Aquele Que Veio do Mar escrita por Ri Naldo
— Então deixa eu ver se entendi bem… Vocês rodaram os Estados Unidos de leste a oeste, porque o tal semideus chamado Percy foi sequestrado por um ciclope, que se autodenomina o mais forte, e, pelo que tudo indica, seu esconderijo ou seja lá como ele chama está aqui, em Los Angeles? E vocês foram separados porque aquela cadela infernal comeu vegetais ao invés de carne e perdeu o controle durante a viagem nas sombras?
— Sim. Agora deixe eu ver se entendi bem… Vocês, quando tiveram a oportunidade, colocaram um GPS na minha mochila, de modo que eu não pudesse ver, para, em caso de nós conseguirmos tirar a maldição de vocês, então poderiam nos seguir e nos ajudar na missão, mesmo sem saber qual era?
— Sim.
— E como vocês perceberam que a maldição tinha saído? — perguntei.
— Os monstros não apareceram. Mas, afinal, onde fica esse esconderijo, ou seja lá como ele chama? — Ed parecia pronto pra batalha.
— Eu não sei.
— Então como pretende chegar lá? — Anastasius revirou os olhos.
— Eu tive um sonho, e eu meio que vi o local, só não sei onde é. Se chegarmos perto o suficiente, talvez eu possa reconhecer.
— E o que estamos esperando? Olho vivo e faro fino — disse Garn.
— Pra você é fácil…
— Quem sabe se você animar Hermes um pouco ele te dá uma benção…
— Quem, pelos deuses, iria querer uma benção de Hermes? — perguntou Anastasius.
— Tem seus prós e seus contras — falei.
— Mais contras que prós.
— Então, pra que lado nós vamos? — Ed perguntou, interrompendo a discussão.
— Pra qualquer um que tenha uma floresta.
— Cara, você, em algum momento, já viu floresta em Los Angeles? Isso aqui é tudo desmatado! Se brincar, não há uma única área verde sequer.
— Você, em algum momento, já viu isso em Los Angeles? — apontei para o pó deixado por seja lá o que fossem aqueles monstros. Acho que eu não estaria contando isso pra vocês se tivessem se transformado completamente.
— Eu diria que devíamos seguir o rio, sabe… Pelo que aprendi nas aulas de ciências, florestas têm sempre um rio por perto. Então se seguirmos o curso…
— Se dermos de cara em alguma cachoeira, eu corto seu pescoço enquanto caímos — Anastasius analisou a margem do rio.
Começamos a andar.
— Então, quando os outros vão chegar? — perguntou Ed.
— Bom, eu avisei à Julieta que ela devia chamar todos, como vocês ouviram. Acho que estão a caminho daqui.
— E como eles vão saber onde nós estamos?
— Ah, claro, quase ia me esquecendo — disse Garn, estendendo a mão para minha mochila.
Tirei ela dos ombros e entreguei a ele, que abriu e tirou um dispositivo de um lugar que eu nem sabia que existia lá. Ele revirou até achar um botão, e o apertou.
— Pronto.
— O que exatamente você fez? — perguntei.
— Não foi só na sua mochila que eu instalei um GPS.
— Vocês sabiam disso? — apontei para Ed e Anastasius, que assentiram. — Isso é contra a lei, sabiam?
— Ué, as leis gregas perderam suas efetividades uns três mil anos atrás.
— Estou falando das leis dos Estados Unidos.
— Estamos tentando te ajudar — disse Anastasius.
— Então o que exatamente você fez? — eu disse para Garn.
— Ativei um sensor nos outros três GPS, então agora sua posição está brilhando em rosa no visor deles.
— Não podia ser outra cor, né? — falei, pensando no que Louise pensaria disso quando visse.
— Rosa é uma cor que chama atenção, então eles não vão ignorar tão facilmente.
— Tá, mas como eles vão achar o GPS se você escondeu ele no buraco pro inferno de cada mochila?
— Agora eles estão emitindo sons e brilhando, e não pararão até serem ligados.
— Onde você arrumou isso? — franzi o cenho.
Ele pareceu ofendido.
— Eu mesmo fiz.
— É, tem mais prós que contras — virei pra Anastasius, que revirou os olhos e deu de ombros.
Andamos em silêncio por um bom tempo, passando por mais poeira até que a vegetação começou a aparecer. Mínima, mas já era um começo. Pequenas plantas já iam aparecendo às margens do rio. Mas soubemos que aquele era o caminho certo quando vimos a primeira árvore. Estava morta, mas indicava que já houve mais árvores por ali, e talvez alguma viva mais à frente. Então àrvores vivas começaram a aparecer, e de repente estávamos de frente para uma floresta muito extensa.
— Cara, isso realmente é Los Angeles? — falei.
— Nunca imaginei que Los Angeles tivesse uma floresta. Na verdade… — começou Gabriel.
De repente, uma imagem surgiu na nossa frente. Era uma mensagem de íris, de Colin.
— Dylan, é você?
— Acho que sim…
— Quem são es… Ah. Olá, Ed, Garn, Nasty — ele acenou, Anastasius fez uma cara feia. — Onde você tá? Julieta me disse que você tá em Los Angeles, e eu já cheguei aqui, mas bem… Não consigo encontrar você em lugar nenhum.
— Eu tô na floresta daqui. Cadê as outras duas, vieram com você?
— Não, elas ainda não chegaram. San Diego e Sacramento ficam demasiado longe daqui. Mas já estão perto. — cara, quem fala “demasiado”? — Mas, um momento, você disse floresta?
— Sim, olhe ao redor.
— Vocês. Saiam daí imediatamente. — ele franziu o cenho.
— O quê? Mas por quê?
— Não há florestas em Los Angeles.
— Como assim, mas… Nós estamos em uma, não é?
— Não, Dylan, eu sei disso. Não há florestas por aqui. Não tão perto da cidade. Vocês t… DYLAN, ATRÁS DE VOCÊ! — me assustei quando ele gritou, e me virei imediatamente, mas já era tarde demais. Eu estava paralisado.
Odiava esse truque barato. Ela estalou os dedos, e a imagem de Colin, que continuava gritando, desapareceu.
— Ora, ora, semideuses… É só eu “libertar” vocês e já começam a arranjar confusão? Se juntando com esse idiota pra salvar outro idiota? — Talassa passou a mão pelo cabelo de Ed. — Isso vai ser divertido.
É, realmente. Sozinhos, paralisados, sem ajuda aparente, com reforços à dezenas de quilômetros daqui, que decididamente não vão chegar até o anoitecer. Uma bruxa feiosa nos raptando e nos levando para quem quer que fosse seu maldito “chefe”. Claro, mal posso esperar. Muito divertido.
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