O Herói do Mundo Ninja escrita por Dracule Mihawk


Capítulo 87
Rokudaime Hokage


Notas iniciais do capítulo

(Tirou as flechas do peito ensaguentado, levantando-se aos poucos. Arfava de exaustão.)

— Avisa lá... que Victor voltou...

(Música de fundo: The End Begins, de God of War II)

Olá, povo do meu coração! Flamenguistas, Gremistas (Thales, tá rindo à toa do 5 x 0 ainda, né?), Vascaínos (nesse caso, eu é que tô rindo deles, hahahaha "O respeito voltou", assim disse Eurico Miranda. Infelizmente, porém, o time é, hã... vice-lanterna no campeonato?), enfim. É muito bom estar aqui, às 02h23min da minha preciosa madrugada, escrevendo estas notas inicias pr'ocês!

Agora, antes que atirem suas pedras, estacas, lanças, flechas (mais não, por favor) em mim, saibam que — pra variar — estou sem tempo, diferente de como eu era antigamente (saudades 2014, serião). Portanto, eu vou fazer uma coisa que não é do meu costume e vocês abem disso: vou postar o próximo capítulo antes de responder os comentários do(s) anterior(es). Desculpem, não que eu queira desrespeitar as opiniões de vocês — acreditem, eu já li todos, TODOS, os comentários que me mandaram (e já escolhi o melhor do capítulo, inclusive), apenas não consegui respondê-los —, eu não sou disso, vocês sabem. Quem aqui me tem como autor favorito, me segue e tudo o mais, saberá, também, que em outras histórias minhas eu devo, também, respostas a comentários, logo, não é apenas aqui que minha dívida está alta.

E por falar em dívida de comentário, sintam-se à vontade para fazê-la crescer. ^^ Este capítulo... Acho que vão gostar dele, tem muita coisa legal. Podem ir pegar o Combo Mega Duplo de Pipoca com Refrigerante (aposto cinquenta reais que NINGUÉM que leu isso se lembrou da Hanabi durante a saga Exame Jounin, logo no início desta história) e ler as minhas... 9.000 palavras!

É ISSO AÍ! 9.000 PALAVRAS! Caraca maluco! Agora que eu vi! É recorde! O novo "maior capítulo de O Herói do Mundo Ninja". Ai, droga... vou cansar as vistas e a memória de muita gente...

Quero abrir um ícone aqui e agradecer a Dani pela TRIGÉSIMA TERCEIRA recomendação! Caso esteja lendo estas notas (porque ela começou a ler a história agora, gente), você tem todos os meus agradecimentos. Se não, bom... eu tenho um monte de comentários seus a responder, hehe.

AVISO: por motivos obscuros, Victor teve que parar, dormir e retomar a postagem só às 07h35min

Bom, hoje o dia será longo. Sem mais delongas, boa leitura para todos! Nos vemos nas Notas Finais! o/



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Os dias se passaram como segundos quase imperceptíveis. O inverno de Dezembro havia chegado, e com ele algumas novidades na Vila Oculta da Folha.

O Terceiro Campo de Treinamento — outrora verdinho com grama fresca e alta — estava basicamente irreconhecível com o tapete branco de neve. A vista estava tão magnífica quanto de costume, mas diferenciava-se em virtude da estação do ano.

A neve era bonita para ele. Face a face com o velho professor, o rapaz exibia um sorriso de autoconfiança que há muito gostaria de ter nos lábios. Ali, perante o Sensei, provaria que sua mais nova técnica estava mais que afiada.

— Lembre-se — dizia-lhe o professor —, você deve me derrotar antes que o tempo acabe. Não preciso explicar como te quero ver lutando, preciso?

Ansioso, Naruto apertou o nó do próprio protetor ninja.

— Beleza, Kakashi-sensei. Ou devo chamá-lo agora de... Hokage-sama?

Kakashi Hatake, o Rokudaime Hokage, estava com as mesmas vestimentas de sempre, em exceção, somente, do colete, que trazia o Kanji “Sexto” nas costas.

— Deixe de formalidades. Não combina com você, Naruto.

— É. Já me disseram isso antes. — Estalou os dedos. — Bom, aqui vou eu, Kakashi-sensei.

Tomou três Kunai do estojo e atacou, lançando-as contra Kakashi que não teve problema algum para se defender com outra. Era a iniciativa de Naruto no combate; reapareceu em um piscar de olhos à retaguarda do professor, tendo o punho cerrado para socá-lo. Kakashi, porém, tinha bons reflexos e conseguiu bloquear o golpe com a mão esquerda.

Naruto sorriu.

Assim que foi bloqueado por Kakashi, Naruto permaneceu atacando. Agora por intermédio de um chute alto com a perna esquerda — mirando no queixo do Hokage. Kakashi se esquivou, fugindo, por hora, do alcance do aluno.

— Raikiri. — Investiu de imediato, aproveitando que Naruto finalizava o movimento de chute.

O ataque elétrico atravessou o ar inofensivamente. Naruto havia se abaixado no momento exato, levantando-se para socar o rosto de Kakashi com a mãe direita, enquanto a esquerda segurava firme o pulso do professor, impedindo-o de reagir com o Raikiri.

Naruto pôde sentir os ossos do maxilar de Kakashi tremendo com o soco recebido, antes de este explodir em fumaça. Sem se impressionar, o rapaz olhava ao redor.

— Kage Bunshin no Jutsu, é? Mesmo sem o Sharingan, fica copiando o jutsu dos outros. Não vale, Kakashi-sensei — brincou.

Não houve resposta. O que, para Uzumaki, era normal. Apertou o cachecol azulado, de olhos fechados.

“Não quero usar o Modo Sennin, nem Kurama e os outros. Vim treinar o meu Shunshin no Jutsu, e apenas isso”, pensou. “Esteja preparado, Kakashi-sensei.”

Naruto e Kakashi, após treinarem por meses, simulavam uma batalha contra um Yuurei. O objetivo do Uzumaki era, em seis minutos, derrotar o Hokage. A tática de Kakashi, obviamente, consistia em fazer o Jounin gastar tempo. A iniciativa deveria ser, obrigatoriamente, de Naruto.

— Você está enrolando, Naruto — falou Isobu à cabeça do Jinchuuriki. — Por que não usa o Modo Sennin ou um de nós?

— O Selo rebote só passa a contar quando utilizado o poder Bijuu, correto? — indagou Matatabi. — Naruto, seus verdadeiros seis minutos ainda não começaram.

“Eu sei”. Ainda olhava — analítico — as moitas e árvores. “Droga! Ele se esconde bem mesmo.”

— A iniciativa tem que vir de você, Naruto. Ele não vai buscar o confronto direto. — Son Goku suspirou entediado.

— E o tempo está passando — lembrou Saiken.

— Que tempo? — retrucou Matatabi. — Nada deveria ser contado; o Naruto não está usando os nossos poderes.

O riso grave e abafado de Kurama atraiu a atenção de Matatabi.

— Olhe para ele, Matatabi. Olhe para o Naruto. Veja a concentração nos olhos desse cara. Isso é mais que um treino para ele; é orgulho pessoal. O Naruto não quer usar os poderes mais fortes, pois deseja saber se é ou não capaz de localizar e atacar um Hokage como o Kakashi sem depender deles — explicou Kurama. — Dentre todos nós aqui, não há ninguém mais preocupado com o tempo que o próprio Naruto. E ele sabe, também, que para enfrentar os Yuurei, ele deverá se sentir seguro de usar tudo o que pode, não apenas o Modo Sennin e nosso chakra. Esse pirralho... Ele deixou de ser um garoto e se tornou um homem. Acredite nele.

Sendo perfeitamente capaz de ouvir cada palavra de seus parceiros Bijuu, Naruto sorriu confiante.

— Você sempre será o maior entendedor do Naruto, Kurama. — Sentou-se Matatabi, olhando para o parceiro de Nove Caudas, e depois para as costas do pequeno Jinchuuriki. — Tem razão. O Naruto é... um ninja inacreditável.

Com a atenção completamente voltada para o treinamento, Naruto caminhou alguns passos para frente. Com um movimento lentíssimo e categórico — quase teatral —, pegou apenas uma Kunai e, atrelando-a cuidadosamente a uma tarja explosiva, arremessou-a contra a mata fechada. Como resultado, Kakashi se viu obrigado a se revelar antes da explosão.

— Entendo. — Limpou a poeira e os flocos de neve do próprio colete, enquanto observava o jovem e sorridente Jounin. — Conseguiu determinar minha localização exata sem precisar de Senjutsu. Suas habilidades sensoriais vêm melhorando, Naruto. Isso foi graças a Karin, eu suponho.

Naruto coçou a cabeça.

— É. A minha prima me deu uma ajuda.

— Ótimo. Mas e o motivo deste treina-...

Obrigado a se interromper, Kakashi se virou para trás abruptamente para bloquear um chute aéreo de Naruto, que havia surgido à retaguarda.

— Assim está melhor — comentou Kakashi.

Prosseguiram se combatendo com Taijutsu. Sem parar, trocavam chutes e socos a uma velocidade absurda. Naruto avançava e avançava. Era constante no ataque, ao passo que Kakashi se defendia de todas as investidas do Jounin. Vez ou outra Naruto tentava usar o Shunshin no Jutsu — a técnica espaço-temporal que permitia ao ninja se movimentar de um ponto a outro em um instante. Diferente do Hiraishin no Jutsu, o Shunshin no Jutsu não se tratava de teletransporte, mas sim de aceleração.

— Aqui! — gritou Naruto após fugir do alcance da perna direita de Kakashi, reaparecendo justamente aonde o chute já havia passado. Com o movimento da perna ainda em realização, seria impossível para Kakashi se defender naquela hora.

Naruto socou, e, antes que atingisse em cheio o rosto do professor, sumiu completamente. Reapareceu, porém, no segundo seguinte no ar. Bem acima do corpo do Hokage, tendo na mão direita sua técnica preferida.

Assim, pôs término na luta.

— Rasengan!

O corpo de Kakashi afundou no solo nevado. A terra escavada e a grama congelada voaram para todas as direções, e Naruto, suspirando devagar, limpou o rosto sujo e empoeirado. Olhou para os próprios pés e riu.

Um pouco acima do buraco feito pelo Rasengan, o verdadeiro Kakashi Hatake batia palmas satisfeito.

— Bom. Muito bom.

Naruto olhou para cima, viu o professor com ar — pressupunha o Jounin — sorridente e se desfez em fumaça.

— Quanto tempo eu demorei, Kakashi-sensei? — perguntou o Naruto real, vindo de dentro da mata fechada.

Kakashi consultou o cronômetro que havia trazido consigo para o treino.

— Quatro minutos e trinta e sete segundos — contou. — Um bom tempo.

Naruto, relaxado, pôs as mãos na cabeça e gargalhou.

— Estou ganhando os confrontos entre Kage Bunshin, Kakashi-sensei. Tá cinco a dois para mim.

— Quatro a dois, Naruto — corrigiu Kakashi. — Hoje só conta uma vitória.

— Eu derrotei dois clones seus, Kakashi-sensei.

— No mesmo treinamento. Além disso, eu estava mais preocupado com o desenvolvimento do seu Shunshin no Jutsu.

Naruto fungou.

— Sei. E então, está aprovado?

Atendendo a expectativa do aluno, Kakashi respondeu:

— Sim. Parece que terminamos por aqui, Naruto. Acho que, finalmente, vou poder me dedicar exclusivamente às minhas obrigações como Hokage.

Naruto riu.

— E eu em voltar à ativa. Bom, já vou indo, Kakashi-sensei. Até. — O Jounin acenou e se virou.

— Naruto. — O chamamento de Kakashi fez Naruto parar de caminhar e virar o rosto novamente para o Hokage.

— Kakashi-sensei? — Esperou o Kakashi dizer algo.

Por um momento, parecia que ficariam ali apenas se observando como velhos professor e aluno — e, agora, Hokage e Jounin —, até Kakashi se manifestar. Um pouco sem saber o que dizer, ele pigarreou antes da primeira palavra.

— É bom vê-lo de volta.

Por mais simples que fossem aquelas palavras, causaram um efeito positivo em Naruto, que as retribuiu com o costumeiro e único sorriso confiante. O sorriso que, para Kakashi Hatake, professor e companheiro de Naruto Uzumaki por vários anos, era uma marca desde a primeira reunião do Time Sete, quando um pequeno e estabanado garoto ajeitou o protetor ninja e declarou que se tornaria Hokage, superando todos os anteriores.

Agora, olhando o homem feito que Naruto havia se tornado, Kakashi tinha cada vez mais convicção de que o nostálgico juramento se tornaria realidade — se já não o tivesse.

— Obrigado... Kakashi-sensei.

Em um abrir e fechar de olhos, Naruto tinha sumido do campo de treinamento. Desapareceu praticando o jutsu novo.

Kakashi suspirou, pondo as mãos nos bolsos da calça.

— Excelente! — falou uma enérgica voz feminina atrás de Kakashi. — Muito bom, Kakashi!

Tsunade andou um pouco até ficar lado a lado de seu sucessor. Junto com ele, olhava para o horizonte.

— Ele aprendeu muito mais rápido do que eu esperava — comentou o ninja. — Às vezes penso se sou mesmo o legítimo merecedor de ser o Sexto Hokage.

Tsunade soltou uma gargalhada divertida.

— Você está falando como velho, Kakashi. O Naruto será Hokage um dia, com isso você não precisa se preocupar.

— Espero ter o privilégio de passar meu título para ele, Tsunade-sama. Ele merece.

— Sim. Você irá. — A voz de Tsunade se agravou. — Mas antes disso, é obrigação sua conduzir a vila a uma vitória contra... Eles.

Kakashi assentiu.

— O Daimyou está satisfeito comigo. Há um pouco mais de três meses me tornei Hokage e não houve reclamações. Os conselheiros estão calados até agora.

— Vai aprender que aqueles velhos são tão chatos falando quanto quietos, Kakashi — resmungou. — O bom de eu ter deixado de ser a Hokage foi esse: ter me livrado daqueles dois. Além de poder beber meu sakê sem ouvir a voz preocupada da Shizune. Ela se tornou doutora no Hospital da Folha, a Shizune.

— Sim — confirmou Kakashi. — Alguém com as habilidades médicas da Shizune-san, sendo aluna e assistente pessoal da senhora, Tsunade-sama, com certeza ascenderia rapidamente no hospital.

— Mas e o seu aluno, Kakashi? Diga-me: o Naruto pode mesmo combater um Yuurei agora?

Kakashi pensou um pouco.

— Os Yuurei, até o momento, preocuparam-se muito mais com o emocional do que o físico do Naruto. Eles sabem, assim como nós, que o Naruto, apesar de não se deixar abater com facilidade, é bastante emotivo.

— É. É o ponto fraco e forte dele ao mesmo tempo — Tsunade concordou. — É o que faz dele uma pessoa única.

— O que quer que esteja dentro do Naruto, o que o Sasuke conseguiu paralisar, só pode se manifestar depois de passados seis minutos de uso dos poderes Bijuu do Naruto. Fico me perguntando se as provocações dos Yuurei são para minar a resistência emocional do Naruto e destruí-lo lentamente ataque após ataque, ou para fazê-lo usar mais rápido o chakra Bijuu e, assim, ser consumido pela coisa que há dentro dele.

— Não há dúvidas de que o inimigo é extraordinário, Kakashi. O que temos de fazer é dar a eles um Naruto Uzumaki mais extraordinário ainda.

— Durante o tempo que o treinei, conversei muito com ele a respeito dos Yuurei, além de outras coisas — confessou Kakashi. — No fim, ele acabou me contando do térmico da relação com a Hinata Hyuuga.

— Envolvimento do Hiashi. — Tsunade revirou os olhos, enojada. — Segundo ele, esta é a melhor forma de preparar a Hinata para liderar o clã.

— O Hiashi-sama não percebe que isso pode prejudicar tanto a filha dele quanto o Naruto? Mais um problema emocional é vantagem para os Yuurei.

— Verdade. Mas fico pensando se Eles vão se concentrar na Hinata outra vez? Digo, já a atacaram antes, não? Assim como a Sakura. E ambas sobreviveram. A menos que tentem contra as vidas delas outra vez, os próximos alvos não são elas duas.

A luz do sol morria no céu, dando lugar ao manto negro sem estrelas da noite. Um arrepiou percorreu toda a espinha de Kakashi, da nuca até o dorso.

— O que quer dizer exatamente, Tsunade-sama?

— Não há dúvidas de que os amigos do Naruto são alvos primários dos Yuurei. Todos, sem exceção. Mas o problema foi que a melhor amiga e a... bom, ex-namorada dele ainda estão vivas após serem atacadas. E isso, Kakashi, muda tudo. Se o Naruto resistiu a essas duas ofensivas, os Yuurei agirão muito mais severos na próxima vez. E aí vem a minha pergunta: o que ou quem pode ser mais importante para o Naruto que as vidas da Sakura e da Hinata?

Os dois Hokage se entreolharam. Pensavam na mesma coisa.

— Não acho que o Sasuke seja o próximo alvo — comentou Kakashi. — Ele pode ser o melhor amigo do Naruto, mas acho que a Hinata valeria muito mais como presa do inimigo. Além disso, o Sasuke sabe o que é matar um Yuurei. Tenho certeza de que Eles, por mais hábeis e arrogantes que possam ser, deverão ter muito cuidado ao lutarem contra o Sasuke.

— Imaginei que fosse dizer isso. Diferente do Naruto, o Sasuke é frio e não se deixa levar pelas emoções em uma luta. E, assim como o Naruto, o Sasuke está ansioso para lutar contra um Yuurei outra vez — disse Tsunade. — Não é uma boa combinação para o inimigo.

— A Karin — lembrou-se Kakashi. — Naruto a vê como uma prima mais velha. Família.

— Sim, a família que o Naruto nunca teve. Mas não se esqueça, Kakashi: a Karin já foi atacada pelos subordinados dos Yuurei, os Oukami. E também sobreviveu.

— Sendo assim, eu, particularmente, não vejo nenhum outro alvo em potencial para os Yuurei. Sei que sofrer um atentado é muito diferente de ser morto pelo inimigo, como foram os casos do Bee-sama e da princesa Shion, mas, ainda assim, encontrar alguém que valha a pena tanto quanto Hinata e Sakura é difícil.

— Naruto vê todos como grandes amigos, como partes dele. — Tsunade, por um instante deu um sorriso tímido e gentil. — Mas é inegável dizer que a relação dele com a Sakura é mais íntima do que com a Ino, por exemplo, ou com a Tenten. Querendo ou não, ele tem aqueles que são mais “chegados”. E, tenho certeza, serão estes os alvos preferidos dos Yuurei.

Tsunade soltou um suspiro cansado e tenso. Kakashi olhou de lado para sua predecessora e viu fadiga no rosto rejuvenescido pelo Byakugou no Jutsu. A Sannin temia pelo homem que havia passado a amar como um filho.

— Ah, se eu pudesse, socaria a cara de cada um desses malditos eu mesma. Até não sobrar mais nada.

Foi então que uma ideia passou pela cabeça de Kakashi. Olhou outra vez para o rosto preocupado de Tsunade e teve certeza.

— Compreendo. Tsunade-sama — disse o Sexto Hokage. — Sinto-me assim também.

Tsunade olhou-o de esguelha.

— Pensando igual a mim? Droga, Kakashi... Você realmente está ficando velho.

— Pois é. Coincidência de Hokage, não é mesmo, Tsunade-sama?

— Pode ser. — Ela se espreguiçou e bocejou. — Bom, anoiteceu. O que tinha de ver aqui eu já vi. Agora vou ao bar beber sakê e comer Dango. Se não se importa, vou indo, Kakashi.

— Oh, não. Fique à vontade, Tsunade-sama.

— Boa noite, e não se atrase. — Riu a antiga Hokage. — Senão aqueles dois vão chiar nos seus ouvidos. Velhos conselheiros insuportáveis.

Kakashi esperou até Tsunade sumir de seu campo de visão. A neve havia recomeçado a cair; uma bela noite de inverno.

— Yugao, Ryo, Choujuu, Haru — chamou Kakashi.

Atendendo ao chamado do Hokage, quatro figuras mascaradas romperam ajoelhadas diante dele. Três homens e uma mulher; os Quatro Capitães da ANBU.

— O senhor nos chamou, Hokage-sama? — perguntou Yugao, capitã da Primeira Divisão da ANBU.

— Aconteça o que acontecer protejam a Tsunade-sama — ordenou Kakashi. — Não usem tenentes ou outros subordinados. Eu conto com vocês, meus velhos amigos e capitães. Tive um péssimo pressentimento.

Os quatro mascarados se entreolharam.

— Entendemos, Hokage-sama — garantiu Choujuu Akimichi, capitão da Terceira Divisão.

— E o mais importante — concluiu Kakashi —, ninguém, nem mesmo a própria Tsunade-sama deve saber desta missão especial. Por questões de segurança mesmo.

— Sim, senhor Hokage-sama — jurou Haru Nara, o capitão da Quarta Divisão. — O senhor tem nossa palavra que protegeremos a Godaime-sama com nossas vidas.

Por já ter sido membro da ANBU quando mais jovem, Kakashi sabia o peso do juramento deles. Além disso, outrora lutara ao lado dos quatro como iguais, principalmente Yugao Usuki, que, na época, era a novata prodígio da Primeira Divisão ao lado de Itachi Uchiha.

Deixando a nostalgia de lado, ordenou:

— Muito bem. Vão.

Antes que os olhos de Kakashi se fechassem e se abrissem outra vez, os quatro haviam desaparecido por completo. Não havia, sequer, rastros de pegadas na neve.

* * *

Naruto já estava a meio caminho de casa — já reconstruída e, do ponto de vista dele, muito mais bonita do que a versão original — quando sentiu um chakra familiar atrás de si e resolveu parar.

— Você estava me seguindo? — comentou sarcástico.

O jovem de roupas azul-marinho e colete cinzento com o símbolo dos Uchiha nada disse. Caminhou como se nem tivesse ouvido a provocação do melhor amigo e, após ficar ao lado dele, resolveu falar:

— Terminou o seu treinamento, suponho.

Sasuke havia deixado o cabelo crescer mais um pouco, além de haver abandonado definitivamente o protetor ninja. Havia quem comentasse a respeito, mas ele não se importava.

— Terminei — falou Naruto orgulhoso. — E você? Como andam as sondagens?

Sasuke negou com a cabeça.

— Encontrar os Yuurei é impossível — comentou o Uchiha. — Usei, inclusive, meu Rinnegan para explorar as dimensões da Kaguya. Nada.

— Você pode fazer isso agora? — Naruto perguntou.

Sasuke olhou-o como se fosse um feito qualquer.

— Aprendi a fazê-lo. Mas diferente da Kaguya, não sou capaz de conjurar uma dimensão sobre outra, apenas viajar entre elas. E isso consome muito do meu poder ocular; não é algo que eu usaria com frequência em batalha.

— Droga — resmungou Naruto. — Odeio ter que ficar esperando aqueles caras agirem para poder contra-atacar.

Caminhando lado a lado, haviam chegado à residência do Uzumaki. De dentro dela, via-se uma luz acesa e se sentia o cheiro de comida cozinhando.

— Quer entrar e tomar algo? — convidou Naruto. — Karin e eu vamos jantar juntos hoje.

Sasuke negou.

— Estou cansado. Quero ir para casa descansar.

— A sua ou a da Sakura-chan?

Sasuke não se importou com a pergunta.

— Talvez as duas. Agora que ela mora sozinha, não preciso mais me preocupar com meus movimentos e acordar os pais dela.

— Vocês dois... — Naruto riu. — É ótimo ver que deram certo... Sim, é...

Os olhos negros de Sasuke analisaram cada parte do rosto de Naruto, estudando-o como um objeto de pesquisa fácil de ser compreendido.

— E você e a Hinata? — Sasuke achou que deveria perguntar.

— Uhn? Ah, sim — disfarçou Naruto. — Hinata e eu...

Naruto olhou diretamente nos olhos de Sasuke, imaginando o momento em que ele se cansaria ou ficaria entediado o bastante para desistir daquele assunto. Infelizmente, porém, Sasuke se manteve o bom e velho inflexível de sempre. Derrotado, Naruto suspirou.

— Eu ainda gosto dela, Sasuke. Digo, de verdade, sabe? Vou lutar por ela, sim. Prometi ao Neji que daria um jeito nas tradições dos Hyuuga e, no fim, ele não me viu cumprir a minha promessa. Com a Hinata vai ser diferente.

Sasuke sequer piscou. Deu meia-volta e disse antes de partir:

— Apenas tome cuidado com o que for fazer, Naruto — aconselhou.

— Disse o homem que, dois anos atrás, colocou a própria Katana no pescoço do Daimyou, não é mesmo Sasuke? — ironizou Naruto.

— Não pretendo ser Hokage um dia, Naruto. Não mais. Lembre-se disso.

Aquelas palavras desceram geladas dentro do Uzumaki. Sasuke olhou-o por sobre o ombro.

— Particularmente, adorei saber que você humilhou a guarda inteira dos Hyuuga e desafiou o Hiashi só para ver a Hinata. Mas, diferente de antes, você é um adulto, Naruto, já tem dezenove anos completos. É bom pensar antes de invadir o clã de alguém.

Os pensamentos de Naruto corriam. Lembrou-se de uma biblioteca e uma garota quieta a estudar, chamá-la para sair, comer Ramen com ela, um balanço à luz lunar, um beijo tímido — o primeiro do casal —, vê-la duelar contra o pai, lutar contra um velho conselheiro apenas para defendê-la, receber a aprovação de Hiashi e, finalmente, poder namorá-la, vê-la torcer por ele durante o Exame Jounin (dentre toda a multidão nas arquibancadas, era ela quem Naruto tinha visto), das missões juntos, brincadeiras, risos, momentos bons e ruins, de quando dormiram juntos; todas as memórias que envolviam Hinata Hyuuga implodiram num turbilhão à mente dele.

— Sasuke — dizia —, enquanto Hinata e eu estávamos no País dos Demônios e eu era atormentado por “Aquela Coisa” na minha cabeça, o monstro que você pôs em Genjutsu, eu fiquei me perguntando se era melhor me afastar da Hinata para deixá-la mais segura. Entende? Eu tinha medo de que a machucassem. Claro, eu sei que ela é muito forte! Não foi à toa que, quando ela se tornou Jounin, lutou de igual para igual com a Sakura-chan em uma luta que não teve vencedora. Eu só...

Sasuke ficou ali, quieto, vendo-o falar. Naruto achou melhor assim; via que o amigo o estimulava a desabafar apenas pelo olhar.

— A Hinata me disse uma vez que comigo ela se sentia mais segura, que não tinha melhor lugar para ela estar do que comigo — continuou. — Antes eu tinha dúvidas, mas agora eu sei que ela tinha razão. Longe dela, eu não sou... Eu, sabe. Penso que uma parte importante de mim ficou no clã Hyuuga quando dei as costas para ela...

Naruto suspirou, relaxando os ombros da tensão. Sasuke permaneceu em silêncio.

— Eu treinei duro e fiquei mais forte mais por ela do que por mim mesmo, mais do que para proteger a vila. Eu confesso isso a você porque você é o meu melhor amigo, Sasuke. Eu... Eu quero acabar com a raça daquele Taka! É, eu quero! Ele nunca mais vai falar da minha namorada daquele jeito! Eu... — Tomou fôlego e prosseguiu na confissão: — Eu estou disposto a voltar lá e jogar na cara do Hiashi-sama que a Hinata é minha. Eu a amo e quero ficar com ela, namorar ela e casar com ela. Não me importa o que vão achar de mim, se vou ferrar com meu futuro e tudo o mais. Estou disposto a desistir do meu sonho de ser Hokage por ela.

Pela primeira vez o semblante de Sasuke se alterou, surpreendido com tais palavras. E aquela confissão final foi o ápice. Naruto, definitivamente, estava pronto para renunciar ao maior sonho de sua vida, o que sempre o guiou, apenas pela mulher amada.

— Naruto... Você tem noção do que acabou de dizer?

A expressão séria e decidida — típica do garoto que jurava nunca voltar atrás em suas palavras em honra de seu “Jeito Ninja de ser” — falava por si só. Sasuke teve sua resposta antes de Naruto confirmar verbalmente.

— Tenho, Sasuke. Prefiro envelhecer com a Hinata a ser lembrado como o maior dos Hokage.

Sasuke tornou a ficar de frente para o amigo e, indo até ele, pôs a mão direita sobre o ombro de Naruto, olhando-o nos olhos. Um sorriso discreto de satisfação decorou os lábios do Uchiha.

— Até que enfim — ele disse. — O Naruto com o qual eu me acostumei está de volta outra vez. É bom saber disso... Idiota perdedor.

E por intermédio do Shunshin no Jutsu, Sasuke desapareceu por completo; Naruto estava acompanhado apenas das últimas palavras do amigo, que ainda sussurravam em sua cabeça.

A porta da casa se abriu, e uma Karin ansiosa o despertou dos pensamentos.

— Vai entrar ou não, Naruto? — Ela batia o pé, de braços cruzados. Naruto sequer prestou atenção no avental de cozinha que a prima vestia, ou no cabelo preso, senão riria na hora. — E onde está o Sasuke? Senti o chakra dele aqui com você.

Naruto balançou a cabeça, voltou-se para Karin, tocando-a no ombro.

— Estou em casa, prima. E de volta também.

* * *

Desde o cair da noite até meados da madrugada estavam ali, os dois. Todas as luzes das demais casas já haviam se apagado após mais um longo dia invernal. Apenas as do salão de treinamento do nobríssimo clã Hyuuga permaneciam acesas.

Hinata ofegava, enquanto limpava o suor da testa com as costas das mãos. O kimono branco — imundo de treinar naquele dia incessantemente —, amarrotado e úmido representava as horas de dedicação de sua usuária, que o reforçava com uma faixa preta na cintura.

Hiashi não estava em melhores condições, pelo contrário. Por ser mais velho, sentia o cansaço pesar no corpo mais que a filha. E diferente de Hinata, que ainda estava de pé, o líder dos Hyuuga apoiava-se sobre um dos joelhos. O salgado suor descendo pela pele, tocando-lhe os lábios, empapando-lhe o kimono cinza-escuro o incomodava bastante. Mas, ao mesmo tempo, o deixava orgulhoso; Hinata se mostrava uma oponente duríssima a cada vez que duelavam. Neste último combate, não foi sequer capaz de acertá-la com seu Juuken formidável. Hiashi Hyuuga se questionava intrinsecamente se, enfim, havia sido superado.

— Enfim — Hiashi se reergueu, pondo-se novamente em postura de combate —, vejo ferocidade nos seus olhos... Hinata.

Tão calma e fria quanto seu pai desejava vê-la, Hinata deu um passo à frente. Inspirou profundamente, soltando o ar dos pulmões devagar. Não sentia mais os músculos do corpo latejarem de dor e cansaço — via-se renovada . Sem pressa, afastou as mechas de cabelo que atrapalhavam sua visão. Os olhos de Hinata Hyuuga transmitiam exatamente o que ela sentia, o ávido desejo de vencer.

— Vamos recomeçar, meu pai?

Hiashi sorriu, estalando os dedos um de cada vez.

— O ataque é seu, Hinata. Venha.

A moça, porém, negou com a cabeça. Pôs-se em forma de combate apenas; sem avançar.

— Se não se importa, meu pai, prefiro a defesa agora. — As veias ao redor dos olhos de Hinata dilataram, esparramando-se como teias. Os olhos tornaram-se mais esbranquiçados. O Byakugan da Herdeira dos Hyuuga estava novamente ativado, observando cada Tenketsu no corpo de Hiashi, cada batimento cardíaco, cada resquício de chakra, o fluxo sanguíneo, a respiração, nervos, onde a musculatura era mais fraca e onde era mais forte; podia até presumir os pensamentos do pai. — Venha, meu pai.

Hiashi ativou o Byakugan.

— Vai deixar seu oponente impor o ritmo da luta? O que pensa, Hinata?

Ela não respondeu. Hiashi, impaciente, atacou.

A investida veio com a mão direita, facilmente bloqueada pela esquerda de Hinata, que contra-atacou agora com a direita, buscando o rosto de Hiashi. Este defendeu com a outra mão. Para Hinata foi um bom momento para se abaixar e, com as duas palmas, investir contra o abdômen desprotegido do pai. Vendo a brecha que tinha deixado, ele saltou para trás, sendo perseguido por Hinata, que sequer o deixou aterrissar seguro. Ela atacou com a mão direita, depois com a esquerda, novamente com a direita, e repetiu a intercalação constantemente, sem dar a Hiashi o privilégio de respirar.

O Líder dos Hyuuga estava acuado. À medida que os dedos dos dois se tocavam a cada investida, Hinata parecia crescer mais no combate. Ela era muito mais jovem, tinha mais fôlego, e, sabia Hiashi, mais chakra. A menos que ele tomasse alguma atitude, sucumbiria pela primeira vez para a filha que tanto desejou vencê-lo.

— Hakke Kuusho-... — tentou Hiashi.

— Hakke Kuuhekishou (Ataque da Grande Palma de Ar)! — Hinata foi mais rápida, e usou a versão duplicada do Hakke Kuushou antes do pai. Como resultado Hiashi foi arremessado contra a parede, sentido o choque estalar sua coluna vertebral. O ar evanesceu de seus pulmões e ele caiu de joelhos, sem fôlego algum. Com a visão um pouco turva e exausta de horas de uso e desuso do Doujutsu, viu um vulto baixo de branco vir ao seu encontro. Por reflexo, conseguiu rolar para o lado antes que Hinata o finalizasse.

Levantou-se cambaleando. Ofegava bastante. Mas continuou, atacando Hinata, esta não vendo muitas dificuldades no exausto Hiashi.

“Papai já está muito ferido e cansado”, ela pensava. “Deixei-o me atacar para ver até onde ia o ritmo dele. Adequei-me ao dele e, pouco a pouco, impus o meu. Agora, como ele queria, eu determino o ritmo da luta; ele não pode mais fazer isso.”

Hinata tentou um chute aerogiratório, que, para sorte de Hiashi, passou no vazio poucos centímetros acima de sua cabeça. Em resposta, ele atacou quando a filha aterrissou, visando atingir as costas de Hinata. Mas ela girou o corpo para a direita com certa graciosidade. Hiashi tentou atingi-la outra vez, porém, de novo ela girou, agora para a esquerda. Movimentos suaves e singelos; Hinata Hyuuga parecia dançar em meio à luta. Por mais que tentasse, era impossível para Hiashi atingir qualquer parte do corpo ágil de Hinata.

Em uma tentativa desesperada, ele investiu com todas as forças que lhe restavam, atacando ora com a mão direita, ora com a esquerda. Hinata se esquivava sem ao menos trocar golpes com o pai — fugia do alcance das pontas dos dedos, observando-os atentamente com o Byakugan. Ataque após ataque, Hinata via que Hiashi perdia velocidade.

Então, ela atacou.

Abaixou-se, passando entre o pequeno espaço deixado pelos braços de Hiashi, entrando no raio de alcance dele. Fugiu de uma investida, girou para evitar outra, e com as pontas dos dedos indicador e médio da mão esquerda, ela conseguiu tocar no antebraço direito do pai. O vermelhidão cresceu em diversas áreas — desde o punho até o cotovelo — de Hiashi, que abafou um grunhido de dor. De nada adiantou. Impotente, viu dois pequenos dedos pararem três centímetros à frente de seu nariz, rendendo-o. Imóvel, Hiashi encarava uma Hinata decidida.

— Acabou, meu pai — ela disse, ainda com os dedos perto do rosto de Hiashi. — Desta vez eu venci.

“Inacreditável”, ele queria pensar. Mas sabia que não era esta a palavra ideal. Enquanto um branco ocorria em sua mente, Hiashi Hyuuga, considerado o mais hábil usuário de Juuken de todo o clã, estava ali de pé e completamente dominado. A dor no braço direito — atingido por Hinata — sequer era sentida, ou a surpresa de ser derrotado pela filha a mascarava perfeitamente.

Hinata afastou os dedos do rosto do pai, curvando-se para ele em reverência.

— Obrigada pelo duelo, meu pai.

A voz dela não parecia alegre, o que foi estranho para Hiashi, pois pelo que sabia, a filha sempre desejou vencê-lo em duelo, e agora que o tinha feito não demonstrava felicidade ou orgulho de si mesma. Hinata estava séria. Mais séria do que Hiashi conseguia imaginá-la.

“— O que está tentando fazer? Fazer de Hinata uma réplica sua? Quer destruir a personalidade dela por... O quê?” A voz de Tsunade o atormentava mentalmente. Durante um segundo ele hesitou. Pensou se estaria agindo certo para com Hinata, para com o clã, para com a memória de Himori, a finada mãe de Hinata e Hanabi e amada esposa de Hiashi. Reconsiderou. Era uma caminho sem volta, e ele sabia que para tornar a primogênita mais forte, deveria fazê-la passar por um processo árduo de reconstrução.

— Hinata...

Ao ouvi-lo lhe chamar, a jovem ergueu a cabeça para o rosto do pai. Hiashi, tão exausto quanto pensativo, disse sem devaneios:

— Vá descansar, já é madrugada. Pela manhã irei lhe ensinar a última lição. Depois, apenas serão os preparativos para a cerimônia de nomeação.

— Última lição... — Hinata sussurrava. — O Selo Amaldiçoado dos Hyuuga. O motivo de o Neji-niisan ter me odiado por tanto tempo. Estou certa, meu pai?

Hiashi fechou os olhos.

— Sim. Você o aprenderá.

— E, no fim, tudo pelo que Neji-niisan e eu lutamos juntos morrerá.

— Basta, Hinata — gritou Hiashi. — Retire-se.

A herdeira dos Hyuuga encurvou a cabeça para o líder e sem dizer nada se retirou. Quando a porta de madeira correu até a base, fechando-se, Hiashi, agora completamente sozinho, soltou um suspiro pesado que o corroia por dentro.

— Minha filha... Hinata...

Caiu de joelhos sobre o tatame. As lembranças de uma Hinata feliz, doce e gentil — de feições tão similares quanto às da única mulher que Hiashi Hyuuga amou, Himori — causaram-lhe calafrios. A frágil menina que não tinha autoconfiança ou talento havia se tornado uma mulher forte, e Hiashi sequer tinha se dado conta. Perdera o melhor de Hinata Hyuuga, tudo para fazê-la uma líder forte, alguém capaz de fazer o clã Hyuuga sobreviver contra tudo... E todos.

Em silêncio, sentiu uma lágrima descer por sua face.

* * *

Ela ajeitava o leque com todo o cuidado do mundo, afinal era seu grande companheiro. A fivela deveria estar bem arrumada sobre a capa preta — não que fosse vaidosa ou qualquer coisa parecida, mas se tratava de uma ocasião especial, um dia especial, uma missão especial.

Por fim, prendeu o enorme leque às costas.

— Como estou, Taka? — Suki deu uma girada.

Taka Kazekiri, Yuurei Junior, parceiro de Suki, gostou do que viu. Aplaudiu, tentando parecer apenas cordial, enquanto, intrinsecamente, desejava o corpo de sua parceira.

— Esplendorosa, Suki-senpai.

— De onde tirou essa palavra? É para me impressionar?

Taka riu.

— Consegui impressioná-la, Suki-senpai?

— Palavras bonitas não me atraem — declarou Suki. — Eu gosto de... “dançar” com bons parceiros de combate.

— Como Yagura, o Quarto Mizukage? — deduziu Taka.

— E Tsukishiro, o último Hoshikage, e Kioshi também, a cidade murada no País da Terra que eu destruí sozinha — completou Suki com ar orgulhoso. — Mas, como já lhe disse uma vez, são feitos do passado.

— Destruir uma cidade inteira... — Taka riu. — Você é um monstro, Suki-senpai.

Suki ajeitou as duas mechas do cabelo castanho, pondo-as um pouco para os lados.

— Monstro? Ora... Pensei que eu fosse “esplendorosa”, parceiro.

Taka se levantou, pôs o capuz sobre o rosto rígido.

— Então, deixe-me ser o monstro desta vez.

Suki gargalhou de desdém.

— Infelizmente isso não será possível. Esta missão é especial demais para eu dá-la para você. Eu mesma irei fazê-la.

— Assassinar a Godaime Hokage Tsunade Senju.

— Exatamente. — Sorriu Suki. — Quando se trata de matar um Kage, eu quero ser a primeira a fazê-lo. E agora o Líder-sama me deu a oportunidade ideal, e que Kage melhor para assassinar que a Hokage?

— Dizem que Tsunade Senju, ou a “Princesa Tsunade” — informava Taka —, é considerada a melhor Kunoichi do mundo desde a Segunda Grande Guerra Ninja, quando obteve o título de Sannin lendária.

— Segunda Guerra? — Suki arqueou a sobrancelha. — Ela é bem velha, não? Típico dos Senju.

— Isso foi uma referência a certo Membro Sênior, Suki-senpai? — Taka soltou uma gargalhada debochada. Ele não gostaria nada de ouvir isso. — Mas, enfim, e eu achando que a Godaime Mizukage Mei Terumi era melhor que a Hokage...

— Mei Terumi? Ah, sim! A irmãzinha do Juha — lembrou-se Suki. — Juha... Às vezes, sinto saudades dele, meu antigo parceiro antes de se tornar Sênior.

— E ser morto por aquele Sasuke Uchiha depois — completou Taka Kazekiri incomodado.

Suki fitou o rosto do parceiro, olhando-o curiosa. Nada disse sobre o comentário dele. Para ela, os sentimentos de Taka Kazekiri em relação ao predecessor Juha Terumi eram nada mais de ciúmes infantis. E Suki cria ser muito mais válido pensar na preciosa missão que nos desejos de Taka de superar Juha.

— Vamos invadir a Vila da Folha de novo — ela dizia, cortando o ar com um movimento rápido de braço, e criando uma passagem de escuridão — e uma vez lá, acabe com tudo, Taka. Mas a Hokage é minha.

— E se eu encontrar o Naruto Uzumaki, Suki-senpai? Posso feri-lo? Posso atacá-lo?

Taka sabia que não estava nos planos dos Yuurei a morte de Naruto, mas sim sua queda à escuridão. Ver Naruto corrompido era muito mais desejável aos olhos do Líder, Iori, que morto. Entretanto, desde as recentes provocações, Taka nutria um desejo de terminar aquilo que começou quando entregou à entrada da Vila da Folha a cabeça decepada da princesa Shion. O Yuurei Taka Kazekiri queria confrontar Naruto Uzumaki.

Suki deu de ombros.

— Faça o que quiser.

— Eu quero matá-lo, Suki-senpai! — falou categórico, mas depois abaixou o tom de voz, como se o que estivesse prestes a dizer fosse proibido. — Mas você sabe... O Líder-sama jamais aceitaria. E também a Mira-sama disse que...

— Não me interessa o que a Mira disse, Taka! — Como esperado, Suki não reagiu bem ao ouvir o nome de sua maior rival e superior. Taka reteve um suspiro. — Pelo Líder-sama tudo bem, mas pouco me importa a ambição maluca daquela ruiva patética de ter o Naruto Uzumaki só pra ela.

— Suki-senpai... O Líder-sama... não gosta quando afrontam a Mira-sama...

Ergueu a cabeça e notou o olhar de ódio da parceira. As feições do rosto de Suki era severas. Apesar de ter um rosto belo, era perigosíssima quando irritada. Suki, a assassina de Kages, era a antiga vice-líder dos Yuurei, que perdeu o lugar para Mira Uzumaki por vontade de Iori. Por ter sido substituída, passou a odiar a atual subcomandante desde então, considerando-a sua maior rival. Não era novidade para nenhum membro da organização que Suki desprezava Mira e almejava derrotá-la — nem para Iori, que mesmo ciente, mantinha as duas convivendo como duas ótimas Yuurei.

— Pare de se preocupar comigo, Taka. — Suki se lembrou de quando foi torturada pelo líder por desrespeitar a parceira dele, o mesmo episódio em que Taka implorou para que o castigo cruciante fosse interrompido. — Sei muito bem cuidar de mim mesma.

— D-desculpe-me, Suki-senpai. — Abaixou a cabeça respeitosamente.

Suki suspirou, recompondo-se.

— Vamos. Eu tenho que matar uma Hokage.

Quando tentou atravessar o portal de escuridão, não conseguiu. Para a surpresa de Suki, as trevas eram densas demais, sólidas como uma parede, e impossíveis de serem usadas como passagem.

— O quê...?

Agitou a mão, desfazendo o rasgo de escuridão no meio do ar. Imediatamente, Suki repetiu o movimento de abertura, cortando o ar de cima a baixo com o braço direito, e reabrindo um buraco de trevas. Tentou atravessá-lo, mas foi novamente frustrada.

— Por que não consigo passar? — ela perguntou, ríspida.

— Deixe-me tentar, Suki-senpai.

Taka rasgou o ar também, criando outra abertura de trevas. E, da mesma forma como sua parceira, pôde tocar na escuridão como se esta fosse um muro escuro e nada mais.

— Não entendo — ele falou. — Por que a viagem nas sombras não funciona?

Olhou para Suki e encontrou-a mordendo o lábio inferior de raiva, os olhos castanhos dela fitavam um Kanji até então inexistente no piso da sala.

— Quando foi que...? — Taka olhou do Kanji para a parceira. — Suki-senpai?

No instante que levantou a cabeça, o rosto de Taka congelou de pavor.

— Entendo... — Suki cerrou os punhos, ainda observando meio curiosa, meio raivosa o enorme “封印” (cujo significado é “Selado”) escarlate que decorava o chão. — Você é bem sutil mesmo, não é... Mira?

À extremidade da sala, sentada sobre uma poltrona, ela observava quieta. Os olhos azul-safira — lindos, juvenis, e frios — mantinham-se estáticos à dupla, os cabelos ruivos e longos desciam sobre a capa preta e as vestes.

Mira Uzumaki se levantou.

— Boa-noite, Suki e Taka.

— Boa-noite, Mira-sama! — Taka exclamou tão rápido, tão assustado, que obteve um rápido olhar de nojo de Suki. Acuado, ele curvou a cabeça para a parceira, afastando-se um pouco.

— Homens... — resmungou Suki, revirando os olhos de tédio. — Tão patéticos e submissos. — Voltou o olhar de novo para a vice-líder, encarando-a sem medo. — Olá, Mira-sama — ironizou. — Posso perguntar o que faz aqui?

Mira desconsiderou a provocação. Caminhou para frente.

— Vim falar com vocês — ela respondeu.

— Ah, que pena, você chegou atrasada, Mira-sama... Estou partindo em missão.

— Não, não está — contradisse Mira. — Vim aqui exatamente por isso. Estou suspendendo o ataque a Hokage Tsunade.

De debochados para descaradamente furiosos, os olhos de Suki cintilaram.

— O que você disse?

— Não haverá ataque, Suki — repetiu Mira.

— Foi o próprio Líder-sama quem me deu esta missão — Suki falou com a voz trêmula de fúria. — Nem você pode revogá-la, Mira. Agora, deixe-me sair.

Mira Uzumaki arqueou a sobrancelha.

— A situação mudou, Suki — disse Mira. — Conversei com meu parceiro e ele achou melhor...

— Ah, é claro! — exclamou Suki. — Tinha que ter uma mão sua nisso tudo. Na última vez, meu parceiro foi impedido de destroçar aquela tal Hinata Hyuuga no País dos Demônios porque você enviou a Hana para interceptá-lo, não é?

De longe, Taka assistia ao diálogo apreensivamente. Via Suki extravazar seu descontentamento e raiva, e Mira respondê-la com a maior calmaria do mundo. Ele temia que sua parceira, como da outra vez, se exaltasse no momento errado e fosse punida pela vice-líder. Já tinha visto Mira Uzumaki torturar Iruzu Ibe, o velho líder dos Oukami. A visão das correntes espinhosas de chakra envolvendo-o, espremendo-o até os ossos estalarem era assustadora.

— Não levante seu tom de voz para mim, Suki, assassina de Kages. — A voz de Mira saiu mais calma que o normal. Geralmente, esta tranquilidade da vice-líder era sinônimo de ameaça. — É um erro.

Suki gargalhou debochada.

— Isso foi ressentimento?

— Um aviso — corrigiu Mira.

— Aviso? Hm... Interessante. Mas tenho algo melhor. — Suki levou a mão ao leque que carregava nas costas, olhando Mira como se a quisesse devorar. — Que tal uma luta, Mira? Só você e eu. Aqui não tem Líder-sama para protegê-la. O que me diz?

A vice-líder ficou em silêncio. Olhou do leque para o rosto de sua desafiante, e depois para Taka no fundo da sala. O rosto dele mostrava claramente que aquele comportamento de Suki era perigoso demais. Mira se voltou para a subordinada, e disse:

— Não me faça perder tempo com uma discussão sem sentido, Suki. Eu já lhe disse, não? Você é uma Yuurei que eu admiro, então não me faça pensar o contrário. Além disso — Mira deu as costas para Suki, sequenciando selos com a mão direita —, você deveria prestar mais atenção no seu parceiro, Suki. Iori e eu somos muito entrosados um com o outro. Se eu estou aqui para impedi-la de matar a Hokage, foi porque Iori concordou comigo.

Quando Mira terminou a sequência de selos, a técnica de Fuuinjutsu no piso desapareceu por completo. Suki desviou o olhar para Taka, e viu-o negar com a cabeça repetidamente. A contragosto, Suki soltou a mão do próprio leque e desistiu de lutar.

— Ótima decisão, Suki — elogiou Mira, ainda de costas para a subordinada. — Você não era a vice-líder por acaso, afinal.

— Eu era a vice-líder... até você entrar na organização e roubar o meu título — Suki falou entre os dentes.

— Não quero entrar neste mérito, Suki. Até porque não a considero minha oponente. Estamos planejando a queda do mundo ninja, nós Yuurei. Rixas internas só nos levariam à ruína. Concorda comigo?

Suki preferiu desviar o olhar. Mira não se importou.

— Você e Taka irão entregar um recado para mim — falou a vice-líder. — Para Kioto, que está no País dos Demônios a pedido meu. Diga a ele que os Yuurei irão se reunir.

— Quer que eu vá até aquele lugar pra isso? Só pra isso? — Suki indagou, desentendida e ainda incomodada por não poder ir assassinar Tsunade. — Por que não usa a técnica para convocação? É mais fácil, não?

— Sim, é — concordou Mira. — Mas, do ponto de vista do povo daquele país, a ideia de seu conquistador desaparecer sem explicação alguma é maravilhosa. Agora, se além dele, outros dois Yuurei aparecerem lá, a submissão dos cidadãos ainda será mantida. E quando vocês voltarem a mim, o povo saberá que a partida de Kioto será proposital, não um benefício que os alimente com ideais de liberdade.

— Entendo. A ideia de controle absoluto.

Mira assentiu. Depois, rasgou o ar com um movimento de mão para abrir uma passagem nas sombras.

— Bom revê-los — falou a vice-líder com ar cordial. — Estou aguardando no esconderijo.

Bastou Mira sumir por completo e a passagem de trevas se dissipar para Taka, finalmente, voltar a falar:

— E então, Suki-senpai? Você está bem? Ter a Mira-sama por perto nunca lhe agrada e...

Viu a companheira, serena, pôr o capuz no rosto e caminhar. Ela repetiu o movimento de Mira e conjurou a escuridão. Antes de atravessá-la, porém, parou ao lado de Taka, sussurrando:

— Nunca mais faça aquela cara de pavor na minha frente, Taka Kazekiri. — O Yuurei engoliu em seco com o tom baixo da parceira. — Medo é algo que eu desprezo nos meus parceiros. Se quiser tanto se mostrar melhor que o Juha já foi para mim, nunca mais trema quando estiver perto da Mira de novo. Eu fui clara?

— S-sim... — Suspirou. — Sim, Suki-senpai.

A Yuurei retomou a caminhada, dirigindo-se para o portal de trevas. Taka, que ainda estava estático, ouviu-a lhe chamar:

— Você não vem? — Suki falou grosseira.

— Sim. — Ele se recompôs, ajeitando o capuz sobre a cabeça. A cicatriz em forma de X na bochecha parecia latejar enquanto Taka andava. — Estou indo.

Juntos, sumiram na escuridão.

* * *

Beber suco de laranja era ótimo, ainda mais quando acompanhado com bolo de chocolate e balinhas.

Hana Sakegari estava mais que eufórica com tantos doces à vista. Desconsiderando o monte de embalagens de plástico à mesa, ela tomou nas mãos outro saquinho de balas, chupou algumas com rapidez, e, outra vez, deu atenção ao suco de laranja, que parecia não perder o gosto doce, mesmo após a ingestão de açucares.

— Eu amei vir pra cá, Kioto-sama! — A parceira do Terceiro Oficial dos Yuurei exclamou com seu costumeiro ar infantil. — Mira-sama foi muito generosa em dos deixar ficar aqui tomando conta deste lugar.

Kioto estava quieto, pensativo. A taça de vinho estava intocada sobre a mesa de madeira. Sem o capuz preto, o rosto do Yuurei transmitia meditação em algo distante. Os olhos perolados — lindos e, também, assustadores — focavam o horizonte, que poderia ser subentendido como o fundo do salão de jantar, ou algum ponto distante dali, do palácio e o País dos Demônios. Nem mesmo Hana sabia dizer direito o que se passava na cabeça do superior.

— Algum problema, Kioto-sama?

Kioto apontou para o extremo do cômodo.

— Não vai se livrar dele de uma vez, Hana? Eu já me enojei.

No fundo do luxuoso salão, uma cena horrenda: um homem desnutrido e esquelético, de pele enrugada e ressequida, tentava, desesperadamente, devorar os restos secos de tutano nos ossos de um companheiro. O uniforme ANBU estava tão largo que mais lhe servia como um vestido — além de imundo —, o protetor ninja era largo demais para o próprio braço, a máscara de gato estava parcialmente quebrada.

— Ah, aquele ali... — Hana deu outra golada no suco de laranja. — Mas Kioto-sama, ainda não fez seis meses! O senhor prometeu que eu poderia deixá-lo vivo até lá.

— Deixá-los, Hana — corrigiu Kioto. — Mas você preferiu obrigar os nove ANBU da Folha a se matarem, deixando só um sobrevivente. Se é que ele pode ser chamado assim. — Olhou com nojo para o pobre ninja moribundo.

— Foi divertido na hora. — Hana encolheu os ombros, justificando-se, com a dose certa de timidez. — Mas passou um tempo e perdeu a graça. Tive que pensar em algo pra manter a regra de não deixar corpos. E foi aí que veio a ideia de fazer o sobrevivente, o bonitão ali, devorar os cadáveres dos companheiros dele. — Hana sorriu.

Kioto olhou do rosto infantil de Hana para o miserável ninja da Folha que mastigava e chupava um fêmur descalcificado e sujo como se fosse a melhor das refeições.

— Livre-se dele — ordenou Kioto.

— Mas já? O senhor tem certeza, Kioto-sama?

— Hana, não vou falar de novo.

A menina fez bico, mas acatou a ordem. Terminou de comer o bolo de chocolate e se levantou, cantarolando, enquanto se dirigia ao derrotado ANBU, pobre homem que estava ali para averiguar o ocorrido no País dos Demônios após a captura da princesa Shion e a missão fracassada de Naruto Uzumaki e Hinata Hyuuga.

— Ô, Asuki-kun... — chamava-o Hana, divertidamente. — Vem cá, Asuki-kun...

Asuki Sarutobi, o último dos nove ANBU enviados ao País dos Demônios, largou o osso que mastigava e, como um animal de estimação, engatinhou até Hana, que acenava e sorria.

— S-sim... H-Hana-sama... E-estou... aqui... — gemia. A voz seca e baixa.

Hana deu uma risadinha. Os olhos verde-esmeralda dela eram penetrantes, quase hipnóticos. A voz da Yuurei ressoava e ressoava à cabeça de Asuki como se fosse parte dele. O ninja estava estático, sentia-se uma marionete.

— Você gosta de mim, não é mesmo, Asuki-kun? — E Asuki já não raciocinava mais.

— E-eu... faço tudo pela Hana-sama... Eu faço...

— Tudinho? — Hana fez um beiçinho.

— S-sim, senhora.

— Hmn, sendo assim... — Hana levou a mão para dentro das próprias vestes negras, procurando algo. Não tardou para encontrar a tarja explosiva. — Asuki-kun, por que você não se mata?

O homem olhou para a tarja e depois para a Yuurei. Por um instante, parecia que o pouco de sanidade que havia dentro dele tentava resistir. O rosto de Asuki tremia, os olhos lacrimejavam copiosamente.

Então, ele falou:

— Eu obedeço, Hana-sama.

Hana sorriu.

— Que homenzinho bonzinho! — disse ela. — Você é muito fofo, Asuki-kun.

Com um cuidado que Kioto — que assistia à cena de longe — achou teatral demais, Hana colou a tarja explosiva na testa de Asuki, sorrindo para ele.

— Prontinho! Você está perfeito, Asuki-kun!

— E-e agora, Hana-sama?

— Agora? Oh, sim! Você vai até o térreo do palácio, vire à esquerda e vá para os jardins. Quando chegar lá, é só esperar, tá bom?

— S-sim, senhora... Hana-sama... Sem deixar corpos, assim agem os Yuurei.

— Isso, meu homenzinho inteligente! — exclamou Hana Sakegari. — Já sabe nossa regra, que fofo! Vai ser muito divertido ir pros jardins, Asuki-kun. Você vai perder a cabeça de tão legal que será. Pode ir agora.

— O-obrigado, Hana-sama...

De quatro, Asuki andou até a porta do salão de jantar, passou por ela, e sumiu da vista dos dois Yuurei. Hana se virou para o parceiro.

— Está feito, Kioto-sama — agora, ela falou um pouco emburrada. — Eu perdi meu brinquedo.

Kioto, porém, dava mais atenção à taça de vinho. Hana suspirou.

— Kioto-sama, o senhor não vai dizer nada?

— Sobre o quê? — Os olhos perolados ainda no líquido púrpuro dentro da taça. — Sobre sua capacidade de manipular a mente humana à sua vontade? Nada precisa ser dito a respeito disso. Quando ao ninja que você entregou ao suicídio, você encontrará outros.

— Só espero que não demore — comentou Hana. — Não é sempre que me divirto assim. E falando em diversão, seria legal se-...

Hana se interrompeu. Assim como Kioto, ela voltou o olhar para a porta de trevas que surgira em pleno ar. O ar se tornou mais frio subitamente, atingindo o ápice quando o rosto enraivecido de Suki apareceu das sombras.

— Suki. — Kioto encarou o rosto da companheira Yuurei.

— Kioto. — Suki retribuiu o olhar.

— Olá, Suki-sama e... Oh, Baka! Você veio também! — Hana acenou calorosamente para a Yuurei Sênior e, depois, para o parceiro desta, fazendo um trocadilho com o nome de Taka.

Taka Kazekiri trinchou os dentes. Achava Hana Sakegari insuportavelmente irritante, e vê-la ali, exatamente no salão de jantar do palácio real, onde três meses atrás tinha sido impedido por ela de assassinar Hinata Hyuuga só o fez sentir mais raiva.

— O que faz aqui, Suki? — perguntou Kioto. — O Líder-sama não havia lhe dado a missão de assassinar a Godaime Hokage?

Suki fez uma expressão de desprezo.

— Recebi novas ordens — ela falou. — A Mira... — Suki pigarreou. — A Mira-sama quer reunir os Yuurei. Ela me mandou aqui avisá-lo.

— Mira-sama deve ter tido uma boa razão para enviá-la a mim ao invés de, simplesmente, ter usado a técnica de convocação, ou ainda a técnica de projeção para se comunicar comigo.

— É — Suki disse sem devaneios.

Kioto se levantou da cadeira. Virou-se para Hana, que entendeu prontamente o parceiro. A menina pôs o capuz negro, ocultando o próprio rosto. No cômodo, apenas os membros Seniores não estavam encapuzados.

— Taka e eu iremos à frente, Kioto — disse a Assassina de Kages. — Quero que essa tal maldita reunião acabe de uma vez.

Kioto assentiu. Suki deu com os ombros e, logo em seguida, fez um movimento brusco com o braço, cortando o ar de cima a baixo, abrindo um portal de trevas. Assim, desapareceu outra vez junto com o parceiro.

— Poxa — Hana ironizou um lamento. — Foi tão nostálgica a vinda do Baka aqui.

— Vamos, Hana.

— Oh, sim. Desculpe-me Kioto-sama.

Hana acompanhou o parceiro, sumindo com ele nas densas trevas. Antes de desaparecer por completo, porém, ela conseguiu ouvir um ruído distante de uma explosão. Satisfeita, sorriu.

— Sem deixar corpos, assim agem os Yuurei — disse Hana. — Adeus, Asuki-kun.

O portal de escuridão se fechou.

* * *

A temperatura na caverna era baixa demais, mesmo não tendo umidade nela. Era seca e mal iluminada. Duas filas postadas frente a frente uma da outra determinavam as posições dos Yuurei. Quatro à direita, três à esquerda, e dois à frente dos demais — Iori e Mira Uzumaki.

— Conversando com a minha parceira — A voz de Iori era absoluta no momento. Nada além do discurso dele era ouvido —, vi a necessidade desta reunião emergencial. De acordo com fontes confiáveis, Tsunade Senju renunciou o título de Hokage.

Os olhares entre os Yuurei foram impossíveis de ser evitados. Mesmo com quase três meses se passado, aquela notícia surpreendeu muitos ali de pé.

— Tsunade não é mais a Hokage regente? — Suki perguntou meio decepcionada, meio enraivecida.

— Que patético. — Dairama, a figura alta e obesa encapuzada, repudiava com sua típica voz grave e tonitruante. — Sannin, veterana de guerra e Senju ainda por cima. O que a fez ceder, afinal?

— Segundo nossa fonte, foi uma retaliação política à uma tentativa de Golpe de Estado promovida pelo Alto Conselho da Vila Oculta da Folha — respondeu Mira.

— Quem é o novo Hokage? — perguntou Suki ansiosa.

— É Kakashi Hatake — respondeu Iori.

— Kakashi... — Kioto suspirou devagar, lembrando-se do menino de cabelos brancos e rosto mascarado que era comandado por um dos melhores Jounin na época: Minato Namikaze. — Aquele garoto era promissor, realmente. Cresceu e se tornou o Rokudaime Hokage.

— Pensei que fariam do Naruto o novo Hokage — Hana comentou, coçando a cabeça, confusa. — Sei lá, ele seria minha primeira escolha.

— Então era isso? — Suki questionou outra vez. — A notícia era Kakashi ser o novo Hokage?

— Infelizmente, não. — Quando os olhos de Suki encontraram o rosto inflexível de Mira, sentiu a raiva fluir outra vez dentro de si. Suki trincou os dentes, não se importando se estavam desrespeitosamente à mostra ou não. — O motivo é outro.

— Outro? — Suki bufou. — Qual outro — lembrou-se de que estava conversando com Mira na presença de Iori —, Mira-sama?

Fosse pelo fogo crepitando nas tochas que causavam o contraste, fosse pelo poder excessivo do líder dos Yuurei. As sombras às costas dele pareciam ter vida própria, movimentando-se pela parede de pedra.

— Naruto Uzumaki — revelou Iori. — Ele está conseguindo lidar muito bem com as perdas que lhe damos. Todas elas.

— É o filho da Kushina — falou Mira em um tom quase inaudível. — Ele é forte.

— Líder-sama e Mira-sama, sendo assim... — Kioto semicerrou o olhar. Aquilo não poderia estar acontecendo. Não tão cedo. — Nós, os Yuurei, iremos-...

O frio no ambiente agora era sentido pelos próprios fantasmas. Hana tremia e tinha os dentes se batendo, Ryuumaru cruzou os braços, e Kan, que passou a conversa toda em silêncio, desviou o olhar para o braço esquerdo protético — seu mais novo hábito desde que Dairama havia lhe dado o novo membro.

A sensação frígida vinha de Iori.

— Exatamente, Kioto — respondeu Iori, removendo o capuz do rosto diante de todos os subordinados. — A hora já chegou.


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Notas finais do capítulo

Recapitulando, tivemos um combatinho entre o clone de Naruto contra o clone de Kakashi, uma conversa interessante entre a saudosa e o atual Hokage, um diálogo entre dois melhores amigos, uma luta entre Hinata e Hiashi, na qual, como sempre sonhou, Hinata sagrou-se vitoriosa e um momento curtíssimo nesta mesma cena no qual vemos Hiashi Hyuuga, o grande e inexorável líder do clã... chorar?! (Ah, qual é?! Deem um pouquinho de crédito! Eu acho isso inusitado! Não sou de puxar brasa pro meu lado da fogueira, mas, antes de começar a escrever, eu lia muitas fanfics, e confesso que nunca me deparei com o Hiashi reagindo desta maneira; sempre é retratado como um típico obstáculo para NaruHina e tal...), chorar enquanto pensa na filha, vimos o diálogo entre Suki e Taka, e aí desenvolvem-se três cenas com nossos odiosos (a menos que alguém goste deles; a maioria esmagadora só odeia mesmo ¬¬) vilões. E não nos esqueçamos da frase final do capítulo, porque tem que haver uma frase de efeito no final, hahaha.

É, faz sentido ser o capítulo mais longo. E pensar que mais vem por aí...

Comentem o que quiserem, o que gostaram, o que não gostaram, o que entenderam, o que não entenderam, o que estão teorizando, o que acham que vai acontecer (não necessariamente uma teoria, apenas um palpite mesmo), se Victor errou ou esqueceu de algo aqui ou acolá, enfim. Eu gosto de ler as palavras de vocês, assim como vocês gostam (ou nem tanto, alguns leitores vêm me odiando ultimamente) de ler os capítulos. ^^

Próximo capítulo: Eu os encontrei

Preparem-se, pois tem personagem novo entrando na história no próximo capítulo e, além dele, um(a)/uns(as) personagem(s) já conhecido(a)/os(as) reaparecendo depois de um tempo sumido(a)/os(as). Espero que curtam (Victor na expectativa).

Irei começar a responder os comentários.

É isso? Acho que sim...

Bom, pessoal, até o próximo capítulo o/