverenciou uma última vez. Deu meia-volta, gesticulando com o braço para conjurar o portal de trevas. A escuridão irrompeu do nada, rasgando o ar em uma passagem.

— Vamos, Hana.

— Sim, Kioto-sama.

Hana atravessou o portal de escuridão silenciosa. Não olhou para trás. A passagem se cerrou, e Mira estava sozinha outra vez.

Pensando consigo mesma por mais alguns minutos, Mira saboreou seus derradeiros instantes de quietude antes de se juntar a Iori. A paisagem lhe parecia cada vez mais estranha à medida que os músculos da Yuurei a punham em pé de novo. Agora ereta, olhou, despedidamente, para as ruínas do clã Uzumaki no País do Redemoinho.

Sem dizer uma palavra sequer, Mira pôs o capuz na cabeça e desapareceu na escuridão crepuscular.

* * *

Dezembro avançou bem mais vagaroso que Naruto imaginava. Esperar para, assim, poder entrar em ação era decepcionante. Não que surpreender os Yuurei com a técnica nova — sobretudo Taka Kazekiri, o falastrão — fosse ruim, mas o que ele realmente desejava era, pelo menos uma vez, ter o poder de tomar a iniciativa. Encontrar os Yuurei, atacá-los, desafiá-los, qualquer coisa. Aguardá-los para agir em contra-ataque era vergonhoso e tedioso.

Em virtude disso, Naruto Uzumaki estava fazendo algo útil naquela noite sem neve, sem estrelas, apenas com o nublado céu. Convidou todos os amigos para algo que ele chamou de “Encontro dos homens”. A televisão ligada, bem como o Console Playstation 4. A comida e bebida espalhadas pelo tapete. As gargalhadas de Kiba Inuzuka irritavam Shino Aburame, que, apesar da baderna, tentava se concentrar na leitura. Chouji Akimichi devorava um pacote de pipoca para micro-ondas enquanto conversava com Rock Lee sobre as vantagens de desvantagens de comer Curry no café da manhã. Shikamaru apertava tediosamente os botões do controle. Era uma perda de tempo, pois o time de Naruto havia marcado outro gol.

— Rá! — comemorou Naruto, erguendo os dois braços para o alto. — Sete a um, Shikamaru! Sete a um! E isso porque deixei você marcar!

— Tsc, por que estou aqui, afinal? — murmurou Shikamaru, que agora era obrigado a ver o replay do chute poderoso de Tsubasa, centroavante da equipe escolhida por Naruto.

— Porque tínhamos que fazer alguma coisa — Naruto respondeu como se fosse algo óbvio. — As garotas marcam os encontros delas e nós nunca fizemos nada semelhante. Além disso, tivemos a sorte de todo mundo folgar hoje.

— É... amanhã que será o problema, pelo menos pro Lee — comentou Kiba. Lee se sentiu ofendido.

— Problema, Kiba-kun? Finalmente chegou minha vez! Como Jounin da Folha, partirei atrás dos Yuurei — falou entusiasmado.

— Isso se eles não te encontrarem primeiro — contrapôs Kiba. — E fazerem Curry com as suas sobrancelhas.

Lee não se intimidou.

— Eles jamais tocariam nas minhas sobrancelhas. — A pose era tamanha, que parecia que o sorriso categórico de Lee brilhava. — Duvido muito.

— Querem, ao menos uma vez na vida, pararem de falar nesses caras? — Chouji amassou o pacote de pipoca, terminando de comer.

— Ele tem razão. — Shino não tirou os olhos do livro. — Melhor aproveitarmos este dia, em companhia de nossos amigos.

— Falou o cara que sequer quis nos olhar... — Kiba resmungou.

— Cale-se, Kiba. — A voz abafada de Shino sequer pôde competir com as altas risadas dos demais.

— O Shino-kun bem que poderia ser mais associável, não é? — perguntou Rock Lee retoricamente.

— Ah, eu já tentei umas mil vezes. — Kiba deu de ombros. — O que acontece é que ele nunca quer sair. Não é, Shino?

— Eu não...

— Pior do que o Shino só o Sasuke — Naruto não perdeu a oportunidade de importunar o melhor amigo.

Sasuke Uchiha não estava tão recluso quanto Shino Aburame — sentado ao lado de Naruto, assistia-o jogar com Shikamaru. Arqueou a sobrancelha, porém, ao ouvir a provocação.

— Cale essa boca, idiota. — Não tinha como Naruto não rir.

— Mas não é verdade, Sasuk-...

O vulto empoleirado na janela foi o responsável por interromper a desculpa de Naruto, bem como atrair a atenção de todos. Instintivamente, os rapazes se puseram em pé. Mas relaxaram quando reconheceram a máscara ANBU que os observava.

— Olá pessoal. — Sai saudou os companheiros. Todavia, era notável a voz séria dele. — Bela reunião a de vocês.

— Você foi convidado também, Sai — ralhou Kiba.

— Kiba. — A forma como Naruto havia chamado sugeria ao outro que se calasse. Kiba olhou contrariado para Naruto, mas decidiu não falar mais.

Sai retirou a máscara do rosto. Exatamente como todos imaginavam, ele apresentava seriedade e preocupação. Virou-se para Naruto e Sasuke.

— O Hokage-sama deseja vê-los. Ele me mandou aqui para buscá-los.

Naruto e Sasuke se entreolharam.

— Aconteceu alguma coisa? — Mas Naruto já sabia a resposta mesmo antes de perguntar por ela. O semblante ansioso de Sai falava por si só. Mesmo tendo sido treinado para suprimir as próprias emoções, Sai não fazia questão de esconder nada em sua feição ali.

E Naruto sabia, também, que qualquer que fosse o motivo de Kakashi o chamá-lo àquela hora da noite era da mais elevada prioridade. Naruto sentia em seu mais intrínseco, havia relação com os fantasmagóricos inimigos.

— Sasuke... — Naruto se virou para o companheiro. Este apenas acenou com a cabeça em um leve gesto de concordância.

Decidido, Naruto encarou Sai.

— Estamos indo agora.

* * *

A porta do escritório do Hokage se abriu. Kakashi, vestido com o colete da Folha, estava sentado à mesa, aguardando seus convocados. Naruto e Sasuke se apresentaram, acompanhados de Sai. Além do Sexto Hokage, Tsunade, a Quinta, esperava. Junto dos dois Hokage, um homem alto de cabelos castanhos e arrepiados. Não foi difícil para Naruto reparar que, por baixo do uniforme, a manga do braço direito estava mais folgada que a do esquerdo. Horrivelmente mais folgada. Era óbvio, o homem na companhia de Tsunade e Kakashi não tinha um dos braços.

Kakashi pigarreou, dando início ao encontro.

— Naruto. Sasuke. Quero que conheçam uma pessoa. — Indicou o homem misterioso. — Este é Garou Inuzuka. Ele é membro da Elite Jounin, além de um dos melhores espiões da vila.

Respeitosamente, Garou se curvou para os dois jovens Jounin. Naruto retribuiu o gesto. Sasuke só semicerrou os olhos, desconfiado.

— Prazer em conhecê-lo, Garou — cumprimentou Naruto.

— Perdeu o braço em missão, suponho. — Sasuke não economizou palavras.

Garou ficou um pouco sem graça. Naruto olhou repreensivo para Sasuke.

— Ei, maldito, olha só como você fala com as...

— Garou. — Kakashi tomou a palavra. — Por favor, diga a eles o que me contou mais cedo.

— Ah, sim, Hokage-sama. Agora mesmo. — Endireitou-se, estufou o peito, ansiosamente. Virou-se outra vez para Naruto e Sasuke, e disse: — Eu os encontrei.

Por um instante só houve silêncio. Até Naruto questionar:

— Encontrou...? — Não tinha certeza da resposta. — Quem?

Garou trocou olhares com Sasuke, que o observava sem piscar, de um modo constrangedoramente analítico.

— A dupla líder dos Yuurei — revelou Garou. — Encontrei os dois.


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Notas finais do capítulo

Então, é isso. E aí, o que acharam?

Relembrando os acontecimentos, Hinata aprendeu o Selo Amaldiçoado dos Hyuuga, as irmãs Hanabi e Hinata tiveram uma — após dias reclusas uma da outra — conversa prazerosa juntas, e descobriu-se que Konohamaru Sarutobi conseguiu, o menino venceu na vida (aplaudam!), depois Hinata saiu com Sakura e as outras amigas, reencontrou a professora e esta, além de contra fatos sobre como anda a caçada aos Yuurei, pediu que se torna-se madrinha de Mirai. Depois veio a cena da Mira, e vimos um pouco da personalidade dela longe da organização, conhecemos como a Hana entrou para os Yuurei (controlando a mente dos familiares e próximos para que estes se sacrificassem para protegê-la da ilusão lunar. Apesar de durar pouco tempo, foi o bastante para atrair a atenção de Iori). Houve uma cena breve de divertimento entre os rapazes e, por fim, o desfecho do capítulo, com a apresentação de um novo personagem que foi capaz de fazer aquilo que nem o próprio Sasuke Uchiha e seu Rinnegan conseguiram: encontrar os Yuurei, e, para atenuar, justamente a dupla líder, Iori e Mira.


O que acham disso tudo? Estranho? Curioso? Intrigante? Deplorável? Digam, por favor.

Este capítulo saiu maior do que eu esperava. Digo, eu achei que seriam menos palavras. '-'
Próximo capítulo: As Cinco Nações se movem.

Para os desafortunados que, durante mais de um ano, tiveram que esperar após me pedirem para que eu recolocasse na história uns personagens lá do comecinho da fic, podem sorrir. Três personagens (de certa forma, quatro. Vocês vã entender no capítulo que está por vir.) que deram as caras nos primeiros capítulos de O Herói do Mundo Ninja irão reaparecer. Não direi nomes, obviamente. Deixo os palpites com vocês.

E, sim, venham a discrepância de horário. Eu dormi e só agora postei. São 09h, não 04h06min.

Espero que a internet se mantenha desta vez. Desculpem fazê-los esperar.

Até o próximo capítulo o/