Mistérios do coração escrita por Anjo Doce


Capítulo 6
Sexto




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/503815/chapter/6

Num restaurante belo, mas com um toque de simplicidade, Julian e Saori jantavam e conversavam.

– Espero que você não tenha se importado com a modéstia desse restaurante, mas o escolhi por tem um excelente serviço e deliciosos pratos.

– De forma alguma. Quando eu lhe pedir para escolher um local para jantamos, pensei exatamente nem local assim, tranquilo e de qualidade. E eu sabia que a senhorita seria a pessoa indicada para essa escolha, já que conhece o Japão, deferente de mim. – depois de um gole de suco completou – O Japão tem uma culinária exótica, mas muito saborosa!

O ambiente era realmente tranquilo, como uma bela decoração misturando luz e vegetação, com cadeiras acochadas com tecido claro, garçons atenciosos e comida tipicamente japonesa.

Saori estava bem vestida, fugindo do tradicional branco, usava um vestido longuete, de alças finas, com estampas de flores azuis. Ela reparou que Julian estava elegante, mas de uma forma natural. Usava uma calça social clara e uma blusa pólo de tom azul escuro.

– Bem, você deve ter estranhado meu convite repentino e minha presença aqui no Japão, certo? Mas eu tenho mandado alguns e-mails para a fundação, ponderando a respeito do meu projeto, porém não obtive resposta. Sendo assim, resolvi entrar em contado diretamente com a senhorita.

– Realmente, o seu contado pessoal me surpreendeu, mas ao contrário do que você pensa, eu soube algo referente a seu projeto, há alguns dias, e a equipe responsável, nessa área, está analisando.

– Espero que aprovem. Eu gostaria muito da ajuda de uma organização como a sua: séria e experiente, para por em prática essa idéia.

– Preciso disser que é interessante saber que alguém com você tem se preocupado com causas sociais, nos últimos anos.

– Imagino. Creio que minha mudança é conhecida por você, mas eu gostaria de explicar o que aconteceu comigo para que possa entender melhor minhas ideias sociais. – e com um olhar perdido em lembranças ele continuou – Depois da noite do meu aniversário de 16 anos, no qual a senhorita estava, fui levado por Tetis, descobrir que Poseidon estava adormecido em meu corpo, fui induzido por Kanon a tentar dominar além dos mares, a terra também. Assim manipulei a Hilda e depois entrei em combate direto com você. – abaixou o olhar – Isso tudo você sabe, mas não sabe que em um determinado momento minha consciência apagou. – encarou Saori que prestou atenção em cada palavra dita por Juliam – Eu não me lembro do confronto com seus guerreiros, só sei que houve, pois Sorento e Tetis me contaram. Quando eu recuperei a consciência estava deitado próximo ao mar e enfrente de minha casa. Quando vi a destruição ao meu redor sentiu uma dor muito grande. E essa dor só aumentou ao saber de tudo aconteceu no mundo todo. Eu senti uma culpa estrondosa. Pensei: por algo tão mesquinho eu praticamente destruir o mundo! Pessoas morreram ou perderam tudo que possuíam, por nada? Afinal a ambição da conquista foi literalmente por água a baixo.

Julian parou de falar por um tempo. Aquelas lembranças não faziam bem para ele. Ele se sentia sujo e indigno de continuar vivo e impune. Mesmo para ele que se sentia muito importante e a acima do resto do mundo, o sofrimento de tantas pessoas, o fizeram analisar sua vida até então. Ele nunca tinha pensado na dor do outro. O mundo dele se resumia em seus interesses pessoais. Mas toda a sua soberba parecia não fazer mais sentido algum.

– Dentro de mim, passou a gritar um sentimento de solidariedade e amor pelas pessoas. Então meu primeiro ato foi pedir para Sorento me acompanhar pelo mundo, pelos lugares mais devastados pela chuva e ações desastrosas do mar. Eu queria levar um pouco de esperança. Eu pedi a Sorento que tocasse canções para acalentar os corações tristes e distribuir dinheiro, comida, remédios, roupas e tudo que tivesse em meu alcance. Também ajudei governos mundiais, com doações financeiras, para reconstruir lugares destruídos. E essa tem sido minha missão desde então: ajudar quem precisa.

Saori estava paralisada e totalmente abismada com todo aquele relato. Mas antes de proferir algum sobre tudo que ouviu, Julian afirmou:

– De forma alguma quero que pense que estou contando tudo isso com algo triunfante para mim. Tudo que fiz e faço pelas pessoas não é para enaltecer meu ego. E não estou contando isso para que me admire. Na verdade nem gosto de conta isso para as pessoas, sabe? Para ninguém me elevar à categoria de herói, como já tentaram fazer. Eu estou lhe contando tudo isso como uma forma de desabafo e também tentando demonstrar a minha preocupação com os mais carentes. Meu projeto é para isso, para ajudar as pessoas que precisão. E não me engrandecer.

– Entendo, mas não tenho como não me surpreender com todo seu desabafo. Também posso te compreender. Julian, eu também fui uma pessoa arrogante, minada e achava que o mundo tinha que fazer minha vontade.

– Eu não sabia...

– Isso foi antes de você me conhecer. Contudo, aos poucos fui percebendo que existiam coisas mais valorosas no mundo do que o meu ego. – contou fixando os olhos em suas mãos sobre a mesa – Porém o despertar definitivo foi quando soube quem eu era: a reencarnação de Atena. – olhou para Julian com um leve sorriso e continuou – Possuímos histórias parecidas, não acha?

– Que interessante! Então podemos nos compreender.

– Exato.

– Isso é bom, mas será que você também se sente solitário como eu?

– Solitário? Por que se sente assim?

– Porque eu sou solitário. Minha mudança de vida afastou as pessoas de mim. Até que foi melhor assim, pois descobri que não tinha amigos verdadeiros. Todos que me cercavam eram interesseiros, querendo vantagem ou se divertir com que eu poderia oferecer. Por isso me bajulavam. Quando deixei de dar vantagem, afastam-se e, muitas delas me criticam. Até hoje acham que eu estou desperdiçando minha fortuna.

– Mas esse caso não ter a companhia dessas pessoas é ótimo. Eram falsos e aproveitados. Nunca foram seus amigos.

– Eu sei. Também penso assim, mas viver solitariamente é ruim. Eu convivo com as pessoas da minha empresa, mas não chega a ser amizade. Alguns foram generais de Poseidon e passamos a trabalhar comigo. Os únicos amigos são Tetis e Sorento. Ele é meu amigo de longa data e como ela eu tive um romance passageiro, mas depois ficamos amigos mesmo. Mas agora, até amizade de Sorento eu perdi. – afirmou tristemente.

– É por quê? - depois da pergunta, tampou a boca com uma das mãos – Perdoe-me pela indiscrição. Foi um impulso.

– Não se preocupe. – deu um leve sorriso – Esta sendo tão bom conversar com você que eu quero contar e continuar desabafando. Bem, minha amizade com Sorento foi abalado por ciúme, por incrível que pareça. E eu me pergunto: Como um cara tão centrado com Sorento deixou um sentimento tão pequeno o domina? Pois bens, depois do meu romance com Tetis ter acabou, ela e Sorento passaram a se entender e começaram a namora. Eu fique feliz de ver os dois juntos. De repente Sorento passou a ter um ciúme doentio por Tetis e ela não podia chegar perto de mim. Então nossa amizade ficou abalada. Ele não confia mais em mim. A Tetis é determinada e não deixou que ele a controlasse, por isso não se afastou de mim, porém preferi ficar manter a distância para não prejudicá-los.

Os dois ficaram calados. Julian pela tristeza e Saori por condolência, afinal esse sentimento de solidão, ela não conhecia, pois sempre teve pessoa ao seu redor, que nunca se afastaram dele. Mesmo que ela confie em poucos para abrir seus sentimentos.

– Você esta me mostrando ser uma pessoa tão agradável, será que não é você que anda se afastando das pessoas, Julian?

– Pode até ser. Entretanto não consigo encontra pessoas que me propicie momentos agradáveis, pelo menos no meu ciclo. Até uma namorada é difícil de conseguir. As mulheres que aparecem são bonitas, mas sem conteúdo. Tô cansado! Se alguma delas fosse como você, que além de bonita e inteligente, doce, sincera, é preocupada com as pessoas e não só com seu mundo, eu teria até casado. – ele parou de falar e olhou para a face de Saori que demonstrava embaraço – Opa! Acho que não ponderei minhas palavras... Se eu pareci galanteador com meu comentário, desconsidere. – falou sem graça.

– Sem problema. – afirmou sorrindo – Entendi seu ponto de vista.

Depois de um gole de suco ele continuou a falar com o olhar perdido:

– Acho que ninguém se encaixa no meu mundo, ou como você disse: talvez seja eu que não deixo ninguém se enquadra a mim. Ou seja, o problema sou eu. – respirou fundo e olhou para Saori – Enfim já falei muito de mim, acabei mudando o rumo de nossa conversar. Pretendo ficar aqui mais uns dias e espero que dentre esse tempo sua equipe tenha alguma notícia para me dar. Seja o que espero ou não.

Saori fez uma analise rápida e revelou:

– Julian, quero que saiba que tomei uma decisão nesse exato momento: você terá a parceria da fundação. Porque eu aprovo seu projeto.

– Que ótimo! Estou muito feliz. Ajuda da fundação fará muita gente feliz. – vibrou - Mas posso saber o que fez você tomar essa decisão tão rápida?

– Nosso jantar me fez realmente conhecer melhor você e acreditar em suas boas intenções. Algo que eu aprendi com meu avô é que devemos apoiar idéias boas e inovadores. A Fundação Graad só tem o respeito e a importância de hoje, pois seus representantes sabem valorizar bons parceiros pelo mundo. Como diz o ditado: a união faz força. Tenho certeza que assim com a fundação somará ao seu projeto, ele também somará a fundação.

– Então acho que essa notícia merece um brinde. O que acha? Você aceita um drink?

– Pode ser.

########

Saori chegou a sua mansão, se sentia muito bem, o jantar foi agradável, há muito tempo não se sentia assim. Tatsume abiu a porta traseira do carro e ela saiu.

– A senhorita me parece bem, mas esta tão calada. Esta tudo bem?

– Sim. Estou ótima. Pode se recolher e descansar. Eu também vou, pois preciso acordar cedo para ir à fundação.

O mordomo seguiu seu caminho e Saori foi caminhando lentamente, observando o céu. Então ela viu no jardim, sentados num banco, Shun e June. A amazona estava entre as pernas do cavaleiro, encontrando as costas no peito dele, que a abraçava. Seus rostos estavam encostados e eles tão observavam o céu.

– É tão bonito vê-los juntos. Fazem um casal tão lindo! – pensou.

O casal viu Saori se aproximando e a saudaram.

– Boa noite para você também. – retribuiu Saori.

– O jantar rendeu, não? – brincou Shun.

– Com certeza. Eu e Julian adentramos numa conversar sem fim, mas foi muito boa. Realmente Julian mudou da água para o vinho.

– Então foi valido ter ido jantar com ele?

– Foi, Shun. E o melhor é que resolvi que a fundação vai apoiá-lo no seu projeto. Amanhã ele vai me acompanhar da sede da fundação. – Saori parecia muito feliz, tinha um brilho nos olhos e isso não passou despercebido de Shun. – Bem, vou dormir. Continuem curtindo essa linda noite.

######

Deitada em sua cama Saori estava custando a dormir. Lembrava da pergunta de Julian: “... será que você também se sente solitário como eu? ” Solitária não. Nem poderia se sentir assim, pois tinha a amizade, o carinho e o respeito de todos, sejam empregados ou cavaleiros. Não faltavam pessoas interessadas em seu bem, porém lá no seu interior ela se sentia solitária sim, solidão de ter alguém em seu lado, para poder amar e ser amada.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Mistérios do coração" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.