– Ela não morreu.

– Ela morreu sim! Ela não se mexe!

– Olha lá! Acabou de se mexer! Está viva!

– Viva?

– Sim!

Senti sua cabeça tocar meu peito.

– Mal consigo ouvir seu coração.

Começo a resmungar e abro os olhos lentamente. Os garotos estavam em volta de mim como um círculo, todos olhando para baixo onde estava. Eles ficaram surpresos e depois saíram comemorando. Peter estava sentado ao meu lado, com um sorriso fraco nos lábios.

– O que aconteceu? – Quis saber me sentando com certa dificuldade.

– Você apagou, achamos que estivesse morta – Peter respondeu com um olhar triste – Mas você acordou.

– Queria que eu morresse? – Perguntei na dúvida. Ele negou com a cabeça e me ajudou a se levantar. – Por quanto tempo estive apagada?

– Meia-Hora no máximo – Felix respondeu sentado em uma pedra ao meu lado direito. Seu olho estava roxo e inchado. Olhei para Peter e ele deu de ombros. Corri até Felix e toquei em seu rosto.

– Está doendo? – Perguntei preocupada e ele sorriu.

– Não, ele não bate tão forte assim – Felix se referiu a Peter que por sinal rosnou para ele.

Olhei para Peter o repreendendo.

– Por que vocês não pararam quando gritei? – Perguntei me mostrando furiosa.

– Somos homens, não paramos quando uma mulher pede para parar – Felix respondeu e ficou de pé olhando para Peter – É melhor contar para ela.

Olhei para Peter e mal precisei perguntar o que ele precisava me contar. Ele mexeu a cabeça para o lado para que eu o seguisse e assim o fiz. Começamos a andar e paramos até alcançarmos um abismo, o mesmo abismo que havia pulado. Lembranças ruins invadiram minha mente e tentei não chorar, foi quando Peter apontou para o Norte. Lá estava o navio do Gancho. Não entendi o que ele queria dizer e olhei para ele.

– Vamos até lá – Ele falou olhando para mim – Queremos que ele nos leve até a Terra.

– E por que iriamos até a Terra? – Perguntei cruzando os braços.

– Porque conheço alguém de lá que pode te curar – Peter respondeu engolindo seco. – E os meninos ouviram falar que ele tem um feijão mágico.

– Feijão mágico? – Falei sem entender e Peter suspirou impaciente.

– É como um portal, sem perguntas agora – Ele falou antes que eu perguntasse mais alguma coisa. – Rumpelstiltskin é o senhor das trevas e acreditamos que ele é o único que pode fazer a Cura novamente. Por isso, estamos nos preparando para ir para lá.

Assenti com a cabeça entendendo. E por incrível que pareça eu não fiz um show dizendo que eu não precisava da cura e que era o meu destino ser morta. Apenas concordei e fomos até o Acampamento novamente. De alguma forma, eu me sentia uma garota-perdida, sentia que aquele mundo era para mim e que nada faria com que eu me afastasse de Peter Pan.

Quando chegamos, Felix e Twin estavam com espadas. Enquanto os outros garotos corriam para todos os lados preparando alguma coisa que não soube o que era.

– Meninos! Formação! – Peter gritou e eles o fizeram, ficando um do lado do outro. – Precisamos fazer com que Gancho nos leve, e para isso, precisamos ataca-lo!

Os garotos gritaram corajosos e felizes e eu interferi.

– Como é? Achei que pediríamos para ele – Contei e todos riram. Cerrei os punhos, já estava cansada de ficar sendo a piada. Olhei para os garotos e fiquei andando de um lado para o outro – Acham que conseguimos tudo o que queremos atacando o inimigo?

Eles assentiram normalmente e eu bufei.

– Ele não vai querer levar a gente dessa forma! Precisamos de um novo plano – Falei e os garotos assentiram rapidamente concordando. Olhei para Peter e ele olhava para o nada como se estivesse pensando. Depois de alguns segundos, ele suspirou e caminhou até uma cabana. Olhei para os meninos buscando por alguma explicação, mas eles também estavam surpresos com tal ato.

Quase caminhei até lá, mas Felix segurou meu braço. Peter saiu da cabana no mesmo instante e percebi que ele segurava um colar. Ele veio até mim e me entregou.

– Esse é o nosso segundo plano – Ele falou. Olhei para o colar em minhas mãos, e vi uma pedra no centro dele.

Olhei para Peter em busca do que ele pensava que aquele colar faria para nós.

– Era de uma garota – Ele falou engolindo seco e fiquei sem reação. Então, outras garotas já vieram aqui? Outras garotas já ficaram com Peter?

– Que garota? – Perguntei automaticamente sem demonstrar meu sentimento de tristeza.

– O nome dela era Helena, e sem mais perguntas. – Peter falou frio pegando o colar de minhas mãos e depois olhou para os meninos – Arrumem suas coisas.

Ele saiu logo em seguida sem olhar para mim. Felix tocou em meu ombro e eu olhei para ele vendo os meninos saírem de lá também.

– Não é nada com que deva ficar triste – Ele havia notado. Queria perguntar sobre Helena, mas ele saiu como todos me deixando sozinha.

Suspirei e comecei a caminhar até achar um local com que pudesse descansar e pensar mais sobre o assunto. Me deitei sobre um chão de flores brancas e olhei para o céu, vendo das mais belas estrelas.

– Ei, é você a nova garota do Peter? – Me assustei e busquei por uma pedra para usar como arma. Olhei para onde vinha a voz e vi uma garota loira. – Calma, não a necessidade de uma pedra.

– Quem é você? – Perguntei sem soltar a pedra e ela caminhou até mim, se sentando ao meu lado.

– Sou Tinkerbell – Ela sorriu. – E você é?

– Sou Ellen – Falei sorrindo fraco.

– Ellen! – Ela me deu um forte abraço. – Conheci seus pais! Não acredito que está aqui!

Fiquei espantada e arregalei os olhos.

– Você conheceu meus pais? – Perguntei para ela depois do abraço e ela assentiu.

– São ótimas pessoas! Onde eles estão? – Ela perguntou olhando para os lados.

– Eles estão na Terra – Falei e ela suspirou.

– Bom… Fico feliz que esteja bem! Agora poderá viver para sempre! – Ela falou sorridente e eu neguei com a cabeça. Ela parou e franziu a testa. – Não tomou a cura?

– Como sabe que…

– Conheci seus pais, Ellen. Vi quando fizeram o acordo com Rumpelstiltskin.

– Como foi esse… acordo? – Quis saber e ela abriu a boca para falar mas logo a fechou.

– Ah, foi… normal, nada com que deva se preocupar – Ela falou logo depois e percebi que estava mentindo. – Mas me diga agora, tomou a cura?

– Não… Ela sumiu – Respondi e ela fez um olhar triste.

– Quer ir até minha casa? Podemos conversar – Ela deu um meio sorriso. Assenti para ela e me levantei. Tinkerbell não parecia ser uma ameaça, muito pelo contrário, parecia ser uma grande amiga e ela conheceu meus pais. Não acho errado ter que ir com ela.

– Ah não, acho que Peter Pan não… Ele não vai gosta de saber que sai – Lembrei e bufei. Tinkerbell se levantou e cruzou os braços.

– Então, vai querer ser como aquelas outras garotas dele? – Ela falou e eu fiquei surpresa. Era como se ela estivesse escondida poucos minutos depois para saber sobre nossa conversa. Arregalei os olhos mas depois assenti para mim mesma. Não fiquei triste ou decepcionada, estava cansada de sofrer.

Peter Pan tinha as outras garotas, e cada uma era como eu. Só ficava do lado dele e fazia tudo o que ele queria. Mas eu não sou uma delas, não mais. Olhei para Tinkerbell.

– Vou com você – Falei e ela sorriu me puxando para longe do Acampamento. Longe de Peter Pan.