Ele seguiu até mim enquanto eu me levantava e limpava minha calça da terra, não se deu tempo para ver sua expressão porque o mesmo me puxou para sair de perto dos garotos e me virou de frente a ele.

– Aquela Cura era para você, não para mim – Peter resmungou para mim. Ele olhou para trás e viu que todos os Garotos olhavam para nós, ele pegou meu braço e me levou para longe dali. Longe do acampamento.

– Então, se a Cura era minha, tenho todo o direito de usá-la em quem eu quero – Contei tirando sua mão do meu braço e ficando a sua frente – E eu usei em você porque eu quis.

Ele engoliu seco e passou por mim, mas antes dando me empurrou de leve em meu ombro. Ele começou a andar enquanto eu o acompanhava tentando imaginar a onde ele iria. Olhei ao redor e para a Lua que brilhava – como sempre – iluminando toda Neverland.

– O que você quer? – Ele olhou para trás e bruscamente parou de andar. No mesmo instante nossos corpos se chocam, até porque eu o acompanhava ao seu alcance. Olhei para ele e fiquei pensando no que ele poderia ter dito sem entender nada.

– O que? – Perguntei como um sussurro tentando não olhar em seus olhos. Ele se afastou e permaneceu parado olhando para o chão.

– É melhor voltar ao acampamento – Ele disse rouco e assentiu para si mesmo e me deixou parada bem ali sem entender exatamente nada.

Eu o salvei, por que ele está agindo assim comigo?

Tentei acompanha-lo da melhor forma que pude, tentando afastar o cansaço das minhas pernas e o suor da minha testa. Decidi desistir assim que eu o perdi de vista e me sentei em uma pedra cinzenta tentando descansar enquanto a lua parecia sumir.

Ótimo! Agora é um bom momento para ir embora daqui, ouviu doença? – Pensei enquanto me levantava e caminhava para onde eu supostamente achava que era o Acampamento.

– Está indo para o lugar errado – Peter Pan falou atrás de mim. Quis não ter virado para vê-lo, mas foi mais forte que eu. Ele parecia bem, não estava nem um pouco como dá ultima vez e isso me aliviou um pouco. – Onde está a Cura?

– Com Felix – Respondi tentando desvendar o motivo da pergunta.

– Acha que tem o suficiente? – O modo que ele falava comigo, não parecia ser o mesmo Pan de antes.

– Por que quer saber? – Quis saber e ele sorriu para mim sem mostrar os dentes.

– Se tiver o suficiente, você poderá ser curada – Ele respondeu calmo e olhou em meus olhos. – Acha que a metade serve?

– Não sei, não tentei ainda – Respondi pensativa.

– Vamos tentar? – Ele perguntou.

Olhei para ele novamente, tentando desvendar no porque dele estar tão estranho, em como ele não parecia ser o Peter Pan real que eu conhecia e em como ele estava se interessando por mim sabendo que a poucos dias ele estava querendo me matar – literalmente.

– O que aconteceu com você? – Perguntei enquanto ele me puxava para onde o Acampamento ficava, nesse mesmo instante ele parou e me olhou.

– Não gosta? – Perguntou e eu assenti.

– Gostava quando me ameaçava – Admiti e rimos juntos. E eu me impressionei mais uma vez. Era como se o Peter Pan não quisesse me matar novamente e sim me salvar, e ainda por cima, de um modo carinhoso.

– Nesse caso… Se não me acompanhar, você vai sofrer. Será tanta dor e sofrimento, que você me pedirá para parar e te matar logo de uma vez – Ele falou, cínico e frio enquanto eu me encolhia tentando parecer medrosa.

– Gostei, mas pode melhorar – Murmurei e dei uma risadinha enquanto seguia em sua frente sem saber se era o caminho certo.

Finalmente havíamos chegado rindo do ultimo acontecimento e mal nós demos conta dos olhares tristes e preocupantes dos meninos.

– O que houve? – Peter perguntou sério se pondo de frente aos meninos.

– Bom, acabamos de ver a Cura sumir do frasco – Fattyn disse enquanto chorava – Não poderemos salvar a Ellen!

Arregalei os olhos no mesmo instante mas olhei para o chão tentando absorver a noticia. Mas era isso oque eu queria, porque eu estava me sentindo… triste? De alguma forma, uma pequena parte de mim quer ficar aqui em solo firme, não querendo partir e deixar os meninos e Neverland.

– O QUE? – Peter explodiu e foi direto á Felix pegando o pelo colarinho e o levando de encontro a uma arvore e o prendendo ali. –Foi você não foi?!

– Peter! – Tentei me aproximar dos dois enquanto os meninos faziam uma barreira em minha frente. Eu podia ver alguns garotos tentando tirar Peter de cima de Felix mas parecia impossível. – PAREM!

Meu grito levou a uma dor agonizante em meu peito fazendo com que me encolha e fique de joelhos tentando parar a dor. Twin e Fattyn chegaram até mim tentando me pegar no colo enquanto eu impedia. A dor não parava de jeito algum! E só tornaria a piorar se eu me movesse, eu sei, já havia tentado.

Fiquei pensando um pouco em meia a dor no que o médico havia dito a mim no momento em que nevava em Florença, no momento em que estava internada por causa da leucemia. Tentei voltar no tempo enquanto meu corpo tremulava e sofria de chamas ardentes. Nesse momento a escuridão encheu minha visão e a dor havia parado.

Abri meus olhos bruscamente. Estava na minha sala que era repleta de enfeites de Natal que minha mãe havia colocado. Passava na TV um desenho do Tom e Jerry – um episódio que já havia visto – e eu mudei de canal colocando no Jornal.

– Florença está devidamente encantadora com a decoração de Natal! Não percam, hoje na véspera de Natal quando a Árvore no Centro da Cidade acenderá e o menino Jesus nascerá! – Era uma repórter em frente a Árvore que colocaram no Centro da Cidade, eu queria poder vê-la, mas meu médico não havia deixado. Falando nele, desliguei a TV e eu o vi entrar hesitante.

Meu Dr. Se chamava: Jefferson Jefferson. Ele gostava de ouvir seu nome pois, o Jornal havia feito uma matéria sobre ele, dizendo que ele era um produto de médico a seguir.

– Olá… Como está? – Ele quis saber enquanto se aproximava e se sentava ao meu lado.

– Bem, estou bem – Menti, até porque, todos sabiam que eu não estava nada bem. Só quis evitar as injeções, não queria enfrentar aquelas agulhas grandes nas minhas veias injetando um líquido que me faça tentar ficar normal.

– Ellen – Dr. Jefferson Jefferson suspirou pesadamente enquanto alisava minha mão. Tratei de evitar a situação de nervosismo que ele se encontrava e logo perguntei:

– Quanto tempo? – Quis saber engolindo não-seco. No fundo eu sabia que estava chegando a minha hora.

– Menos de um mês – Ele sussurrou e eu comecei a chorar.

– Só? – Minha voz falhou enquanto tentava parar de chorar e pensar pelo lado positivo.

Era uma doença terminal. Iria deixar meus Pais. E iria encontrar a Casa de Deus. Estaria livre, livre para não sentir dor, livre para não injetaram qualquer coisa em mim, e livre para ser feliz.