Seu último amor - 2ª temporada escrita por Jeniffer


Capítulo 9
Vazio


Notas iniciais do capítulo

Motivo da demora? Adoeci.

Explico este capítulo lá no final.



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" (…) Na verdade, pouca gente sobrevive a um encontro com o vazio, e aqueles que o vivem raramente anseiam por repetir a experiência.”

O guardião, de Daniel Polansky. Citação da página 127, na edição de 2012 da editora Geração Editorial.



POV Henry

Ouvi os passos de Alexia voltando para dentro de casa, deixando-me sozinho no jardim, sentado em uma cadeira de rodas. A noite estava muito agradável, o que me fez respirar profundamente. Imaginei o caminho que o ar percorria em meu corpo até chegar aos meus pulmões, como no livro de biologia que eu li. Os últimos dias foram difíceis, e a leitura me manteve ocupado e foi uma boa companheira, agora que meus pais estavam em Mystic Falls. De certo modo, acho que eu estava tentando entender o que meu corpo estava fazendo. Li vários livros de biologia, anatomia e outros tantos com nomes rimados, tentado entender porque meus pulmões pareciam não conseguir respirar, ou porque meus ossos se quebravam e se refaziam com mais frequência do que qualquer autor julgava natural, ou porque às vezes minha cabeça doía tanto que eu pensava que meu cérebro estava se liquefazendo.

Liquefazendo. Eu li esta palavra ontem. Demorei a entendê-la, utilizá-la em algum contexto. Este me pareceu apropriado. Olhei para o céu, feliz por ser uma noite tão tranquila que não havia nenhuma nuvem no céu, então eu conseguia observar as estrelas. Logo encontrei Centaurus, minha constelação favorita.

Eu estava tranquilo, apenas observando-a, quando senti uma pontada de dor em meu braço. As pontadas logo se tornaram mais rítmicas, com menores intervalos entre uma e outra. Então eu comecei a suar, e eu sabia que a febre estava tomando conta de mim. Respirei fundo, tentei controlar meu corpo, tentei fazer com a dor parasse, mas ela se irradiou pelo meu peito e atingiu meu coração. Por um segundo minha visão escureceu e eu tentei chamar Alexia, mas não encontrei minha voz.

— Você está bem?

Eu respirava de maneira rápida, tentando mandar mais ar do que meus pulmões conseguiam suportar. Comecei a procurar pela voz que ouvi, e então eu a vi. Ela estava no portão, com ambas as mãos na grade, olhando-me de maneira preocupada. Seus cabelos longos caíam em ondas sobre seus ombros, como as ondas de tecido do seu vestido, que balançavam ao vento.

— Não sei. – respondi, sinceramente. Todos agiam como se eu não estivesse bem, mas eu me sinto assim desde... bem, desde sempre.

— Posso entrar? – ela perguntou.

— Sim. – falei, sem pensar.

Ela olhou para o portão, avaliando-o. Então, rapidamente, pulou sobre ele, encontrando lugares perfeitos para colocar os pés e tomar impulso.

— Uau. – falei, baixinho.

— Coisas que você aprende quando vive fugindo. – ela piscou para mim, enquanto se aproximava. Ela olhou para o banco que ficava próximo aos narcisos e então se sentou. Eu guiei a cadeira até ficar próximo dela.

— Você é bonita. – eu disse, o que a fez rir.

— Normalmente nós começamos uma conversa dizendo nossos nomes. – ela me informou.

— Claro, claro. – eu fiquei nervoso. – Eu me chamo Henry.

— Olá, Henry. – ela estendeu a mão para mim. Eu aceitei, e fiquei segurando-a, sentindo a textura macia de sua pele. – Eu sou Davina.

Ela não fez nenhum movimento para tirar sua mão da minha, apenas ficou me olhando com curiosidade. Quando eu já conhecia cada nó de seus dedos, soltei sua mão. Ela não a baixou imediatamente, deixando-a flutuar no ar, como uma pena. Senti as dores diminuírem, até desaparecerem completamente. Senti o ar entrando e saindo de meus pulmões com facilidade, o que me fez ficar mais alerta.

— Você está doente? – ela perguntou.

— Acho que sim.

— Você acha? – ela ergueu as sobrancelhas, formando uma linha incrédula. Seus lábios se curvaram em um sorriso engraçado, eu me perdi olhando para eles.

— Ninguém sabe o que está errado comigo. – respondi, depois de alguns segundos. – Eu acho que sou assim, e ponto final.

— Quem é você? – ela estava curiosa, intrigada.

— Eu não sei. – como explicar para esta garota desconhecida quem eu era, se nem eu mesmo sabia? Como explicar que todas as manhãs eu me olho no espelho e estou diferente, que não me reconheço?

Ela não falou mais nada, apenas olhou para mim, como se a resposta de todas as suas perguntas estivessem enterradas no fundo dos meus olhos.

— Quem é você? – perguntei, tentando tirar a atenção de mim.

— Eu? – ela suspirou. – Não sou ninguém.

— E porque está pulando muros a esta hora da noite? – eu ri, satisfeito ao ver que a ação não me causou dores.

— Estou fugindo. – ela deu de ombros. – Não gosto de ser prisioneira.

— Pelo menos você pode fugir. – sussurrei.

Eu a entendia perfeitamente, pois também me sentia um prisioneiro. Nunca conheci nada além de minha casa e meu jardim. Nunca estive bem o suficiente para ir a lugar algum.

— Você parece triste. – ela constatou.

Não respondi. Eu estava? Talvez. Eu gostaria de conhecer outros lugares, mas na maior parte do tempo, não tenho disposição nem para sair da cama. E aqui, eu tinha ajuda o tempo todo. Alexia cuidava de mim, assim como minha mãe e meu pai. Então, o que havia para mim lá fora?

— Por que você olha as estrelas? – ela perguntou, e percebi que estava admirando o céu novamente.

— É estranho pensar que mesmo as maiores coisas que conhecemos são tão pequenas se comparadas ao universo. – respondi, sem tirar os olhos das estrelas.

— Não acha que você é muito jovem para carregar tanto sofrimento?

— Eu sou mais jovem do que pareço. – confessei. – E você? Também não acha que é jovem demais para ser uma prisioneira em fuga?

— Eu sou mais velha do que pareço. – ela respondeu. – Mas se eu aprendi alguma coisa nestes anos foi que a vida não é justa.

— Justa. – testei esta palavra, ouvi seu som e ela não parecia se encaixar em nenhum contexto.

— Você vive sozinho nesta casa? – ela olhava para a casa, grande demais para uma única pessoa. Na verdade, grande demais até mesmo para as poucas pessoas que moravam nela. Eu mesmo não conhecia todos os seus cômodos.

— Não. – respondi. – Tenho meu pai, minha mãe, minha babá, e meu tio também me visita bastante.

Os olhos delas se abriram de maneira exagerada e eu pensei poder ver constelações inteiras na imensidão de suas íris.

— Como é isso? Ter uma família? – ela perguntou, deixando-me sem reação.

— Você não tem? – sussurrei, depois de alguns segundos.

— Não como essa. Tão... completa. – ela recostou-se no banco e olhou demoradamente em meus olhos, como se estivesse tomando uma decisão importante. – Ok, eu vou lhe contar.

Ela olhou para todos os lados, certificando-se que estávamos realmente sozinhos, inclinou-se em minha direção, como se contasse um segredo e então disse:

— Eu sou uma bruxa.

Remexi em minhas memórias para encontrar alguma referência sobre bruxas e tentar entender aquela afirmação.

— Você é... uma bruxa. – foi tudo o que consegui responder para aqueles olhos hesitantes que aguardavam minhas palavras. – Você não parece uma bruxa.

— Não sou do tipo que voa em vassouras, se é isso que está querendo dizer. – ela riu. – Sou uma bruxa contemporânea.

— Bruxa? – eu estava tendo certa dificuldade processar aquela informação. Todas as bruxas sobre as quais eu havia lido estavam nos contos de fadas, e não eram nada agradáveis. No entanto, aqui estava a garota mais linda que eu já vira, tentando me dizer que ela era uma bruxa.

— Eu tenho que ir. – ela se levantou rapidamente. – Meu feitiço não vai segurá-los para sempre.

­— Espere! – eu segurei sua mão, antes que ela se afastasse. – Você vai voltar?

Ela ficou estática, pensando em uma resposta, e então sorriu e foi embora, e me deixou desejando que aquele sorriso significasse “sim”.

***************

E assim, de repente, uma estrela nasceu neste universo vazio que se criara em meu coração, e ela me guiou nos dias seguintes, dando uma razão substancial para sair da cama todos os dias. Sentando no jardim, em dias bons ou ruins, eu esperava por ela, a primeira estrela da noite. Ela sempre esperava alguns segundos antes de se aproximar de mim, e eu conseguia ouvi-la sussurrando palavras que eu não compreendia. Nunca me importei, só desejava que ela se aproximasse depressa. Quando eu estava em um dia ruim, eu pegava sua mão, respirava fundo, e as dores diminuíam gradativamente, até desaparecerem completamente. Ela sempre sorria para mim enquanto as dores diminuíam, sempre esperando que eu me sentisse bem o suficiente para conversar.

E nestas conversas conheci a história que Davina trazia consigo. Nestas palavras trocadas sob as estrelas, descobri que a mãe de Davina era uma bruxa muito poderosa, e que fazia parte de um clã muito fechado e cheio de regras. Regras que incluíam casamentos arranjados, que só visavam preservar a superioridade do clã. Por isso, sua mãe deveria se casar com um homem que ela não conhecia, mas que fora designado para ser seu marido.

Contudo, a mãe de Davina se apaixonou por outro homem, a única pessoa que ela amou em sua vida, um simples humano, sem nada de especial. Este homem é o pai de Davina, alguém que não fez parte da vida dela por muito tempo.

—Você nunca o conheceu? – perguntei um dia, enquanto segurava sua mão.

— Por muito tempo não. – ela suspirou com a lembrança. – As outras bruxas do clã o enganaram, dizendo que minha mãe não havia sobrevivido ao parto e que eu havia morrido horas depois de nascer.

— Por que? – perguntei, apesar de ter uma ideia clara do motivo.

— Era um amor proibido. Minha mãe me contou que foi forçada a se afastar, mas ela viu como ele sofreu quando soube. Mas desde então, nunca mais teve notícias dele. Na verdade, uma das bruxas que tomava conta de mim, confessou que a vida dele acabou quando pensava que nós estávamos mortas, e que ele acabou morrendo logo depois.

— E o que você fez?

— Nada. – ela deu de ombros. – Quando minha mãe morreu, eu fugi. Eu tenho poder suficiente para me esconder do clã. E foi quando descobri que meu pai estava vivo.

— Você o encontrou? – eu perguntei, surpreso.

— Sim. – ela sorriu abertamente. – Nós vivemos juntos e felizes por muito tempo.

— É dele que você foge todas as noites?

— Não. Meu pai morreu há algum tempo. – ela olhou para longe.

— Sinto muito.

— Eu também.

Ficamos em silêncio, e eu senti a dor daquelas palavras, sobre como ela se sentia por perder o pai. Tentei imaginar minha vida sem conhecer meu pai ou minha mãe, acreditando que eles estavam mortos, quando na verdade, estavam vivos em algum lugar do mundo. Talvez eu não tivesse a coragem de Davina ao ostentar um sorriso tão aberto carregando tamanha tristeza.

— Eu tenho tanto poder em mim, e nada disso foi suficiente para salvá-lo. – ela disse.

Eu a olhei nos olhos e fiquei feliz pelo simples fato de conhecê-la. Davina não era apenas uma estrela, ela era uma constelação completa. Seus olhos brilhavam com todas as lágrimas que ela já derramara e todas que ainda seriam derramadas, e mesmo assim, seu sorriso iluminava tudo ao seu redor.

Completávamos-nos de uma maneira única. Ela, uma constelação. Eu, aquela massa escura que unia as estrelas.

Juntos e, ao mesmo tempo, separados.

Claro e escuro.

Tudo e nada.

***************

POV Caroline

Saí do carro e fiquei observando a neblina que cobria New Orleans. Ainda era cedo, e a cena típica de inverno me fez sorrir. Entrei em casa junto com Klaus e senti um verdadeiro sentimento de estar voltando para casa. Quando cruzamos o hall de entrada, ouvimos notas baixas vindas do piano na sala de estar, um presente de Klaus adquirido há pouco tempo. Henry estava lá, tocando as teclas como se as estivesse acariciando. Ele não ainda não aprendera a tocar o instrumento, mas era fascinado por ele.

— Mamãe! Papai! – disse ele, quando nos viu. Então se levantou e veio em nossa direção.

Contive minha reação de espanto. Henry já podia se passar facilmente por alguém de quatorze anos. Por quanto estive fora?

— O que faz acordado tão cedo? – Klaus o repreendeu sutilmente, enquanto o abraçava.

— Assistindo o sol nascer. – ele disse, e então me abraçou. – Oi, mãe.

Eu o abracei em silêncio, pensando em sua resposta. Não era primeira vez que ele acordava cedo, apenas para ficar sentado à janela. Quando ele estava em um dia bom, acordar cedo era quase obrigatório. E apesar de eu saber que ele estava fascinado com o universo, eu também sabia que ele andava lendo muitos livros de biologia. Henry podia ser muito jovem, mas não era incapaz de pensar. Ele entendia o que estava acontecendo e o que pode acontecer se nada mudar. Acho que é difícil dormir sabendo que cada dia que você pode ser o último.

— Então, vamos começar o dia. – disse Klaus, pegando seu celular e ligando para Elijah.

Sentei-me no sofá, sentindo todo o cansaço dos últimos dias pesando sobre meus ombros. Henry deitou-se no sofá, descansando sua cabeça em minhas pernas. Brinquei com seu cabelo, enquanto Klaus conversava brevemente com Elijah.

Não demorou muito para que Elijah chegasse, e fiquei aliviada ao ver que ele não trouxera Katherine consigo.

— Olá, Caroline.

— Olá, Elijah. – ele estava tenso, sério, quase profissional. Klaus o recebeu com copo de uísque.

— Onde está a bruxa? – Klaus perguntou, sentando-se no sofá.

— Eu agradeceria se não utilizasse um tom tão pejorativo ao me chamar de bruxa. – disse Jane-Anne, entrando na casa sem se importar em bater. Trazia em suas mãos um papel com aparência antiga.

— Conte-nos as novidades, Jane-Anne. – exigiu Elijah.

— Encontrei um jeito. – ela suspirou. – Demorei, eu sei. Mas precisei falar com boa parte das bruxas e bruxos do outro lado, e acreditem, isso leva tempo.

— O que descobriu? – Klaus a apressou. Olhei para Henry, que acabara adormecendo. Ele até conseguia acordar cedo, mas seu corpo sempre cobrava o descanso que lhe fora negado.

— Um feitiço antigo, que pode ajudá-lo a sobreviver isso. – ela parou, mas percebeu que estávamos esperando maiores explicações. – Basicamente, precisamos reprimir a parte vampira de Henry, e deixar que a parte lobisomem cresça e se desenvolva, e então, depois, ele pode ser transformado em híbrido, caso queira.

— Onde você conseguiu isso? – Elijah olhava para o papel, surpreso com a complexidade do feitiço.

— E como sabe que funciona? – completou Klaus.

— Ok, devagar. – disse ela, erguendo o dedo indicador. – Primeiro, consegui isso direto de uma bruxa muito poderosa. Talvez vocês a conheçam. O nome dela é Esther Mikaelson.

Um silêncio tenso e pesado caiu entre todos, deixando-nos completamente imóveis à afirmação de Jane-Anne.

— Nossa mãe? – sussurrou Elijah, quebrando o silêncio.

— Exato. E como eu sei que funciona? Simples. – ela olhou para Klaus. – Ela já fez isso com você.

— Sim, eu me lembro. – disse Klaus, de maneira quase inaudível.

Eu também me lembro disso. Como poderia esquecer? Depois tudo o que Klaus fez para realizar o ritual que libertou sua parte lobisomem e o transformou em um híbrido, isso com certeza fica gravado na memória.

— Mas é aí que a coisa complica. – disse Jane-Anne.

— Por que? – quis saber Elijah.

— Acontece que eu acreditava que sua mãe era egoísta, pois nem tudo o que ela sabia estava no grimório. Este feitiço, por exemplo, não estava lá.

— Não me surpreende. – disse Klaus.

— Só que este não é o real motivo. – ela explicou. – Sua mãe não compartilhou este feitiço porque ele é difícil de ser realizado. Se uma bruxa qualquer tentar realizar isto, não sobreviveria.

— O que está tentando dizer, Jane-Anne? – perguntei, impaciente com o discurso. Ela olhou para mim, aparentando surpresa por eu estar falando diretamente com ela.

— Estou tentando dizer que, se vocês querem salvar o Henry, precisam de uma bruxa muito poderosa.

É claro que precisávamos. Nós sempre precisamos. A questão era: quem seria poderosa o suficiente para salvar Henry?

— Diga o nome. – disse Klaus. – Diga o nome da bruxa que precisamos e meus híbridos a trarão aqui em minutos.

— Lamento informar, mas você não vai encontrá-la aqui. – ela deu de ombros. – Nem todas as bruxas de New Orleans reunidas seriam capazes disso.

— Então qual é o sentido em mantê-las nesta cidade, se não conseguem realizar um feitiço quando eu preciso que o façam? – gritou Klaus, levantando-se em ameaça à Jane-Anne.

— Klaus. – falei, baixinho, tentando impedi-lo, mas Jane-Anne não se abalou.

— Isso não será um problema. Eu já encontrei a bruxa.

— Quem? – disse Elijah, percebendo a contradição daquela narrativa.

— Esther.

Acho que o nome da matriarca da família Mikaelson tinha o poder de deixar todos estarrecidos, pois o fizera novamente.

— Ela está disposta a realizar o feitiço.

— E porque ela faria isso? – disse Klaus, baixinho.

— Ela quer salvar seu filho e lhe dar a chance de ser pai.

E então eu vi as lágrimas hesitantes rolarem pelo rosto de Klaus. Bondade era uma coisa há muito esquecida por esta família, pelo menos a bondade verdadeira, aquela que não espera nada em troca. E mesmo depois de tudo, mesmo com a distância do tempo e das limitações sobrenaturais, Esther continuava cuidando de seus filhos.

— É realmente uma pena que ela esteja morta. – disse Elijah.

— Para sua sorte, a colaboração entre as bruxas é uma via de mão dupla. Ela pode ajudar a realizar o feitiço, mesmo estando no outro lado. Só precisamos de uma bruxa que faça parte da linhagem da qual Esther se fortalece, pois elas têm uma ligação que vai possibilitar a realização do feitiço.

Klaus e Elijah trocaram um olhar de pura compreensão, e então olharam para mim. Sim, olharam para mim, pois eu também sabia exatamente de que, ela estava falando, por isso resumi:

— Nós precisamos da Bonnie.

**************

POV Henry

Eu me afastei ainda mais da casa hoje, pensando em tudo o que havia acontecido. Ouvi cada palavra de Jane-Anne, enquanto fingia dormir no sofá. E agora, todas as minhas esperanças estavam adiadas. Tínhamos uma solução, mas precisávamos de uma bruxa poderosa para que eu consiga sobreviver. Não sei quem é Bonnie Bennet, mas eu esperava que a encontrassem rapidamente.

— Fugindo novamente? – eu disse, quando vi Davina correndo até o portão.

— Hoje foi bem mais difícil. – ela disse, arfando, enquanto pulava o portão. - Nada como um dia após o outro.

Concordei, acreditando não haver palavras mais perfeitas para o momento.

— O que está acontecendo? – ela perguntou, quando sua respiração se acalmou.

— Eles descobriram um jeito de me ajudar. – eu falei, como se não me importasse com o fato.

— Henry, isso é ótimo! – ela celebrou. – Porque você não parece feliz com isso?

— Eles precisam de uma bruxa poderosa para realizar o feitiço, então até que a encontrem, nada pode ser feito. – falei.

Ela não respondeu, apenas ficou ali, pensativa. Conversamos sobre qualquer coisa, sobre estrelas, medos e histórias aleatórias. Ela parecia ansiosa, olhava para os lados constantemente, até que disse que precisava partir. Quando se despediu de mim, falou:

— Tudo vai dar certo, acredite. – abraçou-me e partiu.

Neste momento era tudo o que eu podia fazer. Acreditar.

*********

(outside view)

Davina caminhava rapidamente pelas ruas escuras de New Orleans, tentando passar despercebida. Ela sabia que cada minuto fora de casa era arriscado, por isso precisava voltar rapidamente. Então ela viu dois híbridos no final da rua, e antes que tivesse tempo de pensar, jogou-se em direção a um beco secundário, avançando de maneira atrapalhada.

— Você vai ajudá-lo, não vai? – disse uma voz às costas de Davina, assustando-a.

— Quem está aí? – ela perguntou, baixinho, não realmente temendo ser atacada, mas se sentindo exposta por ter sido vista.

Então uma silhueta feminina saiu das sombras, entrando na linha de visão de Davina com as palmas das mãos expostas, não demonstrando nenhuma intenção violenta.

— Eu sei que você vai ajudá-lo. Você é poderosa o suficiente para aquele feitiço, Davina.

— Quem é você? – disse Davina, erguendo sua mão, pronta para se defender de quem quer que fosse aquela mulher à sua frente.

— Meu nome é Jane-Anne.

— Como sabe quem eu sou?

— Eu também sou uma bruxa. – falou Jane-Anne, como se fosse óbvio. – E eu estava procurando você.

— Por quê? – Davina flexionou os dedos. Bastava um pensamento e Jane-Anne estaria acabada.

— Você é uma bruxa poderosa, Davina. Mas mesmo as bruxas mais poderosas precisam de aliadas. – o tom de Jane-Anne era prático, pragmático, frio e calculado. Ela não estava conversando. Ela estava negociando.

— E o que a faz pensar que pode ser minha aliada? – o tom de Davina era de puro desprezo.

— Porque eu posso lhe dar a coisa que você mais quer em sua vida. – disse Jane-Anne, com uma atitude quase magnânima.

Davina estreitou seus olhos, desconfiada e incrédula, mas rindo internamente do atrevimento de Jane-Anne.

— Eu posso lhe devolver seu pai. – disse Jane-Anne.

Davina desmoronou por alguns segundos, seu braço fraquejou e as lágrimas encheram seus olhos, mas ela se recompôs rapidamente.

— Meu pai está morto.

— Em teoria, mas isso não importa. São só detalhes. – disse Jane-Anne, com um sorriso e um dar de ombros. – O que importa é que eu preciso de você e você precisa de mim. Eu posso ajudá-la.

— Em troca de que? – perguntou Davina, desconfiada.

— Isso é outra história, não é importante agora. Ainda tenho muitas coisas a fazer antes disso. O que importa agora é que você vai ajudar Henry. Mesmo que... – disse Jane-Anne, interrompendo a frase com uma expressão de quem tinha falado demais.

— Mesmo que? – incitou Davina.

— Bem, isso só prova que eu estou do seu lado. Caso contrário, nunca lhe contaria isso. – Jane-Anne aproximou-se de Davina até estar muito próxima à mão dela que continuava pronta para atacar. Davina não fez absolutamente nada. – Você quer ajudá-lo, mesmo que ele seja filho do homem que matou seu pai.

E então os dedos de Davina se comprimiram e seus cabelos esvoaçaram com a força do vento que subitamente soprou naquele beco. Jane-Anne tentou manter-se tranquila, mas estava com medo. E então todas as lâmpadas da rua principal explodiram em sequência, e o vento uivou em fúria por toda New Orleans. Jane-Anne apenas conseguiu sussurrar:

— Agora estamos chegando a algum lugar.


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Notas finais do capítulo

Eu sei que este capítulo pode ter ficado um pouco confuso com três pontos de vista diferentes, mas ele foi apenas um capítulo de transição. Agora é que a coisa vai começar a pegar por aqui.
Quando planejei esta fic, só tínhamos visto o trailer de The Originals. Então, eu criei uma história para a Davina (que no planejamento nem se chama Davina, mas vou manter o nome para evitar confusões).

Se vocês leram até aqui, acredito que tenham lido a primeira temporada. Se sim, sabem que eu intercalo diferentes pontos de vista para que vocês não percam nada da trama, e isso vai acontecer bastante daqui pra frente.

Informação: consegui um novo emprego! Sim, meus dias de "profissão: estudante" estão acabados! o/
Continuarei escrevendo, prometo! Ainda mais agora que estou me recuperando desta sinusite horrível.

Ahh, notas longas, não?! Obrigada por ler!
Amo vocês, leitores! :D