CAPÍTULO 5 - NOSSOS DESEJOS

Depois que o Príncipe Noah me deixou em meu quarto, fiquei pensando sobre o que ele disse: “Por desejar tê-la beijado”. Foi nessa hora que realmente tive certeza que ele havia roubado meu coração. Durante a noite foi difícil dormir, pois fiquei imaginando inúmeras maneiras que eu poderia tê-lo beijado, mas eu não sou assim.

Quando minhas criadas me acordaram, eu estava parecendo um zumbi, com muitas olheiras e um cansaço terrível. Elas não me fizeram nenhuma pergunta, mas pude ver em seus olhos que estavam felizes e tristes ao mesmo tempo; hoje é o funeral de Emma. Estou colocando um vestido preto simples que vai até o joelho e uma sapatilha preta; Fui informada que o funeral acontecerá antes do café da manha, por este motivo acordei cedo. Não havia nenhuma Selecionada acordada, só eu; Desci as escadas e quando estava quase no final dos degraus vejo Noah me esperando.

Ele está vestindo um terno preto que mostra a perfeição de seu corpo, ele não é magro, mas também não é muito forte; seu rosto esta sem nenhuma expressão e se há alguma é impossível de decifra-la, seus olhos azuis ao contrario do resto do corpo me diz que ele não dormiu por algumas horas, mas isso deve ser coisa de minha cabeça.

“Bom Dia Alteza” – faço uma reverência. Não sei como reagir devido a circunstancias de meu coração.

“Bom Dia senhorita Scarlett” – ele beija minha mão. Ele não percebe, mas esse gesto faz com borboletas comecem a voar dentro de minha barriga, Para com isso Scarlett! Repreendo-me, não posso me dar o luxo de demonstrar nenhuma emoção ainda, não basta eu ter assumido que queria beija-lo.

“O enterro de Emma será realizado em algumas horas no Cemitério de Nova Illéa, eu levarei a senhorita” – ele diz graciosamente e sorri.

“Tudo bem e os pais dela?” – pergunto. Os pais de Emma são maravilhosos, atenciosos e amavam demais Emma, não sei como devem estar se sentindo. Ele percebe o quanto estou ansiosa e preocupada.

“Guardas foram busca-los e neste momento estão indo á caminho do Cemitério” – ele diz rapidamente como se estivesse lendo algum folheto. Eu sorrio timidamente.

“Vamos?” – digo tentando disfarçar a tristeza que agora quer tomar conta de mim.

Percorremos todo o caminho do Palácio ao Cemitério quietos e sem dizer nenhuma palavra. Eu apenas olhava para fora do carro, observando como o mundo ficou horrível com a partida de Emma. Algumas vezes eu o olhava para observa-lo, mas logo desviava o rosto.

“Vamos parar com isso?” – pergunta de repente o Príncipe Noah. Confusa eu o olho.

“Como assim?”

“Essa vergonha mutua por termos compartilhado nossos desejos” – ele diz olhando no fundo dos meus olhos. Nossos desejos. Nossos desejos. Nossos desejos.

“Eu não sei do que estamos falando” – me faço de desentendida para ver se ele esquece, assim não vou passar mais vergonha. Sinto minhas bochechas ficarem vermelhas. Ele me olha arqueando as sobrancelhas o que o faz ficar extremamente fofo.

“Esta bem, eu sei, nossos desejos” – digo finalmente depois de alguns segundos. Ele sorri quando digo.

“Você acredita em amor á primeira vista?” – ele pergunta olhando para a floresta que passa ao nosso lado.

“Bom, eu acredito que sim” – digo confiantemente, ele me olha crédulo.

“Quais são os seus motivos para acreditar nisso?” – desvio o meu olhar de seus olhos para poder pensar melhor.

“Acredito que por causa dos livros” – o olho novamente.

“Por quê?”

“Qual é o porquê de você ler Alteza?” – pergunto sorrindo, finalmente entraríamos num assunto que eu gostava de falar. Ele olha para a janela para pensar e volta a me olhar.

“Porque eu gosto” – resposta rápida, simples e sem necessidade de mais argumentos. Sorrio.

“Bom, para mim, Scarlett Müller, eu leio, pois os livros me fazem fugir da realidade...” – olho para um ponto cego e começo a imaginar o mundo que se encontra em paginas de papel que fazem sua cabeça viajar – “...nos livros você pode ser o que quiser, pode sentir o que quiser, se apaixona por quem quiser e quando isso acontece é perfeito...” – o olho maravilhada – “...você não precisa se perguntar se ama ou não, se é correto ou não, você apenas ama e isso é maravilhoso, você não tem medo de se machucar, você não tem medo de não ser feliz, você é apenas o que você quer que seja, por isso, sim, acredito em amor da primeira vista.” – digo sorrindo lembrando das várias vezes em que mergulhei em um novo mundo em que eu podia ser quem eu quiser. Novamente sinto faíscas de vontade saírem dos olhos de Noah, ele sorri.

“Boa resposta” – e assim termina a nossa conversa. Essa conversa pode ter acabado, mas uma nova começou uma por olhares e sorrisos, sei que não deveria fantasiar, mas meu coração esta flutuando, nunca senti algo assim por alguém e nunca pensei que me sentiria assim pelo Príncipe.

O enterro de Emma passou como um borrão por mim. Lembro-me de abraçar os pais de Emma, lembro-me de chorar com eles, lembro-me de varias pessoas tentando me confortar, mas só isso. É como se eu não estivesse realmente lá. Quando acabou fomos imediatamente para o Palácio, dessa vez fui sozinha, pois o Príncipe Noah deveria acertar algumas coisas.

As pessoas saem da sua vida, mas te deixam marcas. Muitas vezes marcas que nunca se cicatrizam e é assim que me sinto em relação a minha mãe e a Emma; Perdi tantas pessoas durante a minha vida que não sei se vou aguentar perder mais uma. Não quero mais sofrer, mas mesmo assim me permito amar as pessoas.

“A senhorita vai ser acompanhada para o café da manhã” – diz a Senhora Marie. Uma criada de qual não sei o nome me conduz ao Salão de Refeição. Quero poder dizer que o Café estava bom, que a presença das outras Selecionadas me davam alegria, mas estaria mentindo. Nada me parece estar certo.

Quando o café termina, nos dirigimos para o Salão das Mulheres todas me olham com pena, como se quisessem dizer algo para me confortar, mas achasse errado fazer o mesmo.

“Eu sinto muito” – diz Mary Margareth, eu a abraço.

“Obrigada.” – sentamos e conversamos. Contei a ela sobre o quase beijo com o Príncipe, no começo ela não gostou muito da ideia, mas depois ficou feliz em compartilhar sua experiência no seu primeiro encontro com o Príncipe que aconteceu no dia em que Emma morreu.

“Foi tão magico. Ele me levou para passear pelo jardim, tomar chá e ainda me deu um beijo.” – Okay, não gostei muito dessa parte, mas preferi omitir para Mary Margareth, o Príncipe esta vendo suas opções. Isso é extremamente normal. Eu acho.

Ainda perdida na história de Mary Margareth, Marie aparece.

“Senhoritas, atenção, por favor” – diz olhando para todas.

“Essa semana vocês terão um desafio...” – todas estremecem – “...vocês terão que produzir um encontro com o Príncipe, local, comida, vocês terão que organizar tudo. Mas o encontro não será para vocês, mas para outra Selecionada” – essa ultima frase causa um alvoroço entre as meninas. Ela pega uma prancheta e começa a dizer o nome das duplas. Eu fiquei com Emily Bonan. Cada dia da semana será para uma dupla. Eu e Emily seremos depois de amanhã, teremos apenas um dia e meio para organizar tudo.

Tendo em vista que temos que organizar um encontro para um provável rival é de se temer que a mesma tente te prejudicar, mas eu não vou fazer isso. Eu vou organizar o melhor encontro que eles poderiam ter, apesar de não gostar de Emily.

Pego meu caderno de anotações.

“Aonde eu iria querer um encontro?” – fiquei pensando, pensando e pensando. Nunca fui a um, como deveria saber?

Para começar eu não consegui prestar muito atenção no que estou fazendo, os olhos de Noah ainda estão em minha memória. Preciso fazer algo que não só o Príncipe goste, mas que também Emily e eu, pois mesmo que não seja para mim, o Príncipe vai saber que fui eu quem organizou.

Sem pensar profundamente comecei a colocar as ideias em uma folha.

Primeira coisa que um encontro deveria ter: Comida. Então preparo o cardápio; e assim fui numerando tudo o que é necessário para um encontro perfeito. Corri como louca por todo o Palácio para encontrar o que eu estava precisando. Na primeira noite, o jantar é de Emily e na manhã seguinte é o meu; um encontro durante o dia tomara que seja legal. Até essa noite a minha vida no Palácio foi de comer e organizar um encontro perfeito e agora que vejo a realização do meu esforço estou muito feliz.

No começo não sabia realmente onde eu faria o encontro dos dois, mas depois de andar pelo Palácio encontrei um canto com muitas arvores, flores e privacidade. Coloquei uma pequena mesa de vidro e duas cadeiras brancas macias, nas arvores coloquei muitas luzes para parecer que estrelas haviam descido do céu para observa-los, muitas pétalas de rosas pela grama, talheres arrumados e disponibilizados em perfeição, o melhor cardápio de todos, duas velas acesas no centro da mesa e uma pequena rosa vermelha sobre os pratos, pedi para que um violinista tocasse baixo e continuamente uma musica romântica e convidativa, pedi para o chefe o melhor dos vinhos e os melhores criados vestidos adequadamente para um encontro. Para quem não sabia como era um encontro eu acho que fui muito bem; toda a minha felicidade se foi quando percebi que eu adoraria um encontro assim, coloquei minha alma e não sou eu quem vai desfruta-lo. Afasto esses pensamentos, afinal, o mais importante não é o local em si, mas com quem estamos. Espero que eles aproveitem – penso. Sorrindo deixo o local privado esperando que eles gostem do meu trabalho, apesar do que meu coração me dizer que é um lugar muito escondido para os dois.

“Para com isso Scarlett só se passaram alguns dias, você não esta certa sobre os seus sentimentos” - digo tentando me convencer.

“Não está?” – olho assustada procurando a voz, mas antes de encontrar de onde ela vinha, eu já sabia quem era. Noah Schreave. Eu não sei o que responder, ele percebe minha hesitação.

“Não precise ficar com vergonha e nem responder” – diz sorrindo graciosamente. Eu suspiro aliviada, pois não precisarei lidar com meus sentimentos confusos agora, o que aconteceu comigo?

“A senhorita fez um belo trabalho aqui” – diz me mostrando o cantinho reservado. Eu sorri.

“Obrigada, fiz o meu melhor” – digo passando a mão nas flores.

“O que é isto?” – pergunta o Príncipe olhando para as rosas que estão no prato.

“Rosas Alteza” – digo entusiasmada. Ele pega a rosa que esta em um dos pratos e a cheira.

“Eu amo as rosas, seu cheiro é natural, doce e leve” – concordo com ele, rosas são minhas flores preferidas.

“Sim, elas são magnificas” – digo o observando. Ele me olha com aqueles olhos azuis paralisantes.

“Sobre os seus sentimentos...” – ele começa – “...como assim você não está certa?”

“Eu não sei explicar Alteza, é só muito pouco tempo...” – digo envergonhada – “Eu não sei dizer” – realmente não sei. Como em poucos dias consegui me apaixonar? Será que isso é só uma ilusão?

Enquanto estou perdida em meus pensamentos, não percebo quando o Príncipe se aproximou de mim, quando percebo sua boca esta centímetros da minha, sua respiração lenta e calorosa, seus olhos olhando fundo na minha alma, meu coração acelerado, o que só acontecia com a sua aproximação. Eu não sei o que fazer.

“Você não esta certa sobre os seus sentimentos, mas eu estou.” – ele diz lentamente. Agora parece que as borboletas de meu estomago estão indo para minha cabeça, não estou conseguindo pensar direito.

“O que eu preciso fazer para você acreditar?” – ele diz suavemente perto do meu ouvido. Quando sua respiração toca minha pele, envia cargas elétricas para cada centímetro do meu corpo.

“Nada, eu acredito.” – e é nesse momento que num movimento desesperador seus lábios tocam os meus. Quando isso acontece tento me afastar, mas as borboletas dentro de mim me dizem que é o certo a se fazer. Meus lábios se separam dos deles, eu olho diretamente para os seus olhos e eu vejo algo que ninguém nunca sentiu por mim: desejo. E é nesse momento que me entrego aos nossos desejos e o beijo como se fosse o ultimo ato que faria em vida.