Sagira escrita por Senjougaha


Capítulo 11
Capítulo 11 - Alados e surtados




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O anel em meu dedo parece pesar toneladas. É com um esforço muito grande que caminho com esse peso e mais o das duas espadas embainhada em minhas costas.

Tanatos tinha tentado me ensinar a usar uma espada reta comum, à moda grega. Mas embora eu sempre esteja fora do território egípcio, teimo em usar as técnicas de luta deles. Sendo assim, eu sou um fracasso total ao empunhar UMA espada só com as duas mãos. Usar katanas é muito mais fácil.

Só consegui acertar alguns golpes no alado da morte quando usei duas espadas, uma em cada mão. Fui chamada de bárbara por isso diversas vezes, mas não me importo.

– Ande logo, Sagira - ele grunhe mal humorado me arrastando à força pelos túneis subterrâneos escuros e úmidos.

Arquejo quando uma claridade surge me cegando e Tanatos quase faz o mesmo.

– Chegamos - ele diz, finalmente me soltando - pegue sua espada.

– Que tipo de trabalho temos aqui pra eu precisar pegar a espada? - pergunto, ficando nervosa de repente com a aura e o cheiro provindos do mesmo lugar em que vinha a claridade.

– Não é algo que você precise saber - ele responde franzindo o cenho.

Bufo e saco minhas duas espadas novas de bronze celestial, girando-as em minhas mãos e fazendo Tanatos soltar murmúrios de desaprovação.

Acabamos de sair do túnel e antes que eu possa me espreguiçar e comemorar, algo muito grande me derruba.

– Sagira! - Tanatos chama com uma centelha de preocupação na voz.

– Droga, que merda! - rosno me levantando e procurando o que foi que me acertou.

Um rugido furioso e uma lufada de vento pútrido atinge meu rosto e meus cabelos voam para trás. Não quero nem imaginar minha cara nesse momento.

Abro os olhos, hesitante para ver o que diabos é isso.

Um ciclope com uma catarata monstra e de dez metros de altura está à minha frente, brandindo uma árvore como se fosse uma clave ameaçadoramente.

– Puta merda - solto antes de quase ser acertada de novo.

Mas Tanatos me puxa e me tira do rastro de demolição que a clave-árvore deixa no chão.

O ciclope catarento urra novamente na minha frente, mas dessa vez, antes que ele termine eu já estou irritada ao máximo. Furiosa com o bafo pútrido que parece existir especiamente pra ele lançar na minha cara.

Tanatos arregala os olhos ao ver minha transformação completamente diferente do normal.

Eu fico maior. Talvez agora eu tenha três metros de altura e minha cabeça é de lobo, mas mantenho minha forma humanóide. Sei disso porque consigo me ver nos olhos do gigante.

Encaro o ciclope, que agora me olha com uma curiosidade abobalhada e solto o maior rosnado da minha vida, deixando-o zonzo. Tanatos aproveita a oportunidade para tocar a testa do grandalhão e fazê-lo virar poeira.

– Exagerada, era pra ser fácil - ele resmunga limpando o pó mostarda das roupas.

Volto ao meu tamanho normal. Estou atordoada, tanto quanto ele, com o que acabou de acontecer. Tecnicamente, apenas deuses egípcios são capazes de fazer esse tipo de transformação.

– Sagira? - ele me chama, chacoalhando-me pelos braços.

Franzo o cenho e balanço a cabeça.

– Que loucura foi aquela?! - grito irritada com o fato de Tanatos não ter me dito nada sobre termos que enfrentar um ciclope.

– Loucura? Sagira, você é que tornou as coisas loucas - ele diz me soltando - além disso, temos mais monstros pra capturar.

– O que está acontecendo? - pergunto sem sair do lugar para seguí-lo, que é o que ele provavelmente quer que eu faça porque começou a andar.

– Nada fora do controle - ele dá de ombros.

– Tanatos, nosso trabalho deveria ser capturar espíritos, e não monstros - digo estremecendo - esse é o SEU trabalho.

Ele me ignora.

– E mesmo que você diga que está tudo sob controle, eu sinto que não está - continuo, sem conseguir parar de falar.

O que estou dizendo? Eu não deveria confessar nada do tipo. Vão começar a botar expectativas em mim como princesa do submundo…

– Sente o quê? - ele pergunta com a voz sombria, me assustando e virando-se em minha direção lentamente.

– Eu não sei - respondo empinando o nariz - sinto que as coisas estão sendo abaladas no Hades.

Ele me encara por alguns minutos. Cerca de cinco.

E depois, de forma imprevisível, seus olhos estão prateados e ele voa em minha direção, me jogando contra a parede.

– Nunca mais esconda coisas de mim - ele diz numa voz calma, fria e totalmente controlada.

Ele aperta meu pescoço com força e a única coisa descontrolada nele é a tremedeira de suas asas, que soltam penas negras pelo ar.

– Eu… não te escondo nada - consigo dizer mesmo sem respirar.

– Seu poder está crescendo, Sagira - ele diz, me jogando no chão - com ele vem grandes responsabilidades, aceite isso.

Consigo tossir, sem sentir meu corpo.

– Agora me responda, como fez aquilo? - ele pergunta ainda com sua personalidade sádica.

– Aquilo? - pergunto confusa.

Ele chuta minha barriga e eu me dobro de dor no chão.

– Como se transformou naquilo? - ele pergunta novamente.

Deduzo o que ele quer dizer. Ele está falando sobre eu virar uma humanóide com cabeça de loba? Deve ser…

– Eu não sei, Tanatos! - grito quando ele faz menção de me chutar novamente - eu não me sinto normal… Não sei me controlar mais!

Meu corpo estremece quando os olhos dele se tornam mais suaves e voltam para o habitual tom dourado que eu tanto prefiro.

– Volte pra casa, Sagira - ele diz - eu termino as coisas por aqui.

Tanatos vira as costas e abre as asas, mas antes que alce o vôo, eu seguro sua perna.

– Você sabe o que está acontecendo comigo - acuso - sabe e não quer me dizer.

Ele se cala e me observa sem saber o que dizer.

– Eu não posso, Sagira - ele diz desviando o olhar por fim.

Solto sua perna e me sento. Faço caretas de dor.

– Me perdoe - ele diz ao se lembrar do que tinha feito comigo.

Torço o nariz em sinal de que aquilo não era nada. Logo vai estar curado.

– Eu não posso falar sobre o que você quer saber - ele continua, se agachando para ficar do meu tamanho - e não posso correr o risco de ser amigável com você.

Franzo o cenho e pisco, confusa. A primeira parte eu entendo, mas o que ele quer dizer com “ser amigável”?

– Você tem um futuro difícil pela frente e Eros é quem deve ficar com você pra te ajudar - ele resmunga mais pra si mesmo do que para mim.

– Do que está falando, Tanatos? - pergunto cutucando ele.

Ele alisa meu cabelo e me dá um abraço inesperado.

Quando ele me solta, fica olhando para meu pescoço. Passo a mão em volta e abro a boca para perguntar o que ele tanto encara, mas sinto a falta de uma coisa.

– A coleira! - grito tateando à procura dela e puxo o pulso do deus da morte para conferir se sumiu dele também.

Solto o ar que não sabia que estava prendendo, aliviada e dou um sorriso satisfeito.

– Agora está livre de mim - ele diz sem emoção alguma na voz e viaja, me deixando sozinha.

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Cambaleio para dentro do meu quarto sentindo as dores dos chutes de Tanatos.

Paro na frente do espelho gigante e ergo a camiseta, arfando ao ver as marcas ainda ali. Deveriam ter curado.

– Seria uma bela vista, se não estivesses ferida, minha noiva - uma voz cafajeste e conhecida disse atrás de mim.

Abaixo a blusa por reflexo e me viro para encarar Eros deitado em minha cama. Sem camisa. E com as asas coloridas esparramadas pelo quarto.

– O que faz aqui? - pergunto confusa.

Ele tenta sorrir, mas não consegue esconder a decepção com o sorriso. Nem que conseguisse, eu saberia: ele cheira à decepção.

– E por que está decepcionado? - pergunto ainda mais confusa.

Ele revira os olhos.

– És tão inocente, meu amor… - ele suspira entediado.

Vou em sua direção, irritada e o derrubo da minha cama.

– Pare de falar assim comigo - rosno e ele abre um sorriso sarcástico ao ver meu rosto.

Me olho novamente no espelho e vejo que meus olhos estão completamente negros.

– Ah não - entro em desespero - não, não, não…

Passo a mão no meu rosto e fecho os olhos tentando fazer com que eles voltem ao normal, mas é em vão.

– Ei, calma - ele diz, chegando perto de mim para me acalmar.

Penso em rosnar para afastá-lo. Não preciso da pena de Eros. Mas ele não cheira à “pena”, e sim à… carinho?

Tiro a mão do rosto aos poucos para encará-lo, desconfiada.

Eros está perto de mim, mais do que qualquer outra vez que já estivemos juntos.

– Continua linda assim - ele sussurra admirado e segura meu rosto entre as mãos.

– Eros - chamo.

– Sim? - ele responde ainda se aproximando mais de mim.

– Você é esquisito - digo, fazendo-o piscar surpreso.

Ele me solta e volta a se deitar na cama, bufando irritado.

– Realmente não sente nada por mim, Sagira? - ele pergunta com “esperança” escrito na testa.

– Não - respondo e lhe mostro a língua.

– Mas eu sou Eros - ele insiste.

– O fato de você andar por aí peladinho com um arco e flecha do amor nas mãos e ser lindo de morrer - ops… - não faz com que eu sinta algo por você.

– Eu não ando pelado por aí, mas posso fazer isso se você quiser, já que me acha “lindo de morrer” - ele retruca com um sorriso sonhador malicioso.

– Eu prefiro a morte - respondo e dou risada.

Sua expressão se torna tensa.

– Vai sempre preferir A Morte, não é? - ele pergunta retoricamente e sai do quarto.

Pisco, confusa. O que eu disse de errado? Ou melhor: o quê diabos está acontecendo com todos os alados?


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Notas finais do capítulo

Me desculpem pelos erros de digitação e tal. Pode ser que eu deixe passar algum errinho temporal, já que algumas fics minhas são no passado e essa, no presente Zzz



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