Aquele Que Veio do Mar escrita por Ri Naldo


Capítulo 31
Ilusões


Notas iniciais do capítulo

Vamos mudar um pouco as coisas por aqui. Só o Dylan narrando ficava meio monótono, não? (Não precisa responder essa pergunta, Marina, eu já sei sua opinião), então, conheçam nossa nova narradora, Julieta Leicerd. Bom, vocês já conheciam ela, mas de qualquer modo:



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Bom, eu não sou muito boa nisso, mas eu vou tentar, já que o Dylan não tava lá pra contar o que eu passei pra poder chegar em Los Angeles.

Como vocês já sabem, eu fui parar em Sacramento. Lugar onde eu nasci, aliás. Bom, sabe o momento mais irônico da sua vida? Isso nem se compara com o que eu passei. Pousei exatamente no lugar onde havia ocorrido o torneio de arco e flecha. Maldito destino. A praça estava vazia, o que era incrível já que era meio-dia. Fiquei meio confusa, sim, porque procurei os outros ao meu redor, mas não achei ninguém, naturalmente, quando uma mensagem de íris apareceu na minha frente. Era o Dylan. Conversei com ele e ele me explicou tudo, mas, no fim, a menina ao lado dele começou a se transformar em algo estranho, e eu soube que ele estava em perigo. Eu tinha que ir à Los Angeles o mais rápido possível. Comecei a andar pelo parque, reconhecendo cada canto de lá, principalmente onde a arquibancada havia ficado. Lágrimas brotaram dos meus olhos, coisa que não acontecia há muito tempo. Eu sempre engolia o choro, aliás, eu não gostava de chorar, principalmente se eu estivesse acompanhada, mas eu não me aguentei. Vendo o lugar onde eu havia perdido minha mãe, um tempo atrás, foi como uma pancada bem forte do meu peito. Estava tão abatida que nem percebi imediatamente um borrão preto vindo em minha direção. Quando vi, pensei que era a Sra. O’Leary, e que ela tinha vindo parar em Sacramento comigo também, mas eram dois cachorros, e certamente a Sra. O’Leary não tinha duas cabeças.

Eram dois cães infernais, ou melhor, só um, com duas cabeças. Deuses, de onde aquele tinha saído? Não se pode ficar cinco minutos em paz sendo um semideus! Ele correu em minha direção com uma velocidade incrível, eu peguei uma flecha da minha aljava e atirei bem no olho dele, mas alguns momentos antes de a flecha o atingir, ele viajou nas sombras, sumindo do meu campo de visão. A flecha foi parar em uma árvore próxima. Droga, tinha esquecido desse detalhe. Como você ganha de um inimigo que não pode atingir? As aulas do Acampamento viriam a calhar agora, se o meu cérebro não estivesse preocupado em fugir o mais rápido possível. Localizei novamente o cão infernal, e ele estava tão próximo de mim que me admirei de ele não ter soltado os dentes e me transformado em Julieta moída. Corri o mais rápido que eu podia, mas, devido ao excesso de lipídios — vulgo gordura — em meu corpo, eu me cansei rápido. Correr não era o meu forte, geralmente nas missões eu me escondia em alguma árvore próxima e pegava o oponente de surpresa, mas esse não era o caso. Ou talvez fosse. Atirei outra flecha em sua direção, e, no momento que ele viajou nas sombras, eu subi em uma árvore próxima. Ele apareceu alguns metros à esquerda, e olhou para os lados confuso, mas eu sabia que meu pequeno truque não ia durar tanto, os cachorros têm um olfato perfeito, e os cães infernais, então, cem vezes mais aguçado. Tinha no máximo dez segundos até ele me achar. Pensei nas inúmeras aulas de combate à distância desde que cheguei no Acampamento. Eu poderia surpreendê-lo com uma flecha, mas se ele percebesse, e se livrasse dela, meu disfarce estaria acabado. Talvez eu pudesse chegar mais perto dele, mas isso só faria meu cheiro ficar mais forte. E ninguém parecia me notar na árvore. Ou melhor, ninguém estava ali. As ruas e as casas estavam completamente vazias.

Tarde demais, gastei muito tempo pensando. Quando olhei pra baixo, o cão — os seria os cães? — estava olhando diretamente pra mim. Ele começou a bater, arranhar e morder a árvore na qual eu estava, tentando fazê-la cair. Um barulho de galho quebrando comprovou minha tese. Antes de a árvore bater no chão, eu pulei, começando a correr no mesmo instante, e o cão no meu encalço. Mas eu já tinha um plano agora. Como você ganha de um inimigo que não pode atingir? Você engana ele. Estávamos quase saindo do parque agora. O número de árvores havia diminuído. Observando as duas vezes que ele escapou das minhas flechas, eu consegui gravar o padrão de movimento dele. O cão fugia da flecha, mas mesmo assim queria alcançar seu alvo, o que significava que… Parei no lugar em que eu estava, ciente de que o cachorro continuava a me seguir. Peguei duas flechas da minha aljava. Esperei ele chegar perto — muito perto — e atirei. Como previsto, ele viajou nas sombras mais uma vez, e, sem pensar, eu virei para a direção da árvore mais próxima no meu campo de visão e soltei a outra flecha. No exato momento que o cão apareceu, a flecha o atingiu, transformando-o em pó. Suspirei aliviada, mas não por muito tempo. O pó começou a se reconstituir, se transformando em um monstro completamente diferente de um cão infernal — uma Hidra.

— Por Hades, o que está acontecendo aqui? — exclamei.

Não ousei atirar outra flecha nela, já que quando você destrói uma cabeça, duas nascem no lugar, só fiz o que foi sensato: corri. Mas ela não parecia ligar pra esse fato, suas cabeças começaram a se multiplicar do nada, formando tantas que eu perdi a conta.

— O que tá acontecendo? — repeti pra mim mesma, tão estupefata que não conseguia nem correr.

A Hidra começou a mudar de forma, e cada uma de suas inúmeras cabeças tomou um corpo, onde cresceram braços, pernas e chifres, Eram górgonas, muitas delas. Elas voaram em minha direção, e eu caí no chão. Estavam apontando suas garras muito afiadas para mim. Era meu fim. Eu fechei os olhos e soltei um último grito.

Mas nada aconteceu, eu não senti dor alguma, só uma mão tocando meu braço. Abri os olhos, e tudo tinha sumido. Era como se nada tivesse acontecido. As górgonas não estavam ali. A árvore que o cão havia derrubado agora estava como sempre esteve, e o parque estava cheio de gente. Adultos conversavam e crianças corriam. Parecia que outro torneio de arco-e-flecha estava sendo realizado no exato momento, porque arquibancadas estavam no exato lugar que foram postas no mesmo lugar que eu me lembrei, e alvos estavam um ao lado do outro, no outro lado do parque. Um pequeno grupo de pessoas olhava pra mim, e um homem estava com a mão em meu braço. Eu devia estar parecendo uma louca, deitada no chão e gritando.

— Tudo bem com você? — ele perguntou. Assenti.

— Você precisa de um copo de água?

— Não.

— Certo… — ele se levantou.

— Senhor — chamei.

— Sim? — ele se virou para mim novamente.

— Pode me levar à Los Angeles?


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