O Herói do Mundo Ninja escrita por Dracule Mihawk


Capítulo 89
As Cinco Nações se movem


Notas iniciais do capítulo

Bom-dia!

Eu tinha escrito estas Notas Iniciais durante a madrugada enquanto revisava pela última vez o capítulo a seguir, maaaaas, para minha infelicidade completa, meu notebook desligou num súbito. Falta de bateria? Não. Comando programado para reinicialização? Não. Atualização automática? Não. Bruxaria? Pode ter sido.

Então, além de ter perdido uma senhora (talvez nem tão cômica assim) Nota Inicial, eu venho a vocês com isso (esta nota inicial). Pois é, foi mal. Meu cérebro está entorpecido pelo sono (ou a falta dele) e por outras coisas.

Não, eu não uso drogas.

Bom, sem mais delongas. O capítulo em que personagens lá do começo ressurgem. Alguns me imploraram, suplicaram, pediram, pediram e pediram de novo, e eu, depois de um longo tempo (como disse que faria) os trouxe de volta. Existe a possibilidade de vocês não se lembrarem deles (o que é consideravelmente grande), quando foram introduzidos pela primeira vez, ou o que são capazes de fazer. Por isso, fiz um breve resumo durante a narração pra ajudar vocês XD. Agora me amem.

Boa leitura pra todos! Nos vemos nas Notas Finais o/



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Os olhares dos convidados do Hokage variavam entre perplexidade e desconfiança. Enquanto Naruto tinha os olhos arregalados devido à notícia recebida, Sasuke estreitava-os ainda mais, como se focalizasse a mira de uma arma para atingir Garou.

— Como? — perguntou Sasuke quase imediatamente. Kakashi e Tsunade se entreolharam, inquietos. Ambos sabiam que ele jamais se confortaria com a novidade, nem sequer a aceitaria de imediato.

Garou, com o único braço, retirou algo do bolso. Era minúsculo e, de longe, imperceptível.

— Com isto — revelou Garou, mostrando a Sasuke os três finíssimos fios de cabelo que balançavam presos em seus dedos. Longos, femininos e ruivos. — Eles pertencem à mesma pessoa, uma Yuurei.

— Eu confrontei uma mulher Yuurei quando eles vieram entregar a cabeça da princesa do País dos Demônios para o Naruto. — Sasuke não parecia nem um pouco convencido. — Ela tinha cabelos castanho-escuros, não ruivos.

— Porque a que você enfrentou não era membro da liderança deles, Sasuke-kun. Pode-se presumir que haja pelo menos duas mulheres entre os inimigos. E uma delas, eu posso garantir, é ou líder ou vice-líder.

— E por que diz isso, Garou? — Kakashi perguntou curioso.

Garou virou para o Hokage, e disse:

— Porque encontrei com ela, Hokage-sama. Pessoalmente. Fiquei cara a cara com os dois líderes. Um deles, o homem... — Garou hesitou, olhando para a manga frouxa do casaco, onde deveria estar o outro braço. — Foi ele quem fez isso comigo... Por muito pouco não escapei.

Sasuke fungou, desdenhosamente.

— A mulher é vice-líder. Eu sei por que, por um período, fui integrante da Akatsuki, que era uma organização parceira dos Yuurei. E, depois de voltar para a Folha, cacei os Yuurei antes e depois do incidente com Killer Bee, na Vila da Nuvem. Eu era o único que sabia da existência deles, o único que sabia como eles agiam, o mais capacitado para procurá-los. E falando em procurar, é impossível procurar os Yuurei e encontrá-los sem que eles queiram. Seis meses atrás, quando Killer Bee foi raptado, os Yuurei passaram por dezenas de guardas antes de enfrentar o irmão do Raikage e vencê-lo. Dezenas — Sasuke enfatizou, fuzilando Garou com o olhar, os punhos cerrados. — Uma dupla qualquer deles foi capaz de limpar completamente uma área de conflito, fazendo-se passar despercebida e irrastreável. Depois, houve o incidente no País dos Demônios, e ninguém da Folha ou da Névoa pôde encontrar o inimigo. Os ANBU enviados não retornaram. E você, Garou Inuzuka... É muito conveniente conseguir rastrear justamente os dois líderes dos Yuurei, não?

Garou se sentiu um tanto incomodado. Naruto, quieto, apenas observava o desenrolar do diálogo.

— O que quer dizer, Sasuke-kun? — Garou perguntou.

— Posso pensar três coisas. — Sasuke tinha o olhar inflexível. — A primeira: suas informações são falsas, e quem você encontrou não são os Yuurei. Segunda: os Yuurei quiseram ser encontrados por você, e isso é preocupante, dadas as circunstâncias. Terceira: — Deu uma pausa breve — você está com más intenções, Garou Inuzuka.

As últimas palavras de Sasuke foram suficientes para causar um reboliço no escritório do Hokage. Garou estreitou o olhar, sentindo-se injustiçado por trazer uma informação valiosa e ser recebido daquela forma.

— Acha que cortei um braço por nada? Para apenas enganá-los? A minha vila? Meu povo? E por quê? Por que consegui fazer algo que você não foi capaz, Sasuke-kun?

Agora, mais do que nunca, Sasuke se incomodava com Garou.

— Repita isso — sussurrou Sasuke.

— Sasuke... — Naruto falou baixa e cautelosamente, A voz sugerindo que discutir não era uma boa ideia.

— Garou — interveio Tsunade, um segundo antes de Kakashi se levantar —, onde encontrou os fios de cabelo da, diga-se de passagem, vice-líder dos Yuurei?

Por ainda estar encarando Sasuke Uchiha, Garou tardou a responder a Godaime Hokage. Kakashi pigarreou, atraindo-lhe a atenção.

— Oh, perdão, Rokudaime-sama, Godaime-sama! — desculpou-se Garou. — Eu, bem... — Tossiu. — O primeiro fio de cabelo foi encontrado próximo às ruínas do prefeito Gintake Hanagusari, da cidade de Zuko.

— Onde lutamos contra os Oukami — acrescentou Sai, participando pela primeira vez da conversa.

— Sim — confirmou Garou. — Depois do confronto contra Juha Terumi e seu parceiro, eu achei o fio de cabelo. Posteriormente, quando fomos enviados ao País dos Demônios atrás dos Yuurei, eu encontrei o segundo. Estive no país depois de os Yuurei terem aniquilado o pelotão de ninjas enviados pela Névoa e antes de a própria Mizukage viajar até lá atrás dos inimigos. Este meio-tempo foi o bastante para encontrar o segundo fio sem ser atacado pelos Yuurei.

— Então você os comparou e constatou que pertenciam a mesma pessoa — presumiu Kakashi.

— Exatamente, Hokage-sama.

— E o terceiro fio? — Sasuke cruzou os braços. — Onde conseguiu?

Os olhares ansiosos de todos impulsionavam e constrangiam ao mesmo tempo. Garou procurou passar as informações corretamente.

— Eu o consegui no mesmo lugar onde encontrei a dupla líder dos Yuurei. No esconderijo deles. — Garou tirou do estojo de acessórios um pergaminho. Desatou-o, revelando um mapa-múndi. Educadamente, pediu licença a Kakashi para poder colocar o mapa sobre a mesa do Hokage. Depois, indicou uma ilha isolada à Costa Leste do País da Água. — Aqui, Ilha Misuto. Foi nela que eu encontrei os dois líderes dos Yuurei.

Todos na sala se aquietaram, ainda digerindo a informação recente. Para a Folha, ter um sobrevivente — espião, inclusive — dos Yuurei que, se não bastasse, tinha em posse três fios de cabelo da suposta vice-líder dos Fantasmas, ou seja, uma fonte de DNA, era fantástico. Além disso, Garou sabia onde encontrar a Dupla Líder. Comparado a antes, a Folha tinha dado um salto enorme na retaliação aos inimigos.

— Ilha Misuto?! — exclamou Tsunade. — Fica próxima da Vila da Névoa. Os Yuurei... os dois líderes deles estão lá?

— Isso é péssimo — analisou Sai. — Das Cinco Vilas, a Névoa é a mais distante de nós. Se ela for atacada, jamais poderíamos enviar apoio a tempo.

— Poderíamos, sim — corrigiu Kakashi. — Ainda que não a tempo de evitar os primeiros ataques, mas rápido o bastante para confrontar o inimigo.

Kakashi olhou de relance para Naruto e Sasuke. Ambos possuíam Ninjutsu de Espaço-tempo.

— Uma vila grande como a Névoa sendo atacada por eles... — Tsunade trincou os dentes. — Isso desestabilizaria o mundo ninja inteiro.

— Guerra? — Naruto suspirou. — Eles realmente querem isso?

— Eles realmente estão nesta ilha? — Todos os olhares se voltaram para Sasuke. O tom cético deste estava claro. Sasuke manteve fixos os olhos em Garou. — Se você diz ter rastreado os Yuurei, acha mesmo que eles ainda estariam nesta ilha, esperando para ser encontrados? Não, não estariam. A menos, é claro, que queiram ser encontrados. O que me faz pensar de novo na facilidade que você teve para localizá-los, Garou Inuzuka.

— Sasuke, não é hora para isso! — repreendeu Naruto, já irritado com o amigo. — O inimigo não está aqui! O inimigo está lá fora!

Sasuke se virou para Naruto, fuzilando-o com o olhar pela primeira vez naquela conversa.

— Cale a boca.

Foi o estopim. Naruto avançou e segurou firme Sasuke pela camisa, encarando-o.

— Quer parar com isso, maldito? — Naruto berrou.

— Solte-me, Naruto. — Sasuke tinha os olhos nos de Naruto. Apesar do elevado clima de tensão, tinha a voz calma.

— Naruto, solte-o! — Kakashi ordenou. Em obediência, Naruto afrouxou as mãos na camisa de Sasuke, que as afastou com um movimento brusco de braço.

Tsunade desaprovou tudo aquilo com um aceno de cabeça.

— Entendo o que quer dizer — ela falou para o jovem Uchiha. — Eu também estaria desconfiada se alguém viesse com uma informação que eu havia considerado impossível até então, Sasuke. Mas acho que, neste caso, qualquer coisa pode nos ser útil.

— Tsunade-sama tem razão — Kakashi concordou. — Sasuke, eu sei que você se dedicou ao máximo para encontrar os Yuurei. Não conseguiu. Mas você, e apenas você, fez uma coisa que ninguém nesta sala pôde fazer: matar um Yuurei.

Sasuke não disse mais nada, porém estava visível, principalmente para Naruto, que ele não estava convencido com aquelas palavras. Provavelmente, as tinha taxado como bajuladoras e nada mais.

— Eu vou contatar os outros Kages — continuou Kakashi. — Considerando toda a proporção dos ataques dos Yuurei, a melhor coisa a se fazer é compartilhar informações, táticas, além de buscar uma solução para o problema.

— Você vai se encontrar com os Kages, Kakashi-sensei? — perguntou Naruto.

Kakashi negou com a cabeça.

— Hoje em dia é mais fácil usar as videoconferências, Naruto. Apesar de que, às vezes, é bom um encontro pessoal. Para este caso, precisamos agir rápido se quisermos ainda pegar os dois Yuurei na ilha Misuto. Viajar para outro país para uma reunião não vai ajudar em nada.

Naruto olhou de lado para Sasuke. Frio e inflexível, ele absorvia cada palavra daquele discurso praticamente sem piscar. Naruto tinha certeza que a mente de Sasuke já havia chegado à conclusão de tudo aquilo, das videoconferências, de qualquer ideia trocada entre os Cinco Kages. Seriam eles, os dois ninjas mais fortes do mundo, a irem atrás dos temidos Yuurei. Sasuke tinha a experiência em combatê-los, Naruto a sede de derrotá-los.

Sasuke, de repente, deu com os ombros de se virou para a porta, ignorando completamente os demais no escritório.

— Sasuke! — Tsunade chamou-o embravecida.

O rapaz parou de caminhar, ainda de costas para todos. Permaneceu em silêncio por um tempo considerável antes de, finalmente, decidir falar:

— Esta reunião está me entediando — disse. — De qualquer forma, acho que vou encontrar algo interessante nesta ilha.

Os olhos de Sasuke encontraram os de Naruto por um momento. Analisaram-se, os melhores amigos, em frações de segundo. Sasuke resmungou, dirigiu-se à porta e saiu.

Sai pigarreou.

— O Sasuke-kun é mesmo uma pessoa complicada — falou.

Naruto virou para Sai e, depois, para Kakashi.

— Vou atrás dele, Kakashi-sensei. O maldito ainda está incomodado.

— Não.

— Hã? Kakashi-sensei...?

O Sexto Hokage permaneceu firme em sua decisão, ainda que tivesse as feições brandas por sob a máscara.

— Deixe o Sasuke, Naruto. Assim como você, ele precisa do próprio tempo antes desta missão. Tanto ele quanto você já devem saber: esta é a hora de atacarmos os Yuurei diretamente. Preciso de vocês dois. Você se preparou treinando comigo. Sasuke se preparará sozinho.

— Está falando do juízo que falta na cabeça dele?

Foi Tsunade quem respondeu.

— Não culpo Sasuke por desconfiar de Garou. — A Quinta se desculpou rápida com um aceno para o espião Inuzuka. — Eu faria o mesmo. Mas devemos, acima de tudo, ter a consciência que os inimigos são Eles, não nós mesmos.

Garou suspirou.

— Eu queria trazer boas notícias. Sinto muito pelo que aconteceu...

— Não — Naruto cortou a fala de Garou. — Valeu, Garou. Você ajudou bastante. E, mesmo sem querer admitir, o Sasuke também pensa assim. Sei por que o conheço. Sou o melhor amigo dele. O problema do Sasuke é que, por mais que o tempo passe, ele nunca consegue ser tão legal com os outros.

O resumo de Naruto em relação a Sasuke fez Kakashi sorrir por debaixo da máscara.

— Bom, é hora de contatar os outros.

* * *

Vila Oculta da Areia.

Como lhe era de costume, Gaara montava textos e lia relatórios em seu notebook. A caixa de entrada estava abarrotada e como Matsuri, sua assistente pessoal e — palavras de Kankuro, irmão do jovem Kazekage — paquera, estava de folga naquele dia, ele, pessoalmente, respondia a todos os e-mails. Sem exceção.

Enquanto teclava, um ícone piscou no canto inferior direito da tela. Gaara franziu a testa. Uma chamada para videoconferência? Naquele dia? Suspirou.

Uma reunião emergencial, pensou Gaara. Vem... da Folha? Kakashi?

Moveu o mouse e clicou no ícone esverdeado.

A tela escureceu, subdividindo-se em quatro menores. No topo de cada uma delas, suas respectivas localizações — de onde as transmissões eram geradas: Folha, Pedra, Névoa e Nuvem. Os rostos do Hokage Kakashi Hatake, do Tsuchikage Oonoki, da Mizukage Mei Terumi e do Raikage Ay surgiram instantaneamente.

— Estão todos online? — perguntou Kakashi, da tela. — Ótimo, vamos começar.

— Espero que tenha uma boa razão para ter interrompido meu trabalho, Kakashi — Ay resmungou. — Estou muito ocupado. Parei por que não é sempre que alguém convoca uma reunião.

— Eu lhe garanto, Raikage-sama, que tenho uma razão excelente para convocar a todos — garantiu Kakashi.

Mei se curvou para mais perto de sua tela.

— Fale mais, Hokage.

Kakashi parecia estar analisando os rostos de seus colegas de título, um por um, tendo preferência pelo Raikage e pela Mizukage. Pigarreou, e falou:

— Um de meus ninjas conseguiu rastrear e determinar a localização de dois Yuurei. Líderes.

Nenhum Kage ousou dizer qualquer coisa, a notícia os havia pegado de surpresa, as reações foram diversas: Gaara apoiou o queixo sobre as mãos, Mei encolheu os ombros, Oonoki coçou a barba, Ay trincou os dentes.

— Yuurei... — vociferou o Raikage, finalmente. — Os infelizes que mataram o Bee, que mataram o meu irmão...

Oonoki se inclinou sobre o assento, mas sentiu uma pontada na coluna vertebral, uma dor que o fez dar uma careta bizarra. Não fosse a tensão da notícia os demais Kages estariam rindo do pobre velho.

— Kakashi — Gaara manteve a postura séria —, onde seu ninja disse ter localizado os Yuurei?

Os olhos do Hokage se voltaram para a tela na qual o rosto da bela Mei Terumi estava focalizado.

— Ilha Misuto, no País da Água.

Mei arregalou os olhos. Já era de se esperar.

— Ilha Misuto?! — exclamou, estupefata. — Os Yuurei... Eles estão no meu país?!

— Como seu ninja chegou a essa conclusão, Kakashi? — perguntou Oonoki, já recuperado da dor na coluna. — A Ilha Misuto, se não me falha a memória, é a ilha mais isolada do País da Água. A mais afastada da costa do continente.

— Por que o seu ninja iria até lá? — complementou o Raikage, visivelmente incomodado.

Kakashi se preparou para, novamente, discursar a respeito da operação de seu espião quando, para a própria surpresa, constatou que Garou nunca havia mencionado o porquê de ter ido até a Ilha Misuto. Kakashi, na época de Jounin, também era rastreador, além de conhecer bem as capacidades dos Inuzuka. Nenhum cão-ninja — nem mesmo Kuromaru, o animal de Tsume Inuzuka, mãe de Kiba e líder do clã — tinha um faro tão apurado. Sendo mais exato, nem mesmo um Inuzuka tinha. E, geograficamente falando, a Ilha Misuto ficava milhares de quilômetros a leste do País dos Demônios, portanto, era impossível se dirigir de um ponto a outro se guiando apenas pelo faro.

As informações de Garou, obtidas na espionagem, não estavam cem por cento claras quanto às suas origens. Como e por que Garou havia se dirigido do País dos Demônios à Ilha Misuto? Tudo bem, os Yuurei afrontaram a Vila da Névoa, deixando aos portões da vila uma pena com os protetores de testa dos vinte e um ninjas mortos e a mensagem “Sem deixar corpos, assim agem os Yuurei”, e uma aparição confirmada dos fantasmas era, sem dúvida, uma boa razão para ir espionar no local. Mas, ainda assim, centenas de quilômetros separavam a ilha-base dos Yuurei da costa do País da Água. O faro Inuzuka também não poderia ser capaz de cobrir uma área tão vasta, poderia?

— Kakashi, quero ouvir sua resposta. — A voz impaciente do Raikage fez Kakashi despertar de seus pensamentos. Tsunade, que não estava sendo focalizada pelas câmeras, sussurrava “Acalme-se” ao sucessor. Ela também havia percebido o buraco no relatório do Inuzuka (possivelmente, o maior motivo para Sasuke estar desconfiado), mas nada disse a respeito. Kakashi preferiu se apoiar no julgamento da Quinta Hokage.

Suspirou, reassumindo a postura.

— Por hora, isto é tudo o que pretendo compartilhar — falou Kakashi. Ay parecia fuzilá-lo da tela da videoconferência.

— Tudo? — ralhou Ay, aumentando a voz gradativamente. — Tudo?! Que merda, Kakashi! Acha que vamos acreditar se você sequer tem coragem de revelar o fundamento das suas informações?! O que quer? Que partamos todos nós em uma missão suicida atrás do inimigo? É isso?!

Silêncio. Kakashi abaixou a cabeça.

— Basta, Raikage. — A palavra do Tsuchikage Oonoki foi absoluta.

— Aqui somos todos aliados, Raikage — Gaara se pronunciou, atraindo o olhar incomodado de Ay para si. — Desde antes da Quarta Grande Guerra Ninja até agora. Não há razão para desconfiarmos da Folha e de seu Hokage. Caso não se lembre, a guerra teve um fim favorável a nós por causa deles.

Ay estreitou o olhar.

— Não me venha com lições de moral, Kazekage.

Mei suspirou tão entediada quanto tensa.

— Vocês, homens, são patéticos. O que foi? Querem bancar os machões uns para os outros? Caso não se lembrem, temos um inimigo em comum, e, neste momento, pelo que se sabe, ele está no meu país. Essa inquietação de vocês é ridícula.

— A Mizukage tem razão — falou Oonoki. — Ela quem deveria estar aparentando mais preocupação, no entanto está nos dando um exemplo de autocontrole.

— O objetivo desta reunião, eu suponho, é traçar uma estratégia para lidar com o problema dos Yuurei — completou Gaara. — Não quero perder meu tempo discutindo com vocês, mais velhos. Por favor, vamos direto ao ponto.

— Vamos considerar que os inimigos, hã... — Oonoki hesitou. Virou para a tela do Hokage e perguntou: — Kakashi, você disse “líderes”, os que seu ninja rastreador encontrou, mas quantos são exatamente?

— Dois — afirmou Kakashi. — Um homem e uma mulher. Um líder e uma vice-líder.

— Certo — continuou o Tsuchikage. — Vamos considerar que os dois inimigos estejam ainda na ilha. Qual seria a melhor forma de atacá-los?

Ay exclamou na hora:

— Vamos atacar juntos! Todos nós! Podemos com esses desgraçados de merda! Somos os Cinco Kages, afinal!

Gaara fungou.

— A última vez que ouvi uma frase semelhante, eu estava enfrentando vinte e cinco clones com Susano’o de Madara Uchiha. Além disso, você, Raikage, quando seu irmão foi capturado, teve seu soco elétrico em alta velocidade bloqueado por um Yuurei que sequer era líder. O mesmo Yuurei que foi morto por Sasuke Uchiha, o... — Gaara hesitou. De sua tela, podia ver os olhos verde-mar de Mei a observá-lo. Ela sabia qual nome o jovem Kazekage estaria prestes a dizer; não havia como negar os fatos, principalmente com as recentes manifestações terroristas da organização criminosa.

— Meu irmão mais velho — antecipou-se Mei a Gaara. — Juha Terumi.

Ay pôde ser visto da tela da videoconferência socando a própria mesa.

— Como você, Mizukage, ainda mantém essa de que não sabia que seu irmão mais velho estava vivo?! Seu irmão sumiu no mesmo dia em que o Quarto Mizukage Yagura foi assassinado por um inimigo desconhecido. Tanta coincidência envolvendo o... simpático Juha? Não era ele quem queria se tornar o Quinto Mizukage, te odiando por ter sido escolhida no lugar dele? Você, a irmã mais nova?

— Pensei que a pergunta do Tsuchikage-sama fosse relacionada a um plano de ataque aos Yuurei, não sobre minha família, Raikage-sama — rebateu Mei, irritada.

— Vamos voltar ao assunto principal, por favor — sugeriu Kakashi, respeitosamente. Dentre os líderes de vilas, ele era, obviamente, o novato no cargo. Até Gaara, que era o mais jovem, tinha mais experiência. — Discutirmos entre nós não levará a nada. Mizukage-sama, a senhora mesma disse que temos um inimigo em comum. Peço que reconsideremos a pergunta do Tsuchikage-sama.

O velho Oonoki olhou satisfeito para Kakashi.

— “Senhora”...? — Mei sussurrou baixo. A sombra do medo da velhice a atemorizava, mesmo sendo ela uma mulher jovem.

— Não creio que atacarmos, nós mesmos, seria a solução — propunha Kakashi. Ay o observava atentamente. — Creio que os Yuurei, no caso, a dupla líder deles, sejam inimigos extraordinários. Tão poderosos que foram capazes de manipular e controlar os poderes do Naruto.

Os demais Kages de entreolharam.

— Dessa eu não sabia. — Gaara, pela primeira vez, elevou a voz. Não irritado, mas preocupado. — E o Naruto?

Kakashi gesticulou para que o jovem se tranquilizasse.

— Está bem. Muito bem, eu diria. Treinou para dominar um novo jutsu, além de, ainda que por um tempo curto, retomar o controle de seus poderes.

— Com certeza — Oonoki coçou a barba — alguém com habilidades para manipular os poderes do Naruto não é alguém contra o qual possamos nos garantir vitoriosos facilmente.

— Em minha opinião, seria melhor enviarmos os melhores ninjas que temos — Kakashi prosseguiu. — Tenho certeza de que, formando a equipe certa, teremos um poder muito maior que o dos Cinco Kages juntos.

Gaara encarou Kakashi.

— Fala de Naruto Uzumaki e Sasuke Uchiha?

— Não somente — corrigiu Kakashi. — Todos nós temos plena certeza, também, que usar Naruto e Sasuke seria essencial e, portanto, óbvio. Os Yuurei esperam por eles. Eles sabem que, uma vez descoberta sua localização, nós recorreríamos aos nossos melhores ninjas, no caso, Sasuke e Naruto.

— O Hokage está certo — apoiou Mei. — Os Yuurei estarão preparados para combater Sasuke Uchiha e Naruto Uzumaki.

— O que sugere, então, Kakashi? — perguntou Oonoki, curioso.

— Tsuchikage-sama, eu creio que as Cinco Grandes Vilas deveriam trabalhar juntas mais uma vez — declarou Kakashi. — Proponho a formação de uma Força Tarefa conjunta. Dois ninjas de cada uma das cinco nações irão representar as suas vilas contra os Yuurei. Montaremos um time com dez combatentes.

— Dez? — Oonoki arqueou a sobrancelha.

— Sim, Tsuchikage-sama — afirmou Kakashi. — Eu, pessoalmente, já testemunhei a violência e o poder absurdo dos Yuurei. Subestimá-los não faz parte da minha estratégia. Como Rokudaime Hokage, como professor e amigo do Naruto, quero derrotá-los mais que tudo.

— Estratégia interessante — comentou Ay. — Mas como espera que os dez ninjas cooperem entre si, pensem como um se não houver alguém para liderá-los? Um capitão dentre eles seria imparcial demais, não?

Kakashi concordou, acenando com a cabeça.

— Naturalmente, Raikage-sama. E é por isso que pensei, também, em apenas um de nós ir nesta missão, comandando. Que melhor capitão que um dos Cinco Kages?

Todos se entreolharam.

— Eu irei! — candidatou-se Ay. — Fui o Comandante Supremo da Aliança Shinobi durante a Quarta Grande Guerra Ninja. Quem melhor do que eu para liderar a campanha?

Gaara pigarreou.

— Todos aqui tiveram experiência como líderes durante a guerra, Raikage. Eu liderei a Quarta Companhia, Kakashi a Terceira, você a Aliança Shinobi no geral, Mizukage a guarda dos Daimyou, e o Tsuchikage organizou a Aliança contra o próprio Madara Uchiha quando foi revivido pelo Edo Tensei. Tratando-se de liderança, quem liderou o que é irrelevante.

Oonoki não pôde deixar de rir.

— O garoto Kazekage tem razão, Raikage. E devemos ter em mente que os inimigos podem fugir a qualquer momento. Precisamos aproveitar esta oportunidade e nos organizarmos o mais rápido possível.

— Sou o mais rápido dentre nós aqui! — declarou Ay a plenos pulmões. — Talvez um dos três ninjas mais rápidos do mundo atual. Chegar à ilha não será problema.

— Entre pedir a um homem do País do Relâmpago para vir liderar uma campanha em meu país a ir pessoalmente, prefiro fazer isso eu mesma — opinou Mei. — Sou a Mizukage, moro no País da Água e o conheço melhor que qualquer um de nós. Nenhum Kage estaria pronto mais rápido do que eu, nem mesmo você, Raikage-sama, que é um velocista admirável. Além do mais, está na cara que você está cego de ódio pelos Yuurei. Eu não duvidaria se, caso você fosse nesta missão, partisse para cima deles feito um estúpido.

Ay bufou e se calou. Sabia que Mei estava com a razão.

— Eu liderarei a Força Tarefa — ela continuou. — O ponto de encontro do time será nos portões da Vila Oculta da Névoa. De lá, avançaremos a leste, rumo à Ilha Misuto.

— Uma semana — propôs Oonoki. — Tempo mais que suficiente para escolhermos dois representantes e os enviarmos em missão.

— Mais uma coisa — acrescentou Kakashi. — Devemos considerar que o inimigo quis ser encontrado. Ainda que não seja esse o caso, prevenção nunca é demais. Não economizem em preparos.

— Irão se passar sete dias até toda a Força Tarefa se reunir na Névoa — Ay falou diretamente a Kakashi. — Depois, ainda haverá a viagem no mar até a ilha. Acredita mesmo que encontraremos o inimigo lá?

Kakashi assentiu.

— É um palpite.

— Bom, é isso — Gaara ergueu o queixo de sobre as mãos. — Posso considerar reunião encerrada?

Ay foi o primeiro a desligar a webcam. O sinal da Nuvem foi perdido, seguido pelo da Pedra. Mei acenou para Gaara e Kakashi e ficou off-line. Restavam as duas vilas mais entrosadas online.

— Gaara, se me der licença...

— Kakashi, à vontade.

A tela do notebook do Kazekage se escureceu por completo. A reunião emergencial havia terminado. Gaara recostou-se às costas do assento, pensativo. Aquela seria, oficialmente, a primeira participação da Areia contra os Yuurei, o que significaria declarar guerra à organização criminosa. O jovem Kazekage perguntou-se se seria essa a melhor forma de contribuir para segurança de sua vila.

Obviamente. Duvido muito que, atacando a Folha e a Névoa, os Yuurei não desejem também derrotar a Areia e as outras.

Enquanto pensava, considerou os dois mais capacitados para representarem a Vila Oculta da Areia na missão. A resposta veio à mente do Kazekage rápida e logicamente.

— Aqueles dois vão me matar — murmurou, olhando para a foto de mesa na qual estava junto dos irmãos mais velhos: Temari e Kankuro.

* * *

De olhos fechados, ela ergueu as pernas — outrora flexionadas, como se estivesse em meditação — sobre o tatame. Como de costume, vestia-se somente de preto: sandálias, calças, blusa de mangas compridas. O cabelo curto e preto azulado tocando-lhe a nuca.

Para Sui Raiji, havia apenas duas coisas irrevogavelmente importantes para um ninja. A primeira, quietude.

Sui desembainhou a espada que carregava na parte inferior das costas. A lâmina curta e um pouco curvada. Hábil e velozmente, a Kunoichi girava e trocava a arma de mão. Não dizia palavra alguma. Apenas rodopiava a espada entre os braços. Rodopiava e rodopiava...

A segunda coisa irrevogavelmente importante para um ninja, na opinião de Sui, era esta: poder.

Saltou sobre o tatame, desferindo golpes no ar. Cortava e despedaçava alvos imaginários, um após outro. O fio da espada dividia a brisa que entrava pelas janelas. Como mestra em Kenjutsu, o estilo espadachim, Sui não sentia dificuldade alguma para realizar movimentos e ataques mortíferos e impressionantes. A espada era uma extensão dos braços — e pernas também — da pequena ninja.

Sui Raiji, apelidada como o Relâmpago Negro da Vila da Pedra, aterrissou, em perfeito equilíbrio, com um dos pés sobre o cabo da espada encravada no tatame.

Palmas solitárias e vagarosas se faziam ouvir à porta da ala de treinamento. Um sorriso impressionado e satisfeito decorava os lábios de Kurotsuchi, neta do Sandaime Tsuchikage Oonoki.

— Uau. — Kurotsuchi assobiou. — Você arrasou na aterrissagem, hein?

Sui desceu até o tatame e se ajoelhou ante a outra.

— Kurotsuchi-sama, quando...?

— Relaxe, Sui. Só vim ver o seu treinamento. Só vou te pedir para parar com essa de “Kurotsuchi-sama”. Nós duas somos Jounin agora.

— A senhora é neta do Tsuchikage-sama — justificou Sui. — Além de ser uma forte candidata ao título futuramente.

Kurotsuchi fez uma careta debochada.

— Você falou igualzinha ao meu pai. E olha que, antes de mim, ele é o favorito para assumir o título do velhote.

Sui ficou quieta.

— Você soube... — Kurotsuchi puxou assunto, se aproximando e se jogando sobre o tatame — que o velhote participou de uma reunião de emergência com os outros Kages, não soube?

Sui assentiu.

— Pois é, de acordo com a estratégia deles, vão montar um time... uma, hã, Força Tarefa, entre as Cinco Vilas. Neste momento, o velho está escolhendo quem irá representar a Pedra.

— Isso me faz lembrar um pouco do Exame Jounin. Só um pouco — disse Sui, sentando-se ao lado de Kurotsuchi.

— Falando em Exame Jounin, tenho quase certeza de que o Sasuke Uchiha representará a Folha. Junto com Naruto Uzumaki, obviamente. Dois anos atrás, durante o Exame na Vila da Folha, você enfrentou o Sasuke Uchiha, não foi?

O rosto de Sui endureceu, lembrando-se de cada detalhe da luta.

— Sim. Ele estava disfarçado de “Roku Kuzanagi”. Não fossem aquelas pílulas de soldado estranhas que ele tomou, eu teria acabado com ele.

— Mas você o deixou na pior, Sui... Ele teve de tomar outra pílula na mesma luta pra poder te vencer. Fico imaginando a cara que ele tinha na hora... — Kurotsuchi soltou uma gargalhada divertida. — Apesar de ele ser um gato, é meio nojento.

O rosto de Sui não relaxou nem um pouco.

— Se eu pudesse, gostaria de enfrentá-lo de novo. Não como Roku Kuzanagi, mas como Sasuke Uchiha mesmo.

— Sempre querendo testar e ultrapassar seus limites, né, Sui? — brincou Kurotsuchi. — Sabe, quando eu for Tsuchikage um dia, vou querer você do meu lado.

— Do seu lado, Kurotsuchi-sama? Sua guarda pessoal? — A expressão da menina mudou. Sui deixou a expressão séria de lado e tomou posse da surpreendida.

— Exatamente. Somos amigas desde a infância. Eu vi você crescer e atingir a mesma patente de Jounin que a minha. Você é forte, eu sei.

— Mas mesmo assim, Kurotsuchi-sama...

— Quer parar de contestar? Gosto mais da Sui que obedece qualquer regra à risca. — Uma tinha a testa franzida, sem entender; outra os braços cruzados, falando categoricamente. — E vê se para de me chamar de “Kurotsuchi-sama”. Eu não sou o velhote, nem Tsuchikage ainda.

— Entendido, Kurotsuchi-sam-... Kurotsuchi. — Por mais que fosse da vontade da outra, era estranho para Sui tratar a superior de forma tão casual. Agora, usar um sufixo respeitoso para a neta do Tsuchikage era, no mínimo, espontâneo.

— Viu? Melhor, não?

Não, Sui pensou em dizer, mas preferiu se calar.

O que ocorreria a seguir poderia ser uma conversa animada, um monólogo de Kurotsuchi, o silêncio; àquela altura nada importava, pois Akatsuchi, parceiro de time de Kurotsuchi, entrou correndo pela porta. As bochechas gordas dilatando e relaxando ininterruptamente enquanto ele respirava.

— Kurotsuchi... Sui-chan... O Tsuchikage-sama vai anunciar a dupla que vai à missão agora. Ele mandou vir chamá-las.

— Valeu, Akatsuchi, mas você também está na lista do velhote, não? — Kurotsuchi coçou a cabeça antes de, outra vez, cruzar os braços.

— Do Tsuchikage-sama? Provavelmente. Se bem que... — hesitou. — Você ouviu os boatos sobre esses caras?

— Caras? — Kurotsuchi fez uma careta desdenhosa.

— Os Yuurei? — Os dois mais velhos se voltaram para Sui de imediato. A intenção dela era se integrar na conversa, mas tudo o que obteve foi olhares ansiosos.

— É — Kurotsuchi assentiu. — Os cretinos.

— A missão consiste em ir atrás dos líderes, pelo menos foi o que o Tsuchikage-sama falou para mim — disse Akatsuchi. — É verdade? Digo, vamos realmente atrás dos líderes?

Kurotsuchi abaixou a cabeça, desaprovando aquele comportamento medroso do parceiro. Andou para frente, puxando-lhe para fora da sala pelo colarinho.

— Anda logo, gordo covarde. Vamos ver quem vai ser escolhido para esta missão suicida. E Sui, venha também.

— Sim, estou indo, Kurotsuchi-sama.

— Droga, para de me chamar assim.

Atravessaram um corredor a céu aberto, a Fonte da Pedra — o maior símbolo da Vila, que consistia em uma fonte com apenas uma pedra posta sobre um pedestal no meio da água, e outras no fundo. Conforme as tradições, a pedra selecionada no pedestal representava a Vontade da Pedra dos habitantes da vila — e, por fim, estavam diante do Edifício do Tsuchikage. Subiram as escadarias e abriram uma porta em especial: a do escritório de Oonoki. Viram reunidos ali, além do próprio Tsuchikage, os doze mais hábeis Jounin da vila, dentre os quais se destacava Kitsuchi, filho de Oonoki e pai de Kurotsuchi. Além desses atributos, Kitsuchi foi o capitão da Segunda Companhia durante a Quarta Grande Guerra Ninja.

— Oh, finalmente chegaram — Oonoki recepcionou os visitantes. — Vamos lá, entrem, vou revelar meus escolhidos agora.

O trio de entreolhou e acatou a ordem. Kitsuchi olhou de esguelha para própria filha, vendo-a se juntar aos demais possíveis convocados. Só parou quando Oonoki pigarreou, pronto para falar:

— Eu avaliei cada um e, considerando o histórico, cheguei à minha decisão.

Silêncio.

— Kitsuchi e Kurotsuchi representarão a Vila da Pedra contra os Yuurei — revelou, por fim, Oonoki.

Sussurros, olhares nem um pouco discretos — alguns pessimistas e solidários, até —, e manifestações específicas, como foram os casos de Akatsuchi, que respirou aliviado ao saber que não havia sido escolhido, e Sui, que levantou a voz do nada para argumentar sobre a decisão, inutilmente; Oonoki se manteve inexorável quanto a escolha de seus ninjas.

— Pai e filha na mesma missão?! — questionou um dos presentes.

— O Tsuchikage-sama não pensa na própria família? Está enviando o filho e a neta para a morte. Juntos, até — sussurrou um segundo.

— Silêncio! — A visão de Oonoki se levantar bruscamente para, imediatamente, uivar de dor nas costas seria ridícula e cômica não fosse o clima de apreensão que tomava o escritório. O Tsuchikage preferiu se sentar e assim ficou até o término do discurso. — Esta é a minha decisão. Kitsuchi foi um capitão durante a guerra passada e Kurotsuchi é, assim como o pai, uma ninja poderosa. Não aceitarei contraposições nem nada, ouviram bem?

A quietude de todos foi a resposta perfeita para o Tsuchikage, que dispensou todos os presentes em seu escritório, exceto os designados para a missão na Ilha Misuto. Sui, antes de sair, olhou com clara frustração para o interior do cômodo e para o líder de sua vila. Foi a última a deixar o local. Oonoki agora estava diante, exclusivamente, da própria família. Os três ficaram quietos por um bom tempo até, por fim, o Tsuchikage resolver falar:

— E então, como se sentem?

— Bem, Tsuchikage-sama — respondeu Kitsuchi sem olhar nos olhos do pai. Kurotsuchi, por um momento, observou o semblante firme e inabalável que Kitsuchi transmitia. Mesmo estando apenas entre familiares, parecia que o antigo capitão da Segunda Companhia mantinha a rigidez oficial. Perguntava-se a garota se a atitude do pai era uma espécie de autodefesa.

— E você, Kurotsuchi? — Foi somente aí que a garota se deu conta de que o avô falava com ela.

— Hã? Ah, eu estou legal. — Deu de ombros. — Vou enfrentar uma dupla de ninjas superpoderosos, mas estou legal. Quem não está bem mesmo é a Sui, que treinou feito louca para ir nesta missão.

Oonoki não conseguiu evitar a risada.

— A pequena Sui é muito jovem ainda no corpo Jounin, formou-se recentemente. Além disso, vocês dois desenvolvem papéis importantes na vila. Kitsuchi é meu melhor Jounin e você integra minha guarda pessoal.

O silêncio vazio e esmagador tomou conta dos pensamentos do velho Tsuchikage. Desde que apareceram, toda e qualquer tentativa de combater os Yuurei culminou no fracasso. O que mais se aproximou de uma vitória foi o assassinato de Juha Terumi por Sasuke Uchiha, da Folha. Mas, apesar dessa ocorrência, outro Yuurei — Kioto, muito mais forte que Juha, por sinal —, surgiu no meio do campo de batalha e evitou a vitória da Folha e da Nuvem sobre os fantasmas.

E lá estava ele, o sábio Sandaime Tsuchikage, fornecendo seus dois melhores ninjas em uma missão de sacrifício. Havia pensado na possibilidade de perder a família? Obviamente. Mas, considerando tudo o que tinha vivido, toda a experiência adquirida em conjunto com as demais Vilas, sobretudo após o fatídico Encontro dos Cinco Kages no qual o falso Madara Uchiha havia declarado guerra às Cinco Nações, Oonoki não se sentiria bem se poupasse esforços para combater o mal que, mais uma vez, se erguia na forma de uma organização criminosa.

— Velhote? — Kurotsuchi acenou para o avô. — Está tudo bem?

O velho Tsuchikage sorriu.

— Confio em vocês dois. Filho... Neta...

* * *

Vila Oculta das Fontes Termais.

Talvez não houvesse coisa mais prazerosa que aquela: estar vendo o sol poente sentada sobre o cais de madeira. A água verde-azulada tocando-lhe as pontas dos pés. Nami Shotagiru gostava muito de passar as horas ali, ainda mais tendo a companhia de seu nanico preferido. Entretanto, diferente de antes, a conversa que tinham naquele momento não era das melhores. As circunstâncias não deixavam.

— Então é isso, não é? — Ela observava a água dançar sob seus pés.

— É.

— Quando saiu o resultado? — perguntou Nami ao namorado.

— Hoje pela manhã — respondeu Yasuke, filho do Yondaime Mizukage Yagura e discípulo da Godaime Mizukage Mei Terumi. — A Mizukage-sama me chamou em particular e falou que havia me escolhido para ir nesta missão.

— Entendo...

Yasuke nunca foi muito bom em se relacionar com as pessoas. Treinado desde pequeno por Mei, dedicou-se com afinco aos ensinamentos que sua mestra lhe transmitia — uma forma de tentar superar a história do pai, que havia sido morto um pouco antes de Yasuke nascer. Além disso, boatos corriam que tinha sido Yagura quem havia instaurado o sistema educacional que mais tarde renderia à vila a alcunha “Vila da Névoa Sangrenta”. Poucos suspeitavam, porém, que Yagura estava sendo controlado mentalmente por outro ninja, um mascarado que mais tarde seria conhecido como Obito Uchiha.

Tinha sido Naruto quem havia revelado a história real do Mizukage Yagura para o jovem Yasuke quando este duelou contra o Herói do Mundo Ninja durante uma edição do Exame Jounin. Neste episódio, o filho do Mizukage passou a considerar Naruto um camarada — mesmo que não admitisse isso a ninguém.

Nesta mesma época, já na terceira fase do Exame, Yasuke conheceu outra pessoa bastante curiosa e divertida: Nami Shotagiru, uma jovem que nutria uma paixão por Naruto. Eles se conheceram quando, em uma tentativa de Nami de se aproximar de Naruto, ela foi flagrada por ninguém menos que a até então cunhada deste, Hanabi Hyuuga. Montando um teatro para se defender de qualquer acusação, Nami puxou o primeiro garoto que passou por ela — Yasuke — e jurou solenemente que o namorava. Hanabi, maliciosa, pediu um beijo dos dois em prova de inocência, e Nami acabou obedecendo; não queria que Naruto — ou Hinata Hyuuga, que também estava presente no momento — notasse a investida. A partir deste incidente tão inusitado, os dois se conheceram melhor e, por fim, passaram a namorar.

— O Choujurou-senpai também foi chamado pela Mizukage-sama — disse Yasuke, tentando fazer com que Nami não se preocupasse. — Ele é forte e mais experiente do que eu, além de ser o último dos Sete Espadachins da Névoa.

Nami se virou, pouco convencida.

— Você está falando daquele seu amigo magricela com óculos estranhos? Puxa, estou me sentindo muito melhor agora.

— Ele tem potencial para se tornar Mizukage um dia, Nami — contrapôs Yasuke. — E tem mais autoconfiança agora.

— Sei...

Yasuke se virou para a namorada. Nami brincava uma das mechas do cabelo ruivo, os olhos esverdeados pareciam evitá-lo.

— Onde está a garota estranha que eu conheci? — ele perguntou com a voz gentil. Nami riu com os lábios semifechados.

— Estou preocupada com você, pirralho nanico.

— Sou três centímetros mais alto — lembrou Yasuke.

— E eu dois anos mais velha... — rebateu Nami. — Pirralho.

Um sorriso tímido se formou nos lábios de Yasuke. Quando Nami, porém, pôs a mão sobre os cabelos brancos dele, ele parou imóvel.

— A gente já está junto há um tempão e você ainda reage assim, não é? — ela brincou com a timidez do garoto. — Promete uma coisa para mim, Yasuke?

— O quê?

— Quando você voltar, eu quero que você me leve para a Névoa.

— Nami! — Yasuke se sobressaltou. — Você só tem dezoito anos! Ir morar em outro país...

— O que tem? — Nami indagou, encolhendo os ombros. — Sou maior de idade.

— Mas eu não. Tenho só dezesseis, lembra?

— E daí? Não vamos morar juntos... — Nami interligou coisa com coisa e exclamou: — Seu pirralho pervertido!

— O quê? Não! Eu não pensei nisso! Eu só achei estranho você... Bom, você pediu isso para mim, então eu...

Mas Nami apenas gargalhou do namorado, que fez uma careta de incompreensão muito espontânea. Depois da alta risada, a garota se inclinou para perto do rosto de Yasuke, olhando-o nos olhos.

— Você é hilário, pirralho.

— Quer parar de me chamar assim? Soa tão infantil.

Nami deu um risinho.

— Está bem... homenzinho...

— Nami!...

Ela o calou, beijando-o. Um beijo nem tão curto nem tão demorado. Os lábios se separaram e Nami sorriu com o rosto avermelhado de Yasuke — ela adorava o lado tímido dele.

— Boa sorte. E não demore, tá bom?

— Tudo bem. Não vejo nenhum motivo para prorrogar uma luta contra aqueles caras.

— Acho bom. E mostre para eles por que te chamam de “O prodígio da Névoa”, certo?

* * *

A porta se abriu e os convocados do Raikage se ajoelharam. Darui e Cee, os dois membros da guarda pessoal de Ay. Samui, que agora ocupava o lugar de assistente do Raikage — posto que pertencia à Mabui até esta morrer durante a guerra com a explosão do quartel-general da Aliança. Samui já havia sido designada para o cargo, mas não havia aceitado de imediato, preferindo permanecer com seu time, Karui e Omoi. No entanto, após as mortes de Omoi e Killer Bee, ela acabou tomando posse do secretariado —, também se fazia presente. Três horas haviam se passado desde a reunião emergencial dos Cinco Kages; Ay, como havia dito, fora o mais rápido em escolher os soldados ideais e enviá-los. Aquele encontro com o líder da vila se tratava das considerações finais antes de a dupla partir na jornada rumo á Névoa, e depois para a Ilha Misuto.

— Pelo Bee, pelo Omoi, eu quero que esmaguem aqueles bastardos até não sobrar nada deles — Ay foi curto e direto. — Nada.

— Entendido, Raikage-sama — Cee falou com uma dose de incerteza.

— Entendido, Raikage-sama. — Darui jurou de olhos fechados. — Isso vai ser um saco, mas tudo bem — sussurrou para si mesmo.

— Agora vão — ordenou Ay. Gotas de saliva lhe saíam pela boca irritada. — Destrocem até a alma aqueles malditos Yuurei!

* * *

Era noite. Cerca de vinte e três horas haviam se passado desde que Kakashi havia convocado a reunião emergencial. Fora dos domínios da Vila da Folha, o encapuzado errante andava sobre a campina. De longe, era possível ver as fortes muralhas que circundavam o lugar. Aquela visão era tão especial.

Na calada da noite, o ser encapuzado andou mais algumas centenas de metros até encontrar o que procurava. Uma instalação isolada e bem decorada na parte exterior.

O Orfanato da Folha.

O ser encapuzado subiu as escadas de entrada, a respiração fria exalando de suas narinas. Bateu na porta duas vezes. A portinhola se abriu para que o rosto de Urushi — antigo abrigado e atual guardador do orfanato — se revelasse entre a madeira.

— Quem é você? A esta hora da noite? Estamos abertos até às sete.

O ser encapuzado suspirou lenta e assustadoramente. Um frio percorreu a espinha de Urushi.

— P-posso ajudá-lo, senhor? — ele reformulou a recepção.

— Eu vim falar com o líder Yakushi — disse o encapuzado.

— Quem é você? Hã... Por favor.

Silêncio absoluto. O encapuzado falou, por fim, apenas duas palavras:

— O comprador.

Urushi engoliu em seco. Sabia quem era o ser de capuz. Relutante, abriu a porta devagar.

— Ele está no porão. Por favor, gostaria que eu o...

— Não será preciso — cortou o encapuzado. — Sei onde fica.

— Oh, como desejar, senhor. — Urushi andou desajeitadamente, tropeçando sobre o tapete.

O ser encapuzado se encaminhou para um corredor específico. No meio dele, bateu quatro vezes com o calcanhar direito, fazendo com que um quadrado de pisos se sobressaltasse em relação aos demais — uma passagem secreta. O encapuzado afastou os pisos para o lado e descobriu a escada. Desceu até o porão.

Mais precisamente, um laboratório.

Estantes abarrotadas de líquidos nas mais variadas cores. Alguns animais eram guarnecidos em conserva. Outras mais estantes estavam cheias de livros empoeirados e amarelados devido ao tempo.

Uma risada seca e reptiliana ecoou pelo laboratório. O ser encapuzado estreitou os olhos.

— Ora, ora... Há quanto tempo não o vejo... — O dono da voz reptiliana, Kabuto Yakushi, surgiu das sombras projetadas por duas estantes. — Como vai, Sasuke-kun?

O ser encapuzado retirou a cobertura da cabeça para se mostrar como Sasuke Uchiha. Os olhos deste estavam sérios e apressados.

— Kabuto.

— Veio aqui por mais das minhas Pílulas de Soldado especiais? — adivinhou Kabuto. — Eu soube que, dois anos atrás, elas te ajudaram bastante naquela missão durante o Exame Jounin. Você conseguiu até derrotar o Naruto com elas, mas... Roku Kuzanagi? Que nome menos apropriado, não?

— Estou com pressa, Kabuto. Diga-me: meu pedido já está pronto?

Kabuto sibilou como uma verdadeira serpente, esgueirando-se por entre duas estantes à direita de Sasuke.

— Eu falho com você, Sasuke-kun? — Kabuto estendeu um estojinho preto, sacudindo-o antes de dá-lo a Sasuke. — Vinte Pílulas de Soldado aprimoradas. Diferentes das que você experimentou para se tornar um Jounin, estas têm um efeito muito mais concentrado. Eu não diluí nenhum dos componentes, não houve processo de Síntese. As ligações moleculares baseadas na amostra do seu sangue deram um resultado muito além do esperado, Sasuke-kun.

— A que proporção? — perguntou Sasuke.

— Imagine... Kabuto gesticulava com as mãos enquanto a língua bifurcada tateava o ar — Imagine um poder seis vezes maior que o que você obteve como Roku Kuzanagi. Agora, considerando que preparei a fórmula utilizando o seu DNA, imagine somente você podendo utilizar este poder. Seria... divino, não?

— E as consequências do uso excessivo? — Sasuke guardou as pílulas.

— Oh, as dores seriam seis vezes mais horrendas. Isso se fosse você a ingerir as pílulas. No caso de alguém tentar usá-las no seu lugar, o efeito no organismo estranho seria catastrófico. Talvez irreparável.

Sasuke aprovou a ideia de ser o único possível usuário daquelas pílulas.

Kabuto estudou o Uchiha com calma, prestando atenção aos mínimos detalhes do rosto dele.

— Sasuke-kun... que tipo de missão exige o uso de uma droga desta magnitude?

Os olhos de Sasuke fuzilaram os de Kabuto, mas este não se intimidou. Preferindo não revelar a missão na Ilha Misuto, desconversou, e fez uma pergunta que a muito o incomodava:

— Kabuto, você tem notícias do Orochimaru?

Antes de responder, Kabuto Yakushi semicerrou os olhos de réptil.

— Não. Orochimaru-sama desapareceu depois da guerra. É um fantasma.

— Fantasma, é? — Sasuke riu com desagrado. — Bom, ele seria de grande valor para os Yuurei, considerando todo o conhecimento e habilidades que ele tem. Bem provável que, cedo ou tarde, os Yuurei vão atrás dele, concluiu em pensamento.

Sasuke deu as costas para o anfitrião. Com o capuz já recolocado sobre o rosto, ouviu Kabuto sibilar às suas costas:

— Acha que eu não sei de nada, Sasuke-kun? — Riu. — Eu vivi a minha vida inteira como um agente duplo, triplo até, uma marionete das Cinco Nações e do Orochimaru-sama. Acha que eu não sei o que está acontecendo no mundo ninja? Acha que eu não sei “Deles”?

Sasuke permaneceu quieto e de costas. Kabuto gargalhou.

— Então é isso. Vai caçar um deles? Você sabe que é impossível, Sasuke-kun.

Então, Sasuke se virou, exibindo um sorriso arrogante ao qual Kabuto já havia se acostumado por anos de convivência.

— Vou matá-los, Kabuto. É tudo o que você precisa saber.

Subindo a escada em vertical, Sasuke desapareceu da visão de Kabuto.


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Notas finais do capítulo

Então, finalmente, sabemos, também, a origem daquelas Pílulas de Soldado que fizeram de Roku Kuzanagi (Sasuke) um ninja capaz de derrotar o Naruto na Segunda Fase do Exame Jounin. Pois é... e olha que eu me lembro das críticas, de o quanto me disseram que aquela luta não fez sentido, que o Naruto (que derrotou o Madara e tudo o mais...) não podia perder daquele jeito... enfim. É, eu me lembro. Bom, como prometido, também, aí está a informação. Eu demorei porque, acreditem, este era o momento em que pretendia lhes contar sobre isso. Não antes, não durante o Exame. Foi agora.

Como eu disse, acho que alguns destes personagens vocês esqueceram. XD Minha esperança é que se lembrem deles rapidinho. Agora, sobre o Urushi, do orfanato, pra quem não se lembrava (como eu até pesquisar sobre ele), ele é o garoto que era um dos abrigados na época que o Kabuto chegou ao orfanato, um que mais tarde ia chamá-lo e irmão e tal. Lembraram? Sim? Não? Deixa pra lá.

E o que acharam do capítulo? Tudo bem, foi mais informativo, eu sei. Com diversas mudanças de cena e tal.

E o que pensam do Garou? Do aparecimento do Kabuto? Do Orochimaru, que ninguém sabe onde está? Do fato de o Sasuke estar de pose de pílulas seis vezes mais potentes que as que ele usou no Exame Jounin?

Próximo capítulo: O monstro e o caçador.

Bom, chegou a hora de fazer uma coisa que há um tempinho eu não fazia nesta história. Hihihihi... Esperem só. O capítulo seguinte chegará mais cedo do que pensam.

Bom, espero que tenham gostado do retorno destes personagens. Espero mais ainda que gostem do que eles irão fazer na história. Obviamente, não me esqueci do nosso Naruto. Tenho uma tarefa preparada para ele também. :D

Até o próximo capítulo o/