— Yuurei? Nunca ouvi falar — Bee relaxou os ombros, despreocupado.

— É claro que não. Você não ouviu porque nós não queríamos que o mundo soubesse, pelo menos não antes. Agora, o mundo inteiro nos conhecerá — Juha respondeu calmamente.

— Ótimo! Dois palhaços exibicionistas — Karui murmurou, premindo com força o cabo da própria espada.

No interior de Bee, Gyuuki, a Fera de Oito Caudas, estremeceu. Algo parecia errado.

— Ei, Bee — falou Gyuuki no interior do Jinchuuriki.

“O que foi, Hachi-chan? Percebeu algo errado?”, conversava Bee com o Bijuu telepaticamente.

— Esses caras... o chakra deles é estranho. Há algo neles... algo maligno.

“Eu percebi.”

— Você vai enfrentá-los sozinho? Talvez não seja essa a melhor solução.

“Não quero envolver os garotos com esses caras. Tenho uma má impressão a respeito. E meu irmão está muito longe daqui. Não tem jeito, Hachi-chan. Seremos eu, você e esses dois aí.”

— Ei, velhote Jinchuuriki! — Kan apontou para Bee. — Não temos o dia todo!

Killer Bee ameaçou dar um passo à frente, mas Samui, Omoi e Karui se postaram em seu caminho, bloqueando-o e separando o Jinchuuriki dos Yuurei.

— Não vamos deixar que cheguem perto do Bee-sama, seus bastardos malditos! — Karui cuspiu no chão, encarando os invasores. — Se o querem, terão de nos enfrentar primeiro!

— Não — Bee tomou, novamente, a dianteira. — Eu vou lutar.

— Bee-sama! — Samui exclamou. — O senhor não precisa...

— Samui, chame o meu irmão. Leve Karui e Omoi com você. Eu vou enfrentar esses caras. Sim, eu vou.

Por um instante Samui pareceu fraquejar diante de tal decisão, mas, por fim, acatou as ordens recebidas.

— Sim, senhor.

— Samui-san! — Karui e Omoi contestaram ao mesmo tempo.

— As ordens de Bee-sama foram estritamente claras. Ele deseja enfrentar os invasores. Nosso dever é avisar ao Raikage-sama da situação. Nada mais. — A voz de Samui era firme e implacável. — Voltaremos o mais rápido possível com reforços, Bee-sama — assegurou Samui, voltando-se para Bee.

— Ande logo, sua idiota, sua babaca. — A voz de Bee era carinhosa, apesar das palavras um tanto ríspidas. Samui e os outros já estavam acostumados; era o jeito de Bee, e eles o adoravam.

Desta forma, os três se postaram a correr. Kan ameaçou persegui-los; a mão à foice mortífera.

— Não! — ordenou Juha. — Deixe-os ir.

— Mas Juha-senpai, eu os mataria num instante.

— O alvo é o Jinchuuriki Killer Bee. Ninguém mais.

Kan revirou os olhos. Matar era o que ele mais adorava fazer.

— Bom, então eu vou pegar esse velho aí. — Kan liberou a foice das costas, erguendo-a facilmente com uma das mãos. — Assista de novo, Juha-senpai...

— Não. Desta vez eu lutarei.

— Hã? E eu só vou assistir?

— Exato. Você demoraria muito para capturar o alvo, eu ficaria entediado mais uma vez.

— Tsc. Que merda de missão! O cara mais forte sempre luta contra você, Juha-senpai. — Kan cruzou os braços, decepcionado. Juha nada disse, antes, porém, caminhou tranquilamente ao encontro de Bee, que empunhara suas sete espadas de uma vez só; Samehada, a antiga espada de Kisame Hoshigaki, pendia em suas costas.

— Ei, você aí, esquisitão — Bee se referiu a Juha. — Você disse que seu sobrenome era “Terumi”, certo? Você tem algum parentesco com a Mizukage Mei Terumi?

A feição de Juha enrijeceu, aparentando claro ódio ao ouvir aquele nome. Bee poderia jurar que a temperatura do ambiente caiu na hora.

— Infelizmente, isso é um assunto de família que quero esquecer, Hachibi. Por hora, sua única preocupação sou eu — disse Juha, a voz gelada e assassina.

O vento assoprou com mais fúria. O manto negro de Juha dançava, as longas mangas que cobriam as mãos do Yuurei balançavam. O ar, mais frio do que nunca, circundava e rugia montanha abaixo.

Kan observava a cena com atenção, tinha um sorriso de escárnio nos lábios.

“Esse Jinchuuriki está ferrado. O Juha-senpai é um membro Sênior de nossa organização. Essa luta será rápida”, pensou.

E Killer Bee, rodopiando com as sete espadas empunhadas, avançou com seu mortífero Kenjutsu contra Juha.

A chuva irrompeu dos céus do nada. Gotas finas e frias precipitaram-se ao solo, que não demorou a estar encharcado. A mudança climática, no entanto, não era um problema para o espadachim; era hábil demais.

Lâminas afiadíssimas iam e vinham de todas as direções à medida que Bee rodopiava o corpo abarrotado de espadas contra Juha, que se esquivava despreocupadamente. A Dança das Sete Espadas, o Kenjutsu único de Killer Bee, consistia em usar sete lâminas ao mesmo tempo para combater. Nunca alguém conseguira enfrentar tal técnica de Killer Bee sem sofrer um arranhão, no mínimo.

Pelo menos até aquele dia.

Não importava a manobra, o rodopio, a esquiva, o desvio, nada; Juha parecia prever todos os movimentos de Killer Bee. Nem mesmo a roupa do Yuurei fora rasgada; ele estava conseguindo evitar o contato com todas as espadas. Bee não entendia o que estava acontecendo, aturdido com aquela situação.

“Impossível! Nem um corte sequer? Quem é esse cara, esse idiota, esse babaca?”, e Bee permanecia no ataque.

— Você... — Juha gingou o corpo para o lado, evitando três espadas seguidas. — Você é tão lento assim?

Bee estremeceu. O Yuurei, que até meio segundo estava de frente para ele, agora estava às costas do Jinchuuriki. De algum modo, Juha Terumi havia desaparecido e reaparecido à retaguarda de Bee, que, surpreso, saltou para longe.

— Você sabe usar teletransporte ou tem mais velocidade, seu idiota, seu babaca! — presumiu Bee.

— Teletransporte? Velocidade? — desdenhou Juha. — Hachibi, já parou para pensar na remota possibilidade de você estar mais lento ao invés de eu estar mais rápido?

— Mas...?

Então a ficha caiu. Bee olhou para o alto. Ainda estava chovendo.

— A chuva. — Ele mantinha os olhos no céu chuvoso. — Essa chuva não é normal, certo? Faz parte da sua técnica.

Juha assentiu com a cabeça.

— Ranton: Tenshu no Jutsu (Elemento Tempestade: Técnica do Senhor do céu) — Juha ergueu apenas uma mão, com a qual realizava selos complexos. A chuva havia cessado na hora, apesar de o céu ainda estar negro e trovejante. — Basicamente eu posso conjurar a chuva. Basta uma gota tocar alguém para que o alvo fique mais lento, sendo que eu posso escolher em quem meu jutsu funcionará. Em suma, eu tenho total controle da sua velocidade, Hachibi. Não importa o quanto tente, não importa o quanto lute... você já estava fadado à derrota no instante em que recebi a missão de capturá-lo.

Bee suspirou. Aquela luta seria mais difícil do que ele fora capaz de imaginar.

— A chuva você pode controlar, minha velocidade você pode ultrapassar, mas vai precisar de mais se quiser me capturar! Se prepara, Yuurei, pois não vou dar moleza. Se não tomar cuidado, vai morrer com certeza! — E Bee levou as mãos à espada Samehada. Juha ergueu a sobrancelha, curioso.

— Sua teimosia é impressionante. Bom, devo lhe alertar que, além de deixar o alvo mais lento, aquela chuva faz outra coisa... — Juha formou um selo com apenas uma mão. — Ela marca o alvo para outra técnica minha.

Bee teve apenas dois segundos para tentar alguma coisa. Um raio irrompeu dos céus e disparou contra o Jinchuuriki, que ainda estava parado. Uma descarga elétrica fulminante. Tamanho o poder do ataque, que o solo rachou e afundou. Fumaça cinzenta subia em alta proporção, deixando o local escuro, quase sem visibilidade.

Juha esperou alguns segundos, mas nada aconteceu. Derrotar um Jinchuuriki veterano de guerra fora ridiculamente fácil.

O Yuurei deu as costas, mas, quando estava prestes a recolocar o capuz, virou-se abruptamente. Bee, velozmente, surgiu do meio da fumaça. Estava revestido com o chakra avermelhado de Bijuu; quatro caudas dançavam ao final de suas costas.

E Bee atacou. Estava rápido, muito mais rápido.

— Raiton: Lariat (Elemento Raio: Laço)! — O braço de Bee estava dobrado, de forma que o pescoço de Juha foi abraçado. O Yuurei foi lançado para trás com força, colidindo contra o solo e explodindo em água.

— Impressionante — falou Juha às costas de Killer Bee. — Me fez usar o Mizu Bunshin no Jutsu (Técnica do Clone de Água) para escapar. Confesso, para um membro Sênior, fui estupidamente desleixado. Um erro que não cometerei novamente, Hachibi.

Bee estava com o corpo chamuscado. Se não tivesse usado o manto de chakra de Gyuuki, estaria morto naquele instante devido ao raio. Por pouco sobreviveu, por muito pouco.

— Bee! — Gyuuki chamava psiquicamente Killer Bee.

“O que foi, Hachi-chan?”, respondeu Bee.

— Esse oponente não é alguém que vamos conseguir derrotar com velocidade, mesmo usando nossa Transformação Bijuu Parcial. Duvido muito que o Lariat funcione pela segunda vez.

“O que sugere?”

— Perdemos em velocidade, mas talvez possamos vencer se usarmos força bruta. Bee, entende o que quero dizer?

“Não esquenta! Força bruta não é problema!”

— Isso não rimou, Bee — Gyuuki balançou a cabeça penosamente.

“É. Eu preciso de algo que rime com “esquenta”. É importante para...”

— Cale a boca e vá lutar! — berrou Gyuuki.

Bee ajeitou o que havia restado dos óculos escuros no rosto, e sorriu para Juha. O Yuurei, por sua vez, estreitou o olhar, como se estivesse penetrando o corpo de Bee, analisando-o até os ossos. O ambiente parecia mais quente; Juha sabia que o chakra de seu adversário estava fluindo assustadoramente.

— Entendo. Então, pretende me enfrentar assim, não é? — sussurrou Juha indiferentemente.

O corpo de Bee desapareceu numa coluna de chakra vermelho-escuro. Dois segundos depois, Juha estava observando um monstro colossal. Era arroxeado. Parte polvo, parte touro. As oito caudas, gigantescos e robustos tentáculos de molusco, batiam furiosamente contra o chão.

— Modo Bijuu em ação! Oh, yeahhhh! — berrou a criatura com a voz de Bee.

Juha não estava nem um pouco impressionado, aliás, já esperava que o combate tendesse àquilo. Ele aguardou Bee se aproximar grotescamente para contra-atacar. O chão tremia ao menor movimento do Modo Bijuu de Bee.

— Inku Sakusei! (Criação de tinta) — berrou o Bijuu, expelindo pela boca um jato de tinta preta contra Juha, que aguardou pacientemente a onda negra se aproximar dele. Apenas uma mão ele usava para criar selos manuais.

— Suiton: Suijinheki no Jutsu (Elemento Água: Técnica da muralha de água). — O Yuurei soprou uma onda muito maior que a de tinta de Bee em forma Bijuu, bloqueando por completo o ataque do Jinchuuriki. A tinta se mesclou à água, formando uma parede gigante de líquido negro que separava Juha de Bee.

E o Bijuu sorriu consigo mesmo.

— Tsc. Que otário esse cara. — Riu Bee. — Raiton: Raitoningu (Elemento Relâmpago: Corte de luz) — falou em seguida.

Da boca do Bijuu, uma versão menor da Bijuu Dama somada com raios amarelados foi disparada contra o Yuurei Juha Terumi. Os lampejos elétricos faiscaram contra a muralha de água antes de destruí-la em questão de segundos. Um ataque poderosíssimo e quase tão letal quanto a Bijuu Dama; não havia como alguém sobreviver a ele. Os ruídos tonitruantes ecoaram colina abaixo e morreram com o passar do tempo.

Quando a fumaça baixou, Bee exclamou um palavrão.

— Esse cara não morre? — continuou.

Uma bela escultura de gelo erguia-se imponente à medida que a fumaça deixava o ambiente. Retratava uma mulher de braços estendidos, protetores. O rosto dela era bonito não fosse a expressão de horror que ela sustentava. Um pouco mais embaixo, sob a barriga dela, estava Juha, tão calmo quanto no início da luta.

— V-você sabe usar Hyouton (Elemento Gelo) também, seu idiota, seu babaca? — Juha ouvia a indagação preocupada de Bee enquanto descia tranquilamente do afago da escultura. O Yuurei ousou sorrir, os olhos verde-esmeralda mais frios do que nunca.

— Sou um membro do clã Terumi da Vila Oculta da Névoa; é da minha natureza ser capaz de usar duas Kekkei Genkai, no caso Hyouton (Elemento Gelo) e Ranton (Elemento Tempestade).

— Assim como a Mizukage, que usa Youton (Elemento Lava) e Futton (Elemento Ácido) — murmurou Bee.

— Cale-se! — disse Juha rispidamente. A mão direita dele, freneticamente, executava selos manuais.

— Hyouton: Kouriryuu no Jutsu (Elemento Gelo: Técnica do dragão de gelo). — O ar ao redor de Juha se solidificou, assumindo a forma de uma serpente enorme com dez chifres coroando a cabeça pelos dois lados; duas presas hiperdesenvolvidas saltavam pela boca da fera glacial. Era do mesmo tamanho do Bijuu.

— Com essa, usarei cinco técnicas para encerrar essa luta, nada mais — falou Juha.

E o dragão de gelo, imediatamente, atacou. Pela bocarra, disparou jatos frios. O braço direito de Bee foi congelado na hora.

A batalha se intensificou. O dragão serpenteava pelo corpanzil Bijuu de Bee, que lutava para se livrar do monstro de gelo. Em vão, todavia, pois minuto a minuto Bee era espremido pelo jutsu de Juha.

— E agora, hora de me livrar dos tentáculos. — O Yuurei sequenciou mais selos na mão direita e anunciou calmamente: — Hyouton: Hissatsu Hyousou (Elemento Gelo: Quebra da lança de gelo). — Exatas oito estacas gigantes foram criadas a partir da umidade do ar, e caíram de imediato, perfurando e cravando no chão os tentáculos de Killer Bee, que berrou em agonia. Um ruído ensurdecedor ecoou pela montanha. O sangue escorria pelo chão úmido.

— D-desgraçado... — Bee tentou formar uma Bijuu Dama. Juha, porém, também previra que cedo ou tarde tal técnica também seria usada.

— Hyouton: Hyourou no Jutsu (Elemento Gelo: Técnica da prisão de gelo). — Bastou Juha conjurar a técnica para que o ar em torno de Bee se solidificasse, tornando-se uma forma cilíndrica gelada. Dentro dela, Bee e o dragão de gelo estavam imobilizados. Juha sorriu satisfeito; a batalha estava vencida.

— E agora, para terminar, os dois últimos jutsus. — Juha estendeu os braços direito e esquerdo, paralelamente, à frente. Em cada mão o Yuurei executava sequências diferentes de selos; duas técnicas ao mesmo tempo.

— Ranton: Takahiku Saigai (Elemento Tempestade: Alta e Baixa calamidade). — Duas formações de nuvens negras e tempestuosas surgiram, respectivamente, acima e debaixo da prisão de gelo. Elas rodopiavam e, mesclando-se, envolviam pouco a pouco o cárcere de Bee até que, finalmente, nada havia além de uma única camada de nuvem densa, escura e horrenda.

Juha abriu os braços abruptamente, como se estivesse partindo algo ao meio. Imediatamente, a nuvem de tempestade se dissipou, revelando um ambiente vazio. Não havia mais prisão de gelo, nem dragão, nem Killer Bee; sumiram, como se nunca tivessem existido.

— Está terminado. Missão completa — disse Juha.

Aplausos lentos se faziam ouvir atrás de Juha. Era Kan, o parceiro Yuurei e membro Junior, quem homenageava o vencedor.

— Juha-senpai sempre dá show em suas lutas, apesar de tudo, porém, ainda acho que eu poderia ter dado conta daquele Jinchuuriki sozinho — disse Kan categoricamente.

— Você demoraria demais, Kan. Além disso, sua técnica é inapropriada para os planos do Líder-sama. Eu fui a melhor opção, afinal — retorquiu Juha.

— Mas não teve graça nenhuma! Você nem mesmo usou metade da sua força, Juha-senpai!

— A força total dos Yuurei só deve ser liberada contra o Alvo Primário. Nossa principal arma existe para neutralizá-lo, ele e apenas ele, não um adversário de calibre inferior — falou Juha, recolocando o capuz.

— Sei, sei. O Naruto Uzumaki. — Kan recolocou, aos murmúrios, a foice novamente nas costas. — Bem, com isso damos nossa saudação ao mundo ninja. Eu já não aguentava mais esperar. Ter que usar aquela organizaçãozinha ralé como fantoche? Qual era o nome deles mesmo? Oukami, certo? Aqueles incompetentes só atrapalharam nossos planos e nos fizeram ter que esperar mais dois anos para nos reorganizar! Tudo porque não conseguiram matar uma garota! Que palhaçada! — reclamou Kan.

— De todos os Yuurei... — Juha estendeu a mão para frente. No meio do ar abriu-se uma passagem feita de escuridão. — Você, Kan, é o mais tagarela. Ainda não acredito que você é meu parceiro.

— Ah, nem vem, Juha-senpai! Taka, o parceiro da Suki-senpai, é muito mais tagarela do que eu! Tem também a Hana, aquela pirralha tarada, e o Ryuumaru. Não reclame do parceiro que tem, Juha-senpai!

— Ei, vocês aí! — uma voz rouca e raivosa berrou próxima dos dois Yuurei.

Kan e Juha se viraram ao mesmo tempo e viram os reforços inimigos: cerca de duzentos ninjas com os coletes da Vila Oculta da Nuvem se armaram contra eles; Cee, armado com duas kunai, liderava um pelotão inteiro; ao lado dele estavam Samui, Karui e Omoi; mais à frente estava Darui, que tempos atrás fora o capitão da Primeira Companhia durante a Quarta Grande Guerra Ninja. Por fim, comandando todos os shinobi presentes ali, estava o Raikage, revestido de raios azulados, de semblante furioso.

— Respondam, seus malditos! O que fizeram com o Bee? O que fizeram com meu irmão? — bradou Ay a plenos pulmões.

Kan levou o braço à foice, mas Juha o interrompeu.

— Ah, qual é? Olha só quantos deles têm aqui! Deixe-me matá-los, Juha-senpai!

— É perda de tempo. Eu ficaria entediado. Completamos a missão, isso é o que importa — repreendeu Juha. — Atravesse o portal; irei logo em seguida.

— ME OUVIRAM, SEUS DESGRAÇADOS? RESPONDAM AGORA! — A voz trovejante e ameaçadora de Ay rasgou o ar montanha abaixo.

Kan, desapontado por ter matado apenas a guarda de Bee, desapareceu por entre o portal de escuridão. Juha Terumi, porém, se virou para todos os ninjas da Nuvem.

— O próprio Yondaime Raikage veio me ver. Que honra, eu diria — escarneceu Juha. Ay trincou os dentes, raivoso.

— Responda logo antes que eu arranque a sua cabeça, seu maldito! — exclamou Ay.

— Seu precioso irmão adotivo não está morto, Raikage — simplificou Juha. — Está preso sob minha custódia.

Aquelas palavras pareciam ainda mais repugnantes para o Raikage. Mais atrás, Karui e Omoi suspiraram levemente aliviados por seu professor ainda estar vivo; Samui, porém, ainda estava preocupada.

— Preso, é? — falou Ay em voz alta. — Quem vocês pensam que são para invadirem a minha vila e sequestrarem meu irmão, bastardos?

Juha sorriu por debaixo do capuz negro.

— Nós somos os Yuurei.

— Nunca ouvi falar nesse nome! — trovejou Ay. — Devolva meu irmão antes que eu te mate de uma vez, seu imbecil.

— Lamento, Raikage, mas você não está em condições de exigir nada no momento, e posso lhe garantir, também, que nem você e todos os seus homens juntos serão suficientes para me combater; levaria-os para a morte ao invés de trazer de volta seu irmão — assegurou Juha.

— Ora, seu... — Ay trincou os dentes novamente.

— Em seis dias... — continuou Juha — Killer Bee será morto. Existe uma forma de encontrá-lo. Obviamente, significa encontrar-nos também. O seu problema, Raikage, é que você nunca ouviu falar de nós, mas acalme-se, pois há um meio. Em todo o mundo ninja existem apenas três pessoas que sabem sobre nós. Encontre-as, e você nos achará. Falhe, e seu irmão será morto.

— Maldito! Eu vou te matar agora! — berrou o Raikage.

Ay avançou como um relâmpago contra Juha. Era um dos ninjas mais rápidos do planeta, bastaria um soco em alta velocidade para que o inimigo morresse na hora.

Quão grande foi a surpresa de todos quando o soco de Ay foi bloqueado pela mão envolta por raios de Juha.

— I-impossível! — O Raikage estava perplexo. Apenas duas pessoas, Minato Namikaze e Naruto Uzumaki, haviam se esquivado daquele soco, mas bloqueá-lo com apenas uma mão...

— Não tardará a chegar o dia em que todo o mundo ninja tremerá ao ouvir o nosso nome, assim como você treme agora diante de mim, Raikage — falou Juha com frieza. — Realize a sua busca, ela é mais óbvia do que parece. E, enquanto a realiza, pergunte-se a si mesmo: você tem medo de fantasmas?

Deixando um pasmo Raikage para trás, Juha deu as costas simplesmente e atravessou o portal de trevas, desaparecendo instantaneamente. O fantasma se fora.

— Como aquele cara conseguiu parar o soco do Raikage-sama daquele jeito? — perguntou Omoi. — Isso deveria ser impossível.

— E era. Pelo menos até agora. — Era incrível como Samui conseguia manter a voz calma em qualquer ocasião. — Isso só nos mostra o quão excepcionais são nossos inimigos.

— Yuurei... — Karui murmurava baixinho. — Não gosto desse nome; me dá uma sensação de frio.

À frente, odioso com sua incrível falta de competência, Ay cerrava o único punho, o esquerdo. O Raikage fora neutralizado com uma notável facilidade pelo inimigo.

— Já tem alguma ideia de quais “três pessoas” aquele desgraçado estava falando? — Ay disse, pressentindo que seu fiel subordinado, Darui, se aproximava.

— Não, Raikage-sama. Não tenho ideia — confessou Darui. — Desculpe-me.

O semblante de Ay caiu numa mescla de desolação e ódio. Ele sentia raiva, muita raiva, de si mesmo e dos Yuurei.

— Por quê? Por que atacar o Bee? O que aqueles caras queriam com ele? — dizia Ay a si mesmo.

A resposta era óbvia: Hachibi. Não havia outro motivo senão a captura do Bijuu de oito caudas. Ay se perguntava o porquê de, dentre três possíveis alvos — Naruto Uzumaki, Gaara do Deserto e Killer Bee —, os Yuurei escolheram seu irmão mais novo. Novamente, a resposta veio num súbito. Naruto era considerado o ninja mais forte do mundo, capturá-lo na Vila da Folha seria dificílimo; Gaara era o Kazekage e, apesar da idade, como Naruto, era poderosíssimo. Além disso, para se atingir um Kage, seria necessário passar por uma legião de guarnições, era raro haver missões bem-sucedidas de ataque direto a líderes de vila. Em contrapartida, Bee era um eremita, vivia isolado nas montanhas próximas da Vila da Nuvem, tendo apenas alguns ninjas como guardas. De fato, os Yuurei estavam certos ao escolherem-no como alvo. Ay se amaldiçoou pela displicência à segurança do irmão.

— Eu vou trazer meu irmão de volta — murmurou Ay. — Juro que vou livrá-lo dessa maldita organização crimino... — E a voz do Raikage morreu no ar.

— O que foi, Raikage-sama? — perguntou Darui.

— Apenas três pessoas sabem sobre eles, organização criminosa... é isso! Só pode ser isso! — Ay se virou para Darui, que compreendera na mesma hora também.

— Quando partimos, senhor? — perguntou Darui.

— Não, Darui. Você fica. Proteja a vila enquanto eu estiver fora — ordenou Ay.

— M-mas senhor, a viagem será perigosa! Devo protegê-lo e...

— Você é meu braço direito, Darui. Tenho certeza de que seria útil a mim durante a viagem, porém tenho mais certeza de que será útil à vila, ela precisa de proteção. Confio a você a segurança dela.

— Como desejar, Raikage-sama. — Darui acenou com a cabeça, acatando a ordem.

Ay se virou para Samui, Karui e Omoi, e ordenou:

— Vocês três irão comigo! Vocês viram a chegada daqueles desgraçados, poderão dar mais detalhes.

— Sim, senhor — Samui falou pelo trio.

— Dar mais detalhes? — Karui sussurrou ao ouvido de Omoi. — O que o Raikage-sama quis dizer?

Omoi balançou os ombros e fez uma careta como se dissesse “Eu também não entendi!”.

— Os demais — gritou o Raikage. — Voltem para a vila! Agora!

De imediato, todos os ninjas desapareceram, deixando o Raikage e o trio liderado por Samui para trás.

— Então — Ay se dirigiu aos jovens. — Vamos partir agora mesmo!

— C-com licença, Raikage-sama — perguntou Karui um pouco tímida. — Aonde nós iremos.

Ay ajeitou a camisa branca sobre os largos ombros e disse:

— Atrás das três pessoas que conhecem aqueles malditos. Nós vamos para a Vila da Folha.