Seu último amor - 2ª temporada escrita por Jeniffer


Capítulo 10
Acostumando-se


Notas iniciais do capítulo

Eu dedico este capítulo a todos os meus amigos que perdi ao longo destes breves vinte anos de vida, cujas perdas fizeram com que cada palavra deste capítulo carregasse uma carga extra de veracidade.



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“— É melhor ele se acostumar. – disse o rapaz.

Acostumar-se com o quê, com a sensação de raiva descontrolada? Ou com uma tristeza tão profunda que era como se sua própria alma tivesse sido arrancada de dentro de você e forçada de volta goela abaixo?”

A vida em tons de cinza, de Rutta Sepetys. Citação da página 57 na edição de 2011 da editora Arqueiro.


E-mail, mensagens, telefonemas e todas as redes sociais possíveis. Eu tentei tudo, e não obtive nenhuma resposta de Bonnie. Conversei com Elena, Damon, Matt, Jeremy e com a metade dos habitantes de Mystic Falls, e não consegui nenhuma novidade, nenhuma mísera pista de onde ela estava.

— Onde ela está, Love? – Klaus perguntou, ansioso.

— Eu não sei. Aparentemente, ninguém sabe. – falei, desligando o celular.

— Nós precisamos encontrá-la. – disse ele, tentando manter sua voz no limiar tênue entre uma ordem e um apelo.

Eu não respondi, apenas sustentei aquele olhar perdido que estampava seu rosto. Eu sabia que ele queria gritar comigo, vociferar ordens e encontrar Bonnie o mais rápido possível, mas ele estava se controlando. Era compreensível, é claro. Hoje Henry estava em um dia ruim. Contudo, este dia ruim estava se mostrando cada vez pior. Pela primeira vez, nenhum de nós pôde fazer qualquer coisa por ele, e deixamos os médicos assumirem a responsabilidade. E foi assim que descobrimos a queda trágica que a saúde de Henry estava sofrendo. Seus órgãos estavam falhando, e ele não estava se curando. Por isso eu entendi o olhar de Klaus, entendia sua frustração, seu medo e sua ansiedade. Ele tinha uma fúria assassina fervendo em seu sangue, contra nossa sensação de impotência, contra os médicos que nada puderam fazer, contra o mundo, e não podia deixar nada disso escapar. Nosso lar se encontrava em uma situação complicada, frágil. Qualquer explosão poderia destruí-lo.

— Nós vamos encontrá-la. – prometi.

********

Conforme as horas passavam, eu ficava mais e mais impaciente. Estar em New Orleans não ajudava em nada, pois eu precisava esperar por respostas e ligações que nunca chegavam. Eu sabia que todos em Mystic Falls estavam tentando entrar em contato com a Bonnie, mas pelo visto, nenhum deles estava obtendo muito êxito.

Meu celular tocou e eu o atendi imediatamente.

— Elena! – falei, depois de ver o nome dela no visor do celular.

­— Oi, Car. Como você está? – a voz dela soava preocupada.

— À beira de um ataque de nervos. E você? – eu falei, rapidamente. – Você tem notícias?

— Não. – eu suspirei, derrotada. – Matt, Damon e Jeremy também estão aqui, Car. Estávamos tentando falar com a Bonnie, mas nenhum de nós conseguiu.

Nada que eu não tenha deduzido sozinha, pensei comigo mesma.

— Eu não sei mais o que fazer, Elena. – confessei, em um sussurro agoniado.

— Nós tentamos de tudo, Caroline. – disse Matt, como quem se desculpa.

­— Eu sei, Matt.

— Vocês têm certeza que ela poderia ajudar? – falou Jeremy. – Talvez isso seja em vão. Bonnie não pode consertar o mundo todo.

Eu fiquei paralisada com as palavras de Jeremy, e o silêncio que ouvi ao telefone provava que todos tiveram a mesma reação.

— Bonnie sempre nos ajudou quando precisávamos, Jeremy. Sempre. – disse Elena.

— Mas talvez não possa fazer isso agora. – ele insistiu.

— Really, Jeremy? – falou Damon, exasperado.

— Esther se fortalece a partir da linhagem Bennet. Só a Bonnie pode fazer isso. – falei, sentindo que já explicava aquilo pela centésima vez.

Ouvi o silêncio incômodo que se instalou na sala, e eu sabia que todos estavam se olhando, tentando entender o que estava acontecendo.

— Bem, nesse caso... – falou Jeremy, suspirando. – Eu tenho algo para contar.

************

É uma reação automática, natural. Quando seu cérebro recebe uma informação que sabe que não pode processar, pois ela causaria sérios danos, ele a envia para o subconsciente. Ele não a assimila.

Então, no começo, você não faz nada. Eu não fiz nada. Fiquei por o que me pareceu uma eternidade segurando meu celular próximo ao meu ouvido, e apenas uma pequena e longínqua parte de meu cérebro estava registrando a discussão e o choro que eu ouvia vindo dele. Contudo, isso não fez a menor diferença, pois o restante de meu cérebro estava utilizando toda a sua força para executar esta simples tarefa, para evitar que eu sofresse um colapso.

Eu não fiz nada. Meu cérebro não enviou nenhum comando para meus membros, e eu apenas fiquei paralisada. Acho que o caminho entre meu ouvido e meu subconsciente é muito mais longo do que eu imaginava. Infelizmente, o subconsciente não é um lugar inacessível. É uma terra desconhecida, que você não sabe o que tem lá, mas sente tudo o que ele abriga. E quando ele recebe algo desta magnitude, é impossível não sentir.

E então vem a dor. É como se seu subconsciente fosse uma parede que recebe o impacto, e a força dele reverbera por todo o seu corpo. Cada centímetro da sua alma dói. E uma dor como essa não pode ser contida, pois é muito forte, e muito devastadora. Imediatamente seu corpo tenta expulsá-la, como se ela fosse um invasor, um elemento desconhecido que não é bem vindo em seu organismo. A dor corre por suas veias, condensa-se em seu coração e se transforma em lágrimas que são expulsas pelos seus olhos. O lado bom deste sistema de defesa natural é que a cada lágrima derramada, a dor diminui. O lado ruim é que a informação continua batendo constantemente na parede de seu subconsciente, reiniciando todo o processo a cada segundo, incansavelmente.

Quando você começa a chorar, é difícil parar. O curioso é que você não sabe exatamente por que está chorando. Na verdade você sabe, bem lá no fundo você sabe, mas você não entende. Por que a morte não é uma coisa que compreendemos imediatamente. Sabemos que a morte é a única certeza da vida, e ser imortal não apaga esta certeza, contudo isso não facilita as coisas. Quando perdemos alguém importante em nossas vidas, a morte não parece natural. Ela é apenas uma atrocidade, algo que não deveria existir e que precisamos impedir com todas as armas possíveis e imagináveis.

E então vem o torpor. Você se sente vulnerável, como se sua pele estivesse virada do avesso, e de uma hora para a outra, o mundo é um lugar inóspito e repleto de coisas que podem lhe machucar. Então você se fecha. Engatinhamos para dentro de nós mesmos, o único lugar que parece remotamente seguro. Mas só parece.

Pois dentro de nós estão todas as memórias, e quando nos isolamos do mundo, elas são tudo o que nos resta. E não importa se você não quiser revivê-las, elas vão tomar sua mente de assalto e não vão desistir facilmente. Neste momento, você repassa toda a sua vida em momentos agonizantes que sempre terminam em choro. Você lembra-se dos momentos bons, felizes e descontraídos que viveu com aquela pessoa, e até ri com isso. Mas o riso sempre se transforma em um choro descontrolado, pois você percebe que momentos como aqueles nunca mais irão existir. É quando você começa a repassar a mesma memória diversas vezes, sabendo que isso é a única coisa que vai fazer com que você saia da cama nos próximos dias, e então percebe que não consegue se lembrar dos detalhes, que está esquecendo partes importantes, e entra em desespero ao pensar que, um dia, já não mais se lembrará de tudo isso.

Contudo, o que mais dói são os arrependimentos. Infelizmente, eles só passam a ser arrependimentos a partir do momento que não podem mais serem remediados. É quando cada palavra dita e cada palavra não dita passam a ser mais uma pedra pesando sobre seus ombros. Tudo o que você fez de errado, as brigas que teve, as mágoas e feridas, assumem um caráter acusatório, algumas passam a parecer bobagem, o que só aumenta sua culpa. Mas o pior sempre será as palavras não ditas. Você sente como se pudesse escrever quinhentas páginas de um monólogo ininterrupto sobre como seu amigo é importante para você. Eu mesma comecei a escrevê-las, mas não consegui produzir mais do que uma linha. Pois a fria e dura realização de que seu amigo nunca ouvirá aquelas palavras e que elas não têm o poder de mudar absolutamente nada é como uma estaca atravessando seu coração.

Quando estamos fechados dentro de nós mesmos, o mundo passa a ser irreconhecível. Você sente abraços de consolo, ouve palavras de conforto, mas elas não chegam realmente até você, pois você está longe, muito longe da superfície. Elas acabam ecoando na parede de nosso subconsciente e se perdendo em algum lugar do imenso vazio que se criou.

Foi assim que eu cheguei à Mystic Falls sem nem mesmo ter decidido isso. Tomar decisões é uma das primeiras coisas das quais você desiste. É mais fácil assim. Qualquer coisa mundana não faz sentido, e tentar decidir qualquer coisa é uma tarefa exaustiva e sem sentido. Não tenho certeza de como tudo aconteceu, mas quando percebi, eu já estava presente em um funeral, sozinha.

Funerais são estranhos. O corpo de Bonnie já havia sido enterrado, então só fizemos uma pequena cerimônia para os amigos. Uma pequena cerimônia para os amigos que nem mesmo desconfiaram do fato de ninguém ter falado com Bonnie durante todo esse tempo. Aí está mais um pequeno e doloroso fato sobre os ressentimentos: de repente, você passa a ver todos os sinais que estavam lá, o tempo todo, e você passa a se odiar por não tê-los visto antes. Como você pôde ser tão estúpido? Novamente, você só os percebe quando eles já não podem mais serem remediados.

Eu sei que as pessoas acreditam que funerais são importantes para os vivos, aqueles que têm que lidar com a perda e seguir com suas vidas. Para mim, isso não passa de baboseira. Eu estava aqui, no meio da floresta com Elena, Damon, Matt e Jeremy, realizando um funeral improvisado, e eu deveria acreditar que isso tudo é para minha melhor amiga morta? Como eu posso acreditar nisso? Quem pode garantir que Bonnie não está no Grand Canyon? Isso não ajuda em nada no processo de aceitação.

Olhei discretamente para Elena, amparada por Damon. É claro que ele não estava chorando, e eu sabia a preocupação que criara aqueles profundos vincos em sua testa se dava apenas pelo bem estar de Elena. Eu não o culpava, até porque pelo estado em que ela se encontrava, precisaria dele. Fiquei um pouco mais calma ao saber que ele cuidaria dela.

Matt e Jeremy estavam ao meu lado. Matt chorava contidamente, quase discretamente. Ele estava acostumado a ajudar todos ao seu redor, com certeza precisar de ajuda lhe era um tanto estranho. Jeremy estava tranquilo, o que era compreensível. Deduzo que ele já havia chorado a morte de Bonnie, e tirar este segredo de suas costas com certeza deveria ser um grande alívio. E ele ainda podia vê-la, falar com ela. Não pude deixar de sentir inveja, de me perguntar por que eu não merecia este benefício.

Meus olhos estavam secos, vidrados. Chega um momento em que seu corpo não aguenta mais tanto choro, e ele simplesmente desiste. Isso significa que você alcançou o fundo de seu interior, que já se fechou tanto que está a um passo de nunca mais ser alcançado novamente.

— Ela disse que já é o suficiente. – falou Jeremy, sem olhar para nenhum de nós.

Levantei-me. Sim, já era o suficiente. Não havia sentido prolongar algo que não nos levaria a lugar algum. Todos se dirigiram em silêncio para os carros, indo em direção à casa dos Salvatore, onde minha mãe estava organizando um pequeno jantar, algo para nos unir neste momento difícil, disse ela. Ela havia voltado completamente diferente de Paris, mais tranquila, relaxada. Mais feliz. Eu era a última neste cortejo fúnebre, então simplesmente peguei um desvio e fui para outro lugar. Eu não conseguiria enfrentar mais uma convenção social, sorrir e comer, ou simplesmente se manter em silêncio como todos. Eu estava exausta.

Acabei parando na praça da cidade, completamente deserta neste final de tarde. Sentei-me em um banco e não pude deixar de lembrar do casamento de minha mãe, e em como a praça parecia vazia e triste sem toda aquela decoração. E então comecei a chorar. Infelizmente isso se tornou comum. Eu começava a chorar subitamente.

Eu senti a presença dele antes mesmo de vê-lo. Ele sentou-se ao meu lado, envolveu-me em seus braços e trouxe minha cabeça para junto de seu peito.

— Eu sinto muito, Love.

Eu estava longe, muito longe da superfície. Estava me protegendo, estava me escondendo. Mas mesmo escondida em meu interior, mesmo com este imenso vazio que me separava do mundo exterior, ele conseguiu me alcançar.

Klaus. Seu toque, sua voz. Só ele conseguiria atravessar este imenso vazio sem se perder e desistir de avançar. Só ele conseguiria me trazer de volta para a superfície. E quando ele me abraçou, me trouxe de volta, e eu senti tudo. Senti toda a dor que eu evitei, todas as dolorosas realizações com as quais eu estava tentando lidar. A intensidade da dor dobrou e eu temi não conseguir suportá-la sozinha.

— Você não sabe como eu gostaria de poder sentir essa dor em seu lugar, só para não vê-la sofrer deste jeito. – ele disse, agoniado.

— Ela se foi. – solucei, finalmente dizendo em voz alta. Eu evitei estas palavras, como se dizê-las fosse tornar tudo mais real.

Klaus pegou meu rosto em suas mãos, fazendo-me olhar para ele. Secou gentilmente minhas lágrimas e disse:

— Eu tenho uma surpresa para você.

— Não, Klaus. Eu não tenho vontade de fazer nada. – falei, baixinho. – Eu não consigo parar de pensar, e isso está me matando.

— Você precisa, sweetheart. Confie em mim. – ele levantou-se e segurando minha mão, me fez segui-lo.

— Como está Henry? – sussurrei, enquanto caminhávamos pelas ruas tranquilas de Mystic Falls.

— Igual. – ele admitiu com certa hesitação.

— O que vamos fazer? – eu sussurrava como se estivesse com medo de que o universo me ouvisse e percebesse que havíamos ficado sem opções.

— Não sei. – ele admitiu. – Mas eu vou dar um jeito, prometo.

Eu sabia que ele estava tão perdido quanto eu, e que a morte de Bonnie o estava afetando também. Não pelos mesmos motivos, mas ainda assim o estava afetando. Eu o amei ainda mais por ver que ele estava se mantendo forte para me apoiar, que ele não estava se permitindo entrar em desespero apenas para evitar que eu me desesperasse.

Naquela rua tranquila de Mystic Falls, sob a luz da lua, eu abandonei meu esconderijo interior e saí para enfrentar o mundo, pois eu sabia que Niklaus Mikaelson estava me protegendo. E eu soube que nunca poderia estar mais segura do que naquele momento.

**********

Nós poderíamos ter utilizado nossas habilidades vampirescas para chegar mais rápido à casa dos Salvatore. Poderíamos ter dirigido até lá. Mas Klaus sabia que eu precisava de tempo, então apenas caminhamos, em silêncio, enquanto eu segurava sua mão como uma tábua de salvação e organizava minhas defesas.

Entramos na casa e o clima estava exatamente como eu imaginava que estaria. Todos estavam lá, inclusive minha mãe e Benjamim. Alguns sentados, outros escorados perto da lareira. Todos em silêncio, com olhares vazios e perdidos. Elena ainda chorava, discretamente. Damon mantinha seus olhos cravados nela, pronto para socorrê-la ao menor sinal de que ela iria desabar.

Entrei na sala de mãos dadas com Klaus, e todos olharam para nós por um breve momento, e então voltaram a olhar para o vazio. Ninguém teceu nenhum comentário, ninguém reagiu. Eles sabiam que eu precisava dele ao meu lado, e ninguém se atreveria a dizer algo contrário a isso, não em um momento como esse.

Recebi um abraço carinho e preocupado de minha mãe e Benjamim. Eu não estava mais chorando, então consegui acalmá-los facilmente. Recusei todas as insistências de minha mãe para que eu comesse, e apenas aceitei uma taça de vinho, que tomei pausadamente, a pequenos goles, mesmo tendo vontade de atacar a adega e causar um sério desfalque a ela.

— Espere aqui. – disse Klaus.

Ele foi até a cozinha, e rapidamente voltou acompanhado de Jane-Anne.

— O que ela está fazendo aqui? – perguntei, surpresa com o modo como voz soou. Fraca, apagada, sem vida.

— Bom te ver também, Caroline. – disse ela, irônica. Klaus lançou um olhar mortal para ela, que parou de sorrir imediatamente. – Eu sinto muito por sua amiga.

— Ela está aqui para realizar um pequeno favor. – explicou Klaus, agora com a atenção de todos na sala.

— Por quê? – eu ainda não entendia.

— Por que ela não quer morrer esta noite. – Klaus falou, com um sorriso atrevido para ela, que rolou os olhos para ele. – Jeremy, Bonnie está aqui?

­ — Não. – ele falou, com um suspiro. – Ela se afastou depois do funeral e não voltou.

Eu vi a preocupação no rosto de todos, e sabia que eu também estampava a mesma expressão.

— Encontre-a. – Klaus ordenou.

— Eu posso vê-la, não controlá-la. – disse Jeremy, mas então parou e ficou olhando para um ponto específico na frente da lareira. – Ela voltou.

Um arrepio percorreu minha espinha e eu senti novamente a inveja por Jeremy poder vê-la.

— Jane-Anne. – Klaus falou, com uma ordem.

— Eu sei, eu sei... – ela falou, seguindo para frente da lareira e ajoelhando-se no chão.

— Eu não sei. – falou Jeremy, provavelmente respondendo uma pergunta de Bonnie.

Então todos ficaram assistindo Jane-Anne murmurar palavras incompreensíveis em frente à lareira.

— Bruxaria na minha sala. Isso não pode ser bom. – falou Damon, com uma expressão de desgosto. – Não estrague o tapete.

Eu estava hipnotizada pela expressão concentrada de Jane-Anne e pelas palavras que jorravam de sua boca. Então Elena teve um sobressalto, olhando assustada para um ponto atrás de mim. Eu me virei para ver o que a estava assustando tanto, e quase desmaiei quando falei:

— Bonnie.

****************

A surpresa de Klaus quase me fez morrer novamente. Ele fez com que Janne-Anne derrubasse o véu entre este mundo e o outro lado, apenas por um tempo limitado, para que pudéssemos falar com Bonnie.

Eu a abracei com todas as minhas forças e comecei a recitar as quinhentas páginas nunca escritas sobre como ela era importante para mim.

— Caroline, pare. Não faça isso. – ela disse, interrompendo-me. – Eu vi você todos esses dias, eu sei como você está sofrendo. Acredite, eu sei. Você não precisa dizer nada.

Então não disse, apenas a abracei e choramos juntas. Logo Elena se juntou a nós, e Matt também.

— Ok, eu não sei quanto tempo tenho, então vamos nos apressar. – disse Bonnie.

— Não muito, eu posso garantir. – disse Jane-Anne soando fraca, mas ainda concentrada. Klaus olhou para minha mãe e fez um gesto com a cabeça para que ela o seguisse. Então ele, minha mãe e Benjamim se retiraram discretamente, dando-nos um momento com Bonnie.

— Eu sei que desapareci, Jeremy. – ela disse. – Estava falando com alguém muito importante.

— Quem? – perguntei.

— Lexi. – ela respondeu. – Temos um problema.

— Boletim do além-mundo, pessoal. Prestem atenção! – disse Damon, que recebeu um olhar de desaprovação de Jeremy.

— Silas ainda está por aí. – Bonnie falou, com seriedade.

— O que? Não, de jeito nenhum. – falou Damon. – Stefan o trancou no cofre e jogou no fundo da pedreira. Fim da história.

— E então Stefan desapareceu. Isso não é suspeito para você? – disse Bonnie, com raiva. Damon parou e ponderou sobre as palavras de Bonnie, assim como todos. E então a revelação caiu sobre todos como um raio, e deixando todos espantados.

— Vocês precisam salvar o Stefan. Ele está sofrendo. – Bonnie parecia desesperada.

— Mais rápido, Bennet. – avisou Jane-Anne, com urgência.

— Pessoal, não se preocupem. Eu não vou a lugar algum. – ela sorriu para nós, e pegou nossas mãos. Parecíamos uma grande equipe preparando-se para um jogo importante. – Eu estive com vocês este tempo todo, e vou continuar com vocês.

— Desculpe, Bonnie... – disse Elena, chorando, expressando o que eu também sentia. – Nós deveríamos ter percebido, nós deveríamos...

— Não, Elena. – Bonnie a interrompeu. – Jeremy me ajudou a garantir que vocês não perceberiam. Mesmo que ele não concordasse com isso.

— Não mesmo. – respondeu Jeremy, sorrindo.

Bonnie disse tudo o que precisava dizer para cada um ali, sempre apressada, sem saber quanto tempo ainda tinha. Por mais que ela prometesse estar sempre presente, isso soava exatamente como uma despedida.

— E Caroline. – disse ela, olhando para mim. – Não pense demais sobre isso. Se fizer você feliz, siga em frente.

Eu sabia que ela estava falando de Klaus, e apenas concordei com ela.

— Eu estarei lá, no seu grande dia. – ela prometeu. – Mas tome cuidado.

— Cuidado? – eu sussurrei.

— Muito cuidado. Eu queria poder dizer que tudo está bem e vai ser assim para sempre, mas você não sabe...

E então ela desapareceu, e Jane-Anne desmaiou. Ficamos imóveis por alguns segundos, então Matt amparou Jane-Anne e o Damon o ajudou a colocá-la no sofá. Eu fiquei olhando para o ponto onde Bonnie estava até alguns segundos atrás, e então fui ver como Jane-Anne estava.

Enquanto eu limpava o sangue que escorrera do nariz dela e ouvia sua pulsação se acalmar, vi que Klaus estava parado no limiar da porta, observando-me atentamente. Eu sorri para ele e sussurrei um sincero “obrigada”, mas ele não sorriu, apenas acenou com a cabeça. Jeremy estava concentrado, provavelmente conversando com Bonnie, e então subiu para os quartos.

Suspirei aliviada quando Jane-Anne abriu os olhos. Ela estava fraca, mas iria ficar bem. Então a abracei, deixando envergonhada e confusa, mas eu precisava expressar minha gratidão. Por mais breve que tenha sido, qualquer pessoa no mundo faria qualquer coisa para ter um presente como este.

Em um mundo de arrependimentos, ela havia me mostrado a luz da redenção.


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Notas finais do capítulo

Este capítulo é um presente, afinal, hoje eu completo vinte anos! o/ Fiquem à vontade para me presentearem com comentários, favoritos, recomendações... :D

Queridos, este ano tem sido incrível, e este mês está sendo muito, muito importante para mim. E vocês são parte importantíssima disso! Muito obrigada pelo carinho e por me proporcionarem momentos tão legais aqui no Nyah!
Muito, muito, muito obrigada! :D